terça-feira, 26 de junho de 2018

IDOSOS ÓRFÃOS DE FILHOS VIVOS – OS NOVOS DESVALIDOS.

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Este artigo é uma dura crítica ao modo com que pais e sogros, na atualidade, têm sido desprezados por seus filhos e agregados. Em especial, os pais de mais idade, que têm necessidades básicas: de atenção e carinho, que lhes têm sido negadas pela insensibilidade e egoísmo de seus filhos, que preferem entreter-se com as novas tecnologias, do que conversar com familiares. Este comportamento transmite aos netos, não a noção, mas a certeza de que bastam algumas poucas visitas, rápidas e ocasionais, alguns telefonemas semanais, um almoço ou jantar de vez em quando, um acompanhamento ao médico necessário, para cumprir o que lhes caberia fazer pela saúde e bem-estar dos mais velhos. Atenção e carinho estão para a alegria da alma, como o ar que respiramos está para a saúde do corpo. Nestas últimas décadas surgiu uma geração de pais sem filhos presentes, por força de uma cultura de independência e autonomia levada ao extremo, que impacta negativamente no modo de vida de toda a família. Em tempos anteriores, quando vieram das áreas rurais para as cidades, tão logo estabilizadas, os migrantes de tudo fizeram para trazer seus pais para junto de si de modo a recompor a família esfacelada pelos movimentos migratórios. Estando em Brasília, certa, ouvi o relato emocionado de um senhor, analfabeto, que agradecia ao filho por tê-los, a ele e sua esposa, tirado do sertão para escapar à fome e sede do corpo e, à tristeza da solidão. A ordem era essa: em busca de melhores oportunidades, vinham para as cidades os filhos mais crescidos e não necessariamente os mais fortes, que logo traziam seus irmãos, que logo traziam seus pais e moravam todos sob um mesmo teto, até que a vida e o trabalho duro e honesto lhes propiciassem melhores condições. Este senhor, com olhos sonhadores, rememorava com saudade os tempos em que cavavam buracos nas terras e ali dormiam, cheios de sonho que lhes fortalecia os músculos cansados. Não importava dormir ao relento. Cediam ao cansaço sob a luz das estrelas e das esperanças. Finalizou, o candango: - Hoje temos casa toda mobiliada e temos saúde. Não falta nada de nada. Nossos filhos foram maravilhosos. Nossos netos estudaram nas melhores escolas. Dois deles são doutores. Não conhecemos direito os bisnetos. Eu e minha esposa, que Deus a tenha, fomos muito pobres, de não ter sapato, de dormir embrulhados em folhas de jornal. Mas nunca sentimos uma coisa: falta de carinho, falta de respeito. Os meus filhos, sim, eles reclamam que os filhos deles não têm tempo nem para uma visitinha. Ficam o fim de semana todo lá sentados um olhando para o outro, enquanto os mais jovens da família fazem churrasco com os amigos e eles não são convidados. 

A evasão dos mais jovens em busca de recursos de sobrevivência e de desenvolvimento, sempre ocorreu. Trabalho, estudos, fugas das guerras e perseguições, a seca e a fome brutal, desde que o mundo é mundo pressionou os jovens a abandonarem o lar paterno. Também os jovens fugiram da violência e brutalidade de seus pais ignorantes e de mau gênio. Nada disso, porém, era vivido como abandono: era rompimento nos casos mais drásticos. Era separação vivida como intervalo, breve ou tornado definitivo, caso a vida não lhes concedesse condição futura de reencontro, de reunião. Separação e responsabilidade Assim como os pais deixavam e, ainda deixam seus filhos em mãos de outros familiares, ao partirem em busca de melhores condições de vida, de trabalho e estudos, houve filhos que se separaram de seus pais. Em geral, porém, isso não é percebido como abandono emocional. Não há descaso nem esquecimento. Os filhos que partem e partiam, também assumiam responsabilidades pesadas de ampará-los e aos irmãos mais jovens. Gratidão e retorno, em forma de cuidados ainda que à distância. Mesmo quando um filho não está presente na vida de seus pais, sua voz ao telefone, agora enviada pelas modernas tecnologias e, com ela as imagens nas telinhas, carrega a melodia do afeto, da saudade e da genuína preocupação. E os mais velhos nutrem seus corações e curam as feridas de suas almas, por que se sentem amados e podem abençoá-los. Nos tempos de hoje, porém, dentro de um espectro social muito amplo e profundo, os abandonos e as distâncias não ocupam mais do que algumas quadras ou quilômetros que podem ser vencidos em poucas horas. 

Nasceu uma geração de ‘pais órfãos de filhos’. Pais órfãos que não se negam a prestar ajuda financeira. Pais mais velhos que sustentam os netos nas escolas e pagam viagens de estudo fora do país. Pais que cedem seus créditos consignados para filhos contraírem dívidas em seus honrados nomes, que lhes antecipam herança. Mas que não têm assento à vida familiar dos mais jovens, seus próprios filhos e netos, em razão – talvez, não diretamente de seu desinteresse, nem de sua falta de tempo – mas da crença de que seus pais se bastam. 

São pais de mais idade que estão vivos, porém esvaziados de um lar pelo que tanto lutaram. Pode-se dizer, infelizmente, que pais idosos, com filhos presentes em suas vidas constituem-se numa crescente raridade. Os filhos se aproximam quando há doença grave a ser tratada. Pagam tratamento e cuidadores e, pela presença de muitos estranhos na vida dos seus pais idosos, pessoas que cumprem com suas funções, enquanto eles, os filhos trabalham, viajam, se divertem e se encerram em seus programas exclusivos de ‘só para adultos’ e ‘só para adolescentes’ de um lado, e ‘só para gente da sua idade’ de outro. Pais de mais idade que são visitados por filhos e netos com quem conversam e vez por outra passeiam, parecem se constituir numa minoria crescente. Tornaram-se eles, os pais, complacentes em relação aos filhos que não têm tempo para nada. Pais desvalidos.

Este estilo de vida, nos dias comuns, que não inclui conversa amena e exclui a ‘presença a troco de nada, só para ficar junto’, dificulta ou, mesmo, impede o compartilhar de valores e interesses por parte dos membros de uma família na atualidade, resulta de uma cultura baseada na afirmação das individualidades e na política familiar focada nos mais jovens, nos que tomam decisões ego-centradas e na alta velocidade: tudo muito veloz, tudo fugaz, tudo incerto e instável. Vida líquida, como diz Zygmunt Bauman, sociólogo polonês. 

Instalou-se e aprofundou-se nos pais, nem tão velhos assim, o sentimento de abandono. E de desespero. O universo de relacionamento nas sociedades líquidas assegura a insegurança permanente e monta uma armadilha em que redes sociais são suficientes para gerar controle e sentimento de pertença. Não passam, porém de ilusões que mascaram as distâncias interpessoais que se acentuam e que esvaziam de afeto, mesmo aquelas que são primordiais: entre pais e filhos e entre irmãos. O desespero calado dos pais desvalidos, órfãos de quem lhes asseguraria conforto emocional e, quiçá material, não faz parte de uma genuína renúncia da parte destes pais, que ‘não querem incomodar ninguém’, uma falsa racionalidade – e é para isso que se prestam as racionalizações – que abala a saúde, a segurança pessoal, o senso de pertença. É do medo de perder o pouco que seus filhos lhes concedem em termos de atenção e presença afetuosa. O primado da ‘falta de tempo’ torna muito difícil viver um dia a dia em que a pessoa está sujeita ao pânico de não ter com quem contar. 

Disso sabem as mulheres cujo ex-marido abandonou os filhos do casal, as mulheres sobrecarregadas pelos afazeres que lhes pesam nos ombros pelas frequentes ausências de seus bem sucedidos maridos, os quais garantem alto padrão de vida, porém baixa quantidade e qualidade de relacionamento conjugal e familiar.

Sabem, também, as mulheres que se afirmaram longe de suas famílias, em busca de uma carreira brilhante e que não tiveram filhos. Como se tê-los fosse garantia de não estarem sozinhas em momentos importantes de suas vidas. 

Chama atenção que os aposentados se ressentem por não se sentirem mais úteis. Não falam em solidariedade, mas em utilidade, de significado intrinsicamente ligado à produtividade. O sucesso da atividade útil é mensurado pelo que as pessoas fazem e possuem e, não pelo que são, especialmente no que diz respeito aos relacionamentos interpessoais. Dificilmente uma pessoa terá seu valor reconhecido se não for através da qualidade dos relacionamentos que tem com a família, com a sociedade e o mundo. É o olhar do outro que afirma o ser. Até mesmo o mendigo, o morador de rua mais maltrapilho, será bem visto, caso alimente um cachorro que o acompanhe. 

O ser humano é, por excelência, um ser de relações. De nada vale aos filhos, quando os pais cobrem-nos de presentes materiais, mas descuidam de dar-lhes sua presença autêntica. Filhos apreciam o conforto e os bens que seus pais lhes propiciam, mas entre o partilhar experiências e ganhar tudo que se deseja, os filhos sempre elegem a presença dos seus próprios pais. A necessidade da presença do outro na vida de relacionamentos é crucial. Presença atenta e, em sendo possível, amorosa. Se desejarmos ferir profundamente a alma de uma criança, basta ignorá-la. Ignorar, ironizar, desdenhar é um trio maldito de forças de ataque a qualquer ego, da infância à alta velhice. Começamos por apontar as necessidades básicas da infância. A verdade é que esta necessidade, de fundo cognitivo e emocional, é permanente ao longo da vida, mesmo que as distrações aconteçam. 

Crianças apartadas sem contato afetivo, sem presença nem conversa, podem resultar hipodotadas no futuro. E não se sabe o que é pior: tornar-se um adulto funcionalmente comprometido ou sem a menor capacidade empática. O contato humano, desde a mais tenra infância é primordial para a aprendizagem das habilidades sociais e aquisição de valores nobres, de caráter e de comportamento moral. O mesmo é válido para idosos excluídos da sociedade maior e, principalmente apartados do convívio com seus familiares. 

Por mais que se adote uma família de afeto, constituída por amigos leais, não somente pelos conhecidos sociais, as pessoas de mais idade que não podem contar com a proximidade física e emocional de quem lhes dê presença, são muito mais vulneráveis a doenças, estresses e, mesmo depressão. 

A filha de uma senhora a quem atendi por alguns meses contou-nos, com muito pesar, ter-se dado conta de ser a única pessoa da família a abraçava. Sua irmã não tinha a menor afinidade com ela. Seus irmãos passaram a trabalhar e residir no exterior. Suas tias, irmãs da senhora sua mãe, haviam falecido todas nos últimos dois anos. Era na residência de longa permanência que, vez por outra, era abraçada pelas atendentes. Gente estranha que tocava seus ombros e cabelos, passava creme nutritivo em suas costas, pernas e braços. Consequência: sua mãe havia emprestado seu cartão de crédito, claro que com senha e tudo, a uma manicure que quinzenalmente afagava suas mãos e dizia-lhe como ela era linda e querida. Em menos de 40 dias sua conta poupança fora zerada e a manicure sumida. 

A irritação por precisar mudar alguns hábitos. Muitos filhos adultos ficam irritados por precisarem acompanhar os pais idosos ao médico, aos laboratórios. Irritam-se pelo seu andar mais lento e suas dificuldades de se organizar no tempo, sua incapacidade crescente de serem ágeis nos gestos e decisões. Desde os poucos minutos dos sinais luminosos para se atravessar uma rua, até as grandes filas nos supermercados, a dificuldade de caminhar por calçadas quebradas e a hesitação ao digitar uma senha de computador, qualquer coisa que tire o adulto de seu tempo de trabalho e do seu lazer, ao acompanhar os pais, é causa de irritação. Inclusive por que o próprio lazer, igualmente, é executado com horário marcado e em espaço determinado. Nas salas de espera veem-se os idosos calados e seus filhos entretidos nos seus jornais, revistas, tablets e celulares. Vive-se uma vida velocíssima, em que quase todo o tempo do simples existir deve ser vertido para tempo útil, entendendo-se tempo útil como aquele que também é investido nas redes sociais. Enquanto isso, para os mais velhos o relógio gira mais lento, à medida que percebem, eles próprios, irem passando pelo tempo. O tempo para estar parado, o tempo da fruição está limitado. 

Os adultos correm para diminuir suas ansiosas marchas em aulas de meditação. Os mais velhos têm tempo sobrante para escutar os outros, ou para lerem seus livros, a Bíblia, tudo aquilo que possa requerer reflexão. Ou somente uma leve distração. Os idosos leem o de que gostam. Adultos devoram artigos, revistas e informações sobre o seu trabalho, em suas hiper especializações. Têm que estar a par de tudo just in time – o que não significa exatamente saber, posto que existe grande diferença entre saber e tomar conhecimento. Já, os mais velhos querem mais é se livrar do excesso de conhecimento e manter suas mentes mais abertas e em repouso. Ou, então, focadas naquilo que realmente lhes faz bem como pessoa. Restam poucos interesses em comum a compartilhar. 

Idosos precisam de tempo para fazer nada e, simplesmente recordar. Idosos apreciam prosear. Adultos têm necessidade de dizer e de contar. A prosa poética e contemplativa ausentou-se do seu dia a dia. Ela não é útil, não produz resultados palpáveis. Os filhos pouco admitem sua conduta descuidada para com seus pais mais velhos. E quando admitem, pouco ou nada fazem para mudar de atitude. Para atualizar o seu olhar em relação à orfandade de seus pais. São adultos para quem ‘ser bom filho’ consiste em não deixar faltar nada de básico: remédios, empregados e cuidadores, compras de açougue e supermercado. Um ou outro traje mais apropriado para uma ocasião social formal, quando é o caso. Levá-los à praia – algo de que, por razões óbvias, os de mais idade pouco usufruem. Ações que tratam, mas não cuidam. Comprar coisas para dar a seus pais, os filhos gostam. Fazer-lhes companhia sem tarefa a cumprir, isso é o que tem estado em falta. Melhora quando a televisão está ligada num jogo ou novela, noticiário, qualquer coisa ou programa em que conversar não se faz necessário. Os pais de mais idade evitam o enfrentamento direto, enquanto pouco a pouco os filhos se tornam cada vez mais críticos em relação a seus pais. Os velhos têm-se calado, têm-se aberto tão somente com estranhos ou com seus poucos amigos: - Meus filhos?! Eles não têm tempo para nada! Passam seus sábados, domingos e grandes feriados sem que seus telefones toquem para saber de si. Quando os filhos respondem às ligações de seus pais, o mais frequente é adiar a conversa: - Posso ligar mais tarde? Estou no meio de uma reunião, agora. 

Doenças e medicações merecem atenções. Dores agudas alarmam. Nada se conversa, porém, sobre o que uns e outros têm vivido. O fracasso dos filhos que abandonam seus pais é reputado à correria da vida. Há pouca sinceridade. De modo geral os mais velhos são vistos como chatos e manipuladores. Estes, por sua vez, veem seus filhos como egoístas, superficiais e autoritários. Assemelham-se a duas tribos que mal se toleram, onde então, uma distância prudente e prolongada, far-se-ia mais do que necessária para manter o armistício. De onde surge esta intolerância dos filhos à inclusão dos pais em suas vidas? Não afirmo que não haja intolerância, também, de pais para com filhos adolescentes e, mesmo, para com seus filhos pequenos, extremamente demandantes. 

Vivemos uma cultura de reprovação mútua: os mais velhos julgam os mais jovens, que julgam os mais novos. Trata-se de uma pseudoliberdade de falar e de quase ausência de respeito mútuo a praticar. As reprovações e intolerâncias mútuas, represadas pelas ausências, pela excludências, pelas impaciências, magoam a uns e outros. A dificuldade de reconhecer a falta que o outro faz. 

Do prisma dos relacionamentos afetivos e dos compromissos existenciais, todas as gerações têm medo de confessar o quanto o outro faz falta em suas vidas, como se isso fraqueza fosse. Montou-se, coletivamente, uma enorme e terrível armadilha existencial, como se ninguém mais precisasse de ninguém. A família nuclear é muito ameaçadora para o conforto, segurança e bem-estar: um número grande de filhos não mais é bemvindo, pais longevos não são bem tolerados e tudo isso custa muito caro, financeira, material e psicologicamente falando. Sobrevieram a solidão e o medo permanente que impregnam a cultura utilitarista, que transformou as relações humanas em transações comerciais. 

As pessoas se enxergam como recursos ou clientes. Pais em desespero tentam comprar o amor dos filhos e temem os ataques e abandono de clientes descontentes. Mas, carinho de filho não se compra, assim como ausência de pai e mãe não se compensa com presentes, dinheiro e silêncio sobre as dores profundas as gerações em conflito se infringem. Por vezes a estratégia de condutas desviantes dão certo, para os adolescentes conseguirem trazer seus pais para mais perto, enquanto os mais idosos caem doentes, necessitando – objetivamente – de cuidados especiais. Tudo isso, porém, tem um altíssimo custo. 

Diálogo? Só existe o verdadeiro diálogo entre aqueles que não comungam das mesmas crenças e valores, que são efetivamente diferentes. Conversar, trocar ideias não é dialogar. Dialogar é abrir-se para o outro. É experiência delicada e profunda de auto revelação. Dialogar requer tempo, ambiente e clima, para que se realizem escutas autênticas e para que sejam afastadas as mútuas projeções. O que sabem, pais e filhos, sobre as noites insones de uns e de outros? O que conversam eles sobre os receios, inseguranças e solidão? E sobre os novos amores? Cada geração se encerra dentro de si própria e age como se tudo estivesse certo e correto, quando isso não é verdade. Ainda que não se possa afirmar que este estado de distanciamento afetivo e cognitivo entre pais e filhos nunca tenha sido, anteriormente tão profundo e gritante, pode-se afirmar que a nossa educação, ao longo do século XX, especialmente depois da Segunda Grande Guerra, criou altas expectativas de que, mais atentos, estudados e civilizados, não viéssemos a sofrer deste afastamento. Pensamos haver conquistado definitivamente a convivência amorosa entre pais e filhos a partir dos modelos românticos veiculados pelas propagandas de todos juntos, felizes e bem arrumados, em torno de uma farta mesa já posta para o café da manhã numa cozinha limpa e iluminada, antes de todos saírem para o trabalho e para as escolas. 

Incluam-se os eventos comerciais patrocinados por inspiração da moderna pedagogia e pediatria, dos manuais de pais e filhos, das reuniões escolares e presença nas festinhas de fim de ano, dia das mães, dos pais, das crianças, dos avós, sem que o público fosse alertado: quanto mais se procura determinar um único dia para reforçar o amor e o carinho de uns para com outros, através de presentes materiais, mais isso denuncia que não há trocas espontâneas de carinho, substância imaterial, em todos os dias. 

Ainda que sentimentos não mudem, muda a aprendizagem do que se deve esperar de um relacionamento e, quando e quanto uma pessoa ‘deve se alegrar ou sofrer’ por este ou aquele fato. Ou pelo não-acontecimento. O império das identidades pessoais sobrepujou o valor das experiências de comunidade e comunhão. O modo de educar e viver em família não era melhor. Provável que fosse até mais limitante, com maior rigidez em muitos aspectos. No entanto, as definições mais precisas sobre direitos e deveres em família, a autoridade dos pais e a subordinação dos filhos, ainda que excessos fossem cometidos, tornavam a convivência mais segura e moderavam as expectativas mútuas. Os pais não precisavam ser simpáticos e compreensivos. As mães não precisavam ser amigas e companheiras de seus filhos. Nem guiar carro, nem saber matemática para sentarem-se com seus filhos para ensinar o que não conseguiram apreender nas escolas, durante as aulas. Os papéis não se intercambiavam, também. 

Pais e mães não sabem mais exercer sua autoridade, nem sabem de que, exatamente, seus filhos precisam. A maioria dos jovens de hoje afirmam o fato de que seus pais não os conhecem bem, mas pensam que sim. E que, portanto, insistem em dar conselhos que não se aplicam. As ausências tinham uma denotação, enquanto hoje em dia elas têm infinitas conotações. Hoje o excesso é de frustração das expectativas de uns e de outros. Há, na verdade, uma verdadeira lacuna de solidariedade intergeracional e, mesmo, intrageracional. A família comete, na pós-modernidade, um excesso de autoritarismo – pela dureza das críticas mútuas – e padece de grande escassez de presença e acolhimento. Os pais de mais idade não conseguem aprovar, nem conviver, com o modo atual de educar os filhos. Pais e filhos que se xingam e competem de igual para igual pela ocupação dos quartos, dos aparelhos, dos assentos à mesa, pelo uso do carro da família e pelo dinheiro, quando há. E competem, da mesma forma, pelo mesmo posto no mercado de trabalho. 

Filhos adultos são arrogantes com seus pais de mais idade. Irmãos são arrogantes entre si. A inflação dos egos está presente em praticamente todas as transações familiares. O modelo pobre e insuficiente, do ponto de vista do conforto moral e afetivo de toda a família, insufla a postura narcísica: - Se eu fiz, você pode fazer também, a qual tem por corolário o faça você mesmo. Essa brutalidade emocional com que pais, filhos e irmãos se tratam, leva-os a ser intransigentes com os erros e falhas de uns e de outros e, por demais complacentes para com suas próprias. 

As famílias vêm cultivando um estilo famélico de reconhecimento, atenção e carinho. A insistência na autossuficiência conduz quase todos os membros de uma mesma família à sensação de insuficiência. e todos padecem da síndrome da solidão no seio da própria família. E o terror de se envolver mais profundamente com outro alguém, pois já que na família não se encontra respaldo, nem guarida, o que esperar de quem? A desconfiança está, epigeneticamente, instalada na cultura familiar. 

A dificuldade de reconhecer limites característicos do envelhecimento dos pais. Este é o modelo que se pode identificar. Muito mais grave seria não ter modelo. A questão é que as dores são tão mascaradas, profundas e bem alimentadas pelas novas tecnologias, inclusive, que todas as gerações estão envolvidas pelo desejo exacerbado de viver fortes emoções e correr riscos desnecessários, quase que diariamente. Drogas e violência toldam a visão de consequências e sequestram as responsabilidades. Na infância e adolescência os pais devem ser responsáveis pelos seus filhos. Depois, os adultos, cada qual deve ser responsável por si próprio. Mais além, os filhos devem ser responsáveis por seus pais de mais idade. E quando não se é mais nem tão jovem e, ainda não tão idoso que se necessite de cuidados permanentes por parte dos filhos? Temos aí a geração de pais desvalidos: pais órfãos de seus filhos vivos. E estes respondem, de maneira geral, ou com negligência ou, com superproteção. Qualquer das formas caracteriza maus cuidados e violência emocional. 

Na vida dos mais velhos alguns dos limites físicos e mentais vão se instalando e vão mudando com a idade. Dos pais e dos filhos. Desobrigados que foram de serem solidários aos seus pais, os filhos adultos como que se habituaram a não prestarem atenção às necessidades de seus pais, conforme envelhecem. Mantêm expectativas irrealistas e não têm pálida ideia do que é ter lutado toda uma vida para se auto afirmar, para depois passar a viver com dependências relativas e dar de frente com a grande dor da exclusão social. A começar pela perda dos postos de trabalho e, a continuar, pela enxurrada de preconceitos que se abatem sobre os idosos, nas sociedades profundamente preconceituosas e fóbicas em relação à morte e à velhice. 

Somente que, em vez de se flexibilizarem, uns e outros, os filhos tentam modificar seus pais, ensinando-lhes como envelhecer. Chega a ser patético. Então, eles impõem suas verdades pós-modernas e os idosos fingem acatar seus conselhos, que não foram pedidos e nem lhes cabem de fato. De onde vem a prepotência de filhos adultos e netos adolescentes que se arrogam saber como seus pais e avós devem ser, fazer, sentir e pensar ao envelhecer? 

É risível o esforço das gerações mais jovens, querendo educá-los, quando o envelhecimento é uma obra social e, mais, profundamente coletiva, da qual os adultos de hoje - que justa, porém indevidamente - cultivam os valores da juventude permanente e, da velhice não fazem a mais pálida ideia. Além do que, também não têm a menor noção de como haverão eles próprios de envelhecer, uma vez que está em curso uma profunda mudança nas formas, estilos e no tempo de se viver até envelhecer naturalmente e, morrer a Boa Morte. 

Penso ser uma verdadeira utopia propor, neste momento crítico, mudanças definidas na interação entre pais e filhos e entre irmãos. Mudanças definidas e, de nenhuma forma definitivas, porém, um tanto mais humanas, sensíveis e confortáveis. 

O compartilhar é imperativo. O dialogar poderá interpor-se entre os conflitos geracionais, quem sabe atenuando-os e reafirmando a necessidade de resgatar a simplicidade dos afetos garantidos e das presenças necessárias para a segurança de todos. 

Quando a solidão e o desamparo, o abandono emocional, forem reconhecidos como altamente nocivos, pela experiência e pelas autoridades médicas, em redes públicas de saúde e de comunicação, quem sabe ouviremos mais pessoas que pensam desta mesma forma, porém se auto impuseram a lei do silêncio. Por vergonha de se declararem abandonados justamente por aqueles a quem mais se dedicaram até então. 

É necessário aprender a enfrentar o que constitui perigo, alto risco para a saúde moral e emocional para cada faixa etária. Temos previsão de que, chegados ao ano de 2.035, no Brasil haverá mais pessoas com 55 anos ou mais de idade, do que crianças de até dez anos, em toda a população. E, com certeza, no seio das famílias. Estudos de grande envergadura em relação ao envelhecimento populacional afirmam que a população de 80 anos e mais é a que vai quadruplicar de hoje até o ano de 2.050. O diálogo, portanto, intra e intergeracional deve ensaiar seus passos desde agora. 

O aumento expressivo de idosos acima dos 80 anos nas políticas públicas ainda não está, nem de longe, sendo contemplado pelas autoridades competentes. As medidas a serem tomadas serão muito duras. Ninguém de nós vai ficar de fora. Como não deve permanecer fora da discussão sobre o envelhecimento populacional mundial e as estratégias para enfrentá-lo. Qualidade e quantidade de tempo e de presença na vida do outro. 

Até o momento, nas áreas da pedagogia, do ensino e da psicologia estivemos discutindo a suposta importância da quantidade versus a qualidade do tempo dedicado ao filho para justificar, ou não justificar, uma ausência paterna e, mais recentemente, materna. Mas, o que é qualidade de tempo numa relação autêntica? É oportuno reiterar que não se alcança um tempo de qualidade sem um tempo alocado, primeiramente, à quantidade. Qualquer coisa, em qualquer trabalho que se realize é sabido que a pessoa precisa se comprometer e se dedicar à exaustão, para tornar-se experiente e exímio naquilo que faz. Cunhou-se, inclusive, o termo ‘tempo de qualidade’. Uma falácia, porque aquilo que pode ser de qualidade para um pai pode não o ser para um filho. As perspectivas são absolutamente diferentes e não equivalentes. Os pais já foram crianças, mas as crianças não têm a menor noção do que é ser adulto. Da mesma forma, mais tarde, os filhos adultos não têm a menor noção do que é ser velho ou idoso, conforme se queira denominar. 

Muitos de nós não têm liberdade de escolher os melhores horários para si próprios, quando precisam fazer suas coisas. Os tempos biológicos, sociais e existenciais não batem ponto a ponto com os tempos cronológicos. Este já é um drama vivido no cotidiano. A preguiça bate à hora. As responsabilidades obrigam a todos fazerem suas escolhas. Serão, porém, todas elas ‘obrigatórias’? E ‘têm que’ ser desempenhadas exatamente naquela hora? Ah, fica mais um pouco. Vamos conversar mais. Você vem tão pouco aqui. São estas as falas às despedidas. As crianças choramingam ‘não sai, fica comigo, conta outra história, pega um copo d’água’, como que ‘obrigando-os’ a lhes conceder mais de sua presença antes de dormir. Sentem-se seguras ao lado de seus pais. 

Os idosos também pranteiam a solidão de suas vidas e, publicamente, oferecem almoços, lanches e jantares em troca de uma supérflua visitinha, uma quase ‘inspeção’ do estado de coisas em que eles vivem. Ou sobrevivem. Por que romper com laços familiares, deixar para lá e não fazer questão, atenta contra a saúde física e mental Honrar pai e mãe – ter o privilégio de fazer o que merece ser bem feito. Seria possível dividir melhor o tempo dedicado ao trabalho, ao lazer, aos afazeres domésticos, ao casamento e à convivência entre pais e filhos, irmãos e irmãs? 

Assim como os pais não compreendem perfeitamente as necessidades de seus filhos, os filhos não captam, nem de longe as necessidades de seus pais idosos. A atenção é quase toda orientada para a saúde física. Aqui, porém, focalizamos a necessidade básica, primordial de conviver intimamente com aqueles que são queridos e, que podem cuidar dos mais idosos. E que deveriam fazê-lo mais amiúde. Não porque seja um dever imposto pela Lei, mas por consciência e abnegação, em honra aos pais. 

Assim como agradecemos pela bênção de ter e de educar um filho, deveríamos ser aptos a reconhecer a honra de cuidar dos pais de mais idade. Mas não somente quando a ‘mais idade’ chegar e se instalar definitivamente, mas ao longo de toda uma vida, porque sempre os pais têm mais idade que seus filhos. O que tem sido um pesado fardo, pode ser visto como um privilégio. 

Idosos não têm que ser entretidos com visitas e passeios. Levar mamãe ao cinema é diferente de sair junto para assistir o mesmo filme. Vencer a impaciência e a arrogância de criticar os pais requer, minimamente, uma boa dose de reflexão e autocrítica.

Num tempo em que às mesas dos restaurantes e nas casas de família todos se entretêm mais com as novas tecnologias, que com as conversas olho no olho, é preciso repensar a sociedade e os valores que estamos compartilhando. Nos perguntarmos, com seriedade e coragem, onde estamos todos errando. No que estamos nos excedendo e do que estamos padecendo.

As novas tecnologias podem nos conectar e ao mesmo tempo nos afastar uns dos outros. Estar conectado não significa estar em comunicação. Participar – de uma rede – não significa pertencer a um grupo, a uma família. Dar opinião não é conversar. E conversar não implica em ser verdadeiro e íntimo. As tecnologias nos conectam e nos tornam menos comunicativos e, de certa forma, inacessíveis. O mundo virtualizado não atende aos apelos de afeto e atenção. Pais, filhos e irmãos são sócios: não podem se separar, nem se negar a compartilhar da vida em comum, a não ser pagando com a saúde e a descrença. A família precisa ser solidária e cooperativa, senão todos os seus membros padecem. 

Pais, filhos e irmãos são seres sensíveis e, não clientes para serem atendidos, agradados e fidelizados. A casa da família não é um parque de diversões. As casas de longa permanência não são creches de idosos, nem shoppings onde comprar afetos e cobrar obrigações. 

Filhos não fazem as vezes de pai e mãe. Pai e mãe têm por pressuposto básico educar seus filhos. Filhos de idosos têm por pressuposto cuidar deles, sem querer educá-los. Uma geração zela pela integridade física, moral e, emocional da outra, desde que esta esteja em condição de maior vulnerabilidade. E cuida da própria geração quando as fragilidades e fragilizações ocorrem. Cada qual pode e deve assumir suas escolhas e se aproximar ou se afastar. Mas não é correto nem justo se enganar. Não há como delegar a estranhos sentir afeto pelos nossos filhos, pelos nossos pais, pelos nossos irmãos. 

Delegam-se tarefas, não deveres morais, escolhas que se fazem pela nossa honra e pela honra da família. O falecimento ou adoecimento grave de alguém, deixa uma lacuna que jamais será preenchida Não há lugares vagos a ocupar, há perdas e ausências a prantear e datas para voltar a lembrar e celebrar. Os mortos permanecem vivos na memória de seus familiares. Pais e filhos que não respeitam as leis morais e espirituais ensinam aos seus descendentes a não respeitar sequer a si próprios. Ser pai e mãe decorre de uma escolha nada fácil, porque a partir dela o homem e a mulher buscam fazer a coisa certa. Muitas vezes, porém, sabendo com muito mais clareza o que é errado fazer, do que é o certo a ser feito. 

Abdicamos muito da nossa identidade pessoal, para validar os valores mais profundos da nossa sensibilidade moral e afetiva. Ninguém é ético sem aprender as artes da abnegação e da suspensão dos julgamentos. Ser filho, tanto quanto ser pai, é assumir responsabilidades sobre a vida de outras pessoas. 

Uma vida cheia de exigências, em que as respostas não surgem sem maiores sacrifícios. Mas só há um modo perfeito de viver em família: é convivendo. É estando presente, é compartilhando as graças e as desgraças. Errar, desculpar, perdoar e, se perdoar. Aprender a considerar uns aos outros e fazer toda uma série de movimentos do corpo e do espírito. 

Trata-se de um vasto campo de aprendizagem, para todos que vivem em família e contribuem para compor uma pequena história em comum, que adquire um grande significado para cada um. Reparar erros, mudar condutas, ser gentil e atencioso, desafiar as exigências do próprio ego, cair de cansaço e, encontrar bons motivos e alentos que dificultam e facilitam a luta pela vida com significado. 

Sem significado, a vida não passa de um grande movimento pela sobrevivência. E, mesmo assim, o espírito da espécie agradece. 

Se fosse fácil não precisaria ser um Pronunciamento. Bastaria ser uma lei. Não há soluções fáceis para todos os conflitos familiares. Nem sabemos como realizar mudanças imprevistas e indesejadas sem sofrer, sem reclamar, sem querer desistir. Algumas soluções, porém, não devem ser descartadas. Especialmente as soluções ditadas pelo amor incondicional. E, não havendo amor, buscar as soluções possíveis em nome da honra a que pais e filhos se obrigam e por onde todos desenvolvem seus mais elevados valores de caráter. 

Se fosse fácil honrar pai, não haveria de ser um Pronunciamento. Bastaria promulgar uma lei dos homens. Mas, não. É uma lei imposta pelo Criador, uma autoridade maior do que qualquer um de nós, mais gigante que todos nós que habitamos e, convivemos em várias dimensões, neste nosso multiverso. 

Estar presente. Mostrar-se presente. Significar a presença. Honrar pai e mãe significa: honrar os papéis e os consequentes deveres que assumimos ao trazer uma vida a este mundo. Tornarmo-nos uma pessoa honrada, em nome dos nossos filhos. E, também, significa honrar nossos pais, por eles terem nos trazido até aqui. 

Honrar não significa gostar, nem concordar, nem esquecer as muitas dores que eles possam ter-nos causado. Mas é fazer a parte de que nos cabe, gostando ou não. E fazê-la com nobreza e espírito elevado, porque – assim como cada filho é um filho - pai e mãe só temos um em nossas vidas. Podemos ser outros pais: de afeto, por afinidade. Fazem a vez de pai: os mentores, os apoiadores, os que cuidam de nós e nos colocam no bom caminho. Fazem a vez de mãe: as nutrizes, as que alimentam e, que nos conduzem ao longo do bom caminho. Existem pais adotivos. Existem pais por afinidade. Existem pais por afinidade e identificação. Existem pais amorosos e, também os terríveis, que são pessoas ‘que não valem um tostão’, como diriam os antigos. Alguns pais e mães são tão adoráveis e desagradáveis, quanto temíveis. 

Pais, filhos e irmãos formam uma unidade que pode ser rompida e se mostrar disfuncional, mas que não pode ser dissolvida. Pais não são o problema. Filhos não são o problema. E irmãos não são o problema. Não há problema. Há algo maior a ser desenvolvido e cultivado: o cuidado com a família sempre. Existe a experiência de doar e de se doar para quem, talvez e, muito provavelmente, não nos dará de volta o que recebe ou recebeu de cada um de nós. Mas o retorno sempre advirá em relação às atitudes e condutas que tomamos. Não se faz isso porque o outro nos fez aquilo. Não, essa não é a resposta de uma alma livre. Honra-se pai e mãe só porque eles existem. E devemos honrá-los até depois deles já não estarem mais vivos e presentes. A eles e a seus pais e pais dos seus pais, nossos ancestrais. 

Uma comunidade é tanto mais estável e confiável, quanto mais presta honrarias aos antepassados, celebrando datas de acontecimentos, espacialmente as datas de chegada e de partida. Honramos com as nossas atitudes e com a nossa palavra: por meio das admoestações quando nossos filhos fazem coisas erradas. E, também, quando lhes damos nossas bendições. 

A honra não é vivida em segredo. Ela exige uma manifestação pública e uma concretude que seja percebida pela própria pessoa e por todos os demais. Estar presente em um momento de júbilo, bem como estar presente numa hora de amargor. Estar presente e existir, de fato, na vida uns dos outros: pais, filhos e irmãos. Mesmo na ocorrência de brigas inevitáveis, saber que podemos contar com a nossa família. 

A vida é de mão única e flui num único sentido: primeiro os avós, depois os filhos e depois os netos. A inversão dessa ordem é impraticável, por isso sentimos tanto pesar quando ela se inverte. Os privilégios devem, portanto, ser conferidos aos que aqui primeiro chegaram. Honrar pai e mãe é outra concessão de privilégio que agora cabe aos filhos e netos praticar, primeiro passo para a aprendizagem da devoção, a expressão de um amor incondicional. 

Na infância não precisamos provar nosso amor aos nossos pais. A nossa simples existência já lhes basta. Conforme nossos pais e avós envelhecem, o amor que é natural se converte, futuramente, em uma sábia escolha existencial: fazemos, então, a tradução deste amor em palavras e gestos de gratidão e honra, para com eles, fontes primordiais, por onde fluem todas as vidas. 


Ana Fraiman, abril de 2016. Fonte: https://www.revistapazes.com/5440-2/
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