Antes de dizer adeus a Ofélia, Hamlet envia a ela um poema: "Duvida de que os astros sejam chamas / Duvida de que o sol gira / Duvida da própria verdade / Mas não duvida de que eu te amo". Algumas poucas linhas para dizer o essencial sobre o amor. Ou seja, que ele não suporta a dúvida, a desconfiança. Como é patente, aliás, na história de Eros e Psiquê, que vale rememorar.
Sendo o mais terno dos amantes, Eros não deseja ser visto e só vai ao encontro de Psiquê à noite. Desconfiada de que Eros seja um monstro, Psiquê se vale do sono dele para iluminar o seu rosto. Surpreendida pela beleza que se revela, deixa cair da lamparina uma gota de óleo quente no ombro do amante, que acorda assustado e vai embora enfurecido.
Também sobre a vida e a morte Shakespeare diz o essencial em poucas linhas. Assim é no diálogo de Hamlet com a rainha, sua mãe. Para fazê-lo aceitar a morte do pai assassinado, a rainha diz:
"... tudo o que vive deve morrer, ser levado pela natureza para a eternidade".
Palavras sábias. Tanto quanto serão as do novo marido da rainha, o assassino, o rei usurpador, que, temendo a vingança de Hamlet, procura apaziguá-lo com as seguintes palavras:
"Viver a tristeza do luto, durante algum tempo, é uma obrigação filial, mas perseverar numa aflição obstinada é indício de teimosia... de um coração sem humildade, de uma alma sem resignação, de um julgamento fraco e malformado".
A leitura dos clássicos se faz necessária pela sabedoria que eles contêm. Em especial, a sabedoria que se refere aos sentimentos humanos. Ela nos faz refletir e viver melhor. Hamletensina a não fazer pouco do amor e a não desperdiçar a vida, chorando infindavelmente a morte e a perda.
(Betty Milan - Fonte: Veja - edição 2247)
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é muito bem vindo.