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Apaixonar-se pode significar viver uma sucessão de quedas livres, pois o amor permite experimentar raras emoções e perigosas sensações. Da fase inicial de deslumbramento à desejada etapa de intimidade madura os sabores são muito variados.
Para a criança, perguntamos: “Você me ama?”, “Quanto?” Então ela abre os braços e mostra “esse tanto”, porque na infância só existe pensamento concreto. Mais tarde na vida, tentamos demonstrar de muitas e muitas maneiras quanto é “esse tanto”. A psicanálise ensina que aqueles que foram bem amados na infância procuram encontrar um companheiro para recriar o paraíso perdido, enquanto os que sofreram privação, não foram desejados nem amados, buscam alguém para compensar este vazio. Então vamos pela vida querendo amar para copiar ou para compensar. Mas tudo isso com medo - medo de abrir o coração, porque quando agimos assim ficamos vulneráveis à desilusão, à rejeição.
É assustador amar. Às vezes, um homem diz: “Que desgraça, acho que me apaixonei”. Isso porque se apaixonar pode ser uma sucessão de quedas livres. O escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900) disse que algumas tentações são tão grandes que é preciso muita coragem para ceder a elas, mas todos sabemos que na vida aprendemos mais com dez dias de agonia do que com dez anos de felicidade. Quando amamos, sentimos um prazer exuberante equivalente ao de um homem dirigindo um carro novo fascinado com seus incríveis poderes recém-adquiridos.
O amor permite saborear raras emoções e perigosas sensações. Entretanto, parece que existem três etapas, três fases no processo de conquista do outro. A primeira, do deslumbramento, dura um dia, um mês, dois meses - se for verão. Desde muito cedo na nossa vida a excitação está misturada com superação de obstáculos. Então, à medida que nos desenvolvemos, vamos criando nosso mapa interno de excitação. Nele estão os riscos que enfrentamos, nossos conflitos, nossas lutas pessoais (“não quero parar de me sentir atraído pelo proibido”). Superar as barreiras é, portanto, o teste da força de atração.
Já a segunda fase pode ser tão curta quanto um telefonema, dependendo dos nossos medos, das nossas dúvidas, ou tão longa quanto forem nossos desejos, nossa fome, nossos sonhos eróticos. Essa fase pode ter um sabor salgado, incrivelmente doce ou doce-amargo.
E a terceira, nunca sabemos se vamos atingi-la ou não, por isso sentimos aquele tipo de medo estranho chamado coragem. Nessa fase, instantânea ou lentamente, cada um vai mostrando seu jogo, pondo suas cartas na mesa, pensando “eu sinto”, “eu quero”, “eu posso”. Os dois vão se abrindo, revelando seus sentimentos, seus pensamentos, e a fronteira entre o permitido e o proibido começa a se dissolver. Mergulha-se no jogo de vai-e-vem, das trocas, do sexo variado, às vezes simplesmente guloso, outras vezes, gourmet. Começa então de fato a descoberta do outro.
Quando amamos de verdade, amamos porque o outro é isto, isso e aquilo e apesar de o outro não ser nem isto, nem isso, nem aquilo. É nessa fase que se quebra a barreira entre fantasia e realidade. Então, quando uma pessoa se percebe sendo aceita por aquilo que é, correspondida, o nível de intimidade vai se aprofundando e ela se entrega. Mas essa entrega não é fácil.
Uma das perguntas que as pessoas se fazem é: “Como pode algo tão assustador ser ao mesmo tempo tão bom?” É preciso muita coragem para viver as incertezas do amor. Por outro lado, é preciso enfrentar o medo, as dificuldades, porque são elas que nos forçam a prestar atenção a nós mesmos e a lutar por nossos sonhos. Não vale a pena só passar de raspão pelo outro, pelo amor. O que queremos é criar uma reação emocional em cadeia para poder abrir os braços até chegar a “esse tanto”.
(Adroaldo Figueiredo)
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ótimo texto do Adroaldo! Encontro-me assim; totalmente apaixonada, rs. Medo ,medo, muito medo, mas temos que arriscar né!
ResponderExcluirBeijão! =)