segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A praga do HPV

Cecília Abbati

Não dá para bobear com esse vírus. Transmitido sexualmente é muito contagioso – oito em cada dez mulheres já tiveram, têm ou terão contato com ele. O perigo maior é que essa contaminação pode evoluir para o câncer no colo do útero. Prevenir é o melhor caminho para manter a sua saúde em dia.

Todo ano, cerca de 230 mil mulheres morrem no mundo vítimas do câncer no colo do útero. No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 18 mil novos casos serão diagnosticados em 2008. E, para o surgimento desse tipo de câncer, é necessário que a vítima tenha sido infectada pelo papiloma vírus humano, o famigerado HPV. Sim, ele é o vilão da história. Um vilão potente, uma vez que existem mais de 100 tipos, e silencioso, já que os mais perigosos não apresentam sintomas. Apesar dos números assustadores, mantenha a calma. Não é porque você recebeu um diagnóstico positivo que vai ter câncer uterino. Na verdade, aproximadamente 0,5% das mulheres contaminadas desenvolvem o tumor. “O HPV assusta porque origina o câncer. Mas, ao mesmo tempo, poucos casos evoluem até a doença, principalmente quando há acompanhamento médico”, afirma Neila Góis Speck, ginecologista e chefe do Ambulatório de Colposcopia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Mesmo não evoluindo para o câncer, o HPV pode provocar verrugas que começam microscópicas, mas crescem a ponto de desfigurar a vagina, portanto devem ser tratadas com rapidez. A maioria das infecções por HPV é caracterizada como transitória. “Cerca de 90% dos casos são resolvidos sem maiores complicações”, diz Luisa Lina Villa, chefe do grupo de virologia e membro titular do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, em São Paulo.

Prevenção é a solução

Uma vez que a doença é transmitida sexualmente, ter relações com camisinha é, sem dúvida, a melhor forma de se cuidar. “O uso do preservativo reduz os riscos de contaminação em 80% dos casos. Mas a segurança não é total porque ele protege apenas dos vírus que estão no pênis e, às vezes, o HPV aparece na bolsa escrotal”, diz Neila. Contato manual e oral também podem provocar a contaminação, embora esses tipos de contágio sejam mais raros. O que os médicos percebem é que, na maioria das vezes, se adquire o HPV após dois ou três anos do início da vida sexual. Em muitos casos, o próprio organismo dá conta de eliminar o vírus. Outras vezes, ele pode ficar muitos anos sem se manifestar. Por isso, é importante fazer um acompanhamento ginecológico desde que se inicia a vida sexual. E a partir dos 30 anos é necessário redobrar os cuidados, pois o sistema imunológico começa a enfraquecer e o vírus causa lesões de maior gravidade no colo do útero.

Os tipos mais perigosos

Há duas categorias de HPV: o oncogênico (que pode causar câncer) e o não-oncogênico. Apesar da grande quantidade de tipos, há quatro mais comuns, os de número 6, 11, 16 e 18. Os tipos 6 e 11 são responsáveis pela verrugas genitais. Essas lesões são incômodas, mas não têm potencial para se transformarem em câncer. São tratadas com pomadas ou eliminadas por cauterização e laser. Já os tipos 16 e 18 estão ligados a 70% dos casos de câncer. “Quando a doença é descoberta no início, as chances de cura estão acima de 80%. Se ela é detectado em um estágio avançado, essa porcentagem cai para menos de 40”, explica Luisa Villa.

Quando tamanho é documento

Também existe uma classificação para os tipos de lesões, de acordo com o tamanho de cada uma delas. Se a lesão atingir até um terço da mucosa do colo do útero, é considerada de baixo grau e geralmente não exige tratamento, apenas acompanhamento médico. Quando atinge até dois terços, é de médio grau e o profissional avalia a necessidade de tratamento. Se o HPV está na mucosa toda é de alto grau e, nesse caso, os riscos de evoluir para um câncer são maiores do que 12%. Aqui, pode se optar por uma intervenção cirúrgica, que, dependendo da extensão do problema, compromete a estrutura do colo para uma futura gestação. Embora o papanicolaou seja fundamental para diagnosticar a doença, ele mostra apenas a lesão – não a existência do vírus. “Esse exame aponta as alterações na mucosa. Para saber se você tem ou não o vírus deve fazer um exame de biologia celular”, diz Neila. Isso é importante, porque muitas vezes a manifestação da doença é rápida. Em um ano, intervalo normal de um papanicolaou, o vírus pode agir e alcançar o alto grau. Para não correr risco, a receita é simples: preservativo e visitas periódicas ao ginecologista. Existe prazer maior do que saber que está com a sua saúde em dia?

(A boa noticia e que ja existem vacinas no mercado. Pergunte ao seu medico.)
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