Dejetos dos banheiros vão para fossas sépticas e caminhões que fazem a limpeza espalham o mau cheiro pelas ruas do entorno
Os R$ 60 milhões que a Prefeitura de São Paulo investiu nos últimos cinco anos para modernizar o Autódromo de Interlagos não resolveram um problema histórico: o espaço que vai receber cerca de 150 mil pessoas até o próximo domingo não tem rede de esgoto.
Os dejetos dos banheiros do autódromo vão para fossas sépticas, um sistema de coleta de esgoto rudimentar, usado hoje apenas em pequenas propriedades da zona rural. Ontem, duas das quatro fossas instaladas atrás dos boxes estavam transbordando, como flagrou a reportagem do Estado. O problema causava um odor insuportável de esgoto ao ar livre para funcionários das equipes que circulavam pela área do paddock e dos boxes. A direção do autódromo informou que o excesso de esgoto seria retirado apenas hoje pela manhã, com a chegada de caminhões.
Mas o transporte de toneladas de dejetos por dois quilômetros, até uma estação de esgoto da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), é motivo de outro problema. As dezenas de caminhões que precisam entrar todos os dias no circuito para fazer a dragagem do volume acumulado nas fossas também ajudam a congestionar e espalhar mau cheiro nas ruas do entorno.
A instalação de uma estação de tratamento de esgoto em Interlagos já deveria estar pronta. A obra está prevista no Plano Diretor de 2002, que expira no próximo ano. A obrigação visava justamente a evitar o tráfego de caminhões carregados com esgoto nas imediações do bairro e os consequentes riscos para a saúde pública que isso pode causar. Outro risco do uso das fossas é a contaminação do lençol freático que passa por baixo do autódromo, localizado entre duas das mais importantes áreas de mananciais da capital, as Represas Billings e do Guarapiranga.
O prefeito Gilberto Kassab (PSD) chegou a prometer uma solução para o problema em dezembro, mas a obra de saneamento não foi incluída no pacote de R$ 11 milhões que o governo municipal investiu para garantir a Fórmula 1 em São Paulo até 2014, como a construção de nova arquibancada. “Nenhum empreendimento do porte de Interlagos conseguiria licença no Brasil ou em qualquer lugar do mundo se não tivesse uma estação de tratamento de esgoto. Isso mostra a distância entre a intenção de se querer fazer um evento internacional de ponta e a realidade do saneamento básico no Brasil”, aponta Mario Mantovani, coordenador da ONG SOS Mata Atlântica.
Vazamentos.
Quem mora nas casas vizinhas do autódromo reclama do cheiro insuportável causado pela circulação de caminhões com tanques carregados de esgoto, muitos com vazamentos. “O pior é sempre quando tem Fórmula 1. Não para de passar caminhão cheio de esgoto aqui na frente”, relata o eletricista Mauro Antonio de Souza, de 41 anos, morador há duas décadas na Rua Manuel de Teffé.
Além de receber todos os anos a Fórmula 1, o Autódromo de Interlagos funciona como área de lazer todos os dias - a área de 1 milhão de metros quadrados também tem uma quadra de futebol e duas poliesportivas.
“O mau cheiro aqui é um problema de mais de 30 anos, dentro e fora do autódromo”, lamenta Paulo José Rodrigues, de 56 anos, gerente do Hotel Pit Stop, que funciona ao lado do autódromo.
(Diego Zanchetta e Livio Oricchi - Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,prefeitura-investe-r-60-mi-para-a-f1-mas-interlagos-segue-sem-esgoto,801732,0.htm)
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