Mulher se dá conta de coisas inimagináveis pelos homens. Imagina que, para celebrar o fato de ser a primeira representante do gênero a abrir uma assembleia-geral das Nações Unidas, Dilma Rousseff exerceu tal pioneirismo destacando do alto da tribuna que, na língua portuguesa, palavras como ‘vida’, ‘alma’, ‘esperança’, ‘coragem’ e ‘sinceridade’ são femininas.
Isso talvez explique porque a presidente já vinha chamando ‘corrupção’ de “malfeito”. Na troca de um substantivo por outro, sem que ninguém se desse conta, Dilma masculinizou a ‘pouca vergonha’ ministerial, provavelmente já pensando no mote de sua estreia histórica na ONU.
O elogio ao feminino está virando uma obsessão presidencial. Dizem que, na dúvida entre ‘desvio’ ou ‘roubalheira’, ela não terá dúvida em reconhecer publicamente pela designação masculina o que for preciso varrer de seu governo. Na República do Feminino, pois, ‘propina’ será sempre tratada por ‘suborno’; ‘desfaçatez’ por ‘descaramento’; ‘conversa-fiada’ por ‘papo furado’…
‘A voz da democracia’, como lembrou a presidente na ONU “é feminina”, gênero comum em nosso idioma a palavras de ordem substantivas como ‘liberdade’, ‘igualdade’ e ‘fraternidade’, sem falar na ‘preguiça’, na ‘praia’ e na ‘caipirinha’.
No universo predominantemente masculino da Praça dos Três Poderes, destacam-se termos como ‘mensalão’, ‘baixo clero’, ‘calote’, ‘conchavo’, ‘lobby’ e ‘trambique’, sem falar no ‘Sarney’, no ‘ar seco’ e, de maneira mais abrangente, no ‘fim do mundo’!
Pela linha de raciocínio que Dilma desenvolveu na ONU só duas expressões não se enquadram nesta dicotomia: ‘picaretas’ e ‘caras-de-pau’ são comuns de dois gêneros.
(Tutty Vasques - Fonte: http://blogs.estadao.com.br/tutty/)
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