“Do ponto de vista do homem, a grande mulher é a fingida. A mulher fingida tem sentimentos muito mais intensos e transbordantes que a mulher sincera.
A mulher sincera é sempre a mesma: ela é o que é. Já a mulher fingida é sempre o que o homem quer que ela seja.
Supondo-se que a mulher, assim afirmam os sexólogos, como o goleiro no futebol, só atinge o primeiro orgasmo aos 29 anos, a mulher sincera relata, até essa libertação, seu calvário, enquanto a fingida se comporta como se, desde as primícias da relação sexual, conseguisse êxtases retumbantes.
A mulher sincera é a que acorda o homem para a dura realidade. A mulher fingida é a que desperta o homem para o reino da fantasia. A mulher sincera encarrega-se sempre do pesadelo, a fingida catapulta o homem para o sonho.
A mulher sincera é aquela que, quando o homem chega em casa e pergunta se está tudo bem, responde ajeitando a camisola:”Agora vai ficar ainda melhor.”
A mulher sincera cobra, a mulher fingida promete. Da mulher sincera o homem só obtém muxoxos rançosos. Nos lábios da mulher fingida sibilam murmúrios de lascívia.
A mulher sincera faz sexo. A mulher fingida realiza uma apresentação. A mulher fingida tem orgasmo múltiplo. A mulher sincera, cosquinhas. A mulher sincera dá só vazão à queixa, à recriminação e à condenação. À mulher fingida passa sempre despercebido o deslize do homem.
Para a mulher sincera, o homem, por mais que se esmere em provê-la, é um doador de esmolas. A fingida, por mais avarento que o homem lhe seja, considera-o um exemplo de prodigalidade.
A mais autêntica e atraente manifestação feminina é o fingimento. A mulher finge que é alta no salto do sapato e que seu rosto é sempre belo pela maquiagem. E seu corpo aromático pelo perfume e bem torneado pelas calças justas. E finge seios opulentos com o silicone.
A mulher sincera vive no médico e no dentista. A mulher fingida mora na sauna e no salão de beleza. A mulher sincera é lamurienta e pessimista. A fingida é afetada, coquete e otimista, profissional do sorriso e das carícias. A mulher sincera é um personagem, a fingida, uma atriz.
Se está tudo bem na relação conjugal, tanto a mulher sincera quanto a mulher fingida se mostram realizadas. Mas a mulher fingida leva a vantagem de também se sentir realizada quando tudo se depara adverso ao casal. A mulher fingida aprimora a técnica de só se mostrar aborrecida quando está longe de seu homem. A sincera deixa para revelar o auge da melancolia e da irritação quando seu homem está presente.
De tanta admiração que ela tem pelo homem, as amigas da mulher fingida sentem-se invejosas dela. Para as amigas da mulher sincera chega a ser surpreendente que não se separe do marido, tantas são as críticas que ela lhe destina.
Eu amo a sinceridade da mulher fingida. E acho que é tão chata e exagerada a sinceridade da mulher sincera que ela só pode estar fingindo.”
Paulo Sant’Ana - Revista Época Nº121 (11/09/2000)
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