De quando? De onde?
Sempre digo que não sinto saudade.
Porque não lamento o que passou, nem o que perdi. Meu dia é hoje, me encontrando no enunciado do sentimento do aqui e agora, com Paulinho da Viola, que, no entanto, ostenta um olhar longíquo, que o denuncia...
Mas se me chega, de repente, alguma coisa de um tempo que vivi pela metade, percebo que sinto imensa falta de mim.
Talvez saudade seja isso. Uma pitada de arrependimento pelo momento não vivido, por aquilo que não integramos, ou talvez não esgotamos, distraídos que andávamos com o chamamento do futuro almejado.
Revejo a foto e vejo que ficaram ali, cristalizadas, pessoas de que, por muito tempo, não lembrei. Por esquecimento ou por medo de sofrer?
Saudade cheira a passado. Evoca alguma coisa sentida, não obrigatoriamente vivida. Mas dói, profunda e irremediavelmente, ainda quando é de mansinho que corrói.
Há pessoas que me chegam, trazendo, no primeiro encontro, um sentimento de antanho...
Nenhuma surpresa, como se sempre tivessem estado ali, prontas para entrar: saudade.
Há pessoas que me reaparecem, distantes e incógnitas, como se algo estivesse perdido para sempre... Saudade.
Há momentos que se redesenham, sem nunca terem sido vividos de fato...
Desejo materializado em saudade .
Digo que não sinto saudade.
E salto, destemida, para o amanhã, calcando fundo o que do hoje me esgota, sem olhar pra trás.
Sigo sendo, assim, saudade, que não se presentifica.
Meu tempo é hoje, parafraseio sem titubear, para despistar o desejo de olhar pra trás.
Vai que viro estátua de sal?
MIES
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