sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Insatisfação Corporal: uma vertente para a anorexia e bulimia

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Beleza se põe à mesa sobretudo em nossos tempos. Na modernidade beleza e feiúra são fenômenos sociais da maior importância. Nas últimas décadas, há uma imposição sócio-cultural que atinge principalmente as mulheres. Trata-se de um padrão tirânico que rege a vida de muitas jovens influenciadas de forma marcante pelos valores estéticos regentes. As mulheres jovens mostram-se mais vulneráveis e buscam incansavelmente o corpo esbelto da atualidade. A auto-crítica em relação ao corpo tornou-se uma constante no discurso de muitas adolescentes e uma parcela destas revela uma preocupação exagerada com a imagem do corpo. Alcançar a beleza magra é uma meta para a maioria das mulheres e um imperativo para muitas meninas.

No culto ao corpo perfeito habita um desejo que é sempre frustrado. Primeiro pela própria impossibilidade biológica, depois pela idealização que por princípio é inalcançável, e também pela dificuldade em lidar com a paradoxal sedução aos prazeres da mesa. O resultado é que a grande maioria das mulheres em nossa sociedade está insatisfeita com o próprio corpo e muitas fazem um demasiado investimento em intervenções de efeito estético. Estas mulheres lançam um olhar cruel sobre o corpo, percebido como gordo, feio, rejeitável e inaceitável. Algumas mais vulneráveis, na trajetória de busca da imagem ideal e para elevar a auto-estima, acabam desenvolvendo um transtorno alimentar.

A insatisfação com o próprio corpo pode consistir o ponto inaugural para a evolução da Anorexia Nervosa e da Bulimia Nervosa. Também, é um sentimento expresso claramente por pessoas com compulsão alimentar periódica. O fator sociocultural que dita o padrão estético corporal, em interação com outros fatores - vulnerabilidade genética, psicopatologia familiar e experiências pessoais -, constituem uma força capaz de desenvolver transtorno alimentar.

Na Anorexia Nervosa, a pessoa tem comportamentos que visam a perda de peso e sua manutenção, movida por um medo exagerado de engordar. A pessoa pode se recusar a comer e atingir um peso muito baixo, podendo chegar a um quadro de inanição. Além da distorção da imagem corporal, há neste diagnóstico um distúrbio endócrino caracterizado pela ausência do ciclo menstrual. A auto-avaliação dessas pessoas é excessivamente centrada no corpo, em sua forma e peso.

Já na Bulimia Nervosa a pessoa apresenta um impulso irresistível de comer excessivamente, seguido de comportamentos que têm a função de evitar o efeito de engordar: vômitos auto-induzidos e/ou abuso de laxantes e diuréticos, exercícios exagerados, jejuns prolongados. O medo de engordar acaba por aprisionar a pessoa num recorrente ciclo bulímico, cujo percurso envolve a comilança, culpa e purgação.

Estes transtornos alimentares, assim como o compulsão alimentar periódico, têm atingido um número cada vez maior de pessoas nas últimas décadas, exigindo um tratamento especializado já que a saúde física e psíquica são afetadas. Dada a complexidade das manifestações clínicas destes distúrbios, o recomendado é o atendimento multidisciplinar, com cuidados médicos, psiquiátricos, psicológicos e nutricionais. A dimensão psicológica do tratamento é fundamental na medida em que centra suas intervenções nos conflitos e afetos ao redor de eixo sujeito-corpo-comida. A psicoterapia psicodinâmica ajuda a desvelar o que levou na história do sujeito à direção da idealização da imagem corporal; contribui para compreender a comunicação simbólica do sintoma,favorecendo entendimento sobre o significado do alimento na vida da pessoa.

Na clínica das patologias alimentares a função do analista implica em acolher o sujeito com a sua dor psíquica , e ajudá-lo a encontrar um lugar mais confortável dentro de si e na relação com o o mundo . Tal sofrimento psíquico, segundo Freire,está associado a impossibilidade de esconder a sua ferida narcísica. Estes pacientes sentem-se muito expostos em suas imperfeições que se expressam na forma corporal e mobilizam vergonha e humilhação. Aqui reside um profundo medo de não ser a causa do interesse dos outros. Neste sentido ,torna-se meta terapêutica o trabalho com o desenvolvimento da identidade, fortalecendo o frágil ego para torná-lo capaz de reconhecer e aceitar as rejeições, faltas e frustrações inerentes a vida.

(Marilene Damaso de Oliveira)

2 comentários:

  1. Olá Berenice!
    Muito importante sua postagem, nós que temos essa ferramenta de comunicação, devemos mesmo sempre levantar esse tipo de assunto, como alerta!
    As jovens estao se matando aos poucos por nao se enquadrar num padrao de beleza criado pela indústria da moda, que valores mais deturpados essa sociedade criou!
    Beijos
    Sol

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  2. Sol, vc tem razão e como vivenciei o problema, fico sempre muito angustiada. Aparentemente a sociedade está começando a acordar e tomando algumas providências. É muito difícil para os pais (principalmente as mães) resolverem este problema sozinhos. Bjss

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