Maus-tratos psicológicos são tão prejudiciais às crianças quanto agressões físicas
Em artigo, especialistas americanos afirmam que esse tipo de conduta é a forma mais comum de abuso na infância e, assim como punições físicas, pode causar diversos problemas comportamentais ao longo da vida
Maus-tratos psicológicos: excluir, aterrorizar e desprezar uma criança são condutas que afetam a saúde delas tanto quando agressões físicas (Thinkstock)
Maus-tratos psicológicos — como depreciar, denegrir, ridicularizar, aterrorizar, explorar e praticar bulliyng — são tão prejudiciais à saúde de uma criança quanto punições físicas, afirmaram especialistas em um artigo publicado nesta segunda-feira na revista Pediatrics. Segundo os autores, que fazem parte da Academia Americana de Psiquiatria da Criança e do Adolescente (AACAP, sigla em inglês), esse tipo de conduta é a forma mais prevalente de abuso e negligência infantil e pode acarretar, ao longo da vida, problemas de relacionamento, de desenvolvimento e de educação, que costumam ser mais intensos quando os maus-tratos ocorrem nos primeiros três anos de vida da criança.
Como explica Harriet MacMillan, professor da Universidade McMaster, no Canadá, e um dos autores do relatório, os abusos psicológicos aos quais o artigo se refere são os casos mais extremos, que fazem com que uma criança se sinta frequentemente “inútil, desprezada ou indesejada”. Um pai que levanta a voz após ter pedido ao filho várias vezes para que ele calçasse o sapato, por exemplo, não pode ser considerado como um abuso psicológico. “Mas gritar com a criança todos os dias, fazendo com que ela pense que é uma pessoa horrível, é exemplo de uma relação potencialmente prejudicial à saúde dessa criança”, diz o especialista. “Todos os pais já tomaram atitudes das quais se arrependeram depois, mas um padrão crônico de menosprezo e negligência em relação aos filhos constitui um abuso psicológico”.
De acordo com MacMillan, embora o abuso psicológico contra crianças tenha sido descrito na literatura médica pela primeira vez há mais de 25 anos, e apesar de ser tão prejudicial quanto os outros tipos de maus-tratos, essa conduta é pouco reconhecida e notificada. Na conclusão do artigo, os autores destacam a importância de os médicos estarem atentos aos maus-tratos psicológicos apresentados pelos pacientes pediátricos — e que uma colaboração entre pediatras, psiquiatras e profissionais que trabalham com a proteção da criança é essencial para ajudar uma criança em risco de abuso.
Brasil — Embora esse artigo tenha apontado para os maus-tratos psicológicos como o tipo de violência mais comumente sofrido pelas crianças, dados do Brasil tiveram outros resultados. Em maio deste ano, o Ministério da Saúde divulgou um levantamento indicando que, no país, entre crianças de até nove anos de idade, os tipos de violência mais comuns são negligência e abandono (36%), seguidos de abuso sexual (35%). Entre jovens de dez a 14 anos, os principais abusos são os físicos (13,3%) e os sexuais (10,5%); e entre adolescentes de 15 a 19 anos, os principais tipos de violência são as físicas (28,3%) e as psicológicas (7,6%).
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