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Ao longo da minha carreira, entrevistei muitos executivos. Eu lidava, portanto, com pessoas entre as mais bem preparadas do mercado. Eram histórias de sucesso. Um ponto, porém, sempre me chamava a atenção. Muitas e muitas vezes, o sucesso vivido não se traduzia na maneira como elas narravam suas carreiras. Em recorrentes ocasiões, elas pareciam apenas descrever seus currículos. Eu tentava compreender por que isso acontece com tanta frequência e o que está por trás dessas narrativas de carreira.
A partir de 2015, por meio do meu mestrado em psicologia organizacional, no INSEAD, na França, minha investigação informal virou estudo, que, por sua vez, virou tema da minha dissertação.
Selecionei executivos no Brasil, homens e mulheres de diferentes nacionalidades, para responder meu questionamento. Além do conteúdo, passei a prestar atenção na forma como cada pessoa à minha frente encadeava os fatos de sua vida, na tentativa de identificar o que fazia uma narrativa se sobressair a outra.
Nem toda narrativa é uma história
Notei que algumas pessoas, em especial, me tocavam de uma maneira diferente – enquanto outras, nem tanto. Quando isso acontecia, eu acabava a entrevista pensando: “Nossa, que história!”. Foi então que descobri a primeira diferença: quem narra a carreira com emoção, com altos e baixos, como é a vida de qualquer pessoa, conta uma história. E assim ela se torna memorável. Às vezes, passados meses ou anos, eu ainda lembrava delas, de alguma cena descrita ou de alguma frase dita. Então, eu “arquivava” na minha cabeça essas histórias, que me ajudavam a lembrar do seu protagonista, pensando que haveria algum momento ou alguma forma de contribuir para a realização do seu desejo, ou ainda, para a realização do seu objetivo. Boas histórias, bem contadas, conectam e motivam.
Boas histórias, bem contadas, conectam e motivam.
A verdade de cada um
Uma narrativa de arreira também depende do quanto as pessoas conhecem e revelam sobre si mesmas ao contar suas histórias, abrindo mão de algumas “máscaras” que vestem para desempenhar seus papéis sociais. Essa conclusão me levou à questão da autenticidade.
Autenticidade é um conceito que aparece na filosofia e na psicologia, relacionado ao processo de descoberta da verdade interna de cada pessoa. Está diretamente ligada à busca e à expressão dos pensamentos, sentimentos, valores e motivações, e à capacidade de orientar suas escolhas de vida de acordo com eles. Só que tudo isso fica abaixo da linha da água, como a parte submersa de um iceberg.
Analisando as narrativas sob esse olhar da autenticidade, constatei que quem refletia sobre os “porquês” das próprias escolhas e os revelava ao contar sua história era percebido como mais autêntico. A esse processo de reflexão sobre o sentido das experiências e escolhas relativas à carreira dei o nome de pensamento reflexivo, que se tornou o primeiro dos três pilares de uma narrativa de carreira autêntica. Os conceitos de presença emocional, estar por completo ao contar sua história, e autoria, ser o autor da sua história, vieram com a evolução da minha pesquisa e completaram o tripé da autenticidade.
A opção de se revelar
Fato é que se revelar é um ato de coragem. Porque significa se deparar com a sua vulnerabilidade. Afinal, a tendência natural é que cada interlocutor julgue a história baseado nas próprias crenças. Se a pessoa não trouxer os “porquês”, a tendência de quem ouve a história é preenchê-la com seus “serás”.
Autenticidade é opção – e uma consequência é poder não agradar a todos. Cada vez que alguém tenta se adequar às expectativas dos outros ou a referências externas, como os padrões de liderança convencionados, pode se distanciar de quem realmente é e também do seu objetivo.
Não defendo que todos tirem suas “máscaras” por completo sempre que forem falar de si. Elas têm sua função de proteção.
Não defendo que todos tirem suas “máscaras” por completo sempre que forem falar de si. Elas têm sua função de proteção. Mas tirá-las às vezes, ou baixar a sua linha da água, levando em consideração o contexto, um espaço seguro, a confiança e, sobretudo, o seu objetivo, é um caminho para uma expressão mais autêntica.
Na minha opinião, a autenticidade vale a pena. É a chave para encontrar ambientes e pessoas alinhados a quem realmente somos.
Patricia gabin - Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/ser-aut%C3%AAntico-%C3%A9-para-corajosos-patricia-gibin
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