quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Para vocês, mães e filhas...filhos....

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“Mãe é aquele ser estranho, louco, capaz de heroísmos, dramas e breguices com a mesma fúria.

Mãe faz escândalo, tira satisfação com professor, berra em público, dá vexame, deixa a gente sem graça, compra briga; é espaçosa, barulhenta, tendenciosa, leoa, tiete, dona da gente. Mãe desperta extremos, ganas, irrita, enlouquece, mas... é mãe.  
                                                                          
Mãe faz promessa, prestação, hora extra pra que a gente tenha o que é preciso e o que sonha. 

Paga mico: escreve carta para Papai Noel, se faz passar por fadinha do dente, coelho da páscoa, cuca. Pede autógrafo para artistas deploráveis, assiste a programas, peças, shows horríveis, revê milhares d e vezes os mesmos desenhos animados, conta as mesmas histórias centenas de vezes, vai pra Disney e A D O R A! 

Mãe surta, passa dos limites, às vezes até bate, diz coisas duras; mãe pede desculpas, mortificada... 

Mãe é um bicho doido, louco pela cria. Mãe é visceral!

Mãe chora em apresentação de balé, em competição de natação, quando o filho namora pela 1a. vez, quando dá o primeiro beijo, quando vê o filho apaixonado no casamento, no parto...

Xinga todo e cada desgraçado que faz o filho sofrer, enlouquece esperando ele chegar da balada, arranca os cabelos diante da morte...

Mãe é uma espécie esquisita que se alterna entre fada e bruxa com uma naturalidade espantosa. É competente no item culpa e insuperável no item ternura, mas pode ser virulenta, tem um lado B às vezes C, D, E...

Mãe é melosa, excessiva, obsessiva, repulsiva, comovente, histérica, mas não se é feliz sem uma.

Mãe é contrato: irrevogá vel, vitalício, intransferível!                                 
Mãe lê pensamento, tem premonição, sonhos estranhos. Conhece cara de choro, de gripe, de medo; entra sem bater, liga de madrugada, pede favor chato, palpita e implica com amigos, namorados, escolhas. 

Mãe dá a roupa do corpo, tempo, dinheiro, conselho, cuidado, proteção. 

Mãe dá um jeito, dá nó, dá bronca, dá força.

Mãe cura cólica, porre, tristeza, pânico noturno, medos. Espanta monstros, pesadelos, bactérias, mosquitos, perigos.

Mãe tem intuição e é messiânica: mãe salva. Mãe guarda tesouros, conta histórias e tece lembranças. Mãe é arquivo! 

Mãe exagera, exaure, extrapola. Rumina o passado, remói dores, dá o troco, adora uma cobrança e um perdão lacrimoso. 

Mãe abriga, afaga, alisa, lambe, conhece as batidas do nosso coração, o toque dos nossos dedos, as cores do nosso olhar e ouve música quando a gente ri. 

Mãe tem coração de mãe! 

Mãe é pedra no caminho, é rumo; é pedra no sapato, é rocha; é drama mexicano, tragédia grega e comédia italiana; é o maior dos clássicos; é colo, cadeira de balanço e divã de terapeuta...

Mãe é madona-mia! É deus-me-acuda; é graças-a-deus; é mãezinha-do-céu e é a mãe é minha e-eu-mato – quando-quiser; é a que padece no paraíso enquanto nos inferniza...

Mãe é absurda e inexoravelmente para sempre e é uma só: não há Mistério maior! Só cabe uma mãe na vida de uma filha (o)... e olhe lá! Às vezes, nem cabe inteira. Mãe é imensurável! 

Mãe é saudade instalada desde o instante em que descobrimos a morte.

Mãe é eterna, não morre jamais. Bicho estranho, entranha, milagre, façanha, matriz, alma, carne viva, laço de sangue, flor da pele. Mãe é mãe, e faz cada coisa..." 


(Hilda Lucas)
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