Quando o Boca nasceu, nasceu assim sem mais. Deu um berro tão forte que a mãe amedrontada e sem outra graça para lhe dar, xingou-lhe logo de Bocudo.
Era Bocudo, mas não era da Silva nem da Graça e pra não ter nome tão grande, virou apenas Boca.
Cresceu abocanhado nas barras da saia da mãe e ensurdecido pelos gritos: Boca pegue! Boca faça! Boca vá! Para bem dizer a verdade, o Boca não tinha boca para nada.
Nas ruas onde morava, conheceu um amigo, o Peçonha. Este sim era a boca que o Boca não tinha. Destilava seu veneno por onde passava, não tinha papas na língua e nem rédeas o seguravam, controlava todo o morro e por afinidade promoveu o Boca a chefe da boca.
De boca em boca a notícia se espalhou. Foi passando de bem visto para bem quisto o nosso velho Boca.
O peçonha se irritou. Como poderia o Boca estar na boca do povo? Preparou uma surpresa e esperou na boca pelo Boca.
Com um sorriso de recepção ao amigo, uma bala o Boca recebeu, mas não era nem doce nem azeda, apenas fria e sorrateira.
Nos pés da boca e na boca da noite, jazia sem dizer uma só palavra, o antigo Boca.
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