sábado, 28 de julho de 2012

Na Economist, a Justiça e as ratazanas.

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Na Economist, a Justiça e as ratazanas. Ou: O mensalão e a questão da impunidade. Ou ainda: Atenção, senhores ministros!


Sempre que a revista inglesa The Economist deu alguma notícia positiva sobre o Brasil, os petistas saíram por aí batendo bumbo. Desta vez, eles ficaram caladinhos. A publicação traz um texto sobre o julgamento do mensalão. Segundo diz, o impacto político imediato é pequeno, mas o evento contribui para diminuir a cultura da impunidade. Huuummm… Depende. Se for todo mundo inocentado, pode-se ter o contrário, não é mesmo?

De cara, a Economist lembra que a má reputação (“sleazy”, também “sujo”) não tem sido empecilho para que políticos se elejam no Brasil. Cita os ocaso de Fernando Collor, o impichado, que voltou ao Senado, e de Paulo Maluf, que, “acusado de roubo (…), é agora congressista”. A revista atribui a impunidade ao fato de que o Parlamento precisa dar licença para que seus membros sejam processados e à prerrogativa de foro (são julgados pelo supremo). Pode não ser bem assim, mas é fato que a impunidade existe.

Dado esse contexto, a revista classifica de “raridade” o julgamento do mensalão. E sintetiza o caso: “o PT desviou dinheiro de verba oficial de publicidade e de fundos de pensão controlados por estatais para pagar parlamentares de partidos aliados, em troca do seu apoio”. A revista lembra que o escândalo veio à tona em 2005 e está no Supremo desde 2007. E assim encerra o parágrafo: “Only now are the judges ready to try it.” Ou: “Só agora os juízes estão prontos para julgá-lo”. É uma constatação de espanto pela demora, é claro!

O caso relatado em língua estrangeira parece nos envergonhar de modo especial porque fica faltando aquela melodia com que, “nestepaiz”, já se naturalizou o escândalo. Leiam este trecho:
“The defendants face a range of charges including corruption, conspiracy, embezzlement, money-laundering and misusing public funds. Some admit they helped finance political parties off the books, which is illegal but common in Brazil. Others deny any role in the illicit payments.” Ou: “Os acusados enfrentam acusações como corrupção, formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos. Alguns admitem ter ajudado a financiar partidos com caixa dois, o que é ilegal, mas muito comum no Brasil. Outros negam qualquer relação com os pagamentos ilegais”. Olhe aí, Delúbio: tente a expressão em inglês para “recursos não-contabilizados”: “off the books”…

É evidentemente desagradável a gente ter de se deparar com o olhar estrangeiro — e preciso! — sobre o nosso país: “o que é ilegal, mas muito comum no Brasil” (which is illegal but common in Brazil). Vale quase como um emblema.

A Economist observa que o julgamento do mensalão não terá grandes consequências políticas, especialmente para a presidente Dilma porque ela não é próxima dos acusados. Sua virtude seria contribuir para diminuir a cultura da impunidade, já que os políticos, diz, abusam de sua imunidade para cometer crimes. Faz sentido. Mas é claro que isso depende do resultado, não é?

O texto não deixa de ser otimista com o país, que estaria mais transparente hoje do que antes, Trata-se de uma afirmação controversa, acho eu, não ancorada em fatos. Será mesmo mais difícil ser corrupto hoje do que há 15 anos, como afirma um dos entrevistados pela Economist? O caso Delta parece demonstrar que não! Ou este não é o país que inventou uma lei especial só para tocar as obras da Copa e do PAC, que estão praticamente imunes à investigação?

Pois é… O mundo está de olho no Supremo. É óbvio que o julgamento, por si, não significa nem avanço nem recuo da impunidade. É o seu resultado que vai definir uma coisa e outra. Os 11 do Supremo estarão decidindo se existe ou não pecado entre o Oiapoque e o Chuí.

Vamos ver se será a Justiça a vencer as ratazanas ou o contrário.


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