sábado, 1 de agosto de 2009

Freud explica muitas posições políticas

.


A psicanálise é uma grande arma para a ciência política. Principalmente no Brasil, à beira das eleições, com todos os ódios e neuroses aflorando. Por trás das ideologias e certezas de cada um, jaz o trauma, pulsando como uma velha ferida - a neurose, o sintoma. Há uma doença manchando a bandeira política de cada um.

Imaginemos uma sessão de análise de grupo. No centro, um psicanalista de charuto e barba. Em volta, intelectuais pensando o Brasil.

Psicanalista - o que fazer diante da realidade brasileira?

O Amante do Povo

- Doutor... é tão terrível ver a miséria deste país... Eu sofro tanto com isso... Psi - O senhor é miserável? - Não... ganho até bem...
Psi - O senhor luta por eles? - Não; só choro.
Psi - Essa 'dor' pelos pobres lhe traz muito lucro. Sente-se 'bom'. Eles não ganham nada com isso. O próximo!...

O Erudito

- Eu sei tudo, doutor. Inclusive do seu Freud. Eu li tudo. Não há saída... só me resta ficar aqui na universidade pensando na aporia (bem sem saída) histórica em que estamos, não há um 'telos' (luz no fim do túnel) possível... Como filósofos, não podemos sacrificar nossa 'gravitas' (seriedade) com uma 'praxis' (prática-teórica) que seja apenas um 'ersatz' (quebra-galho) da verdadeira revolução...
Psi - 'Acabou o tempo da reflexão; começa a ação (Marx)'... O senhor tem inveja de quem vai à luta... A filosofia para o senhor é apenas um mecanismo de defesa.

O Radical Durão

- Temos de encarar os problemas do país radicalmente, sem frescuras. Essas complexidades democráticas modernas, ambigüidades políticas são coisas de veado!
Psi - O senhor tem medo da complexidade ou medo de ser veado? O próximo!...

A Vítima

- Só eu estou certo! Apanhei muito em 69. Tortura, porrada.
Psi - O senhor acha que se santificou no pau-de-arara? Nunca o senhor se sentiu tão puro e nobre como durante a ditadura, não é? Orgulhe-se da luta, não das porradas. Mesmo um grande herói torturado pode errar politicamente.

O Limpinho

- Doutor... Eu tenho nojo desses políticos, desta sordidez... Como artista e pensador, eu me mantenho longe desse lixo todo, deste horror brasileiro... Eu sonho com um Brasil novo, puro...
Psi - O senhor lava as mãos a toda hora? Não olha as próprias fezes? Sexo e beijo de boca aberta nem pensar, né?

O Infeliz

- Doutor, eu estou chorando assim porque minha vida é uma frustração... Ser a favor dos pobres nos leva ao fracasso. Eu poderia ter ganho dinheiro, mulheres, sucesso, mas sou de esquerda.
Psi - O senhor fracassou porque é de esquerda ou é de esquerda porque fracassou?

O Sonhador

- Só amo as utopias, doutor... Este governo vive no administrativismo, na política do possível... Essas reformas podem funcionar na prática; na teoria não funcionam. Só amo o sonho... Sem sonho, não ganhamos nada e, se ganharmos, perdemos o sonho...
Psi - O senhor ainda mora com sua mãe, não?

O Paranóico

- O mundo atual é um conto-do-vigário em que caímos. Há uma conspiração política aí fora para nos destruir... Tudo que parece ser, não é. Querem me pegar desprevenido pelas costas.
Psi - O senhor é gay?
- Se disser isso de novo, eu lhe mato!!!... E vocês?!... Estão me olhando por quê? (foge gritando).

O Anal

- Este país não tem jeito. Só uma grande catástrofe, uma tempestade de merda consertava isso aí... Só depois de uma grande cagada política, aí, sim, purificados, teríamos a bonança...
Psi - Seu pai lhe batia muito, quando você se sujava nas calças?

O Mártir Imaginário


- Tiradentes foi esquartejado... Frei Caneca enforcado... Como é belo o martírio dos que morreram pela salvação do Brasil... Grandes heróis mortos...
Psi - O senhor acha a vitória uma 'coisa de burguês'... Não é?... Se o senhor fizesse sucesso, seu pai falido lhe castraria?

O Nostálgico

- Ahhh... como era verde o meu vale!... Ai, como era bom antigamente... Vida mais simples, todos se amavam... Aí chegou o neoliberalismo e estragou tudo.
Psi - O senhor ama a utopia em marcha à ré? Deve ter sido uma criança mimada, filho único... Aí, nasceram os irmãozinhos, não foi?

O Imutável

- Pode mudar o mundo. Eu não mudo um milímetro em minhas idéias... Há valores de que não abdico!
Psi - O senhor tem medo de mudar de sexo? De virar mulher?...
("Arghh!" - mais um que foge gritando).

O Militante do Ar

- Avante povo! Para as barricadas! Revolução ou morte!
Psi - O senhor já pegou em armas? Ahh, não? Fica em casa de pijama torcendo pelo 'povo' como quem torce pelo Palmeiras? É um caso de quixotismo preguiçoso ou militância imaginária...

O 'Bode Preto'


- Tudo é uma bosta... Tudo é cronicamente inviável... Beco sem saída... Não há luz no fim do túnel...
Psi - O senhor é paulista? Se tudo é uma bosta, sobra apenas o senhor - o único que presta... Isso é narcisismo de paulista engarrafado no caos urbano da cidade... Tome Prozac e vá para a Bahia!... Eu estou aí dentro...

E você, leitor intelectual e neurótico, 'meu semelhante e irmão', onde você se enquadra?

(Arnaldo Jabor)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é muito bem vindo.