Já bastam as barbaridades, em número assustador, que circulam pelas redes sociais a respeito.
De um lado, as pessoas que misturam sua ojeriza política ao ex-presidente com ódio pessoal ao homem Lula, ao cidadão, marido, pai, sogro, avô, irmão, tio, amigo, proferindo todo tipo de horrores – zombarias, piadas de péssimo gosto, votos os piores possíveis para o desenvolvimento de sua doença, celebrações pela infelicidade que o acomete, desrespeito absoluto por um ser humano que enfrenta um mau pedaço.
De outro, os fanáticos por Lula, aqueles que mitificam sua doença, acusando de hipócritas adversários políticos – como o ex-presidente Fernando Henrique, entre muitíssimos – que sinceramente desejam a plena recuperação do ex-presidente, vociferando impropérios contra jornalistas críticos ao lulo-petismo como se estes, despidos de sua condição humana, estivessem comemorando a fatalidade que atravessou o caminho do dirigente sindical que chegou ao Palácio do Planalto, rangendo os dentes e insultando, como se a cura, esperada e desejada, de Lula fosse uma “vingança” contra “todos esses que aí estão”.
Lula não deveria ter saído do terreno pessoal
Mesmo a contragosto, porém, volto ao tema, diante do vídeo divulgado por Lula em que agradece o carinho e a solidariedade que tem recebido, em que, como ocorre com tantas pessoas acometidas de doença grave, lembra o quanto se pensa que tais coisas só podem ocorrer com outros etc etc.
Até aí, tudo bem. Mesmo quando Lula se refere a “mais uma batalha” que enfrenta, assegurando que vai “tirar de letra”, também tudo bem.
Ele pode estar se referindo às batalhas do garoto pobre, abandonado pelo pai e que veio do Nordeste a São Paulo com a mãe e uma penca de irmãos, à história edificante que todos conhecem.
Daí para a frente, Lula passou a pisar terreno minado. Saiu do terreno pessoal, e não deveria tê-lo feito.
Imenso ego de volta
O que tem que ver uma mensagem de agradecimento ao carinho e à solidariedade de milhões de brasileiros com sua conclamação a “continuar acreditar no Brasil”, a “acreditar na nossa presidenta, ajudá-la”.
O que tem sua gratidão com nova vinda à tona de seu imenso ego ao dizer, messiânico, que “foi para isso que vim para a Terra, para lutar, para melhorar a vida de todo mundo”?
E o “estou doido para (voltar a) falar aos companheiros”?
E o final, com o “até a primeira assembleia, até o primeiro comício, até o primeiro ato público”?
O Reinaldo Azevedo já tratou desse ponto, à sua maneira.
Vou por outro caminho: por favor, Lula, pare por aí.
Pare por aí.
Para não repetir a obscenidade de Chávez
Não lance mão de sua doença para fins políticos, mesmo que outros — aliados, companheiros, puxa-sacos, o que seja — o façam.
É feio, é imoral, é desonesto, utilizar os sentimentos nobres das pessoas para lucro político ou eleitoral.
Mantenha-se longe do que vem fazendo na Venezuela seu “companheiro” Hugo Chávez com o câncer que a ele acomete – uma exploração quotidiana, piegas, descarada, obscena da doença como forma de fortalecê-lo politicamente para as eleições do ano que vem, como comentei em post anterior.
Em nome do decoro, em nome do que você considerar mais importante, Lula, não avance o sinal.
(Ricardo Setti - Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/o-cancer-de-lula-que-o-ex-presidente-nao-faca-como-chavez-uma-exploracao-obscena-da-doenca/)
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