sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Para onde vai a minha vida e quem a leva?

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Por que faço eu sempre o que não queria?
Que destino contínuo se passa em mim na treva?
Que parte de mim, que eu desconheço, é que me guia?

O meu destino tem um sentido e tem um jeito,
A minha vida segue uma rota e uma escala
Mas o consciente de mim é o esboço imperfeito
Daquilo que faço e sou: não me iguala

Não me compreendo nem no que, compreeendendo, faço.
Não atinjo o fim ao que faço pensando num fim.
É diferente do que é o prazer ou a dor que abraço.
Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim.

Quem sou, senhor, na tua treva e no teu fumo?
Além da minha alma, que outra alma há na minha?
Por que me destes o sentimento de um rumo,
Se o rumo que busco não busco, se em mim nada caminha

Senão com um uso não meu dos meus passos, senão
Com um destino escondido de mim nos meus atos?
Para que sou consciente se a consciência é uma ilusão?
Que sou entre quê e os fatos?

Fechai-me os olhos, toldai-me a vista da alma!
Ó ilusões! Se eu nada sei de mim e da vida,
Ao menos eu goze esse nada, sem fé, mas com calma,
Ao menos durma viver, como uma praia esquecida..."

(Fernando Pessoa)
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5 comentários:

  1. Ao menos eu goze esse nada, sem fé, mas com calma. Estou por aqui mesmo. Sem fé já estou só queria a calma


    Abs

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  2. Este meio que de desesperança e dúvida fica muito bem balanceado neste poema. Gostei deste trecho:

    "O meu destino tem um sentido e tem um jeito,
    A minha vida segue uma rota e uma escala
    Mas o consciente de mim é o esboço imperfeito
    Daquilo que faço e sou: não me iguala"

    Abraço

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  3. Fernando Pessoa é o marco das grandes poesias, parabe´ns pela escolha
    Abraços forte

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  4. Em prosa a dúvida daquilo que esperamos, de quem somos, e o que podemos ser ou mudar. Belíssimo! Aliás, ele é grande mesmo!

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