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Faz sentido técnico a proposta do Ministério da Saúde de passar a exigir receita médica para a venda de antibióticos em farmácias. O uso indiscriminado desses fármacos é o começo de uma longa cadeia de falhas que vem produzindo linhagens de micro-organismos -as chamadas superbactérias- resistentes a muitas das drogas conhecidas.
Antes de dar esse passo, entretanto, seria importante avaliar o impacto que a medida provocaria na rede de atendimento ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SUS). Afinal, se, do dia para a noite, todas as drogarias adotassem a nova regra, os serviços sanitários precisariam estar prontos para lidar com uma demanda adicional de usuários que hoje se medica por conta própria.
É preciso, também, atuar sobre os demais elos da corrente de problemas que caracteriza a utilização dos antibióticos -além do controle sobre a venda.
Vale lembrar que os próprios médicos podem cometer equívocos e abusos. Estudos clássicos produzidos no final da década de 1990, nos EUA, mostraram que eram desnecessárias até 50% das prescrições ambulatoriais de antibióticos feitas por médicos. É difícil imaginar que o quadro no Brasil seja muito melhor.
Outro ponto fulcral é a antissepsia. Pode parecer prosaico, mas, 150 anos depois de o húngaro Semmelweis ter descoberto a importância de os médicos desinfetarem as mãos, profissionais da área de saúde ainda não conseguem evitar que as bactérias dos diversos pacientes se cruzem.
A batalha contra as superbactérias é vital -e os humanos podem estar sendo derrotados. A capacidade dos micróbios de criar mecanismos de resistência é maior do que a nossa de desenvolver novas classes de remédios.
Esse fenômeno se traduz em infecções hospitalares cujo controle é cada vez mais difícil e caro. Além das preocupações com a prescrição e a venda, é preciso renovar os cuidados na rede de saúde para tentar conter a multiplicação das cepas de bactérias.
(Fonte: Folha de São Paulo - Editorial)
quinta-feira, 24 de junho de 2010
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