Está tudo de pernas pro ar. Eu ouvia dos nossos sócios americanos e europeus que o Brasil não ia para frente por causa desse monte de feriados --entre outras coisas. Era um tal de abolição disso, proclamação daquilo e até um tal de dentista - sem falar no feriado da Marta, o da Consciência Negra.
Poucos brasileiros sabem explicar todos os feriados, e há muitos que não sabem definir um sequer. 25 de Março é rua, como também 13 de Maio ou 9 de Julho.
Mas têm os gringos razão quando criticam o excesso de feriados? Tem a produtividade real uma relação de causa e efeito com a quantidade de trabalho? Excetuando linhas de montagem e produções que só possam ser medidas no tempo, o que vejo é a procura de um equilíbrio entre trabalho e qualidade de vida, que não se mede em horas.
Hoje a Europa e os EUA vivem sintomas substanciais de deterioração, e têm reduzido as suas horas semanais de trabalho. Mas a Alemanha, Escandinávia e Holanda, por exemplo, trabalham menos horas semanais do que Grécia e Itália, e está nítida a diferença de solidez --inversamente proporcional. A Califórnia, a Rio de Janeiro de lá, não autoriza --como aqui-- caçoar dos que procuram equilíbrio, e trabalham menos e com mais cabeça.
Quando, nos anos 80, diminuímos na empresa as horas semanais de 48 para 42, todos os estudos --nossos e da Fiesp-- garantiam que teria que ser feito um ajuste quase proporcional no faturamento. Claro que isto não ocorreu, nem na linha de produção.
Naquela época estudei um pouco a história da semana laboral, na biblioteca da Fiesp, e descobri um documento onde Jorge Street defendia a ideia, no final dos anos 20, de que operários deveriam ter direito a férias. Os empresários associados (nos centros de indústrias da época, antes da) rebatiam, citando estudos segundo os quais os operários somente trabalhavam com o corpo, e que a cabeça estava sempre descansada. Assim, não havia razão para férias no caso deles.
Similar humor, com igual seriedade dos patrões, caberia na discussão de feriados e tempo livre --hoje em dia. Daqui a algumas décadas, rirão da pressão dos empresários para a chegada no horário no "serviço", horas trabalhadas e mesmo o conceito de compra do tempo dos funcionários --ao invés de talento e resultado.
Há incontáveis formas de contratar com as pessoas de uma empresa pelo resultado esperado delas. Há que liberar os funcionários da agonia do relógio de ponto que pende como uma espada de Dâmocles sobre a cabeça de quem tem um emprego.
Se as emendas de feriado perturbam os patrões, o que dizer do hábito antiquado de construir sedes e forçar as pessoas a passarem uma média de 3 horas por dia tentando chegar lá, e de volta para casa? Equivalem a 80 dias inteiros a cada ano, contra oito de emendas de feriado.
Não cabe mais ficar medindo o trabalho assim, é hora de aceitar que feriadões são patrimônio cultural inteligente dos brasileiros. Faltam apenas os patrões se darem conta de sua parte. Enquanto isso, que aproveitem a emenda... E na quarta-feira, olho na hora!
(Ricardo Senler - Empresário - Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ricardosemler/1006149-e-viva-a-emenda-de-feriado.shtml)
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