terça-feira, 30 de julho de 2013

Solidariedade na ilha

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‘A presidenta, coitada. Eu estive pensando que não haveria melhor maneira de começar o programa Braços Abertos do que com ela’


Contam os mais antigos que, faz algumas décadas, em Salinas da Margarida, em plena festa da padroeira Nossa Senhora do Carmo, Zecamunista encerrou um comício do Partidão com um discurso incendiário no qual, agitando o punho na direção do céu, xingou o padre e repetiu várias vezes que a religião é o ópio do povo. Acabado o comício e pouco antes de o delegado levá-lo em cana novamente, ele foi muito cumprimentado por cidadãos que se agradaram especialmente dessa parte do ópio, mas, mal ele se recuperava da surpresa, descobriu que o pessoal não sabia o que era ópio e, na maior parte, achava que se tratava de um elogio fino, desses que a gente não entende direito, mas finge que entende, para não passar por iletrado.

Tudo indica que ele nunca superou esse trauma da juventude, pois não se manifesta mais sobre o assunto, a não ser quando muito provocado. Nem mesmo a visita do Papa suscitou qualquer manifestação da parte dele, que assistiu ao noticiário na televisão do Bar de Espanha muito composto e sem gritar nenhuma palavra de ordem. Na verdade, circula até uma fofoca, quiçá invenção de algum marido sem espírito esportivo, ou parceiro de pôquer ressentido, altamente difamatória para um bolchevique de quatro costados, segundo a qual ele conseguiu a colaboração de alguém que conhecia alguém que iria estar com Sua Santidade, para ver se descolava uma bençãozinha para a estampa de São Caetano que tem em casa e de quem se murmura à boca pequena que ele é devoto. São Caetano é o paciente, compreensivo e laborioso padroeiro dos jogadores, apostadores e dos que precisam de sorte em geral, mas Zeca desmente tudo com indignação, embora, se desafiado a renegar o santo, disfarce, mude de assunto e, no máximo, responda que não aceita provocações da direita e não entra em discussões pequeno-burguesas. De forma que, diante de uma história tão eivada de dúvidas e controvérsias, não chegou a causar surpresa o anúncio que ele fez, de que a visita do Papa o tinha inspirado.

— Eu confesso que fui influenciado pelo Papa — disse ele. — Somente depois da visita dele foi que eu me toquei.

— Você se converteu?

— Me respeite! Eu nunca traí meu currículo, eu sou subversivo desde os oito anos, boicotei a páscoa da escola duas vezes e já tomei muito porre de vinho de padre, roubado da sacristia, me respeite. Somente um ignorante é que acha que um materialista cem por cento, como eu, não pode sentir solidariedade humana. Não tem nada de conversão, ele apenas me levou a conceber um novo projeto aqui para a ilha, só que desta vez não é visando o lucro, é por uma recompensa moral, por assim dizer espiritual. E também pode ajudar na imagem aqui da ilha, a hospitalidade é muito importante para o turismo.

— É como aquele outro plano que você bolou, para fazer aqui a cadeia dos condenados do mensalão?

— Não aquele eu abandonei, só vai ter preso mensaleiro na outra encarnação e, como eu não acredito em outra encarnação, é nunca mesmo, esqueça essa besteira, foi tudo brincadeira deles. Não, agora é um projeto muito diferente, ainda não achei um bom nome para o programa, mas creio que talvez Braços Abertos ficasse bem. O primeiro em que eu pensei foi Aconchego da Consolação, mas achei com pinta de filme mexicano de antigamente. Braços Abertos, que é que você acha? Você acha que ela ia compreender o espírito da coisa e até recuperar sua crença na humanidade?

— Zeca, o que é que você andou bebendo? Não entendi nada, ela quem?

— A presidenta, coitada. Eu estive pensando que não haveria melhor maneira de começar o programa Braços Abertos do que com ela, todo mundo ia saber da iniciativa e ver como a ilha seria a solução para muitos. Eu tenho o coração mole, fico comovido com o sofrimento dela.

— Eu não sei de sofrimento nenhum dela.

— Você desconhece a política, eu conheço a política. Você veja, coitadinha, nada deu certo, ela não levou sorte. Praticamente tudo foi para trás, a bagunça é grande, quem era para ajudar atrapalha muito mais do que ajuda, ninguém se entende direito, é um pega pra capar muito feroz, cadê o meu pra lá, cadê o meu pra cá, só estão com ela enquanto acharem que dá futuro. E agora já começaram a se engalfinhar e a disputar o que vai aparecer e o que vai sobrar. Ninguém mais liga para ela, que não sabe se expressar direito e, quando começa a falar, parece que vai dar um cascudo em alguém, coitadinha. Eu fico com pena, é muito duro, às vezes eu penso que ela está ali, querendo fazer pose de cáiser prussiano, mas com vontade de chorar, é desumano.

— Eu nunca tinha pensado nisso.

— É que você também é desumano. Mas eu vou fazer um convite a ela para vir esquecer as mágoas aqui. Agora não, ainda é muito cedo, ela ainda não acreditará, se alguém contar a ela o que vai acontecer. Mas daqui a pouco, a começar pelos atuais bajuladores, vai ter gente sem querer atender ao telefonema, vai ter gente mandando dizer que não está, vai ter mais gente ainda dizendo a ela uma coisa e fazendo outra, vai ter até um cara do cafezinho sem as mesmas mesuras de antigamente, outros vão deixar de lembrar o aniversário, é um conjunto de coisas sutil, mas muito cruel, eu fico comiserado. Aqui ela vai ser recebida com carinho e compreensão, vai até conseguir fazer amigos.

— Que é isso, amigos ela já tem.

— Possivelmente, mas agora não dá para ela saber quem são eles. Ela ainda tem muito susto pela frente e o Braços Abertos chegou para ajudar. O Papa aconselha amar o semelhante. E a semelhanta, como diria ela.

domingo, 28 de julho de 2013

O artigo de Vargas Llosa avisa que Mandela não tem nada a ver com lulas e dilmas

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O “Elogio de Mandela”, assinado por Mario Vargas Llosa, condensa a deslumbrante trajetória de um dos maiores estadistas da história em apenas 13 parágrafos. No sétimo, reproduzido a seguir, resume o que foi provavelmente a etapa mais fascinante da biografia de Nelson Mandela:

Seria preciso recorrer à Bíblia, àquelas histórias exemplares do catecismo que nos contavam quando éramos crianças, para tentar entender o poder de convicção, a paciência, a vontade inquebrantável e o heroísmo que Nelson Mandela deve ter demonstrado durante todos aqueles anos para persuadir, primeiramente seus próprios companheiros de Robben Island, depois seus correligionários do Congresso Nacional Africano e, por último, os próprios governantes e a minoria branca, de que não era impossível que a razão substituísse o medo e o preconceito, que uma transição sem violência era igualmente factível e ela assentaria as bases de uma convivência humana em lugar do sistema cruel e discriminatório imposto à África do Sul por séculos. Creio que Nelson Mandela é ainda mais digno de reconhecimento por esse trabalho extremamente lento, hercúleo, interminável, graças ao qual suas ideias e convicções foram contagiando os seus compatriotas como um todo, do que pelos extraordinários serviços que prestaria depois, já no governo, aos seus concidadãos e à cultura democrática.

Assim é Nelson Mandela aos olhos do extraordinário escritor e democrata. Visto por Lula, o gigante que impediu a sangrenta dissolução da África do Sul tem semelhanças com Dilma Rousseff. Essa miopia obscena se manifestou pela primeira vez em maio de 2010, quando o PT transformou o horário do partido na TV num comício eletrônico. O duplo insulto à inteligência alheia inspirou o post abaixo transcrito:

O presidente Lula precisou de duas frases e uma comparação infamante para afrontar a Justiça Eleitoral, escancarar a própria indigência intelectual e assassinar a verdade: “Uma parte da história da Dilma me lembra muito a do Mandela”, disse no programa ilegal do PT. “Uma vez o Mandela me disse que só foi para o confronto quando não deram outra saída para ele”. O estupro da História foi chancelado pela candidata que mente como quem respira: “Eu lutei, sim. Pela liberdade, pela democracia”.

A comparação é mais que uma impostura atrevida, é mais que outro estelionato eleitoreiro. É um insulto ao homem que redesenhou o destino da África do Sul. Nelson Mandela lutou pelo fim do apartheid, pela restauração da liberdade e pelo nascimento do regime democrático. Dilma Rousseff serviu a grupos radicais que queriam trocar a ditadura militar pela ditadura comunista. Ele aceitou o confronto depois de propor todas as soluções pacíficas possíveis. Ela aderiu à luta armada em 1967, um ano antes da decretação do AI-5.

Mandela protagonizou combates reais. Dilma não passou de figurante em assaltos a bancos e cofres particulares. Ele ficou preso 27 anos por liderar a imensa maioria negra. Ela ficou três anos na cadeia por obedecer a extremistas ignorados pelo povo. Mandela venceu. Dilma perdeu. A ditadura militar foi derrotada pela resistência democrática de que jamais participou.

Mandela chegou ao poder pela vontade popular. Dilma, que nunca disputou nem eleição de síndico, é fruto da vontade de Lula. Ele negociou com os carcereiros brancos a extinção do apartheid. Ela despreza os democratas que negociaram a anistia de que foi beneficiária e declara guerra a todos os oposicionistas. Mandela é um grande orador, um líder vocacional e um político sedutor. Dilma não diz coisa com coisa, faz tudo o que manda o mestre e tem a simpatia de um poste.

Nelson Mandela é um estadista. Dilma Rousseff é uma farsa.

No penúltimo parágrafo do artigo, Vargas Llosa lembra que Nelson Mandela não foi afetado por “esse tipo de devoção popular mitológica que costuma atordoar quem a recebe e fazer dele – como no caso de Hitler, Stalin, Mao, Fidel Castro – um demagogo e um tirano”. O gênio que acaba de completar 95 anos não se deixou envaidecer: “Ele continuou sendo o homem simples, austero e honesto que sempre foi e, para surpresa do mundo todo, negou-se a permanecer no poder, como seus compatriotas pediam. Aposentou-se e foi passar os seus últimos anos na aldeia indígena de onde se originara sua família”.

Nada a ver com políticos menores. Nada a ver com lulas e dilmas.


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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Deus de Spinoza (e de Einstein) - Deus falando com você

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"Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno. Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti."

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Einstein, quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu: “Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens”.


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quinta-feira, 18 de julho de 2013

A ‘armadilha existencial’ de Maquiavel

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É forçoso reconhecer que o Príncipe, e o pensamento político de Maquiavel, não apenas possuem vigência e atualidade no Brasil como, em todos os países e ao longo de todo este período de 500 anos.

Há, pois algo de radicalmente válido no pensamento de Maquiavel que lhe conferiu a capacidade de navegar ao longo do oceano dos séculos, sem jamais ser considerado obsoleto, historicamente condicionado e portanto, superado.

Talvez esse algo de radicalmente válido possa ser descrito como o comportamento humano em situações de ausência de normas regulando o comportamento dos cidadãos, ou de ambivalência, fragilidade e ilegitimidade das normas existentes. Em situações como essas, os desonestos, os poderosos, os violentos, os ousados instauram uma dinâmica de poder a qualquer custo, da riqueza e do prestígio por todos os meios e do interesse pessoal acima de qualquer outro.

O argumento central da teoria política de Maquiavel, que significou um rompimento com o pensamento cristão ortodoxo da “Grande corrente do ser”, é a falta de articulação, coerência e hierarquia entre as diferentes dimensões da existência humana.

Para ele, não existe um conjunto de virtudes igualmente válidas para todas as esferas da vida (família, sociedade, política, economia etc). Em outras palavras, o que é virtude numa esfera pode não ser virtude em outra.

Não foi Maquiavel quem criou esta “armadilha existencial”, por meio da qual uma virtude pessoal pode transformar-se em malefício público e inversamente, um malefício público pode se tornar numa virtude privada. Esta, segundo ele, é a real condição da natureza humana. Esta é a realidade da vida – não a vida que desejaríamos, mas a vida como ela é, e Maquiavel dedica-se a explicar a política apenas e exclusivamente na vida real.

A economia visa a riqueza; a política visa o poder; a família visa a sobrevivência; a religião visa a salvação em outra vida; a vida social visa o prestígio e admiração. Ao buscar o objetivo próprio de uma dessas esferas o indivíduo se afasta do objetivo próprio de outra. Assim, ao procurar dar à sua vida um objetivo ético o indivíduo é absolutamente fiel à palavra empenhada. Ao transferir este objetivo para a vida política, ele vai prejudicar seu principado pois seus rivais não hesitarão em não manter a palavra que empenharam.

“Por isso, um governante prudente não deve manter sua palavra, quando fazê-lo for contra o seu interesse e, quando as razões que o fizeram comprometê-la não mais existirem. Se os homens fossem bons, este preceito seria errado e condenável, mas, como eles são maus e não honrarão as suas palavras com você, você também não está obrigado a manter a sua para com eles.” (Maquiavel – O Príncipe Cap. XVIII)

Tornava-se assim impossível para Maquiavel a existência de uma mesma ética, aplicável com igual validade, à esfera familiar e à esfera política. Cada uma delas tem uma lógica própria. O que é benefício numa pode ou não ser benefício em outra. Na política fundamentalmente, a disjuntiva ocorre entre vida privada e vida pública.

O cidadão comum continua cultivando os valores da vida privada, acreditando que devam ser os mesmos para regular a vida pública, enquanto o político e o governante são forçados a administrar aquela inevitável contradição.

É nessa diferença que reside a ambiguidade da política para o cidadão comum, e a sua tendência de encará-la de maneira negativa e pejorativa.

A atualidade de Maquiavel e a aplicabilidade de suas ideias, recomendações e advertências, depende então do grau em que um sistema político logrou subordinar a articulação dos interesses e a competição pelo poder a regras legais válidas, legítimas e executáveis que, ao estabelecer limites ao conflito, assegurem a civilidade política. Em outras palavras, um sistema em que quem governa são as leis e não os indivíduos.

Ao longo da história ocidental, o estado de direito e a democracia contêm as instituições mais avançadas para a promoção e defesa da liberdade, para a moderação dos conflitos e para a preservação da civilidade nas relações sociais.



(Francisco Ferraz é professor de Ciência Política da UFRGS e diretor-presidente do site Política para Políticos: www.politicaparapoliticos.com.br)
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terça-feira, 16 de julho de 2013

"Precisa-se de Matéria Prima para construir um País"

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A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e  Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula não serve. E o que vier depois de Lula também não servirá para nada..

Por isso estou começando a suspeitar que o problema não está no ladrão corrupto que foi Collor, ou na farsa que é o Lula. O problema está em nós. Nós como POVO. Nós como matéria prima de um país.

Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA" é a moeda que sempre é valorizada, tanto ou mais do que o dólar.

Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e respeito aos demais.

Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nas calçadas onde se paga por um só jornal... E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as "EMPRESAS PRIVADAS" são papelarias particulares de seus empregados desonestos, que levam para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes e tudo o que possa ser útil para o trabalho dos filhos ...e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo porque conseguiu "puxar" a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a declaração de imposto de renda para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país onde a impontualidade é um hábito.

Onde os diretores das empresas não valorizam o capital humano.

Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.

Onde pessoas fazem "gatos" para roubar luz e água e nos queixamos de como esses serviços estão caros.

Onde não existe a cultura pela leitura (exemplo maior nosso atual Presidente, que recentemente falou que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem econômica.

Onde nossos congressistas trabalham dois dias por semana para aprovar projetos e leis que só servem para afundar ao que não tem, encher o saco ao que tem pouco e beneficiar só a alguns.

Pertenço a um país onde as carteiras de motorista e os certificados médicos podem ser "comprados", sem fazer nenhum exame.

Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar o lugar.

Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o pedestre. Um país onde fazemos um monte de coisa errada, mas nos esbaldamos em criticar nossos governantes.

Quanto mais analiso os defeitos do Fernando Henrique e do Lula, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem "molhei" a mão de um guarda de trânsito para não ser multado.

Quanto mais digo o quanto o Dirceu é culpado, melhor sou eu como brasileiro, apesar de ainda hoje de manhã passei para trás um cliente através de uma fraude, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não! Não! Não! Já basta!!.

Como "Matéria Prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas nos falta muito para sermos os homens e mulheres que nosso país precisa.

Esses defeitos, essa "ESPERTEZA BRASILEIRA" congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, mais do que Collor, Itamar, Fernando Henrique ou Lula, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...

Me entristeço.

Porque, ainda que Lula renunciasse hoje mesmo, o próximo presidente que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada...

Não tenho nenhuma garantia de que alguém o possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique, e nem serve Lula, nem servirá o que vier.

Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?

Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente sacaneados!!!

É muito gostoso ser brasileiro. Mas quando essa brasilinidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, aí a coisa muda...

Não esperemos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um Messias.

Nós temos que mudar, um novo governador com os mesmos brasileiros não poderá fazer nada. Está muito claro... Somos nós os que temos que mudar.

Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda nos acontecendo: desculpamos a mediocridade mediante programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de desentendido.

Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.

AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.

E você, o que pensa?.. MEDITE!




(João Ubaldo Ribeiro - Texto retirado do jornal do meio ambiente, publicado em 14 de novembro de 2005 - Fonte: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/11/337912.shtml)
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segunda-feira, 15 de julho de 2013

"O Plebiscito", por Arnaldo Jabor

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Pai, o que é plebiscito? ─ assim perguntava o menino, no conto de Artur Azevedo, em 1890. O mesmo aconteceu comigo.

Estava na sala e de repente meu filho levanta a cabeça e pergunta:

─ Pai, o que é plebiscito?

Eu fechei os olhos imediatamente para fingir que dormia. O menino insiste:

─ Papai? O que é?

Não tenho remédio senão abrir os olhos.

─ Ora essa, rapaz, tens treze anos e não sabes ainda o que é plebiscito?

─ Se soubesse, não perguntava.

─ Plebiscito, meu filho, é quando o governo pergunta ao povo o que ele acha de determinado assunto importante para o país. Voltou à tona depois que houve as manifestações de rua, com mais de um milhão de pessoas protestando contra o caos brasileiro.

─ Que pergunta é importante para o Brasil?

─ São muitas perguntas meu filho… quer exemplos? Muito bem… vamos a isso:

─ Você é contra ou a favor de 15 bilhões para estádios de futebol, dinheiro que dava para fazer 50 hospitais ou 75 quilômetros de metrô em São Paulo? Você é a favor da reforma politica? Você sabe o que é voto distrital comum ou misto? É contra ou a favor? Aliás, você sabe o que é isso, filho?

─ Se você explicar…

─ Também não sei, filho… mas, vamos lá… Você é contra ou a favor de haver 28 mil cargos de confiança no governo, se a Inglaterra tem apenas 800 e os Estados Unidos, 2 mil? O Brasil tem mais de 5.700 municípios, com prefeitos, vice prefeitos, 513 deputados federais, 39 ministérios. Não dava para cortar tudo pela metade? E o PAC? Que fez o PAC até hoje? Com a corrupção deslavada, o PAC acabou fazendo pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, esgotos à flor da pele, tudo proclamado como plano de aceleração do crescimento.

Os melhores economistas do mundo dizem que temos de abandonar a politica econômica de estimular demanda e atentar para o crescimento da oferta, pela redução de gastos do Estado, que se apropria de 36% da renda nacional mas investe menos de 3% e consome grande parte dos recursos para sua própria operação. Você entendeu o que falei? Um dia, entenderá.

Você é contra ou a favor de investigar por que a Petrobrás comprou uma refinaria no Texas por US$ 1 bilhão, se ela vale apenas US$ 100 milhões? Você é contra ou a favor da ferrovia Norte-Sul que está sendo construída há 27 anos, com mil roubalheiras e ainda quer mais 100 milhões para cobrir o que a Valec desviou quando o Juquinha, afilhado do eterno Sarney, era o chefão?

─ Quem é Sarney?

─ É o comandante do atraso.

─ Ah, legal…

─ Você é contra ou a favor da CPI que fez o Cachoeira sumir do mapa para não criar problemas para o Executivo e suas empreiteiras? Você lembra das operações da Policia Federal, com lindos nomes? Cavalo de Troia, Caixa de Pandora (do Arruda), Anaconda, das mil ambulâncias dos sanguessugas? E tantas outras. Quantos estão presos hoje? Você é contra ou a favor de reforma do Código de Processo Penal? Aliás, por que o PT quer tanto o plebiscito? Ele lucra com isso? Sim ou não?

O Lula sumiu de cena mas já declarou que as manifestações são ” coisa da direita “. E o PT? É peronista de direita ou de esquerda? Com a volta da inflação, você é contra ou a favor da correção monetária para o Bolsa Família? Você não acha que é fundamental a privatização (ohhh, desculpe, “concessão”) de ferrovias, aeroportos e rodovias?

Por que uma das maiores secas de nossa história não é analisada pelo governo? Para não criticar os donos da indústria da seca, por motivos eleitorais? Alias, o que aconteceu com o Rio São Francisco, que disseram que iam canalizar? Parou? Sim ou não?

Sem dúvida, Sergio Cabral foi quem mais se queimou nisso tudo. Mas, pergunto, que será do estado do Rio de Janeiro com o Lindnberg Farias, ex-prefeito de Nova Iguaçu, com o sigilo quebrado pelo STF, governando o estado até 2018? Será que o Pão de Açúcar fica em pé?

Você acha legal ou não a importação de médicos cubanos para o país?

Você é contra ou a favor do “trem-bala” que custará (na avaliação inicial) cerca de 30 bilhões de reais, que davam para renovar toda a malha ferroviária comum? Aliás, nessa velocidade, qual a altura que ele vai voar, quando os traficantes do Rio puserem pedras nos trilhos?

Você acha que os “mensaleiros” ficaram contentes com o fim da PEC 37 que o Congresso, apavorado, rejeitou?

Você acha normal que o Brasil cobre R$ 36 de impostos sobre cada R$ 100 produzidos? Você não acha o Palocci muito melhor que o Mantega? Por que não chamam o Palocci? Quem é? É o melhor cara do PT, que impediu a destruição do Plano Real durante os quatro anos do primeiro mandato do Lula.

Você entende, meu filho, o governo do Brasil tenta com sua ideia de mudança constitucional transformar problemas administrativos em problemas institucionais. Você não acha que querem disfarçar sua incompetência administrativa? Afinal, quem governou o país nos últimos dez anos? Agora, parece que descobriram que o país precisa de reformas, que o PT não fez nem deixou fazer por 10 anos. Agora, gritam todos: reforma! Por isso, pergunto: será que os intelectuais não veem que a democracia conquistada há 20 anos está sendo roída pelos ratos da velha política? Você acha que a Dilma está com ódio do Lula, por ter finalmente descoberto o tamanho da herança maldita que deixou para ela? Mas Lula não liga. “Ela que se vire…” ─ ele pensa, em seu egoísmo, secretamente até querendo que ela se dane, para ele voltar em 2014. Você acha, meu filho, que o Lula vai ser candidato de novo? E será eleito como “pai do povo” , para salvar o país que ele destruiu?

E que você acha de todas essas perguntas, filho? Qual a sua opinião?

─ Pai, o povo já respondeu a todas essas perguntas. Então, para que perguntar de novo?

─ É técnica de marketing, meu filho. Ideia do Lula, para dar a impressão de que o governo não sabia de nada. Como ele nunca soube.

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domingo, 14 de julho de 2013

Uma expectativa infundada e um treinamento consumado.


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General publica manifesto ao povo brasileiro


"Volta e meia, brasileiros desiludidos com os rumos caóticos que o desgoverno tem traçado para o País na busca da sua total dominação, comentam desairosos sobre a falta de atitude dos militares.

Apegados ao pensamento de que a esbórnia ultrapassou os limites, julgam que um poder moderador deveria expulsar a canalhada.

As Forças Armadas, segundo eles, seria o último bastião, visto que a sociedade bolsista abonada com maracutaias eleitoreiras, dificilmente adotará qualquer medida em prol de um Brasil democrático, principalmente, se isto lhe custar a perda de algum beneficio.

Contudo, pela falta de um mínimo de esforço das instituições militares preservarem os seus próprios princípios, julgam eles, elas não têm a menor intenção de salvaguardar os destinos da Nação.

Assim, é de julgar - se que mesmo não tendo razão, a esperança daqueles brasileiros é infundada. Sua expectativa não é impossível, mas é improvável.

Indubitavelmente, os chefes militares devem perceber esta expectativa, e o PT também.

Quanto aos chefes militares, provavelmente diante de todas as pressões, a cada dia dormem com o pesadelo dos preocupados.

A Contrarrevolução de 31 de março de 1964 e os resultados funestos para aquela heroica ação no atual cenário tornaram - se uma pesada acusação para os então bem intencionados chefes militares.

Na atualidade, as injustiças levam a qualquer autoridade militar a pensar muitas vezes, se valerá a pena um novo sacrifício. O povo brasileiro merece ou mereceu o esforço?

Contudo, o outro lado, temeroso, também se prepara, caso aja uma mudança de cenário, e temos assistido a um tremendo esforço no treinamento das forças que o PT pretende mobilizar, caso pressinta que poderá ser obstado em suas pretensões.

Recentemente, a Força Nacional de Segurança (FNS) tornou - se o braço armado do desgoverno em caso de necessidade. No âmbito legal da ilegalidade, recordem da elevação da sua capacidade de atuar em todo o território nacional e a malta de autoridades (hoje, além dos governadores, todos os ministros, o que fere a autonomia dos estados, prevista no pacto federativo!) com prerrogativas de solicitar o seu emprego.

O esforço da Comissão da Verdade e a criação de Grupo de Trabalho para atuar nos quartéis demonstram que o desgoverno pretende matar o mal pela raiz. Os porcos selvagens têm que ser encurralados, é a ordem da cúpula.

Observem a mobilização nas universidades que açulam jovens para atuar de forma agressiva, à mobilização "em força"' de diversas entidades, como o MST, as indígenas, os movimentos sindicalistas cada vez mais destrutivos, os em prol da liberação das drogas, etc.

Prestem atenção à exacerbação dos mais diversos movimentos, como o "pelo passe livre" que assolou São Paulo com o caos, nos dão uma amostra do que acontecerá quando o desgoverno determinar que seus instrumentos armados saiam às ruas.

Sim, os mais céticos entendem que de fato a força bruta da tirania está em fase de treinamento, e contará, inclusive, com bandos de bandidos armados, como ocorreu em Santa Catarina na quebra da ordem publica, queimando ônibus e atemorizando a população.

Futuramente, para sobrepor - se a tudo, o desgoverno, demonstrando quem realmente manda, determinará aos seus instrumentos de pressão que parem a Nação.

Por tudo, alguns julgam que se os militares não reagirem diante do descalabro, a solução para os que não admitem tal estado de coisas é pedir para serem fuzilados em praça pública ou exilados para alhures, por que aqui será impossível viver."

Brasília, DF, 16 de Junho de 2013

Gen. Bda Rfm Valmir Fonseca Azevedo Pereira


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Maquiavel e a História dos Tigres

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Um dia desses, assisti um documentário interessante junto com meu filho de 9 anos. Ele adora (como todo menino) histórias sobre animais ferozes. Dessa vez tratava-se de um caso triste, e ao mesmo tempo cômico - mistura perfeita para ser definido como "patético".

Um veterano de guerra dos EUA, morador do Harlem ou Bronx (já não lembro) trouxe para dentro do seu apartamento de 3 quartos um filhote de tigre - "Ming" foi o nome dado ao bicho. Cenas dos primeiros meses eram comoventes - bicho no colo do sujeito tomando mamadeira. Coisa mais querida, né? Afinal não passava de um gato com listras.

Bom, vamos lá - não vou gastar o tempo de vocês. Aconteceu o seguinte - o documentário termina com a história do dono do Ming sendo levado para um manicômio judiciário. Isso para não falar nas cenas com CNN, NYPD, bombeiros com escadas Magirus... Enfim, meia Nova York ao redor do edifício do sujeito pois foi noticiado que um dos apartamentos tinha um tigre indiano de 250 Kg lá dentro!

Por que essa história de tigre, Milton?? Por que foi exatamente isso que fizemos aqui no Brasil em 2003! Essa surpresa toda...essa revolta da classe médica..esse espanto com relação ao que está sendo feito conosco no Brasil são exatamente fruto de um fenômeno muito parecido com a história do Ming..

Trouxemos para o poder no Brasil um tipo de gente sobre o qual nada se sabia a longo prazo. Evidentemente, existem exceções entre os médicos, mas quantos de nós ainda afirmávamos em 2003 que "eles tinham mudado", hein?? Quantos acharam que uma foto do Lula com Maluf era o "fim do socialismo" ?? O resultado agora está aí - na nossa cara - e é apenas o princípio.

Meus amigos, num espaço de tempo de menos de 30 dias, o governo federal propôs trazer para o Brasil 6000 médicos cubanos em troca de dinheiro publico nosso dado a Cuba para reformar portos e aeroportos, estendeu a formação medica no Brasil escondendo a criação de um Serviço Civil Obrigatório, e agora vetou o texto na versão completa do Ato Medico - O que mais é preciso para as pessoas entenderem definitivamente o que é o Partido dos Trabalhadores ??


Quando vamos nos dar conta que carros, ternos e relógios caros, alianças com PMDB ou Igrejas não mudam em absolutamente nada o plano de poder dessa escória? Não é a medicina que está em jogo aqui - é o respeito a Constituição..Já disse, e vou morrer dizendo, para o PT a Constituição precisa ser "discutida". Se ela serve ao Partido-Religião; ótimo. Se não serve, que vá para o inferno! Isso, pelo amor de Deus entendam para sempre, JAMAIS vai mudar !

Certa vez, Maquiavel afirmou que "quando as coisas mais graves já são percebidas pelas pessoas mais simples; aí já é tarde demais..," Imagina-se que tenha tido uma sensação semelhante aos vizinhos do Ming lá em Nova York - quando ele cresceu, já era muito tarde para fazer alguma coisa.


Milton Simon Pires




(Fonte:http://www.alertatotal.net/2013/07/maquiavel-e-historia-dos-tigres.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+AlertaTotal+%28Alerta+Total%29)
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Brasil Real X Brasil Maravilha X Transposição do São Francisco, segundo Dilma.

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“Além das ações emergenciais, estamos investindo em infraestrutura para garantir fornecimento estável de água mesmo em períodos de seca”, viajou Dilma Rousseff no programa Conversa com a Presidenta desta terça-feira, depois de lhe perguntarem o que tem feito o governo para enfrentar a maior seca dos últimos 50 anos. Já na decolagem, festejou os 6 mil carros-pipa imaginários e 296 mil cisternas de armazenamento de água para o consumo humano e 12 mil para a produção”.

Alcançou a estratosfera em seguida: “Em Pernambuco, são dezenas de obras do PAC para oferta de água, dentre as quais o Ramal do Agreste, que ligará o Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco à Adutora do Agreste, garantindo água para 68 municípios pernambucanos, incluindo Arcoverde”. No Brasil Maravilha que Lula fundou e Dilma não para de aperfeiçoar, a transposição das águas do Rio São Francisco está sempre a um passo da inauguração.

“A água desce por gravidade até uma estação de bombeamento, onde é transportada até um nível mais alto por energia elétrica”, informa o locutor federal no vídeo institucional sobre a obra, enquanto desfilam na tela imagens produzidas por computação gráfica. “Quando há alguma depressão no terreno, especialmente sobre os vales dos rios, o canal é convertido em um aqueduto que transpõe o vão como uma ponte”. Não é pouca coisa.

Mas não é tudo: “Como o canal passa por uma região muito seca, algumas tomadas de água serão criadas no caminho para atender as comunidades vizinhas”. E tem mais: “Ao longo do trajeto, a água é acumulada em reservatórios, onde ela pode seguir caminho, abastecer as populações próximas ou em alguns pontos usada para gerar energia elétrica”.
No Brasil real, as coisas são muito diferentes. “O projeto lembra hoje uma quilométrica passarela de retalhos na qual faltam costura e pedaços de tecido”, constatou uma reportagem publicada em abril pelo jornal O Globo. “Aquela que seria a rendição de 12 milhões de sertanejos não passa de um conjunto de canais desconectados, dutos enferrujados com ferros retorcidos e estação elevatória que parece um fantasma de concreto”.

Embora as obras não tenham chegado sequer à metade (o governo celebra “mais de 43% de avanço”), o preço dobrou. Os R$ 4,8 bilhões estimados em 2007 subiram para R$ 8,2 bilhões – dos quais R$ 3,6 bilhões já foram desembolsados. Também os prazos fixados originalmente foram desmoralizados pela realidade. Lula prometeu em 2006 que a transposição do São Francisco estaria concluída em 2010. Dilma promete entregar o colosso invisível em 2015.

Até agora, nenhum sertanejo foi beneficiado por uma única gota de mais um milagre brasileiro. “A firma foi-se embora. Começaram fazendo o serviço, depois abandonaram e tá desse jeito agora, só buraqueira”, conta Damião Serafim dos Santos, morador de Sertânia (PB), no vídeo publicado pela TV Estadão neste domingo (assista abaixo). Dentro de uma das valas onde deveria estar correndo a água do São Francisco, hoje retomada pela vegetação, Damião extrai a conclusão óbvia: “Agora tem que fazer tudo de novo”.

Os 9 mil funcionários que chegaram a trabalhar nos canteiros de obras foram reduzidos a 4,6 mil. “Tem dia que só aparecem três clientes”, disse ao Globo Eliane Maria da Silva, ex-trabalhadora rural que montou um restaurante e chegou a vender 400 refeições por dia em Floresta, no interior de Pernambuco.

As obras que pegaram carona na transposição também enfrentam problemas. No Rio Grande do Norte, por exemplo, a adutora do Alto Oeste, que já consumiu R$ 35 milhões, corre o risco de ficar sem serventia. O reservatório roça a fronteira do colapso. Quase 150 municípios potiguares castigados pela seca decretaram estado de emergência.

Caso visitasse os canteiros de obras, Dilma Rousseff descobriria que o que diz não tem semelhança alguma com o que se vê. E também encontraria sem esforço os miseráveis e desempregados que acabaram no Brasil Maravilha. Uma escala na pernambucana Curralinho, por exemplo, poderia proporcionar à presidente uma didática conversa com Rosalina Maria dos Santos. “Nós somos pobres”, garante Rosalinha, em frente à casa de pau a pique que emoldura a integrante de uma espécie oficialmente extinta. “Num lugar como esse aqui nós não temos emprego não. Não tem água para trabalhar na roça. Se nós tivesse água, nós trabalhava, mas nós não tem água”.

Terminada a viagem, é provável que Dilma Rousseff recebesse com mais desconfiança os resultados das pesquisas de popularidade. Talvez até aprendesse que não é possível mudar a vida real por decreto.










(Augusto Nunes - Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/secao/historia-em-imagens/)
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Imagina na Copa!!!

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Crédito: Evandro Veiga/Agência O Dia/Folhapress




“Quando eu cheguei aqui e me aproximei e vi essa construção, essa construção que é única e que mostra, sem dúvida, o espírito e a criatividade do povo dessa terra, a palavra é orgulho”, empolgou-se Dilma Rousseff aos 14 segundos do vídeo abaixo, que eternizou a discurseira em dilmês primitivo que celebrou a inauguração, há pouco mais de um mês, da Arena Fonte Nova, em Salvador. “Dá muito orgulho como presidenta da República de olhá para este estádio e vê que nós estamos superando, superando as expectativas”.

As expectativas foram superadas nesta segunda-feira, dois dias antes da entrega oficial à Fifa do estádio incluído no circuito da Copa das Confederações. Depois de uma madrugada chuvosa, parte da cobertura não suportou o peso da água e rompeu-se. Em outros dois pontos afetados, a drenagem da cobertura da arena que engoliu R$ 689,4 milhões foi feita com o que há de mais moderno na Fonte Nova: baldes de plástico.

“Não houve problema estrutural da cobertura, mas um erro no processo de verificação, que já foi identificado e está sendo reparado”, recitou José Luís Góes, diretor de engenharia do consórcio Fonte Nova Negócios e Participações”. A assessoria de imprensa do consórcio cobriu a fratura exposta com esparadrapo: “Este tipo de situação jamais ocorreria durante eventos, já que nestes dias a arena passa por vistoria minuciosa em todas as dependências, incluindo a cobertura”, garantem os porta-vozes que viraram videntes.

Mais uma vez, a associação é inevitável: imagina na Copa.
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sábado, 13 de julho de 2013

Ganhei coragem - Rubem Alves

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"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche. É o meu caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo. Por medo. 


Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega: "Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos". Tardiamente. Na velhice.


Como estou velho, ganhei coragem. Vou dizer aquilo sobre o que me calei: "O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo. 

Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política. Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo. Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere.


A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica. Nada mais distante dos textos bíblicos. 
Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas. Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro. Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.


E a história do profeta Oséias, homem apaixonado! Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava! Mas ela tinha outras idéias. Amava a prostituição. Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão. Até que ela o abandonou. Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos. E o que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava. Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: "Agora você será minha para sempre". Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus.


Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta. Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável. O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras. As mentiras são doces; a verdade é amarga. 


Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo. No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões. E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos! As coisas mudaram.


Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo. O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas. As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.


Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa que os indivíduos, isolados, têm consciência. São seres morais. Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem. Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas. Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis. Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.


Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral. O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo. Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade. É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia. Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão. Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras.


O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade. Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.


Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária. Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.


O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer. O povo, unido, jamais será vencido!


Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos. Mas, que posso fazer? Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio; não gosto de churrasco, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol. Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China.


De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute: "Caminhando e cantando e seguindo a canção", isso é tarefa para os artistas e educadores.


(Rubem Alves)
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Brincando de Revolução

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“A raiva e o delírio destroem em uma hora mais coisas do que a prudência, o conselho, a previsão não poderiam construir em um século.” 
(Edmund Burke)



Não vou sucumbir à pressão das massas. É claro que eu posso estar enganado em minha análise cética sobre as manifestações, mas se eu mudar de idéia – o que não só não ocorreu ainda, como parece mais improvável agora – será por reflexões serenas na calma de minha mente, e não pelo “linchamento” das redes sociais.

Ao contrário de muitos, eu não vejo nada de “lindo” em cem mil pessoas se aglomerando nas ruas. Tal imagem me remete aos delicados anos 60, que foram resumidos por Roberto Campos da seguinte forma: “É sumamente melancólico – porém não irrealista – admitir-se que no albor dos anos 60 este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: ‘anos de chumbo’ ou ‘rios de sangue’…”

Eu confesso aos leitores: tenho medo da turba! Eu tenho medo de qualquer movimento de massas, pois massas perdem facilmente o controle. Em clima de revolta difusa, sem demandas específicas (ao contrário de “Fora Collor” ou “Diretas Já”), o ambiente é fértil para aventureiros de plantão. Um Mussolini – ou um juiz de toga preta salvador da Pátria – pode surgir para ser coroado imperador pelas massas.

Alguns celebram a ausência de liderança, se é mesmo esse o caso. Cuidado com aquilo que desejam: sem lideranças, há um vácuo que logo será preenchido. As massas vão como bóias à deriva. E sem rumo definido, não chegaremos a lugar algum desejado. Disse Gustave Le Bon sobre a psicologia das massas:

Uma massa é como um selvagem; não está preparada para admitir que algo possa ficar entre seu desejo e a realização deste desejo. Ela forma um único ser e fica sujeita à lei de unidade mental das massas. No caso de tudo pertencer ao campo dos sentimentos, o mais eminente dos homens dificilmente supera o padrão dos indivíduos mais ordinários. Eles não podem nunca realizar atos que demandem elevado grau de inteligência. Em massas, é a estupidez, não a inteligência, que é acumulada. O sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece completamente. Todo sentimento e ato são contagiosos. O homem desce diversos degraus na escada da civilização. Isoladamente, ele pode ser um indivíduo; na massa, ele é um bárbaro, isto é, uma criatura agindo por instinto.

Muito me comove a esperança de alguns liberais que pensam que o povo despertou e que será possível guiá-lo na direção do liberalismo. Não vejo isso nos protestos, nas declarações, nos gritos de revolta. Vejo uma gente indignada – e cheia de razão para tanto – mas sem compreender as causas disso, sem saber os remédios para nossos males. Que tipo de proposta decente e viável pode resultar disso?

Estamos lidando aqui com a especialidade número um das esquerdas radicais, que é incitar as massas. Assim como a década de 60 no Brasil, tivemos o famoso e lamentável Maio de 68 na França, quando apenas Raymond Aron e mais meia dúzia de seres pensantes temiam os efeitos daquela febre juvenil. A Revolução Francesa, a Revolução Bolchevique, é muito raro sair algo bom desse tipo de movimento de massas. Os instintos mais primitivos tomam conta da festa. Por isso acho importante resgatar alguns alertas de Edmund Burke em suas Reflexões sobre a Revolução em França, a precursora desses movimentos descontrolados.

Não ignoro nem os erros, nem os defeitos do governo que foi deposto na França e nem a minha natureza nem a política me levam a fazer um inventário daquilo que é um objeto natural e justo de censura. [...] Será verdadeiro, entretanto, que o governo da França estava em uma situação que não era possível fazer-se nenhuma reforma, a tal ponto que se tornou necessário destruir imediatamente todo o edifício e fazer tábua rasa do passado, pondo no seu lugar uma construção teórica nunca antes experimentada?

Não se curaria o mal se fosse decidido que não haveria mais nem monarcas, nem ministros de Estado, nem sacerdotes, nem intérpretes da lei, nem oficiais-generais, nem assembléias gerais. Os nomes podem ser mudados, mas a essência ficará sob uma forma ou outra. Não importa em que mãos ela esteja ou sob qual forma ela é denominada, mas haverá sempre na sociedade uma certa proporção de autoridade. Os homens sábios aplicarão seus remédios aos vícios e não aos nomes, às causas permanentes do mal e não aos organismos efêmeros por meios dos quais elas agem ou às formas passageiras que adotam.

Se chegam à conclusão de que os velhos governos estão falidos, usados e sem recursos e que não têm mais vigor para desempenhar seus desígnios, eles procuram aqueles que têm mais energia, e essa energia não virá de recursos novos, mas do desprezo pela justiça. As revoluções são favoráveis aos confiscos, e é impossível saber sob que nomes odiosos os próximos confiscos serão autorizados.

A sabedoria não é o censor mais severo da loucura. São as loucuras rivais que fazem as mais terríveis guerras e retiram das suas vantagens as conseqüências mais cruéis todas as vezes que elas conseguem levar o vulgar sem moderação a tomar partido nas suas brigas.

São importantes alertas feitos pelo “pai” do conservadorismo. Ele estava certo quanto aos rumos daquela revolução, que foi alimentada pela revolta difusa, pela inveja, pelo ódio. Oportunistas ou fanáticos messiânicos se apropriaram do movimento e começaram a degolar todo mundo em volta. Se a revolução é contra “tudo que está aí”, então quem é contra ela é a favor de “tudo que está aí”. Cria-se um clima de vingança, revanchismo, que é sempre muito perigoso. As partes íntimas da rainha morta foram espalhadas pelos locais públicos, eis a imagem que fica de uma turba ensandecida.

O PT tem alimentado há décadas um racha na sociedade brasileira. Desde os tempos de oposição, e depois enquanto governo (mas sempre no palanque dos demagogos e agitadores das massas), a esquerda soube apenas espalhar ódio entre diferentes grupos, segregar indivíduos com base em abstrações coletivistas, jogar uns contra os outros. Temos agora uma sociedade indignada, mas sem saber direito para onde apontar suas armas. Cansada da política, dos partidos, do Congresso, dos abusos do poder, as pessoas saem às ruas com a sensação de que é preciso “fazer algo”, mas não sabe ao certo o que ou como fazer.

E isso porque o cenário econômico começou a piorar. Imagina quando a bolha de crédito fomentada pelo governo estourar, ou se a China embicar de vez. Imagina se nossa taxa de desemprego começar a subir aceleradamente. É um cenário assustador. Alguns pensam que nada pode ser pior do que o PT, e eu quase concordo. Mas pode sim! Pode ter um PSOL messiânico, um personalismo de algum salvador da Pátria, uma junta militar tendo que reagir e assumir o poder para controlar a situação. Não desejamos nada disso! Temos que retirar o PT do poder pelas vias legais, pelas urnas, respeitando-se a ordem social e o estado de direito.

O desafio homérico de todos que não deixaram as emoções tomarem conta da razão é justamente canalizar essa revolta para algo construtivo. Mas como? Como dialogar com argumentos quando cem mil tomam as ruas e sofrem o contágio da psicologia das massas? Alguém já tentou conversar com uma torcida revoltada em um estádio de futebol? Boa sorte!

Por ser cético quanto a essa possibilidade, eu tenho mantido minha cautela e afastamento dessas manifestações. Muita gente acha que o Brasil, terra do pacato cidadão que só quer saber de carnaval, novela e futebol, precisa até mesmo de uma guerra civil para acordar. Temo que não gostem nada do gigante que vai despertar. Ele pode fazer com que essa gente morra de saudades do “homem cordial”. Não se brinca impunemente de revolução. Pensem nisso, enquanto há tempo.



(Rodrigo Constantino - Fonte: http://rodrigoconstantino.blogspot.com.br/2013/06/brincando-de-revolucao.html)
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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Voto eletrônico: Hacker de 19 anos revela no Rio como fraudou eleição

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Um novo caminho para fraudar as eleições informatizadas brasileiras foi apresentado ontem (10/12) para as mais de 100 pessoas que lotaram durante três horas e meia o auditório da Sociedade de Engenheiros e Arquitetos do Rio de Janeiro (SEAERJ), na Rua do Russel n° 1, no decorrer do seminário “A urna eletrônica é confiável?”, promovido pelos institutos de estudos políticos das seções fluminense do Partido da República (PR), o Instituto Republicano; e do Partido Democrático Trabalhista (PDT), a Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini.

Acompanhado por um especialista em transmissão de dados, Reinaldo Mendonça, e de um delegado de polícia, Alexandre Neto, um jovem hacker de 19 anos, identificado apenas como Rangel por questões de segurança, mostrou como — através de acesso ilegal e privilegiado à intranet da Justiça Eleitoral no Rio de Janeiro, sob a responsabilidade técnica da empresa Oi – interceptou os dados alimentadores do sistema de totalização e, após o retardo do envio desses dados aos computadores da Justiça Eleitoral, modificou resultados beneficiando candidatos em detrimento de outros – sem nada ser oficialmente detectado.

“A gente entra na rede da Justiça Eleitoral quando os resultados estão sendo transmitidos para a totalização e depois que 50% dos dados já foram transmitidos, atuamos. Modificamos resultados mesmo quando a totalização está prestes a ser fechada”, explicou Rangel, ao detalhar em linhas gerais como atuava para fraudar resultados.

O depoimento do hacker – disposto a colaborar com as autoridades – foi chocante até para os palestrantes convidados para o seminário, como a Dra. Maria Aparecida Cortiz, advogada que há dez anos representa o PDT no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para assuntos relacionados à urna eletrônica; o professor da Ciência da Computação da Universidade de Brasília, Pedro Antônio Dourado de Rezende, que estuda as fragilidades do voto eletrônico no Brasil, também há mais de dez anos; e o jornalista Osvaldo Maneschy, coordenador e organizador do livro Burla Eletrônica, escrito em 2002 ao término do primeiro seminário independente sobre o sistema eletrônico de votação em uso no país desde 1996.

Rangel, que está vivendo sob proteção policial e já prestou depoimento na Polícia Federal, declarou aos presentes que não atuava sozinho: fazia parte de pequeno grupo que – através de acessos privilegiados à rede de dados da Oi – alterava votações antes que elas fossem oficialmente computadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

A fraude, acrescentou, era feita em benefício de políticos com base eleitoral na Região dos Lagos – sendo um dos beneficiários diretos dela, ele o citou explicitamente, o atual presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado Paulo Melo (PMDB). A deputada Clarissa Garotinho, que também fazia parte da mesa, depois de dirigir algumas perguntas a Rangel - afirmou que se informará mais sobre o assunto e não pretende deixar a denúncia de Rangel cair no vazio.

Fernando Peregrino, coordenador do seminário, por sua vez, cobrou providências:

“Um crime grave foi cometido nas eleições municipais deste ano, Rangel o está denunciando com todas as letras – mas infelizmente até agora a Polícia Federal não tem dado a este caso a importância que ele merece porque ele atinge a essência da própria democracia no Brasil, o voto dos brasileiros” – argumentou Peregrino.

Por ordem de apresentação, falaram no seminário o presidente da FLB-AP, que fez um histórico do voto no Brasil desde a República Velha até os dias de hoje, passando pela tentativa de fraudar a eleição de Brizola no Rio de Janeiro em 1982 e a informatização total do processo, a partir do recadastramento eleitoral de 1986.

A Dra. Maria Aparecida Cortiz, por sua vez, relatou as dificuldades para fiscalizar o processo eleitoral por conta das barreiras criadas pela própria Justiça Eleitoral; citando, em seguida, casos concretos de fraudes ocorridas em diversas partes do país – todos abafados pela Justiça Eleitoral. Detalhou fatos ocorridos em Londrina (PR), em Guadalupe (PI), na Bahia e no Maranhão, entre outros.

Já o professor Pedro Rezende, especialista em Ciência da Computação, professor de criptografia da Universidade de Brasília (UnB), mostrou o trabalho permanente do TSE em “blindar” as urnas em uso no país, que na opinião deles são 100% seguras. Para Rezende, porém, elas são “ultrapassadas e inseguras”. Ele as comparou com sistemas de outros países, mais confiáveis, especialmente as urnas eletrônicas de terceira geração usadas em algumas províncias argentinas, que além de imprimirem o voto, ainda registram digitalmente o mesmo voto em um chip embutido na cédula, criando uma dupla segurança.

Encerrando a parte acadêmica do seminário, falou o professor Luiz Felipe, da Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que em 1992, no segundo Governo Brizola, implantou a Internet no Rio de Janeiro junto com o próprio Fernando Peregrino, que, na época, presidia a Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj). Luis Felipe reforçou a idéia de que é necessário aperfeiçoar o sistema eleitoral brasileiro – hoje inseguro, na sua opinião.

O relato de Rangel – precedido pela exposição do especialista em redes de dados, Reinaldo, que mostrou como ocorre a fraude dentro da intranet, que a Justiça Eleitoral garante ser segura e inexpugnável – foi o ponto alto do seminário.

Peregrino informou que o seminário será transformado em livro e tema de um documentário que com certeza dará origem a outros encontros sobre o mesmo assunto – ano que vem. Disse ainda estar disposto a levar a denuncia de Rangel as últimas conseqüências e já se considerava um militante pela transparência das eleições brasileiras: “Estamos aqui comprometidos com a trasnparência do sistema eletrônico de votação e com a democracia no Brasil”, concluiu. (OM)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Dos médicos, dos vermes e dos parasitas

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O Sistema Único de Saúde é o aparato estatal, de corte socialista, criado sob a alegação de prover os brasileiros com um serviço médico, hospitalar, laboratorial e farmacêutico que fosse gratuito, universal e de boa qualidade, como estabelece nossa utópica Constituição.

Como era de se prever, tem sido um fracasso colossal. Não é gratuito, nem universal e tampouco de boa qualidade.

É ingenuidade imaginar que esse serviço público pudesse ser gratuito, que os pobres, ou quem quer que venha a se aventurar a usar o sistema, nada pagariam por ele. Todos, até os que não o utilizam, pagam a sua cota, e pagam pesado.



Os recursos para sustentar esse monstrengo sistema de saúde provém da cobrança de elevados impostos, subtraídos diretamente da renda das pessoas ou amealhados, de forma camuflada, através da arrecadação de tributos, embutidos nos preços de tudo aquilo que a população consome.

O custo elevado desses serviços se agrava vergonhosamente quando se vê os resultados obtidos por seus usuários. Os pacientes quando recebem algum atendimento, encontram um serviço lastimável, ao ponto de muitas vezes pagarem com a própria vida ou com sequelas, que durarão para sempre.

A falta de cuidados adequados é a consequência previsível da carente infraestrutura, da defasada capacidade técnica, da negligência operacional, da irresponsabilidade gerencial, e, porque não, da simples omissão de socorro pela desmotivação sistêmica. São problemas crônicos, insolúveis, resultantes dessa quimera que encanta sonhadores utópicos e desanima qualquer pessoa provida de algum senso crítico fundado na racionalidade e que tenha a mínima compreensão dos conceitos de liberdade e propriedade que protegem a vida.

Os que compulsoriamente se envolvem com esse sistema, pagadores de impostos, médicos, gestores, servidores, pacientes e familiares, participam de uma troca forçada onde todos pagam para receberem um serviço lastimável ou serviço nenhum.

A demanda supera enormemente a capacidade instalada para um provimento a contento. Essa situação agrava-se ainda mais devido à gratuidade oferecida para o consumo dos serviços, o que exacerba a procura pelo estimulo proporcionado àqueles que não precisam de atendimento mas o buscam mesmo assim.

Para se obter um serviço de saúde melhor, temos que despender duplamente, com os impostos que suportarão o serviço público, e com o que for adquirido, voluntariamente, da iniciativa privada.

Os serviços privados também são caros. As obrigações legais impostas às empresas que os fornecem aviltam os custos dos insumos e de transação entre os contratantes. Com arrogância, as agências governamentais exigem dos serviços privados, o que a saúde pública promete e nunca conseguiu cumprir e jamais conseguirá.

O desrespeito à liberdade individual na contratação de médicos, hospitais e na compra de medicamentos, é decorrência do Estado autoritário, que alega proteger os cidadãos, como se fôssemos estultos.

Mas o ponto mais importante dessa questão, não é o evidente equívoco na estruturação e gerenciamento do sistema.

Trata-se de um sistema desumano e impessoal. Os pacientes não são tratados com dignidade, nem há empatia entre o médico e quem o consulta. Ademais, cada paciente é visto apenas como mais um encargo suportado pela fria máquina do Estado. Não há livre escolha de parte a parte, os pacientes não definem seu médico e este não seleciona sua clientela.

O mais grave de todos os pontos que se pode identificar é a mentalidade anticapitalista que engendra modelos tirânicos, concebidos para um suposto bem estar social, que despreza a realidade e desenvolve o culto ao sacrifício, à servidão, ao parasitismo e à coerção.

A repugnante moral coletivista, que norteia a ação de políticos, burocratas e corporativistas, amparados nas aspirações de parasitas inconscientes, ou deliberadamente mal intencionados, impõe aos indivíduos que pretendem exercer a medicina e profissões correlatas, tal grau de subserviência, que os faz vítimas de suas próprias habilidades. Submetidos pela incapacidade de reagir, acabam acatando imposições como se fossem oportunidades, terminando por sancionar seus algozes.

Não importa aos gestores públicos se a socialização da medicina subjuga vontades, define carreiras, liquida sonhos, tolhe liberdades. Todos são tratados meramente, como instrumentos a serviço dos demais.

É incrível que profissionais gabaritados se deixem subjugar, influenciados por essa manipulação tosca que busca despertar o sentimento de culpa, reduzir a autoestima, propor a resignação, inibindo o discernimento ético.

Como responderemos àquela velha pergunta falso moralista, que sempre nos fazem os defensores do sistema socializado de saúde, ao defendermos a privatização e o livre mercado: “Mas e os pobres, ficarão sem assistência?”

Os pobres já estão sem assistência. Sob a tutela do Estado, enfrentam o mau atendimento, filas intermináveis, listas de espera eterna. Percorrem verdadeiros corredores da morte como condenados, cujo crime é ser brasileiro, agravado pelo fato de serem pobres e súditos de um governo majestoso e absolutista.

Sim, é inacreditável estarmos todos, inclusive os pobres sem assistência, a pagar por médicos, hospitais e medicamentos, recebendo em troca, altas doses de imperícia, burocracia e escárnio.

A sociedade tem sancionado, equivocadamente, essa perversão.

É imprescindível reformularmos essa cultura onde prosperam vermes e parasitas que subjugam as células saudáveis do nosso tecido social.

É imprescindível reformar nossa Constituição para devolvermos às pessoas a liberdade necessária para escolherem seus médicos, hospitais, farmácias e medicamentos, sem a interferência do Estado. Para permitir à iniciativa privada, em regime concorrencial, em um ambiente de livre-mercado, fornecer à população os serviços e produtos que esta deseja e necessita.

Nossa sociedade estará fadada à falência múltipla, à doença física e moral se não iniciarmos, imediatamente, uma reversão desse quadro. Metaforicamente, precisamos tratar este câncer, esta metástase voraz que destrói nosso corpo e nossa alma e junto nossa individualidade ao consumir nossos verdadeiros direitos.

Termino com as palavras do Dr. Thomas Hendricks, sobre as consequências da socialização da medicina:

“O código moral delas (os estatistas) lhes ensinou que vale a pena confiar na virtude de suas vítimas. Pois é essa virtude que eu agora lhes nego. Que elas descubram o tipo de médico que o sistema delas vai produzir. Que descubram, nas salas de operação e nas enfermarias, que não é seguro confiar suas vidas às mãos de um homem cuja vida elas sufocaram. Não é seguro se ele é o tipo de homem que se ressente disso. E é menos seguro ainda, se ele é o tipo de homem que não se ressente.”




(ROBERTO RACHEWSKY - Fonte:http://institutoliberal.org.br/blog/?p=4830)

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