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Ao questionar um grupo de alunas da Universidade Aberta à Maturidade, em São Paulo, se a paixão da juventude é "mais cega" do que aquela que acontece mais tarde na vida, uma aluna interpelou a outra: "Responde você que viveu isso!!" A recém-apaixonada afirmou categoricamente, com os olhos brilhando: "Igualzinha! Você fica cega, boba, só pensa na pessoa!". "Não é uma delícia se sentir apaixonada?", perguntei quase afirmando. Ela maneou a cabeça e disse: "Foi bom, mas já foi", fazendo com as mãos aquele "sai pra longe de mim", sem raiva, mas com certa melancolia.
Senti naquele momento um misto de alegria e desalento, mas acho que foi na ordem inversa. Radiografando hoje o meu desalento, encontro duas manchas escuras, não necessariamente cancerígenas, mas motivadoras da necessidade de exames mais profundos e tratamentos preventivos.
A primeira eu vou chamar de "mal do saber", porque é relativa aos enganos que temos em acreditar piamente em tudo que lemos por aí, ou no que nos dizem com veemência. E meu "mal do saber" me dizia que as pessoas na maturidade têm paixões mais racionais, ou não as têm, fazem escolhas afetivas. A outra mancha eu vou batizar de "mal da poupança", e é quase uma extensão da outra: seria como você ficar guardando ano a ano emoções, histórias, experiências, anos de terapia, esperando ter "lá na frente" um certo know-how para viver paixões mais calmas, lúcidas e um tanto mais racionais, paixões com fronteiras. Só que nessa tentativa de evitar dores de amor, a poupança emocional pode acabar nos poupando demais a ponto de não conseguirmos desfrutar de seus rendimentos.
Mas logo em seguida ao desalento que o testemunho da minha aluna me suscitou em primeira instância, fui tomada de pavor ao pensar em olhar para tudo e todos com cara de "já sei tudo" ou "não tenho mais saúde para viver essas coisas". Tive uma sensação de fastio, tédio e chatice que me fez contrapor rapidamente o desalento com alegria. A alegria de saber que lá na frente a gente pode, se quiser e estiver aberto para isso, se apaixonar novamente, pela mesma parceira amorosa ou por outra, se assim for.
Mas o que motiva a paixão é o outro. E a grande reclamação das pessoas na maturidade, principalmente das mulheres, é que há maior dificuldade de encontrar parceiros da mesma idade disponíveis para o amor maduro. Verdade. Homens tendem a falecer mais cedo ou a se casar mais rápido, quando viúvos ou divorciados. É uma estatística muito chata essa, mas toda estatística tem uma porcentagem, uma fatia relativa às exceções. E não são poucas. Conheço muitas mulheres que depois dos 60 anos conheceram homens maduros e com eles reencontraram o prazer da paixão, da relação amorosa, do lazer, do sexo, do compartilhamento.
Mas essas mulheres têm algo em comum: autoestima elevada, bom círculo de atividades de trabalho e lazer, viajam, dançam, saem e não ficam dizendo que a vida é injusta com elas. Encaram os afetos, tentam relações, não têm medo de viver. Apaixonam-se e, portanto, são apaixonantes para os homens que sabem reconhecer o brilho adolescente nos olhos de uma mulher madura. E vice-versa. E se você está lendo esta coluna, neste site, deve fazer parte da exceção! Parabéns!
(Ana Canosa é psicóloga e terapeuta sexual, com especialização em terceira idade)
sábado, 19 de setembro de 2009
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O AMOR/SENTIMENTO é lindo em qualquer idade. Quando vem com um misto de SABEDORIA e EXPERIÊNCIA é muito mais bem aproveitado/saboreado. Um abraço. Drauzio Milagres.
ResponderExcluirRealmente essa é a melhor delas, inclusive... Bem apoiado. Não posso falar muito.
ResponderExcluirAbraços forte
Puxa, que texto maravilhoso!
ResponderExcluirNão importa a idade que uma pessoa tem, se ela ainda respira é porque vive e se vive, pode amar, se apaixonar novamente sim. E a experiência será um diferencial ou não, o importante é aproveitar as coisas boas da vida.
Bjs