Luís Guilherme Barrucho
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NOVOS MARES Resort onde funciona a embaixada brasileira em Basseterre: sete novos escritórios no Caribe |
O Arquipélago de São Cristóvão e Névis, no Caribe, é um paraíso para poucos. Tem praias de águas translúcidas, relevo desenhado pela atividade vulcânica e uma população que não ultrapassa 55 000 habitantes. Vive do turismo, atraindo europeus e americanos com seus resorts cinco-estrelas e campos de golfe à beira-mar. Ali foi constituída uma das mais recentes embaixadas brasileiras. Desde o ano passado, o país possui um embaixador em Basseterre, a capital do arquipélago. Sem escritório definitivo, o diplomata despacha de sua suíte do Marriott, na Frigate Bay (foto acima). Essa é uma das 68 representações diplomáticas, entre embaixadas e consulados, que foram abertas desde 2003. Sob Lula e sua pretensão de ampliar a participação brasileira na diplomacia internacional, o Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, tornou-se uma das pastas mais valorizadas no Planalto. Não se pouparam recursos na contratação de diplomatas, na melhoria de seus salários e também na abertura de representações. O Brasil possui atualmente embaixadas em 133 nações.
A maior parte dessas novas representações foi aberta em países pequenos e pouco relevantes no cenário político e econômico mundial, quase todos ex-comunistas, nações africanas paupérrimas ou ilhotas caribenhas. São lugares como Albânia e Coreia do Norte, esta uma das nações mais fechadas do planeta; os africanos Benin e Togo; ou Dominica, Bahamas e Santa Lúcia, no Caribe. Por trás dessa multiplicação global dos "itamaratecas" (como são apelidados os alunos formados pelo Instituto Rio Branco, a escola pública de diplomatas) há um misto de ideologia e ambição do governo brasileiro. Pela cartilha da diplomacia, a instalação de representações no exterior se justifica pelos interesses econômicos em jogo, pelo papel geopolítico ou pela presença de uma grande comunidade de imigrantes. Nada disso parece fundamentar as decisões recentes do governo. Explica o especialista em relações internacionais Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington: "Esse aumento do número de embaixadas se deve às prioridades da atual política externa. Uma delas é o incentivo ao relacionamento com os emergentes, em detrimento dos desenvolvidos. Outra é a vontade do país de possuir um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas".
Wilson Pedrosa/AE |
CURTO ALCANCE O ministro Samuel Pinheiro Guimarães: alinhamento com países diminutos |
Quem conduziu as reformulações na diplomacia brasileira foi o diplomata Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Itamaraty até 2009 e agora chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (aquela antes ocupada por Roberto Mangabeira Unger). Guimarães é um dos principais mentores da política externa petista, ao lado do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e do assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia. A ideia do trio foi transformar o Brasil num porta-voz dos fracos e oprimidos do planeta – oferecendo um contrapeso às nações mais ricas – e, ao mesmo tempo, estreitar as transações comerciais com nações emergentes. A obsessão, manifestada desde o início do governo Lula, é conquistar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, hoje um privilégio de Estados Unidos, Inglaterra, França, Rússia e China. Pelos cálculos do Itamaraty, a ampliação do número de embaixadas traria mais votos favoráveis ao Brasil. Até agora, a iniciativa foi em vão.
Do ponto de vista econômico, a estratégia também colheu poucos frutos. As trocas entre o país e nações africanas e caribenhas respondem por menos de 10% da balança comercial brasileira. As vendas do Brasil para São Cristóvão e Névis foram de apenas 1 milhão de dólares no ano passado, uma insignificância ante os 153 bilhões de dólares do total das exportações. "Há uma desproporção evidente entre as prioridades da política externa brasileira. A eficácia da diplomacia não se avalia pelo número de embaixadas abertas. Quando a seleção não é feita de maneira criteriosa, o país acaba por desperdiçar recursos financeiros e humanos", afirma o diplomata aposentado José Botafogo Gonçalves. Além disso, todo esse investimento não se traduz necessariamente em apoio político. Diz o ex-secretário-geral do Itamaraty Luiz Felipe Lampreia: "Uma representação diplomática cria muitas expectativas nesses países, como ajuda financeira. Nem sempre o Brasil tem condições de prestar essa generosidade".
Desde o século XIX, o Itamaraty tem sido sinônimo de competência e profissionalismo. O concurso de ingresso à carreira diplomática é disputadíssimo e exige uma formação de elite, abrangendo conhecimentos que vão de música clássica a história de civilizações antigas e assuntos da geopolítica contemporânea. Resta torcer para que os interesses de um partido e a proliferação de embaixadas, do Azerbaijão à Zâmbia, não maculem essa tradição.
Alain Nogues/Corbis/Latinstock | AMIGO COMUNISTA Pyongyang, na autoritária Coreia do Norte, ganhou uma embaixada brasileira em 2008 |
(Fonte: http://veja.abril.com.br/090610/cruzada-itamaraty-p-082.shtml)
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