The International Herald Tribune
Ao tentarem se igualar ou ultrapassar os homens na educação e no mercado de trabalho, as mulheres têm invertido papéis tradicionais de gênero
Cresce o número de mulheres bem-sucedidas na casa dos 30 anos que têm dificuldade de encontrar um parceiro.
Lembra de Sex and the City, quando Miranda vai em busca de encontros-relâmpago? Ela desperdiça três oportunidades ao revelar que é uma advogada corporativa. Na quarta chance, diz que é comissária de bordo e sai com um médico.
O que torna o episódio marcante não é apenas o fato de Miranda mentir sobre seu sucesso, mas que seu parceiro também minta: descobre-se que ele trabalhava numa loja de sapatos.
É o poder feminino matando o romance?
A atração sexual do século 21, ao que parece, ainda se alimenta de estereótipos do século 20. Contudo, ao tentarem se igualar ou ultrapassar os homens na educação e no mercado de trabalho, as mulheres têm invertido papéis tradicionais de gênero, o que provoca consequências profundas para a dinâmica dos relacionamentos.
Com isso, cresce o número de mulheres bem-sucedidas na casa dos 30 anos que têm dificuldade de encontrar um parceiro, como as personagens de Sex and the City e os romances de Bridget Jones.
Perfis
Existem mulheres-alfa que acabam com homens-alfa, mas, em seguida, decidem colocar a carreira em segundo plano quando chegam os bebês. Mas existe também um terceiro grupo: um pequeno número de mulheres que ganham mais que seus parceiros, dando origem a uma variedade de contorcionismos de comportamento que visam manter a aparência dos papéis tradicionais de gênero intacta.
Anne-Laure Kiechel é uma banqueira de investimentos em Paris que ganha mais de cinco vezes o salário do namorado, um consultor de comunicação. Ela controla as finanças do casal e paga grandes despesas, como férias.
Mas, em público, é ele quem insiste em puxar o cartão de crédito para evitar, como ele diz, que pareça "um gigolô".
"Isso me faz rir", disse Kiechel. "Mas se lhe agrada, tudo bem." (Não muito tempo atrás, ele pediu a ela para reservar hotéis em seu nome porque não gosta de ser tratado como Mister Kiechel quando chega; futuras reservas serão feitas no nome dos dois, disse ela.).
Timothy Eustis, que foi professor em Nova York e é um orgulhoso pai que fica em casa e trabalha como consultor ocasional de vinhos, se mudou para a França com a mulher, Sarah, quando ela recebeu uma oferta de emprego da marca francesa de lingerie Etam. Também não é um problema que ela sustente a casa e seu salário alimente a conta conjunta. Mas ambos mantêm o que ele chama de "essas pequenas tradições" para manter a chama do romance acesa.
"Faço um esforço para abrir a porta, quase sempre dirijo o carro e quando chega a hora da conta, eu pago", disse ele. "Sarah intencionalmente, eu acho, me deixa fazer essas coisas porque acha que isso beneficia o relacionamento."
Problemas
Alguns homens têm questões mais fundamentais. Uma gerente italiana de 38 anos reclamou que seu namorado sugeriu que ela mudasse de emprego porque não se sentia mais capaz de "seduzi-la" quando o salário dela ultrapassou o dele. Uma consultora de gestão francesa disse que seu marido, um professor, deixou de ir às festas com ela porque sentia-se inadequado cada vez que alguém perguntava o que ele fazia. Uma banqueira alemã disse que uma razão para seu ex-marido trocá-la por uma fisioterapeuta foi "porque ela teria mais tempo para ele".
"É incrível como até mesmo muitos homens liberais acabam enfrentando dificuldades sexuais e emocionais por estar ao lado de mulheres mais obviamente bem-sucedidas", disse Sasha Havlicek, executiva de 35 anos, chefe de um grupo de pesquisadores em Londres. Uma amiga recorreu a um ritual fingindo desamparo. O objetivo era que seu parceiro recuperasse seu senso de masculinidade. "O ego masculino pode ser mais frágil que o feminino."
Anke Domscheit-Berg, da Microsoft na Alemanha, que tem histórias em seu passado de pretensos namorados que fugiram depois de ver "diretora" (de comunicação) em seu cartão de visitas, põe as coisas dessa forma: "O sucesso não é sexy".
Sites de encontro parecem sugerir que mulheres altamente educadas têm mais dificuldades em encontrar parceiros que mulheres com empregos tradicionalmente femininos. Um portal de relacionamento de elite da match.com na Alemanha, que tentava arranjar encontros entre homens e mulheres altamente qualificados, foi abandonado e se tornou mais genérico, disse Gesine Haag, que lançou o site e agora administra sua própria agência de marketing na internet.
"Homens não gostam de mulheres bem-sucedidas, homens querem ser admirados", disse Gesine. "É importante para eles que a mulher esteja cheia de energia à noite e não use seu BlackBerry na cama."
O psicanalista Bernard Prieur afirma que homens que ganham menos que suas parceiras lutam contra duas inseguranças: "Eles se sentem vulneráveis social e pessoalmente. Socialmente, vão contra milênios de crenças e estereótipos que o vêem como arrimo da família. E o sucesso da parceira muitas vezes lhe dá um sentimento de fracasso pessoal", disse Prieur, na edição de novembro da revista francesa Marie Claire.
Soluções
Então, mulheres ambiciosas estão condenadas a uma vida de solteira? Ou as coisas estão mudando?
Kiechel diz que seu namorado incentiva sua carreira e se gaba aos amigos sobre como ela é inteligente e trabalhadora. Haag e Domscheit-Berg ganham mais que seus maridos e dizem que eles realmente gostam de ver a reação do garçom quando dizem que sua mulher vai pagar a conta. Domscheit-Berg, que também atua na gestão da European Women's Development International Network, tem três dicas para mulheres que ganham bem: deixe o carro elegante da empresa em casa no primeiro encontro; procure seu companheiro para toda a vida quando estiver na faixa dos 20 anos, no lugar dos 30, antes de ter muito sucesso. E vá atrás de homens que tiram o sustento de outras fontes, como acadêmicos e artistas.
"Quando mais diferente sua atividade, melhor", disse ela. "Isso faz que uma comparação imediata seja mais difícil."
De fato, em Sex and the City, Miranda, a advogada, encontra a felicidade com Steve, um garçom que vira o papai que cuida da casa e não se importa nem um pouco com o sucesso.
(http://veja.abril.com.br/noticia/economia/o-romance-em-tempos-de-mulheres-alfa)
Oi, amiga Berenice.
ResponderExcluirDesde os primórdios a sociedade é machista. Mudar um conceito arraigado, é deveras difícil.
O Sex and the City apela para o extremo: acredito que o empecilho não é a posição profissional privilegiada da personagem principal, mas sim o comportamento liberal que assusta o homem.
Este é o custo da luta pela liberdade incondicional de direitos iguais. É uma conquista feminina, sem dúvida, mas que tem seu preço...
Meu abraço,
Yolanda