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A amiga W., tão amadora em novas tecnologias quanto este cronista pterossáurico da Chapada do Araripe, me diz, entre o riso e o espanto:
-Esses programas de geolocalização vão acabar com o mistério mais velho e bíblico da humanidade: a suspeita de estar ou não sendo traído.
A mulher com W. maiúsculo, personagem de uma letra da banda Mundo Livre S/A, discorria sobre a possibilidade de sermos facilmente rastreados a um simples clique. A velha história contada pelo camarada George Orwell, no seu livro “1984”, que agora se torna banalidade.
Alheio ao novidadismo mais radical, não esquento com essa história das máquinas saberem onde estamos, mas a observação da amiga faz sentido. Você pode simplesmente entrar em um motel na Marginal Pinheiros, em São Paulo, e ser traído pelo emaranhado do sistema, do GPS, da rede fenomenal do Big Brother.
Não estou aqui na defesa da pulada de cerca 100% segura, essa é uma utopia fora do nosso alcance. Simplesmente lamentamos, depois de várias caipirinhas na agradável e sexy companhia de W., o fim do suspense hitchcockiano do chifre.
Como se não bastassem os orkuts, facebooks e twitters da vida, onde transmitimos nossos atos e mesquinharias para toda a humanidade, o avanço dos programas de geolocalização radicalizam essa transparência.O pretexto dos criadores de tais ferramentas é a cadeia de consumo, mas ignoram a tragédia grega ou a comédia humana que podem estar por trás de cada rastreamento.
Um homem ou uma mulher ciumentos são capazes de fazer as maiores besteiras diante de qualquer desconfiança. Imagine com o mapa do crime do(a) suposto(a) adúltero(a) riscado na telinha de uma aparelho móvel!
A prosa com W. não é naquela linha nostálgica e velhaca de quem se nega a viver no novo mundo. É de gracejo com os destinos da raça humana e as gambiarras modernas.
No que a linda afilhada de Balzac, depois de mais uma caipirinha de frutas vermelhas, tira mais uma onda:
-O que os olhos não vêem o coração não sente? Esqueça essa velha crença,amigo, pois agora tudo está à mostra.
Exagerada essa moça, capaz de nos deixar coçando a testa e refletindo horas sobre o que denominamos, mais literal do que nunca, de tecnologia de ponta.
(Xico Sá - Fonte: http://carapuceiro.zip.net/arch2010-09-26_2010-10-02.html)
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quinta-feira, 10 de novembro de 2011
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