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Leitor, caso você se veja tentado a comprar um banco, cuidado! Por quê? Você certamente confiará que o Banco Central, que acompanha mensalmente os balancetes das instituições financeiras, sabe se a empresa está podre ou não. Precavido, você também vai consultar o parecer da auditoria independente que acompanha permanentemente o desempenho do dito-cujo. Mesmo assim, como não é do tipo que joga dinheiro fora, vai contratar uma outra empresa para avaliar se está tudo nos conformes.
Mas tudo isso pode ser absolutamente irrelevante. Vejam o caso do Banco Panamericano:
- O Banco Central avisa: “Não tenho nada com isso”;
- a Delloite, que fazia auditoria interna, avisa: “Não tenho nada com isso”;
- a KPMG, que fez a auditoria a pedido do Banco Fator, que intermediou a operação em nome da Caixa, avisa: “Não tenho nada com isso”;
- o Banco Fator avisa: “Não tenho nada com isso”;
- a CEF, que comprou as ações do Panamericano, avisa: “Não tenho nada com isso”.
Percebeu, leitor? Com tantos “expertos”, espertos e espertalhões cuidando de tudo, nos mínimos detalhes, nada impede que você torre seus bilhões comprando um banco quebrado. Se bem que… Vamos pensar.
Aquisição e fusão de bancos não são coisas tão raras, não é mesmo? Fizeram-se aos montes depois do processo saneador levado adiante pelo governo Fernando Henrique Cardoso. E não se sabe de nenhum banco privado, nacional ou estrangeiro, que tenha levado uma tungada do tamanho que levou a CEF: mais de R$ 700 milhões. O dinheiro investido no Panamericano virou pó. A se dar crédito às versões, executivos de um banquinho mixuruca conseguiram levar no bico gente altamente especializada em detectar fraudes. E olhem que, até onde se sabe, não era nada muito sofisticado, não, hein? O Panamericano vendia carteiras de crédito a outros bancos, pegava a grana antecipada, mas fazia de conta que os pagamentos feitos pelos devedores ainda eram seus.
Visto tudo de perto, encontram-se sempre aquelas incríveis coincidências que aproximam o mundo da política do mundo dos negócios. Informa Lauro Jardim no Radar Online: “Rafael Palladino, ex-presidente do Banco Panamericano, sempre chamou atenção do mercado pela relação muito próxima com Marcio Percival Alves Pinto, vice-presidente de Finanças da Caixa Econômica Federal (indicado por Aloizio Mercadante para o cargo) e Walter Appel (dono do banco Fator, um dos que auditaram o Panamericano para a CEF)”. Dá para entender.
É preciso que haja diferença entre vender um banco, comprar um banco e roubar um banco.
Episódios como esse, do Banco PanAmericano, expõem as contradições da imprensa brasileira, que em sua maioria, defende o neoliberalismo e a autoregulamentação do mercado.
ResponderExcluirBasta aparecer uma maçã podre no cesto para mudar o discurso rapidinho e cobrar maior controle do governo sobre o mercado. O que eles são, afinal das contas: neoliberais ou neooportunistas?