Já que a gente vai se separar, olhe-me ainda
um instante ... Mas sem chorar: seria idiota.
Como é horrível agora a lembrança remota
do que nós fomos numa vida antiga e linda!
Nossas vidas se confundiram totalmente ...
E agora cada qual retoma o seu caminho!
E nós vamos partir, cada qual mais sozinho,
recomeçar, vagar por aí ... Certamente,
Sofreremos também ... Mas há de vir, depois,
o esquecimento, a única coisa que perdoa.
E há de haver eu e haver você; seremos dois;
seremos isto: uma pessoa e outra pessoa.
Veja! você já vai entrar no meu passado!
Havemos de nos ver na rua ...
E viveremos nossas vidas paralelas ...
E amigos contarão a você minha história ...
O nosso amor ... era esta coisa sem valor !
No entanto, que loucura a dos primeiros dias !
Lembra-se ? Que apoteose, que magia ! ...
Se nos amávamos! ... E era isto o nosso amor !
Mesmo nós, até nós então, quando dizemos
"eu te amo", o que é que vale o que estamos dizendo?
É humilhante, meu Deus! ... Somos todos os mesmos ?
Iguais aos outros, nós ? ... Como está chovendo !
Fique comigo!
Fique! Vamos viver - não sei ... - mais conformados ...
Os nossos corações, embora bem mudados,
se refaçam talvez à luz do sonho antigo ...
Vamos tentar. Ser bons, de novo. Que remédio !
Podem falar: a gente tem seus hábitos ... Então ?
Não vá! Fique! E retome a meu lado o seu tédio.
Eu retomo a seu lado a minha solidão ...
( Paul Géraldy - Tradução de Guilherme de Almeida )
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