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Embora nunca tenhamos sentido a menor falta, o Brasil já conta com importante representação diplomática em Bamako. Não sabe o prezado leitor onde fica? Ora, Bamako é a trepidante capital do Mali, nação da África ocidental. Fala-se francês por lá, já que nos anos 1880 foi possessão francesa.
Se o querido leitor não tiver achado Bamako importante podemos ampliar a oferta. Que tal Baku, capital e porto do Azerbaijão? Talvez Belmopan, onde temos igualmente vigorosa presença diplomática. Belmopan, apesar de capital, é sossegada cidade de menos de 15 mil habitantes, no distrito de Cayo, Belize.
Temos mais. Na verdade, temos mais de quarenta países nos quais o Brasil abriu embaixadas e consulados-gerais nos últimos dois anos. Lugares como Basse-Terre, Castries, Conacri, Cotonou, Cartum, Gaborone, Malabo, Novakchott, Roseau, St. Georges, St. John’s ou Uagadogu (só por curiosidade, é a capital de Burkina Fassu), entre outros. A maioria, certamente, só o chanceler Amorim alguma vez na vida ouviu falar.
Mas não se pode dizer que padeça o Itamaraty da falta de sizo do Senado. Não se verá, no ministério de Celso Amorim rastros de atos secretos ou bandalheiras tão em voga hoje no Congresso. Nada disso.
Tudo o que ali se faz é estampado com todas as letras no Diário Oficial. O problema é que algumas dessas novidades são produzidas com o formato das batatas, outras a cor e a aparência das laranjas. Como legumes e frutas não se somam, apenas aos iniciados é dado perceber o que sai da caneta do ministro. O que aqui se mostra, portanto, é a manifestação dos corredores do Itamaraty.
Essa farra de embaixadas, por exemplo, faz parte da senda brasileira pelo mundo pobre. De quebra, se junta à obsessão por ocupar lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Como se China, Rússia e Estados Unidos aceitassem a idéia. E se topassem, digamos, aumentar em duas as cadeiras, o Japão e a Alemanha fossem ficar de fora para dar vez ao Brasil.
Mas, se para fora essa festa esbarra no mundo real, para dentro resulta em assalto ao bolso da pobre viúva. A escolha de nomes para o primeiro posto dessas embaixadas e consulados gerais não chega a ser problema. Ninguém chega a ir amarrado, mas o escolhido geralmente recebe o posto como missão. Para os demais cargos, no entanto, o exercício é penoso.
Dificilmente alguém que enxergue futuro na diplomacia se dispõe a queimar um pedaço da vida num fim de mundo. Principalmente porque, num lugar desses, a menor distração transforma o indigitado em peça de almoxarifado. Quem aceita, embarca com a passagem de volta no bolso. Nada além de noventa dias. O segredo aí é que, por um período desses, além do salário ganham-se diárias. Um belo punhado de dólares que dá para viver direito, enquanto o salário se soma à poupança.
Mas não só em direção ao desterro movem-se os destinos no Itamaraty. Cuida-se ali também da vida afetiva dos escolhidos. Ano passado, por exemplo, Antônio José Ferreira Simões, lotado no gabinete de Amorim, foi feito embaixador em Caracas. Até aí, tudo bem. Pouco depois, porém, o Brasil abriu um consulado-geral em Caracas. Quem foi nomeado para o posto de cônsul? Ora, Mariangela Rebuá de Andrade Simões, a senhora Ferreira Simões.
Também em 2008, o Brasil formalizou sua representação junto à Organização Mundial do Comércio, a OMC. Para comandá-la foi escolhido Roberto Carvalho de Azevedo. Só pessoas muito maldosas acreditam que a escolha de Roberto para o posto guarda relação com o fato de Maria Nazareth Farani Azevedo, chefe de gabinete do ministro, ter assumido o comando da delegação brasileira na ONU, ambos serem casados e as duas delegações funcionarem na mesma cidade, Genebra.
Claro que deve ser absoluta coincidência, mas fenômeno semelhante ocorreu com a designação, neste ano, de Regina Maria Cordeiro Dunlop para a delegação brasileira na ONU, entidade que, como se sabe, tem sede em Nova York. Com Regina Maria no posto, o Brasil sentiu falta de um consulado-geral na região. Instalou-o no distrito de Hartford, estado de Nova York, e botou a comandar o lugar Ronaldo Edgar Dunlop, casualmente marido de Regina Maria.
Mas não só de arranjos domésticos vive o Itamaraty. Pouco se fala para fora de Brasília, mas já se torna visível ao mundo, por exemplo, o talento da diplomacia brasileira no mercado imobiliário. Em apenas duas investidas na área o ministério de Amorim garantiu para o próximo governo uma herança difícil de esquecer. Em Nova Delhi, comprou por cinco milhões de dólares o terreno (atenção: só o terreno) onde, um dia, construiremos a embaixada. Em Genebra, pagou quarenta (atenção: quarenta) milhões de dólares pelo prédio que abrigará as representações brasileiras. A soma dos dois eventos surpreendeu até funcionários habituados à largueza de gestos da nossa diplomacia. Nem a secretaria-geral do Senado seria capaz de tamanho feito.
(Fonte: http://xicovargas.uol.com.br/index.php/1143)
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