Não era “rídiculo” o risco de racionamento de energia, como classificou a presidente Dilma Rousseff, no café da manhã de fim de ano com jornalistas no Planalto. A possibilidade é mais concreta do que fez crer a presidente ao tentar desqualificar a pergunta, na resposta em que acrescentou a sugestão de que “gargalhassem” aqueles que ouvissem falar em raios como causas de pane no sistema.
Antes, os raios, suspira o PT. Afinal, o racionamento é evitado pelo uso complementar das usinas térmicas, em caráter emergencial, mas que o governo já admite agora voltar a ser permanente, caso as chuvas não caiam em volume suficiente para elevar em níveis seguros os reservatórios. Temendo o “apagão petista”, o partido torce pela chuva enquanto o governo lança mão da energia suja para reduzir os riscos.
O receio de ver aplicados à sua gestão diagnósticos que imprimiu com êxito eleitoral à era Fernando Henrique - leva o atual governo à adoção do método de comunicação do seu partido, de negação sistemática de problemas ostensivos, sempre desqualificando os críticos ou jornalistas que ousam perguntar aquilo que é de interesse público.
Ocorre assim na infraestrutura, em que a privatização é inevitável; no setor elétrico, em que são notórios os problemas; e, agora, com a frustração das principais metas econômicas. Abre-se, no primeiro caso, negociações envergonhadas e insuficientes com parceiros privados, adotando-se eufemismos para tal; nega-se qualquer problema, no segundo caso; e, maquia-se operações para salvar números não alcançados, no terceiro caso.
A constatação revela a predominância da estratégia de comunicação partidária sobre a do governo, misturando objetivos e conveniências dissociados do interesse público e, mesmo, daquilo que poderia ser mais eficaz para o próprio Planalto. O PT quer preservar velhas e abatidas lideranças e manter a fantasia do marketing que o fez, tempos atrás, o único partido ficha limpa do País. É passado.
Já governos lidam com a realidade. Uma coisa é o discurso ideológico surrado, em que divergências são rotuladas de conservadorismo, a serviço de uma eficiência eleitoral. Outra é a capacidade de administrar essa pressão de conteúdo anacrônico e encontrar seu modus operandi para governar “apesar disso”. Essa é a premissa para os avanços pretendidos pela presidente Dilma em 2013.
Trocar o discurso defensivo por uma campanha de educação de consumo de energia, por exemplo, liga o governo de forma mais positiva com o consumidor do que negar a falta de luz no escuro. Uso equilibrado da energia é bem vindo mesmo com redução da tarifa, até para que a medida (discutível pelo seu caráter intervencionista), não provoque euforia consumista. Poderia ter feito tudo isso com a ressalva da mera precaução e criado um vínculo maior com o contribuinte.
Admitir o lucro como fator natural e intrínseco ao sistema capitalista é indispensável para os avanços no campo da infraestrutura, como indicam as falências de gestões públicas, contaminadas pelo aparelhamento sindicalista, em portos, aeroportos e, de resto, nas estruturas diretamente ligadas ao dia a dia do cidadão, como as de segurança, transportes e saúde.
Da mesma forma teria sido mais honesto e eficiente justificar a insuficiência das metas econômicas frustradas, do que maquiá-las ao custo do agravamento da perda de confiança dos investidores – esses seres de que o Brasil mais precisa agora, Dilma especialmente.
Certamente há estratégia de comunicação mais inteligente do que a negação do óbvio e a recorrente mania de atribuir a culpa aos jornalistas. Até porque, esta parece esgotada. O governo teve juízo ao perceber cedo a conveniência de se desvincular do julgamento do mensalão, separando os interesses do partido e os seus, mas erra ao considerar salutar agir assim apenas em situações extremas como no processo que condenou dirigentes do PT à prisão.
O PT prossegue negando o mensalão, com a desfaçatez do personagem adúltero que nega sua condição mesmo nu ao lado da amante. É método assentado na convicção de que eleitoralmente importa a versão, máxima que não serve a governos carentes de resultados.
Como o ser humano guarda em si mesmo os maiores obstáculos à sua transformação, também é no governo que estão os maiores problemas da presidente Dilma. A começar pela dificuldade de escolher a estratégia de se comunicar com a sociedade – – com a qual a mídia é o canal -, se do governo ou do partido.
Se ficar refém da segunda, continuará a desqualificar perguntas e jornalistas com a aversão a entrevistas que exibiu na última, em que chegou ao ponto de recusar respostas para impor a pauta que lhe convinha.
Até porque, como se vê agora, não havia perguntas ridículas, mas temas incômodos.
(João Bosco Rabello - Fonte: http://blogs.estadao.com.br/joao-bosco/a-negacao-como-metodo-do-pt-ao-governo)
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