“Para predizer o que irá acontecer é preciso saber o que ocorreu ontem” (Nicolau Maquiavel)
Após a ditadura do proletariado, imposta pelas exigências da revolução socialista, viria o Estado feliz e paradisíaco da liberdade, sem explorados e sem exploradores. Era esse o resumo da cartilha.
Embora a corrida para essa utopia tenha sido uma viagem efêmera, muitas pessoas ainda não se desvencilharam dela e não desistiram de tentar de novo, seja fazendo um balanço das perdas com a experiência vivida, seja retomando-a a partir do momento em que ela teria se desviado do destino correto. Isso levaria inevitavelmente a um retorno a Marx, ao século XIX, pois sempre existirão pessoas com tendência a considerar o comunismo como um tribunal inevitável para as mazelas do capitalismo que, de antemão, já foi condenado.
Para os comunistas, o momento é ainda de depressão. Depois da euforia provocada pelo marxismo-leninismo, pelo “pensamento de Mao-Tsetung”, pelo “guevarismo”, pelo “fidelismo”, pelo “gramscismo”, pelo “eurocomunismo”, e pelo “trotskismo”, a hora é de uma grande ressaca. Afinal, eles não abandonaram o comunismo. O comunismo é que os abandonou.
Todavia, isso provavelmente não irá durar muito, pois não há como deixar de admitir que sempre existirão partidos de esquerda, pois a sociedade - qualquer que ela seja - “produz desigualdades assim como combustíveis fósseis produzem poluição” (frase do historiador marxista Eric Hobsbawn).
Mas, como chegar às transformações que O Partido requer? Com que mesclas de idealismo e realismo ele deveria passar a atuar? São perguntas ainda sem uma resposta.
O comunismo morreu? Em termos, pois seu cadáver permanece insepulto, uma vez que como idéia-força ele deixou profundas e extensas raízes em todo o mundo. Fracassou, isto sim, um tipo de comunismo, aquele que realmente existiu, como nossa geração é testemunha privilegiada. Foi o fim de uma época histórica, que não voltará.
Considerando a definição de utopia (“a cobiça do impossível”), alguns, ainda marxistas, desejam umautopia viável para o marxismo moribundo. Ou seja, umimpossível viável. Outros, como o escritor e sociólogo marxista Jacob Gorender, que foi membro dirigente de dois partidos revolucionários (o Partido Comunista do Brasil e o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário) defendem um marxismo sem utopia. Nesse sentido, julga que seria importante atualizar o marxismo, retirando-lhe os elementos utópicos e integrando à dialética marxista formulações que dêem conta de aspectos do processo histórico capitalista que Marx não soube ou, em sua época, não podia prever.
Desde logo, poderia imaginar-se um partido que fosse realmente uma associação voluntária e democrática de vontades em busca de objetivos precisos; um partido que permitisse a livre expressão e circulação das idéias, com dirigentes eleitos e removidos democraticamente, onde não existissem os privilegiados; um partido que estimulasse a participação e submetesse democraticamente aos filiados as grandes questões, sem propostas de “Resoluções Políticas” definidas em restritos “Comitês”; e que os candidatos a cargos de direção fossem eleitos realmente pelas bases, e não por listas previamente organizadas pelo aparelho dirigente ou por cooptação, como ocorre com freqüência.
A lucidez para encarar a falência da doutrina científica, neste início de século, é uma necessidade intelectual e política, embora seja necessário reconhecer que um partido concebido para derrubar um sistema político-social e implantar outro, seu antípoda, tenha exigências distintas daquelas dos partidos tradicionais, e que o abandono dessas exigências implicaria em renunciar aos dogmas fundamentais da doutrina.
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Carlos I. S. Azambuja é Historiador - Fonte: http://www.alertatotal.net/2016/01/mensagem-final.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+AlertaTotal+%28Alerta+Total%29
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