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Carlos Hugo Studart Corrêa é jornalista e historiador brasileiro, pesquisador dos Direitos Fundamentais no Século XXI. Nasceu em Natal (RN), a 08 jun 1961. Formou-se em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB), especializou-se em Ciência Política, cursou Mestrado em História e é doutorando em História Cultural, pela UnB.
É uma análise - como existem outras, diferentes - para ser lida e conferida com o decorrer dos fatos. Foi escrita antes das eleições, mas dois fatos já estão confirmados: o Lula escolheria o ministério; o Jobim, mesmo tendo divergências com ela, seria confirmado como ministro. O restante, como disse, só o tempo confirmará ou negará.
ANÁLISE DO GOVERNO DILMA
Conheci Dilma o suficiente para arriscar algumas previsões sobre seu governo. Se o câncer não a pegar, vai trair Lula em menos de dois anos.
Logo-logo os ministros com espinha-dorsal vão cair fora por não aguentarem humilhações e maus-tratos; e seu governo será integrado exclusivamente por invertebrados com interesses pessoais não-republicanos. Seu lado bom é que na economia vai tentar crescer mais do que Lula ousou. Contudo, Dilma vai aprofundar uma economia baseada nos oligopólios setoriais, no qual cerca de 30 mega-corporações vão receber todo apoio do Estado para criar o sub-imperialismo sul-americano. Vejam por quê:
Getúlio Vargas gostava de se apresentar como “Pai dos Pobres”. A velha UDN , sempre corrosiva, acusava-o de ser também “Mãe dos Ricos”. Nada mais pertinente para aquele que foi, simultaneamente, o pai do populismo e a mãe do desenvolvimentismo brasileiro. Como Getúlio, Lula fez dois governos populistas, distribuindo, à moda de César, pão e circo aos plebeus. E ajudou tanto os banqueiros, os grandes empresários e os muito ricos, que Getúlio, se vivo estivesse, ficaria constrangido de rubor. Mas o crescimento econômico na Era Lula foi absolutamente medíocre. Se as previsões de que Dilma Roussef vai dar continuidade ao lulismo, como promete, tudo leva a crer que venha a ser, como Getúlio e Lula tentaram, a primeira e verdadeira “mãe dos pobres e pai dos ricos”.
Quem conhece bem Dilma Roussef garante que seria uma doida de pedra, caso de camisa de força, um misto de Nero com Stalin, grosseira como o primeiro e totalitária como o segundo. Talvez seja exagero da oposição, talvez… Como um acadêmico, devo evitar usar certos adjetivos fortes. De qualquer forma, relato aos senhores, prezados leitores, que eu a conheci pessoalmente, eu jornalista, ela autoridade do governo Lula. Primeiro como ministra das Minas e Energia, depois como chefe da Casa Civil.
Tivemos algumas entrevistas, nas quais só ela respondia e eu pouco perguntava. Fiz parte da regra, não sou exceção. Nossa primeira entrevista começou 1h30 da madrugada e se estendeu até as 3h. Não me lembro de ter conseguido fazer mais do que duas ou três perguntas. Venho acompanhando há oito anos sua trajetória pública, os bastidores das suas aventuras. Tenho o orgulho de ter sido o primeiro jornalista a registrar a decisão de Lula de fazê-la candidata à sua sucessão. O acordo era Dilma governar apenas um mandato, quatro anos, mantendo a cadeira para Lula se candidatar em 2014.
Somente uns três meses depois começaram as especulações sobre Dilma candidata. Enfim, conheço Dilma o suficiente para registrar aqui algumas previsões sobre seu futuro governo, caso se confirme nas urnas o que avisam as pesquisas.
ROMPIMENTO COM LULA
Como suas alianças com os aiatolás e com Hugo Chávez foram passos absolutamente idiotas e irreversíveis, Lula perdeu a chance de realizar o sonho de presidir a ONU ou ganhar o Nobel da Paz. Mas não vai se conformar em vestir o pijama, não quer virar um Fernando Henrique. Lula vai querer ficar dando pitaco em tudo. Quanto a Dilma, totalitária em seu DNA, stalinista e prepotente, vai começar a achar que ganhou a eleição pelos seus belos olhos, por sua suposta competência como “mãe do PAC”. Vai querer fazer seu próprio governo. Os dois vão acabar rompendo. No máximo em dois anos, anotem aí.
FORMAÇÃO DA PRIMEIRA EQUIPE
Ela deve aceitar que seu governo, numa primeira fase, seja nomeado por Lula e pelos dois “rasputins”, José Dirceu e Antônio Palocci. O PT vai ficar com o núcleo duro, ou seja, as áreas de coordenação política e econômica. Dilma tem poucos quadros pessoais, como Erenice Guerra (finada, foi-se) e Valter Cardeal (agora queimado). Sobrou Maria Luiza Foster, hoje diretora da Petrobrás e alguns raros novos amigos, como o petista José Eduardo Cardoso e José Eduardo Dutra. Quanto aos demais ministérios, a serem loteados com os aliados, o PT vem tentando avançar sobre as áreas onde dá para fazer mais caixa dois. Contudo, a tendência é manter os atuais feudos. Até ai, nenhuma grande novidade. Vamos então às previsões.
SEGUNDA EQUIPE DE GOVERNO
Em menos de um ano, anotem aí a previsão, os ministros com alguma personalidade, algum caráter ou vergonha na cara, começarão a pipocar do governo em razão de grosserias, humilhações, futricas e maus tratos da mandatária. Nelson Jobim, que tende a ficar na Defesa (assim Dilma não precisa entregar ao PMDB mais um ministério onde dá para fazer caixa), deverá ser dos primeiros. Mas sai ainda em 2011, anotem aí. Esses ministros serão em quase totalidade substituídos por gente de terceira categoria, capachos dispostos a aguentar as explosões emocionais da mandatária em troca de algum interesse inconfessável.
NOVOS AMIGOS
Vai ter um momento que a Dilma vai estar cercada essencialmente de invertebrados e de batedores de carteira. Gente da pior qualidade, capachos despreparados mas com interesses privados claros, como a finada Erenice Guerra. É muito curioso que seu principal consigliere, atual melhor-amigo-de-infância, seja o suplente de senador Gim Argello, do PTB do DF. Vale à pena acompanhar o governo Dilma pelos passos (e enriquecimento) de Gim.
DIRCEU OU PALOCCI?
De gente que pensa, a tendência é ficar apenas com Franklin Martins, antigo companheiro de armas, e José Eduardo Cardozo. Entre Dirceu e Palocci, aposto no segundo a longo prazo. Dirceu controla o PT; a tendência é Dilma querer se livrar dos grilhões, querer ficar livre, leve e solta para buscar um vôo-solo. Palocci controla o “mercado”, ou seja, as contribuições do caixa dois. Pode ser bem mais útil para Dilma.
PARALISIA ADMINISTRATIVA
O governo não vai andar, vai ficar todo travado por conta do excesso de centralismo democrático da presidenta. Ela acredita que informação seja poder. Não vai dividir informação com ninguém. Alias, enquanto foi ministra da Casa Civil, o governo só andou porque Lula colocou duas assessoras pessoais e suas equipes para controlar os ministérios pelos bastidores, Miriam Belchior e Clara Ant. Com sua mania de centralizar, controlar e querer saber de tudo, Dilma sempre atrapalhou mais do que ajudou.
RELAÇÃO COM O CONGRESSO
Tende a ser desastrosa. Dilma jamais gostou de negociar. O negócio dela é impor. Os parlamentares eleitos, por sua vez, têm em quase totalidade o DNA clientelista, franciscano, “é dando que se recebe”. Dilma tende a perder a paciência e a tentar passar o trator no Congresso, como registra todos os episódios de sua biografia. Paralisia política, impasses institucionais, talvez até crise de poderes. Ela não deve conseguir aprovar no Congresso nenhuma reforma relevante. O que não aprovar em seis meses, no máximo no primeiro ano de governo, não deve aprovar mais. A não ser que caia na tentação de tentar o “chavismo”.
IDEOLOGIA? ORA, O NEGÓCIO É…
Engana-se quem acredita que a ex-guerrilheira Dilma seja movida pela ideologia. Nos tempos de militância esquerdista e clandestinidade, ela notabilizava-se entre os guerrilheiros por duas características singulares.
Primeiro, o amor pela futrica e por provocar divisões. O ex-companheiro Carlos Lamarca morreu chamando-a de “cobra”, “maquiavélica”. Outra característica era sua atração pelo dinheiro. Ela convenceu Lamarca que tinha uma grande organização, a Colina, com milhares de militantes prontos a pegar em armas pela revolução. Tinha só ela, o marido de então, um companheiro bonito chamado Breno e mais dois ou três gatos-pingados.
Convenceu Lamarca a fundir o grande Colina e com a VPR em igualdade de condições, criando a VAR-Palmares. Convenceu Lamarca a assaltar o cofre do Adhemar de Barros, no mais ousado episódio da guerrilha. Por fim, convenceu a todos a rejeitar o “militarismo” de Lamarca e seus sargentos. Ela e o marido ficaram com o controle de quase todo o dinheiro do assalto, deixando Lamarca em dificuldades.
CAIXA DE CAMPANHA
Faço aqui uma previsão tão ousada quanto polêmica. Nossa presidenta tende a tentar fazer seu próprio caixa de campanha, fora do caixa dois do PT, a fim de ganhar a independência em relação Lula. Ela sonha ter o próprio grupo.Precisa de dinheiro para financiar a política.
BRASIL GRANDE
Do lado bom, Dilma vai tentar acelerar um pouco o crescimento econômico.
Isso é tão certo quanto o futuro rompimento com Lula. Como Adhemar, Médici e Maluf, ela gosta de obra grande, de usinas hidroelétricas gigantescas, de portos e auto-estradas rasgando a imensidão desse Brasil. Deveria ter sido ministra do governo Médici. Quer ressuscitar o Brasil Grande, mas com um viés de esquerda – ou daquilo que ela chama de esquerda. Confesso que não consigo ver muita diferença no PAC de Dilma com os projetos de Médici e Geisel.
SUB-IMPERIALISMO BRASILEIRO
No plano internacional, não vai trombar em hipótese alguma com os EUA. Acho até que vai dar uma guinada à direita. O jogo internacional dela é o sub-imperialismo. Vai usar dinheiro público para financiar grandes corporações brasileiras, criar oligopólios nacionais e sul-americanos Os maiores beneficiários de seu governo serão Gerdau, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Votorantim, Bradesco, etc. E a Vale? Ora, a Vale é do Bradesco
OLIGOPÓLIOS
Noam Chomsky, o mais instigante pensador da atualidade, tenta explicar a economia globalizada de uma forma singular. Segundo ele, não vivemos o capitalismo, nem nos Estados Unidos, nem na Europa. O sistema que haveria seria o do estatismo oligopolizante. A economia é toda organizada por oligopólios, com cinco ou seis mega-corporações dominando cada um dos principais setores da economia – bancos, siderúrgica, petro-química, mídia, fármacos, tecnologia, etc. Ao sistema não interessa monopólios, como o que a Microsoft tentou firmar, mas sim oligopólios. E essas mega-corporações oligopolistas, por sua vez, precisam da ajuda dos Estados e dos políticos para firmarem-se como corporações globais. Financiam os políticos que, no poder, lhes dão concessões de todo o tipo. Chomsky referia-se aos EUA, Europa e Japão.
Poderia estar falando do Brasil que Lula entrega à Dilma. Pensem num setor.
Bancos, por exemplo: Há dois grandes estatais, BB e Caixa, dois privados nacionais, Bradesco e Itaú, e dois estrangeiros, Santander e HSBC – o resto não conta. Construção: Odebrecht, Andrade e Camargo. Se listarmos os cinco principais setores econômicos – Bancos, Construção, Siderúrgico-Metalúrgico, Petroquímico e Farmacêutico, vamos descobrir que, no Brasil, menos de 30 empresas controlam dois terços dos empréstimos subsidiados do BNDES e 90% dos investimentos dos fundos de pensão das Estatais. Outra curiosidade:essas 30 empresas desses cinco setores financiaram a maior parte da campanha de Dilma e do PT, deixando Serra e os tucanos na mão. Mas essa é outra história a ser contada em detalhes em outra ocasião.
Por enquanto fica aqui o registro: essas 30 empresas desses cinco oligopólios, vão receber no governo Dilma todo subsídio que precisarem do BNDES para consolidarem ainda mais o oligopólio interno e o sub-imperialismo na América do Sul. Também vão receber dinheiro direto dos fundos de pensão das Estatais para fazer o mesmo. O governo Dilma, enfim será essencialmente oligopolista e sub-imperialista. Anotem as previsões.
(Hugo Studart - Jornalista e historiador, professor e pesquisador)
Li estas previsões e continuo preferindo as da Mãe Dinah!
ResponderExcluirtao certo qnt o fim do mundo em 2012 hahahahhaa
ResponderExcluirteve algumas entrevistas com Dilma e eh capaz de prever o futuro do governo dela? hahahahhaa
Vou dizer uma coisa Dilma nunca teve e nunca terá competência para dirigir o país, nem sequer foi vereadora, uma total incopetente que ganhou graças as bolsas "tudo" que compraram milhões de votos de pessoas mais necessidades! Isoo é coisa de uma pessoas dígna fazer???
ResponderExcluirSó lamento Brasil!
Artigo forte e de respeito.
ResponderExcluirNão podemos duvidar de nada.
Foi a ESCOLHA do povo "clientelista".
Quem viver verá.
Análise correta tanto sobre Dilma quanto sobre Lula. Ambos constituem a parcela podre que faltava para jogar o Brasil no pântano político em que ele está megulhado. Precisaremos talvez - torçamos para que não - de mais quinhentos anos para sair do status de sub-nação em que fomos lançados.
ResponderExcluirInteressante notar que, aqueles que não concordam com as coerentes palavras de Hugo, também não o contradizem! Sequer argumentam algo! Qual formação/experiência/importância política têm esses que zombaram do artigo?
ResponderExcluirInteressantíssimo o que Hugo escreveu! ÓBVIO que não sabemos no que vai dar, mas devemos considerar a atitude, pois ela traduz o que é ser politizado e intelectualizado.
A análise muito boa ... feita com "conhecimento de causa" , observância .... vamos aguardar!
ResponderExcluirAcho que tudo isso até pode acontecer, mas alguém pesquisou as previsões sobre Fernando Henrique na época? Só o Lula e a Dilma são podres? Guardem esta matéria e cobrem se todo este desastre acontecer. Acho que ele é mais um dos contra PT. Eu sou a favor da evolução. Muita coisa ruim vai rolar, mas a melhora do país foi significativa no mandato Lula. Não há como contrariarem. Abraços
ResponderExcluirQuanto seria interessante que isto acontecesse logo. Gostaria de ver as pegadas do Lula apagadas pelos caminhos da política. Vassalo
ResponderExcluirCom certeza!
ResponderExcluirGostaria imensamente de lhe parabenizar pelo artigo, pois compartilho das mesmas opiniões, porém plagiando outro estadista " CADA POVO TEM O GOVERNO QUE MERECE"
ResponderExcluirVc acha q Lula é tão inocente assim?Por favor me responda. robertocarvalhoster@gmail.com
ResponderExcluirRoberto,
ResponderExcluirEstou respondendo...rsss
Não acho o Lula nem um pouco inocente, muito pelo contrário. Acontece que a escolha da Dilma foi uma escolha forçada, pois ele, de repente, se viu sem ter quem indicar para concorrer à presidência pois todas as pessoas por quem podia optar estavam envolvidas em escândalos.
Na minha opinião, ele indicou a Dilma pensando em um mandato tampão, pois ele, sem dúvida, pretende voltar em 2014.
Acontece é que ninguém sabe, na verdade (e acredito que nem mesmo o próprio Lula) quem é a Dilma e o que se pode esperar dela, e o seu histórico demonstra que ela não é confiável...
A análise foi feita por um jornalista que a conheceu bem de perto, mas não deixa de ser a opinião dele.
Abçs
É surreal ver que, passado um ano e meio, o jornalista de meia tigela conseguiu errar 99% de suas previsões.
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