Mas a obra vai além e dedica dois capítulos para superar esse mal: em "Recuperação", a autora Susan T. Peabody fala não só da terapia, dos grupos de apoio, mas também como curar as feridas do trauma de infância, a espiritualidade, como fortalecer a autoestima e até como aprender a ficar solteiro. No capítulo "Começando tudo de novo", ela apresenta os ingredientes de um relacionamento saudável, como vencer o medo da intimidade e evitar comportamento de dependência emocional.
Dependentes de amor têm muitas necessidades: uma das mais urgentes é a de estar ligado a alguém. Isso é bem mais do que um desejo comum de se relacionar. Essa necessidade é avassaladora e muitos sentem-se impotentes para controlá-la.
Por causa dessa compulsão interna, ficam impacientes para se juntar a alguém, mesmo que esta pessoa ainda seja uma desconhecida. Eu chamo esse fenômeno de "amor à primeira vista" ou laço prematuro.
Amor à primeira vista se torna um problema para dependentes de amor. A pessoa por quem se apaixonam ficam amedrontada (e os afasta), ou eles mesmos ficam numa situação difícil, quando sabem que estão se apaixonando pela pessoa errada, mas não conseguem brecar o processo.
Excesso de fantasia
Para o dependente de amor, o excesso de fantasia tem um papel proeminente no processo de adquirir a dependência. Quando ele se apaixona, aciona o gatilho de seus vícios com suas fantasias sobre o ser amado. Mais tarde, quando a dependência já está estabelecida, fica caracterizada a preocupação obsessiva com o amado ou a repetição constante de pensamentos (fantasias) sobre o novo amante. Quando o relacionamento começa a se deteriorar, evita encarar a realidade da situação porque sonha acordado sobre "como era lindo" ou "como ficaremos bem quando esta fase ruim tiver acabado". Depois de uma separação, frequentemente reaviva a dependência por continuar sonhando com a reconciliação. Fantasiar, ao que parece, é o que mantém viva a dependência. Mantém a paixonite, a preocupação e a obsessão vivas.
Fantasiar sobre um relacionamento é comum na maioria das pessoas. O importante é saber quando não é mais normal e passa a ser um sintoma da dependência. Aqui estão alguns pontos que podem ser observados.
- Quanto tempo você passa fantasiando? Tempo demais?
- É difícil parar de fantasiar quando o processo já começou?
- É impossível parar de fantasiar depois que você começou?
- Fantasiar toma o tempo de outras atividades? Você fica em casa o tempo todo fantasiando sobre o ser amado em vez de sair e se divertir?
- Fantasiar toma o tempo que seria dedicado às suas responsabilidades? Você coloca o trabalho de casa em segundo plano para deitar-se na cama e entregar-se às fantasias? Você falta no trabalho?
- Você se entrega ao devaneio quando é perigoso (por exemplo, operando maquinário ou dirigindo)?
- Fantasiar é mais importante do que sua família e os amigos? Você despreza seus filhos para desligar-se do mundo e fantasiar? Você fica irritado quando as pessoas interrompem seu devaneio?
- Sua fantasia se torna uma substituta de realidades? Você se conforma com a fantasia em vez de promover as mudanças que melhorarão suas circunstâncias?
- Você considera suas fantasias importantes? Elas se tornam expectativas ou sonhos que você deve realizar?
- Responda as questões acima. Seja honesto. Se você respondeu "sim" em algumas delas, você provavelmente fantasia demais. Você pode até mesmo estar viciado em fantasiar?
- Se você fantasia demais, reconheça isso e tende perceber o que está por detrás disso.
- Não deixe que as fantasias ocupem seu tempo e tornem-se prioridade.
- Não distorça nem tente escapar da realidade de sua vida fantasiando.
- Discipline-se quando estiver sozinho. Quando começar a devanear, contenha-se ou coloque
um limite de tempo (isso é chamado de "parada de pensamento".
- Se você tende a fantasiar de maneira obsessiva, estruture seu tempo cuidadosamente. Encontre coisas construtivas para fazer. Quando for hora de lazer, em lugar de se perder numa fantasia, leia ou assista à televisão.
- Não deixe que as fantasias infantis sejam seu guia na hora de selecionar um parceiro. Determine suas necessidades como adulto. Leve em consideração sua idade, seus padrões, seus gostos, seus valores espirituais, o ambiente em que vive, e assim por diante, mas não seus sonhos de infância românticos.
- Não deixe que suas fantasias tornem-se expectativas ou sonhos que devem se realizar. Seja flexível sobre o que o faz feliz.
- Quando você está confrontando a realidade diariamente e "vivendo o momento", comece a pensar sobre as melhorias que você pode fazer por você e as mudanças necessárias em cada situação. Use seus sonhos como uma maneira realista de amadurecer seus planos para a vida. Sonhos podem ser construtivos se forem usados como esboço para trabalhar com os pés no chão a caminho do sucesso e da felicidade.
A necessidade de criar drama e excitação
Por serem tão cativados por romance (o romance parece ser a solução de todos os seus problemas), os dependentes de amor sempre sentem a necessidade de ver todos os eventos de suas vidas como episódios dramáticos de uma "novela".
Além disso, por relacionarem drama e incitação a romance, sempre têm uma necessidade inconsciente (compulsão) de criar drama. Isso produz um nível mais alto de sensação causada pelo aquele distúrbio.
Há várias maneiras típicas de os dependentes de amor criarem drama. Às vezes, eles agitam ainda mais os problemas para criar excitação. São peritos em começar brigas, por exemplo, quando um relacionamento está monótono. Conseguem transformar um evento normal numa experiência extraordinária (apenas para ter sua curtição). Com isso eu quero dizer que eles tentam transformar qualquer briga numa batalha (totalmente fora de proporção) apenas para sentir a adrenalina nas veias.
Por "tentar ler nas entrelinhas" e interpretar as ações dos outros, criam também situações de drama: "Ela sorriu para mim, isso significa que ela me ama; ela não sorriu para mim, isso significa que ela me odeia". Ou irão tentar ler a mente das outras pessoas e tirar conclusões que não foram baseadas em fatos: "Sei que ele realmente me ama, não importa o que diga. Sei que ele me odeia, não importa o que ele faça". Irão imaginar que seus sonhos românticos estão sendo realizados muito antes de ter qualquer evidência real disso: "Esse é o nosso terceiro encontro: eu sei que ele vai me pedir em casamento". Em outras palavras, essas pessoas tendem a ver a realidade restrita às suas próprias necessidades. Isso pode significar ver o que não existe ou interpretar mal os fatos.
(Susan T. Peabody - "Amar Demais" - http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/893976-teste-se-voce-fantasia-seu-relacionamento-como-um-dependente-do-amor.shtml)
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