terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A arte de envelhecer - Drauzio Varella

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Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje, era a fotografia de um jovem.

Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me considerava bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da razão, é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.

O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis meses é muito mais velho do que o embrião de cinco dias.

Lidar com a inexorabilidade desse processo exige uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal capaz de criar soluções diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos que vão do calor tropical às geleiras do Ártico.

Da mesma forma que ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos que aprender a ser adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos.

A adolescência é um fenômeno moderno. Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios intermediários. Nas comunidades agrárias o menino de sete anos trabalhava na roça e as meninas cuidavam dos afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.

A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito de reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades industrializadas depois da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos para criar.

A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das sociedades ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a estética, os costumes e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o efeito perverso de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.

A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia nossos antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou judeus viviam em média 30 anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida não passava dos 40 anos.

A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre amarela, gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade, que pouquíssimos conhecerão.

Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é sinônimo de decadência física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.

Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época.

Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem "cabeça de jovem". É considerá-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez.

Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, do contraditório e abre espaço para uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente.




http://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/2016/01/1732457-a-arte-de-envelhecer.shtml?cmpid=newseditor
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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Casa Arrumada - Drummond

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Casa arrumada é assim: Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.

Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não centro cirúrgico, um cenário de novela. Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas... Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida...

Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar. Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha. Sofá sem mancha? Tapete sem fio puxado? Mesa sem marca de copo? Tá na cara que é casa sem festa. E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.

Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde. Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto...

Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda. A que está sempre pronta pros amigos, filhos... Netos, pros vizinhos... E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.

Arrume a casa todos os dias... Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo para viver nela... E reconhecer nela o seu lugar.



Texto "CASA ARRUMADA" [Carlos Drummond de Andrade]
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domingo, 24 de janeiro de 2016

Mensagem Final

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“Para predizer o que irá acontecer é preciso saber o que ocorreu ontem” (Nicolau Maquiavel)



Após a ditadura do proletariado, imposta pelas exigências da revolução socialista, viria o Estado feliz e paradisíaco da liberdade, sem explorados e sem exploradores. Era esse o resumo da cartilha.

Embora a corrida para essa utopia tenha sido uma viagem efêmera, muitas pessoas ainda não se desvencilharam dela e não desistiram de tentar de novo, seja fazendo um balanço das perdas com a experiência vivida, seja retomando-a a partir do momento em que ela teria se desviado do destino correto. Isso levaria inevitavelmente a um retorno a Marx, ao século XIX, pois sempre existirão pessoas com tendência a considerar o comunismo como um tribunal inevitável para as mazelas do capitalismo que, de antemão, já foi condenado.

Para os comunistas, o momento é ainda de depressão. Depois da euforia provocada pelo marxismo-leninismo, pelo “pensamento de Mao-Tsetung”, pelo “guevarismo”, pelo “fidelismo”, pelo “gramscismo”, pelo “eurocomunismo”, e pelo “trotskismo”, a hora é de uma grande ressaca. Afinal, eles não abandonaram o comunismo. O comunismo é que os abandonou.

Todavia, isso provavelmente não irá durar muito, pois não há como deixar de admitir que sempre existirão partidos de esquerda, pois a sociedade - qualquer que ela seja - “produz desigualdades assim como combustíveis fósseis produzem poluição” (frase do historiador marxista Eric Hobsbawn).

Mas, como chegar às transformações que O Partido requer? Com que mesclas de idealismo e realismo ele deveria passar a atuar? São perguntas ainda sem uma resposta.

O comunismo morreu? Em termos, pois seu cadáver permanece insepulto, uma vez que como idéia-força ele deixou profundas e extensas raízes em todo o mundo. Fracassou, isto sim, um tipo de comunismo, aquele que realmente existiu, como nossa geração é testemunha privilegiada. Foi o fim de uma época histórica, que não voltará.

Considerando a definição de utopia (“a cobiça do impossível”), alguns, ainda marxistas, desejam umautopia viável para o marxismo moribundo. Ou seja, umimpossível viável. Outros, como o escritor e sociólogo marxista Jacob Gorender, que foi membro dirigente de dois partidos revolucionários (o Partido Comunista do Brasil e o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário) defendem um marxismo sem utopia. Nesse sentido, julga que seria importante atualizar o marxismo, retirando-lhe os elementos utópicos e integrando à dialética marxista formulações que dêem conta de aspectos do processo histórico capitalista que Marx não soube ou, em sua época, não podia prever.

Desde logo, poderia imaginar-se um partido que fosse realmente uma associação voluntária e democrática de vontades em busca de objetivos precisos; um partido que permitisse a livre expressão e circulação das idéias, com dirigentes eleitos e removidos democraticamente, onde não existissem os privilegiados; um partido que estimulasse a participação e submetesse democraticamente aos filiados as grandes questões, sem propostas de “Resoluções Políticas” definidas em restritos “Comitês”; e que os candidatos a cargos de direção fossem eleitos realmente pelas bases, e não por listas previamente organizadas pelo aparelho dirigente ou por cooptação, como ocorre com freqüência.

A lucidez para encarar a falência da doutrina científica, neste início de século, é uma necessidade intelectual e política, embora seja necessário reconhecer que um partido concebido para derrubar um sistema político-social e implantar outro, seu antípoda, tenha exigências distintas daquelas dos partidos tradicionais, e que o abandono dessas exigências implicaria em renunciar aos dogmas fundamentais da doutrina.



Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

Carlos I. S. Azambuja é Historiador - Fonte: http://www.alertatotal.net/2016/01/mensagem-final.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+AlertaTotal+%28Alerta+Total%29
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A crise tem nome: Lula - Por Marco Antonio Villa

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Lula voltou a ser o principal protagonista da cena política brasileira. No último mês, não teve um dia sequer em que não ocupasse as manchetes da imprensa. Viajou pelo Brasil — sempre de jatinho particular, pago não se sabe por quem — e falou, falou e falou. Impôs uma reforma ministerial à presidente, que obedeceu passivamente, como de hábito, ao seu criador.

Colocou no centro do poder um homem seu, Jaques Wagner, para controlar a presidente, reestruturar o pacto lulista — essencialmente antirrepublicano — com o Congresso e o grande capital e, principalmente, para ser um escudo contra as graves acusações que pesam sobre ele, sua família e amigos.

Como de hábito, não teve nenhum compromisso com a verdade. Vociferou contra as investigações. Atacou a Polícia Federal, como se uma instituição de Estado não pudesse investigá-lo. Ou seja, ele estaria acima das leis, um cidadão — sempre — acima de qualquer suspeita, intocável. Apontou sua ira contra o ministro da Justiça e tentou retirá-lo do cargo — e vai conseguir, cedo ou tarde, pois sabe quão importante foi Márcio Thomaz Bastos em 2005, quando transformou o ministro em seu advogado de defesa.

O ex-presidente, em exercício informal e eventual da Presidência, declarou que o Brasil vive quase um Estado de exceção, simplesmente porque a imprensa divulgou documentos sobre seus ganhos milionários nas palestras e apresentou como dois filhos vivem em apartamentos em áreas nobres de São Paulo sem pagar aluguel — uma espécie de Minha Casa Minha Vida platinum, reservado exclusivamente à família Lula da Silva — e teriam recebido quantias vultuosas sem a devida comprovação do serviço prestado. Não deve ser esquecido que o Coaf justificou a investigação da sua movimentação financeira como "incompatível com o patrimônio, a atividade econômica e a capacidade financeira do cliente."

Lula passou ao ataque. Falou em maré conservadora, que não admite ser chamado de corrupto e que — sinal dos tempos — não teme ser preso. A presidente da República, demonstrando subserviência, se deslocou em um dia útil de trabalho, de Brasília para São Paulo, simplesmente para participar da festa de aniversário do seu criador. Coisa típica de República bananeira. Ninguém perguntou sobre os gastos de viagem de uma atividade privada paga com dinheiro público. O país recebeu a notícia naturalmente. E alguns ingênuos ainda imaginam que a criatura possa romper com o criador, repetindo a ladainha de 2011.

Mesmo após as aterradoras revelações do petrolão, Lula finge que não tem qualquer relação com o escândalo e posa de perseguido, de injustiçado. Como se não fosse ele o presidente da República no momento da construção e operação do maior desvio de recursos públicos da história do mundo. Nas andanças pelo país, para evitar perguntas constrangedoras, escolhe auditórios amestrados. Mente, mente, sem nenhum pudor. Chegou a confessar cometeu estelionato eleitoral, em 2014, como se fosse algo banal.

O protagonismo de Lula impede uma solução para a crise. Ele aposta no impasse como único meio de sobrevivência, da sua sobrevivência política. Pouco importa que o Brasil viva o pior momento econômico dos últimos 25 anos e que a recessão vá se estender, no mínimo, até o ano que vem. Pouco importam os milhões de desempregados, a disparada da inflação, o desgoverno das contas públicas.
Em 1980, o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo não pensou duas vezes em prorrogar a greve, mesmo levando-a à derrota — e aos milhares de operários que tiveram os dias parados descontados nos salários —, simplesmente para reabilitar sua imagem frente à base sindical, isto porque, no ano anterior fechou acordo com a Fiesp sem que o mesmo fosse aprovado pela assembleia, daí que passou a ser chamado pelos operários de pelego e traidor.

Em setembro, Dilma chegou a balançar quando o PMDB insinuou que poderia apoiar o impeachment. Lula entrou em campo e, se não virou o jogo, conseguiu ao menos equilibrar a partida — isto na esfera da política, não da gestão econômica. Tanto que a possibilidade de a Câmara dos Deputados aprovar, neste ano, a abertura de um processo de impeachment é nula. Por outro lado, o Congresso Nacional não aprovou as medidas que o governo considera como essenciais para o ajuste fiscal. É um jogo cruel e que vai continuar até o agravamento da crise econômica a um ponto que as ruas voltarem a ser ocupadas pelos manifestantes.

As vitórias de Lula são pontuais, superficiais e com prazo de validade. As pesquisas mostram que ele, hoje, é uma liderança decadente e com alto grau de rejeição, assim como o PT. Mantém uma influência no centro de poder que é absolutamente desproporcional ao seu real peso político. Tem medo das consequências advindas das operações Lava-Jato e Zelotes. Mas no seu delírio quer arrastar o país à pior crise da história republicana. E está conseguindo. Tudo porque sabe que o impeachment de Dilma é o dobre de finados dele e do PT.

As ações de Lula desmoralizam o Estado Democrático de Direito. Ele despreza a democracia. Sempre desprezou. Entende o Estado como instrumento da sua vontade pessoal. Mas, para sorte do Brasil, caminha para o ocaso. Só não foi completamente derrotado porque ainda mantém apoio de boa parte da elite empresarial, que, por sua vez, exerce forte influência no Congresso e nas cortes superiores de Brasília.

O grande capital não sabe o que virá depois do PT. Na dúvida, prefere manter apoio ao "seu" partido e ao "seu" homem de confiança, Lula.



Marco Antonio Villa - Fonte: http://www.alertatotal.net/2016/01/a-crise-tem-nome-lula.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+AlertaTotal+%28Alerta+Total%29
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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Se não foste tu, foi o teu pai

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Escritor Português critica analfabetismo histórico de Lula e sua tendencia a culpar outros por problemas no Brasil



Alexandre Parafita, consagrado escritor português, em texto publicado no portal JORNAL DE NOTÍCIAS, também português, fez severas críticas às “falácias” de Lula durante sua visita à Madri, quando ele atribuiu alguns problemas brasileiros aos primórdios da conquista portuguesa.

Parafita não poupou críticas à Lula e seu “analfabetismo histórico”, afirmando que o líder petista tem uma “estranha obsessão” em culpar os portugueses pelo atual estado da educação no Brasil.

Confira o texto na íntegra abaixo:

Se não foste tu, foi o teu pai

Lula da Silva, um autodidata que se orgulhava de nunca ter lido um livro, mas que conseguiu chegar ao mais alto título doutoral português como Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra, resolveu por estes dias, quiçá alentado pela sua tão nobre conquista académica, dar-se ares de historiador, e, numa conferência em Madrid, culpou a colonização portuguesa pelos atuais atrasos da educação no seu país ao não ter criado universidades, enquanto elogiava a colonização espanhola pelo que fez de diferente nos países da América Latina que ocupou.

O “historiador” Lula caiu em quatro erros:

1.º – Nesse tempo muitas das instituições de Ensino Superior nasciam como escolas politécnicas, escolas de medicina e faculdades, tornando-se precursoras de grandes universidades. Assim aconteceu também no Brasil colonial. Para não falar do padre José de Anchieta, que, a partir de um colégio de jesuítas, em 1554, fundou a cidade de São Paulo, a grande capital cultural do país.

2.º – O Brasil tornou-se independente em 1822 e se, como disse, “a primeira universidade surgiu apenas em 1922″ (sic), o que andaram as elites intelectuais e governativas brasileiras a fazer nesses 100 anos? Por que estiveram um século sem criar uma única universidade? A haver culpados para os atrasos na educação não estarão eles aí?

3.º – E porquê o “historiador” Lula não lembrou o filósofo português Agostinho da Silva que, na segunda metade do século XX, nos 20 anos de exílio que cumpriu no Brasil, ele próprio fundou três universidades (Paraíba, Santa Catarina, Brasília)?

4.º – Mas, ainda mais estranho, foi o ter ido fazer estas comparações (colonização portuguesa vs. colonização espanhola) logo à capital de Espanha. Saberá, por ventura, o insigne “doutor de Coimbra” o que fizeram os colonizadores espanhóis nos territórios que ocuparam na América Latina, ao arrasarem as civilizações milenares dos povos indígenas aztecas e incas?

Esta estranha obsessão em culpar os portugueses pelo atual estado da educação no Brasil, traz-me à lembrança a velhinha fábula de La Fontaine (mas também de Fedro e de Esopo) do “Lobo e o cordeiro”, com o lobo a procurar os argumentos mais grosseiros e absurdos para culpar quem lhe turvava a água do ribeiro.




http://www.revoltabrasil.com.br/politica/8765-escritor-portugues-critica-analfabetismo-historico-de-lula-e-sua-tendencia-a-culpar-outros-por-problemas-no-brasil.html
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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A veia revolucionária do MST

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Em janeiro de 1984, em um Encontro Nacional realizado em Cascavel, Paraná, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra foi formalmente constituído com base em uma série de princípios. Alguns merecem ser recordados:

- lutar por uma sociedade sem explorados e exploradores;
- acabar com o capitalismo, implantando em seu lugar uma sociedade justa e solidária;
- ser um movimento de massa, autônomo das centrais sindicais e dos partidos;
- articular-se com os trabalhadores das cidades e com os camponeses dos demais países da América Latina;
- desenvolver formas massivas de pressão, articuladas com outras formas de luta;
- fazer com que o acesso à terra seja obtido por meio de pressão e de luta;
- formar quadros, em todos os níveis, para garantir a resistência de massa nas terras conquistadas.

Com base nesses princípios, que vêm sendo observados durante estes 31 anos, hoje não é mais segredo para ninguém que o objetivo estratégico do MST é a transformação e ultrapassagem da sociedade capitalista. Para isso, vem impondo como objetivos táticos a invasão e ocupação de terras em todos os Estados, a organização do modo socialista de produção nas terras conquistadas, a educação socialista dos militantes assentados, e a ininterrupta formação de quadros nos moldes marxistas-leninistas.

Para essa tarefa o MST possui um número não conhecido de militantes profissionalizados. Isto é, militantes que recebem salário, embora não trabalhem na terra e nem peguem na enxada. Militantes que sobrevivem de uma profissão que se supunha extinta após o furacão que desmantelou o socialismo real: a agitação social.

Atento ao fato – a exemplo dos zapatistas – de que na chamada guerra pós-moderna a informação é a mais eficiente das armas, o MST navega na Internet com a home-page www.mst.org.br.

Em agosto de 2000, em Brasília, o MST realizou seu 4º Congresso, que contou com a presença de 10.538 sem terra, sendo 107 estrangeiros procedentes de 25 países, representando 45 organizações.

As conclusões desse Congresso foram inequívocas quanto ao objetivo de dar alento a uma conflagração rural. Um dos membros da Coordenação Nacional do MST, Jaime Amorim, liderança dos sem terra em Pernambuco, afirmou que “é necessário transformar cada sem terra, cada sem teto, num soldado da revolução”.

O MST é um movimento clandestino – pois não tem personalidade jurídica -destinado à tomada do Poder, sendo a reforma agrária apenas um meio de negociar posições. Nesse sentido, o líder João Pedro Stedile foi claro: “Agora percebemos que o modelo também sufoca, porque com a terra apenas se come, mas não se avança. Nossa ação, daqui em diante, será unirmo-nos com outros movimentos” (Jornal do Brasil, 21 de maio de 2000).

Gilmar Mauro, outro dirigente, questionado sobre se o MST havia se convertido em uma guerrilha, respondeu: “Estimulamos as lutas de massas. A decisão de ser guerrilha ou não está no horizonte próximo. De nada adianta ter dez mil fuzis se a massa não está organizada”(Jornal do Brasil, 14 de agosto de 2000).

Anteriormente a essa declaração de que “as massas não estão organizadas” foi realizado um Encontro, em 1997 em Itaici, São Paulo, com a participação de gente do campo, religiosos, leigos, filiados ou não a partidos políticos, ocasião em que foi constituída uma entidade denominada Consulta Popular.

O Consulta Popular é uma rede nacional que pretende ser um espaço onde se desenvolvam três tipos de iniciativas: a formação política de militantes, a organização de lutas populares, e a formulação de um novo projeto para o Brasil.

Essa organização produz regularmente vídeos e cartilhas sobre o desemprego, dívida externa, reforma agrária, trabalho de base, análise da situação brasileira, etc. Também patrocina debates, seminários cursos e jornadas de lutas. A chamada Marcha Popular pelo Brasil, realizada em outubro de 1999, que levou cerca de mil sem-terra do Rio de Janeiro a Brasília, foi organizada pelo Consulta Popular.

O Consulta Popular dispõe de uma Coordenação Nacional, em sua grande maioria composta por intelectuais, cuja Secretaria funciona em São Paulo, e Coordenações em diversos Estados. De uma forma geral, seus militantes são também militantes de diversas outras organizações, que muitos insistem em denominar de “movimentos sociais”, como o MST, as pastorais sociais da CNBB, o Movimento dos Pequenos Agricultores, a Central de Movimentos Populares, a Articulação Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais, além de sindicalistas, estudantes e intelectuais. João Pedro Stedile, a liderança mais visível do MST, integra a Coordenação Nacional do Consulta Popular.

Pode ser dito, com convicção, que o Consulta Popular é o braço político do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Além disso – o que é grave -, o MST integra e é coordenado por um movimento internacional denominado Via Campesina, sediado em Honduras. No site da Via Campesina, na Internet, lê-se: “A Via Campesina é um movimento internacional que coordena organizações camponesas de médios e pequenos agricultores, de trabalhadores agrícolas, mulheres e comunidades indígenas da Ásia, África, América e Europa”.

Ou seja, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, “coordenado” pela Via Campesina, executa as políticas e táticas formuladas por “um movimento internacional”.

Lê-se ainda no site da Via Campesina que o seu escritório para a América do Sul funciona no mesmo endereço do MST e da revista “Sem Terra”: Alameda Barão de Limeira 1232, São Paulo, Brasil.

Egídio Brunetto, que integra a Coordenação Nacional do MST, integra também a Comissão Coordenadora Internacional da Via Campesina.

João Pedro Stedile, em uma recente entrevista, disse que “O MST tem uma vocação internacionalista (...). A Via Campesina é uma articulação internacional dos movimentos camponeses de todo o mundo. Ela cresce a cada dia e hoje já temos organizações de 87 países, em todos os continentes (...). Em uma frase, a Via Campesina representa a união e unidade internacionalista para enfrentarmos juntos a sanha do capital internacional (...). E pode escrever aí: no final da história vamos vencer” (revista PUCViva, julho de 2003).

Em maio de 2000 a Via Campesina e o MST patrocinaram em Sidrolândia, Mato Grosso do Sul, a realização do “Curso de Capacitação de Militantes de Base do Cone Sul”, para ativistas do Brasil, Bolívia, México, Cuba, Nicarágua e Honduras. O tema central do curso foi proporcionar conhecimentos sobre o “modus operandi” do MST. Um dos trabalhos apresentados no curso assinala que “a ação militar sem orientação e controle político é como uma árvore sem raízes. É necessário articular a resistência com a sociedade local, nacional e internacional, para que se consigam vitórias econômicas e políticas”.

Se isso não fosse o bastante, a imprensa noticiou, em 24 de julho de 2003, que a Via Campesina iniciou, nesse mês de julho de 2003, a instalação de quatro grandes acampamentos no Rio Grande do Sul, “com o propósito de servir de apoio à marcha dos sem terra que se dirige a São Gabriel”. E mais: que o organizador desses acampamentos é um membro da Coordenação Estadual da Via Campesina, o que significa que a Via Campesina está organizada no Brasil, fato que atenta contra a Soberania Nacional! Observe-se que as pessoas que defendem as atividades do MST e da Via Campesina no Brasil são as mesmas que reclamam indignadas e participam de manifestações contra a “intromissão do capital estrangeiro, dos organismos internacionais e dos EUA em nosso país, ferindo a Soberania Nacional”.

Nesse mesmo dia, João Pedro Stedile, integrante das direções do MST e Consulta Popular – pronunciou uma palestra em um desses acampamentos, em Canguçu, RS, convocando os sem terra à luta armada contra os fazendeiros. Disse que são 23 milhões de sem terra contra 27 mil fazendeiros. Ou seja, “são mil contra um. Será que mil perdem para um? O que nos falta é nos unirmos para cada mil pegarem um. Não vamos dormir até acabarmos com eles” (Jornal do Brasil, 14 de agosto de 2000). Ele deve estar, hoje, com muito sono...

Antes dele, José Rainha Junior – que atualmente voltou a ser condenado - também da Coordenação Nacional do MST, prometeu um novo Canudos no Pontal do Paranapanema, São Paulo, e Miguel Stedile, 24 anos, filho de João Pedro Stedile, seguindo os ensinamentos do pai, afirmou: “Queremos a socialização dos meios de produção. Vamos adaptar as experiências cubana e soviética no Brasil” (revista Época, julho de 2003).

João Paulo Rodrigues, também da Coordenação Nacional do MST, declarou que “se um milhão de famílias acamparem na beira das estradas, a reforma agrária será feita no tapa” (imprensa, 05 de agosto de 2003).

Donizete de Freitas, apontado como um dos coordenadores de doutrina do MST em São Paulo, declarou que “há muitos MSTs dentro do MST” , e admite que a insurgência pode vir a ser uma opção do movimento: “A luta do trabalhador rural segue por muitos caminhos. Um deles, o mais radical, é do da luta armada”(O Estado de São Paulo, 10 de agosto de 2003).

Zelito Luz da Silva, um dos coordenadores regionais do MST em São Paulo, falando a cerca de 300 militantes do Movimento, em Teodoro Sampaio, convocou os militantes a “reagirem contra os que querem colocar o movimento no gueto. Chegou a hora da gente não vacilar, só a luta leva à vitória. Quando a gente reagir não vai ter choro nem vela. Fiquem atentos na casa de vocês, porque a qualquer momento alguém vai bater na porta e dizer que chegou a hora da luta. Hoje somos 20, 50 mil, logo seremos milhões e vamos fazer a mudança que esse país jamais viu” (O Estado de São Paulo, 15 de agosto de 2003).

Um dado interessante é o de Zelito Luz da Silva ter sido condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, a 2 anos de prisão em 13 de dezembro de 1999, juntamente com outras lideranças dos sem-terra, por “formação de quadrilha”, com sursis por 2 anos, por ser “primário” (O Estado de São Paulo de 17 de dezembro de 2000).

Essa série de declarações dos sem-terras vêm sendo respaldadas pela Procuradoria-Geral da República. Em palestra proferida no seminário “Combatendo a Impunidade – Crimes Financeiros e Lavagem de Dinheiro”, realizado em Brasília, o então Procurador-Geral defendeu a invasão, “pelos movimentos sociais, de propriedades rurais usadas para especular”, pois “a Constituição embute a ideia de solidariedade”. Disse também que “a criação de uma Coordenação dos Movimentos Sociais que une sem-terra, sem-teto, estudantes e sindicalistas, é muito boa” (Jornal do Brasil de 14 de agosto de 2003).

É mais do que notório que o MST envereda por áreas estranhas à finalidade para a qual foi constituído e que suas atividades se assemelham cada vez mais às de um movimento político e, com arrogância, arvora-se defensor e responsável pela vida e destino das massas anônimas do país. O MST, transformado em um movimento político revolucionário, apenas usa a questão camponesa para efeito de propaganda e, principalmente, de financiamento, pois além do dinheiro recebido do exterior, absorve uma percentagem considerável de todo o dinheiro que o governo repassa aos assentados, uma espécie de pedágio.

Pode ser dito que o fracasso econômico do MST em seus assentamentos gera o sucesso político, que é o fim desejado pelas lideranças do Movimento.

Agora o MST vem ampliando seu raio de ação, agregando aquele grupo que na linguagem da própria esquerda é tachado de lumpem urbano, criando favelas rurais, bloqueando rodovias, interceptando e saqueando caminhões, ocupando e destruindo pedágios, invadindo propriedades rurais, roubando gado, depredando prefeituras e prédios do INCRA e tomando pessoas como reféns. Para isso conta com a anuência do próprio INCRA e a inoperância calculada do Ministério do Desenvolvimento Agrário, convertidos em aparelhos do MST, e agora também do então Procurador-Geral da República!

As autoridades, no entanto, não parecem preocupadas. O ministro chefe da Casa Civil da presidência disse que: “a recente onda de invasão de terras e terrenos desocupados no país não é uma ameaça à população, nem significa uma situação de ‘descontrole’ do governo federal. São problemas sociais...” (Estado de São Paulo, 01 de agosto de 2003). Com relação à condenação de José Rainha Junior, o então Secretário Nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, em 01 de agosto de 2003 acusou o Juiz que o condenou de “falta de sensibilidade social” (jornais, 31 de julho de 2003).

Por outro lado, as liminares de reintegração de posse de propriedades rurais invadidas simplesmente não são cumpridas pelos governos estaduais. Em julho de 2003 existiam 338 mandados de reintegração de posse, concedidos pela Justiça, não cumpridos, sendo 161 no Pará, 68 em Mato Grosso, 20 em Alagoas e 12 em Minas Gerais!

“A democratização da terra (...) é uma transformação de tais proporções que só pode realizar-se no quadro de uma mudança estrutural no sistema de propriedade do país (...). Uma mudança radical (...) que só será concluída nos marcos de uma revolução social”. Esse parágrafo foi extraído do artigo “Reforma Agrária e Estratégia Socialista”, publicado na edição do 1º semestre de 1997 da revista “Brasil Revolucionário”. Essa revista é editada pelo “Instituto de Estudos Políticos Mario Alves”, uma entidade criada e mantida pelo Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), que atua dentro do Partido dos Trabalhadores sob o nome fantasia de “Tendência Brasil Socialista”. O autor do artigo, Bruno Costa de Albuquerque Maranhão, que integra a Direção Nacional do PT, é membro dirigente do PCBR desde o final dos anos 60 do século passado, e fundador, em agosto de 1997, do “Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST)”, uma dissidência do MST.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário existiam, em 2003, 71 movimentos de sem-terra (O Globo, 03 de agosto de 2003) e somente nesse ano de 2003 ocorreram 171 invasões de terras, enquanto em todo o ano de 2002 foram realizadas 103 (O Globo, 15 de agosto de 2003).

Marta Harnecker, historiadora marxista chilena, radicada em Cuba, principal ideóloga do “Foro São Paulo”, escreveu o seguinte sobre o Consulta Popular, em seu livro “A Esquerda Depois de Seattle”: “Nasceu, em dezembro de 1997, o movimento Consulta Popular, iniciativa que não pretende substituir os partidos de esquerda e sim conscientizar e debater um Projeto para o Brasil, criando espaços de encontros e discussão na base, no seio dos movimentos populares e articulando mobilizações em torno de objetivos muito precisos”.

E prossegue Marta Harnecker: “Segundo o Consulta Popular, a sociedade brasileira deve assumir cinco compromissos: o compromisso com a soberania, rompendo com a dependência externa; o compromisso da solidariedade; o compromisso do desenvolvimento para pôr fim à hegemonia do capital financeiro; o compromisso com a sustentabilidade; e o compromisso com a democracia popular, o qual aponta para a refundação do sistema político brasileiro”.

Alguns membros de Coordenação Nacional do Consulta Popular estão convencidos de que o Partido dos Trabalhadores perdeu sua capacidade política, teórica e moral para ser um partido contra a ordem, embora seja verdade que a grande maioria ainda espera que o PT recupere sua clara vocação inicial e seu impulso militante.

Concluindo, torna-se evidente que o Consulta Popular – braço político do MST -utiliza uma estratégia gramsciana, radicalmente diferente da estratégia leninista cujo objetivo primeiro é a conquista do Estado. Antes da conquista do Estado, a estratégia gramsciana objetiva a conquista do Poder.

Recorde-se que Gramsci nunca deixou de ser um leninista convicto. Simplesmente propôs para o Ocidente, com brilhantismo, é verdade, um novo programa de ação revolucionária, diverso daquele utilizado pelos bolcheviques “numa Rússia primitiva e amorfa”, segundo sua definição.

Para isso, ele catalogou como “sociedade civil” os partidos de massa, os sindicatos, as diferentes associações, a Igreja, as Escolas, etc, considerando-a a mais importante arena da luta de classes, pois é nela que ocorrem os embates pela conquista da hegemonia, uma vez que o Poder não é mais um objeto que se tome, com um assalto ao Palácio de Inverno, como na Rússia, em 1917, mas sim uma guerra complexa e sutil, que precede a dominação política. O acesso ao Poder é, para Gramsci, a culminância desse processo revolucionário prolongado.

A partir do desmantelamento do socialismo real em 1989, e do próprio Estado Soviético em 1991, ficou demonstrado que a estratégia revolucionária marxista-leninista de tomada do Poder por um golpe de força em um momento dado se mostrou inadequada, tornando Gramsci uma referência para as esquerdas de todos os matizes. Basta verificar na mídia e nos debates acadêmicos a utilização de expressões como “intelectual orgânico”, “bloco histórico”, “hegemonia”, “consenso”, “filosofia da práxis”, “coletivo”, “excluído”, “movimento social”, etc, todas facilmente encontradas nos escritos de Gramsci.

E mais: para Gramsci, a classe operária, no Ocidente, só chegaria ao Poder depois que os “intelectuais orgânicos” tivessem logrado dissolver a ideologia burguesa. Para isso, eles têm uma missão: a de difundir uma nova concepção de mundo; e também um encargo: o de funcionários da superestrutura; e um espaço de atuação: a sociedade civil que, como vimos, envolve instituições como a família, a Igreja, a escola, a universidade, o jornalismo, o rádio e a televisão. O Consulta Popular busca reunir esses “intelectuais orgânicos”.

Parece que o que vem ocorrendo no Brasil não é nada muito diferente do que acima foi escrito, uma vez que Luiz Inacio Lula da Silva, quando presidente da República, gerou expectativas que não cumpriu ou não pôde cumprir, quando, com arrogância, declarou: “Com uma canetada só vou resolver o problema da reforma agrária no Brasil”

Criança: ama com fé e orgulho a terra em que nasceste,pois nunca verás um país como este...



Carlos I. S. Azambuja - Fonte: http://www.alertatotal.net/2016/01/a-veia-revolucionaria-do-mst.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+AlertaTotal+%28Alerta+Total%29

Chico Buarque - Idolatria ou Admiração

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“Dinheiro não lhe emprestei
Favores nunca lhe fiz
Não alimentei o seu gênio ruim
Você nada está me devendo
Por isso, meu bem, não entendo
Porque anda agora falando de mim.”

(Chico Buarque)




O que escrevi sobre Chico Buarque, relativizando a sua imagem "intocável", jamais atacando, provocou algumas reações. Todas cordiais, vindas de amigos cuja miopia não me ofende. Não vou analisar cada uma em particular.

Há um Chico que eu admiro; outro, que critico; outro é um mito criteriosamente forjado para uma finalidade oculta. Vamos ver.

A bela arte

O Chico que eu admiro é o jovem compositor da década de 1970: letras complexas, melodias originais e (mérito doutros músicos) arranjos bem elaborados. O Chico da década anterior, embora tenha algumas canções que, gravadas por outros, se revelaram lindas, é sobretudo um compositor de sambinhas velhacos. Horrível! Mas era pouco mais que um adolescente. Atingiu a maturidade como compositor na década de 1970. E na seguinte escorregou lento e seguro para o patético até tornar-se musicalmente insuportável. E daí? Uma coisa não anula a outra! O que ele fez de bom não é apagado pelo que fez de medíocre. Por sua década de ouro, tem seu nome garantido entre os melhores compositores populares.

Brilho ofuscado

Mas ele é uma figura pública e, por conseguinte, sujeito a críticas. Não pode reclamar. Nem ele, nem os seus fãs. E como usa a sua publicidade? Mal! Faz pose de intelectual, mas nunca fez análise crítica de coisa alguma. Eu nunca vi, embora acompanhe sua carreira. Estou falando de "vida adulta", de análise, de crítica elaborada. Isso nunca fez! Claro, os meninos do grêmio estudantil pensam que "criticar" é simplesmente "dar pau", desancar, esculachar. É o que Chico sempre fez - às vezes com maestria, se é que isso é possível. Mas aplicar os piores adjetivos ao capitalismo, demonizar empresários, elogiar ditaduras, defender partido e desrespeitar adversários, essas práticas simplórias e irresponsáveis não se confundem com análise crítica. E o Chico "ser político" não vai muito além disso. Mas o pior é prestar-se como propagandista de ideologias antidemocráticas: aplaude a ditadura da Venezuela, ajuda a perpetuar mentiras sobre Cuba, empenha-se em ocultar a tremenda corrupção que tomou conta do país. Não sei por que Chico não quer enxergar o Brasil. Como não criticá-lo?

Inconsistência do mito

Fique claro, não o estou julgando. É impossível conhecer o fluxo de consciência de uma pessoa; logo, é impossível julgar quem quer que seja. Possível é, isto sim, estabelecer juízo sobre a conduta, que pode ser apreciada objetivamente. Julgam-se comportamentos, não pessoas. Assim é no Estado de direito; assim deveria ser a atitude de cada um.

Talvez ele mesmo acredite no mito, mas é falso que Chico um dia haja defendido a democracia. jamais! Sempre esteve ombreado com quem quis - e segue querendo - implantar no Brasil a ditadura do proletariado. Daqueles que - na subversão - combateram o regime militar, uns poucos fizeram autocrítica, tendo a maturidade de revisar suas crenças. Destes, um dos mais notórios é Fernando Gabeira, que escancara: ele e seus pares não estavam combatendo o regime para defender a democracia, mas tentando implantar outra ditadura. A sua ditadura. Tudo mais é mito.

Em 1989 Chico era um quarentão. Mas seguia imaturo, autoritário ao ponto de querer calar a imprensa. Vale o testemunho de Alexandre Garcia, afrontado por um grupo de artistas da Globo (Chico entre eles). Os artistas não queriam que se divulgassem as pesquisas e os números desfavoráveis a Lula.

Fato é que Chico Buarque sempre foi intolerante e nunca soube respeitar o pensamento alheio - nem quando esse pensamento veio com bom-humor. Conta Luís Antônio Giron (Revista Florense, 2004) que, lá por 1984, Millôr encontrava-se num restaurante em Ipanema, quando Chico apareceu e o atacou. Chamou-o de "velho" e quase o agrediu com uma garrafa de uísque. É que Millôr havia escrito que jamais permitiria o seu cãozinho passear com ele. Ali, Chico foi grosseiro, incivil, autoritário ou, como petistas tratam quem pensa diferente, foi fascista, aguçando a ironia do inabalável Millôr.

Em suma, o riquíssimo Chico não passa de um teórico da divisão da riqueza... dos outros! No entanto, sempre incensado nos jornais e revistas, teve forjada uma imagem de vestal imaculada. Não o é. A quem interessa esse mito? Que cada qual responda segundo sua capacidade de pensar.

Todos os projetos de ditadura contam com celebridades da arte que se prestam como colaboracionistas - às vezes, por espontaneidade induzida... Não tenho como saber se Chico, bem-nascido e muito rico, foi cooptado, comprado ou seduzido para estar a serviço do autoritarismo. Mas lembro uma frase do Millôr: "Desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal."

Encerro

Eu posso admirar o compositor e, ao mesmo tempo, ter uma visão crítica de seu comportamento como cidadão. Ter ídolos é para adolescentes. É próprio de adultos separar as coisas e ponderar, admirando o que é admirável, criticando o que é criticável. Aliás, nem quando adolescente eu o idolatrei. E sua militância contra a democracia não é bastante para eu jogar no lixo os seus discos da década de 1970. Finalizo com uma do Millôr, perfeita para certos governistas da vez: "Quem se curva aos opressores mostra a bunda aos oprimidos."




Renato Sant'Ana - Fonte: http://www.alertatotal.net/2016/01/idolatria-ou-admiracao.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+AlertaTotal+%28Alerta+Total%29
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domingo, 17 de janeiro de 2016

Notas de uma cúmplice

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Swetlana Alexievich



Abaixo uma dolorosa reflexão da jornalista russa Swetlana Alexievich, em 1991, após Boris Yeltsin enterrar o PCUS e a União Soviética e ressuscitar a Rússia

Despedimo-nos dos tempos soviéticos. Dessa nossa vida. Tentarei escutar honestamente todos os participantes do drama socialista
O comunismo tinha um plano louco — transformar o homem "antigo", o vetusto Adão. E isso foi conseguido; foi talvez a única coisa que se conseguiu. Em pouco mais de setenta anos, no laboratório do marxismo-leninismo criou-se um tipo humano especial — o Homo Sovieticus. Há quem considere que esse é um personagem trágico; outros chamam-no de sovok¹.

Eu acho que conheço esse homem, que o conheço muito bem, estou ao lado dele, vivi muitos anos ombro a ombro com ele. Ele sou eu. São os meus conhecidos, os meus amigos, os meus progenitores. Durante alguns anos viajei por toda a anterior União Soviética, porque o Homo Sovieticus não são apenas os Russos, são também os Bielorrussos, os Turcomanos, os Ucranianos, os Cazaques... Agora vivemos em Estados distintos, falamos línguas diferentes, mas somos inconfundíveis.

Imediatamente reconhecíveis! Todos nós, gente do socialismo, somos parecidos com as outras pessoas e diferentes delas — temos o nosso dicionário, a nossa compreensão do bem e do mal, dos heróis e dos mártires. Temos uma relação especial com a morte. Nas histórias que eu escrevo, há palavras que ferem constantemente o ouvido:"disparar", "fuzilar", "liquidar", "pôr em circulação" ou variantes soviéticas de "desaparecimento" como: "detenção", "dez anos sem direito de correspondência", "emigração". Quanto pode valer uma vida humana, se nos lembramos de que ainda há pouco morreram milhões? Estamos cheios de ódio e de preconceitos. Tudo vem de lá, de onde havia o GULAG² e a guerra medonha. Coletivização, deskulakização, deslocação das populações.

Isto era o socialismo e era simplesmente a nossa vida. Nesse tempo pouco falávamos dela. Mas agora, que o mundo mudou irrevogavelmente, essa nossa vida tornou-se interessante para todos — não importa como ela fosse, era a nossa vida. Escrevo, procuro nos grãozinhos, nas migalhas da história do socialismo "doméstico" "interior". A maneira como ele vivia na alma humana. Atrai-me sempre esse pequeno espaço — a pessoa, uma pessoa. Na verdade, é aí que tudo acontece.

Porque é que há no livro tantos relatos de suicídios, e não dos soviéticos comuns, com biografias soviéticas comuns? Afinal de contas as pessoas também se suicidam por amor, por velhice, sem mais nem menos, por interesse, pelo desejo de descobrir o segredo da morte... Procurei aqueles em quem cresceu firmemente a idéia, que a interiorizaram de um modo impossível de erradicar — o Estado tornou-se o seu cosmos, substituiu tudo, até a sua própria vida. Não conseguiam sair da grande história, despedir-se dela, ser felizes de outro modo. Mergulhar... Perder-se na existência privada, como acontece atualmente, em que o pequeno se tornou grande.

O homem quer apenas viver, sem uma grande idéia. Isso nunca aconteceu na vida russa, nem a literatura russa conhece isso. Em geral nós somos gente guerreira. Ou combatíamos, ou preparávamo-nos para a guerra. Nunca vivemos de outro modo. Daí a psicologia militar. E mesmo na vida de paz tudo acontecia de um modo militar. Soava o tambor, soltavam-se as bandeiras o coração saltava do peito, o homem não notava a sua escravidão, até gostava dela.

Também eu me lembro: depois da escola, toda a classe se reunia para ir para as terras virgens, desprezávamos aqueles que se recusavam, lamentávamos até às lágrimas que a revolução, a guerra civil — tudo acontecesse sem a nossa participação. Olhamos para trás: será possível que fôssemos nós? Que fosse eu? E recordei tudo isso juntamente com os meus heróis. Um deles disse: "Só o homem soviético pode compreender o homem soviético". Éramos pessoas que só tínhamos memória comunista. Vizinhos pela memória.

O meu pai recordava que pessoalmente passou a acreditar no comunismo depois do vôo de Gagárin. Somos os primeiros! Podemos fazer tudo! Era assim que ele e a minha mãe nos educavam. Eu fui outubrista³, usava o emblema com o menino de cabelos frisados, fui pioneira, komsomolka. A desilusão veio mais tarde.

Depois da perestroika esperávamos que abrissem os arquivos. Abriram-os. Ficamos sabendo a história que escondiam de nós.
"Devemos atrair para nós noventa ou cem milhões que povoam a Rússia Soviética. Com os restantes não devemos falar — é preciso , exterminá-los" (Zinóviev, 1918).

"Enforcar (sem falta, enforcar, para que o povo veja) não menos de mil kulaks presos, que enriquecem, e tirar-lhe todos os cereais, designar reféns... De tal modo que a cem quilômetros em redor o povo veja e trema" (Lênin, 1918).

"Moscou está literalmente a morrer de fome" (professor Kuznetsov para Trotski). "Isso não é fome. Quando Tito ocupou Jerusalém, as mães judias comiam os seus filhos. Quando eu forçar as vossas mães a comerem os seus filhos, então pode vir ter comigo e dizer: 'Temos fome'" (Trotski, 1919).

As pessoas liam os jornais e as revistas e calavam-se. Sobre elas caiu um horror insuportável! Como viver com isto? Muitos receberam a verdade como uma inimiga. E a liberdade também. "Não conhecemos o nosso país. Não sabemos em que pensa a maioria das pessoas, vemo-las, encontramo-las todos os dias, mas não sabemos em que pensam, nem o que querem.

Mas temos a ousadia de lhes ensinar. Depressa saberemos tudo, e ficaremos horrorizados", dizia um conhecido meu, com quem muitas vezes me sentava a conversar na minha cozinha. Eu discutia com ele. Isto acontecia em 1991... Tempo feliz! Acreditávamos que no dia seguinte, literalmente amanhã, começaria a liberdade. Começaria do nada, dos nossos desejos.

Dos Cadernos de Apontamentos de Chalámov: "Participei de uma grande batalha perdida por uma verdadeira atualização da vida". Isto foi escrito por um homem que passou 17 anos de detenção nos campos stalinistas.

A nostalgia do ideal manteve-se... Eu dividiria as pessoas soviéticas em quatro gerações: stalinista, khruschovista, brejnevista e gorbatchovista. Pessoalmente, pertenço à última. Para nós era mais fácil aceitar o colapso da idéia comunista, porque não vivemos no tempo em que a idéia era jovem, forte, sem a perdida magia do romantismo fatal e das esperanças utópicas. Crescemos no tempo dos velhos do Kremlin. Nos magros tempos vegetarianos. O grande sangue do comunismo já estava esquecido. O entusiasmo continuava os seus desmandos, mas conservava-se o conhecimento de que não era possível aplicar a utopia na vida.

Isto aconteceu durante a Primeira Guerra da Chechênia... Conheci em Moscou, numa estação de caminho de ferro, uma mulher que era das proximidades de Tambov e estava de partida para a Chechênia, com o objetivo de tirar o filho da guerra: "Não quero que ele morra. Não quero que ele mate." O Estado já não dominava a alma dela. Era uma pessoa livre. Eram poucas as pessoas assim. A maioria eram aqueles a quem a liberdade irritava: "Comprei quatro jornais e cada um deles tem a sua verdade. Onde está então a verdade? Dantes líamos de manhã o jornal Pravda e sabíamos tudo. Compreendíamos tudo." As idéias saíam lentamente de sob a narcose. Se eu iniciava uma conversa acerca do arrependimento, ouvia em resposta:

"De que devo eu arrepender-me?" Cada qual se considerava vítima, mas não participante. Um dizia: "Eu também estive preso." O segundo dizia: "Eu combati." E um terceiro: "Levantei a minha cidade das ruínas, acartava tijolos dia e noite". Isto era completamente inesperado: todos bêbados de liberdade, mas não preparados para a liberdade. E onde estava ela, a liberdade? Só na cozinha, onde por hábito continuavam a criticar o Poder. 

Criticavam Yeltsin e Gorbatchov. Yeltsin porque traíra a Rússia. E Gorbatchov? Gorbatchov porque traíra tudo. Todo o Século 20. E agora, o nosso país será igual aos outros. Será como todos. Pensavam que desta vez se conseguiria. A Rússia mudara e odiava-se a si mesma por ter mudado. "O Mongol imóvel", escreveu Marx acerca da Rússia.

Civilização soviética... Apresso-me a registrar os seus vestígios. As caras conhecidas. Interrogo não acerca do socialismo, mas acerca do amor, do ciúme, da infância, da velhice. Sobre a música, as danças, os penteados. Sobre os mil pormenores da vida que desaparecia. Este é o único meio de dirigir a catástrofe para o quadro do habitual e tentar contar alguma coisa. Adivinhar alguma coisa. Não paro de me espantar com a maneira como a vida humana comum é interessante. Com a interminável quantidade das verdades humanas. A história interessa-se apenas pelos fatos, e as emoções ficam fora de bordo. Não é costume admití-las na história. Mas eu olho para o mundo com os olhos de uma humanista e não de uma historiadora. Fico surpreendida com a pessoa...

O meu pai já não é deste mundo. E eu não posso terminar uma das nossas conversas... Dizia que morrer na guerra era mais fácil para ele do que para os rapazes que agora morrem na Chechênia. Nos anos 1940, iam de um inferno para outro inferno. Antes da guerra, o meu pai estudou em Minsk, no Instituto de Jornalismo. Lembrava-se de que quando voltavam das férias, muitas vezes já não encontravam um único professor conhecido, estavam todos presos. Eles não compreendiam o que se passava, mas era horrível. Horrível, como na guerra.

Tive poucas conversas francas com o meu pai. Ele tinha pena de mim. E eu, tinha pena dele? Tenho dificuldade em responder a esta pergunta... Éramos implacáveis com os nossos pais. Parecia-nos que a liberdade era uma coisa muito simples. Passou algum tempo, e nós próprios nos curvamos sob o peso dela, porque ninguém nos ensinou a liberdade. Ensinaram-nos apenas como morrer pela liberdade.

Ei-la, a liberdade! É como a esperávamos? Estávamos prontos para morrer pelos nossos ideais, para combater na batalha. Mas começou uma vida . Sem história. Ruíram todos os valores, menos o valor da vida. Da vida em geral. Novos sonhos: construir uma casa, comprar um bom carro, plantar uma groselheira... A liberdade revelou-se a reabilitação da pequena burguesia, habitualmente maltratada na vida russa. Liberdade de Sua Majestade o Consumo. Majestade das trevas. Trevas dos desejos, dos instintos — da vida humana oculta, da qual fazíamos uma idéia aproximada.

A toda a história sobrevivemos, mas não vivemos. E agora a experiência militar já não era necessária, era preciso esquecê-la. Milhares de novas emoções, estados, reações De súbito tudo em redor como que se tornou diferente: as tabuletas, as coisas, o dinheiro, a bandeira E até o próprio homem. Tornou-se mais colorido, solto, explodiram o monólito, e a vida espalhou-se em ilhas, átomos, células. Como em Dalh: liberdade-vontade, liberdadezinha ampla vastidão.

O grande mal tornou-se uma lenda distante, um romance de suspense político. Já ninguém falava de idéias, falavam de créditos, de juros, de letras, não ganhavam dinheiro a trabalhar, mas "faziam-no" em "jogadas". Seria por muito tempo? "A mentira do dinheiro na alma russa impoluta", escreveu Marina Tsvetáeva. Mas parece que os heróis de Ostrovski e de Saltikov-Schedrin ganharam vida e se passeiam pelas nossas ruas.

A todas as pessoas com quem me encontrei, perguntava: "O que é a liberdade?" Pais e filhos respondiam de modos diferentes. Aqueles que nasceram na URSS e os que já não nasceram na URSS têm experiências distintas. São pessoas de planetas diferentes.

Os pais: a liberdade é a ausência de medo; três dias em agosto, quando vencemos o golpe; uma pessoa que escolhe numa loja entre cem variedades de salame é mais livre do que a pessoa que escolhe entre dez variedades; não ser espancado, mas nunca chegaremos às gerações não espancadas; o homem russo não compreende a liberdade, precisa do cossaco e do látego.

Os filhos: a liberdade é o amor; a liberdade interior, um valor absoluto; quando não temos medo dos nossos desejos; ter muito dinheiro, e nesse caso teremos tudo; quando se pode viver de tal maneira que não se pensa na liberdade. A liberdade é o normal.
Procuro uma linguagem. O homem tem muitas linguagens: a linguagem que usa com os filhos, e mais uma, a do amor Há ainda a linguagem a que recorremos quando falamos conosco mesmos, quando travamos diálogos interiores. Na rua, no trabalho, nas viagens — por todo o lado se ouve qualquer coisa diferente, mudam não apenas as palavras, mas qualquer coisa mais. Uma pessoa até de manhã e à tarde fala de modos diferentes. E aquilo que acontece durante a noite entre duas pessoas desaparece por completo da história. Tratamos apenas da história do homem diurno. O suicídio é um tema noturno, a pessoa encontra-se no limite da existência e da não existência. Do sono. Quero entender isto com a precisão da pessoa diurna.

Disseram-me: "Não tem medo de que isso lhe agrade?"

Seguimos pela estrada de Smolensk. Paramos numa aldeia ao lado de uma loja. Uns conhecidos (eu própria cresci nesta aldeia), uns rostos bonitos, bondosos, e em redor uma vida humilhante, pobre. Conversamos acerca da vida. "Pergunta-me sobre a liberdade? Entre na nossa loja: vodca, há toda a que se queira: Standart, Gorbatchov Putinka, salame à farta, e queijo, e peixe. Até há bananas. De que outra liberdade precisa? Esta para nós é suficiente." "E deram-lhes terra?" "Quem é que vai mourejar nela? Se a queres, toma-a. Aqui só o Vaska Krutoi aceitou. O filho mais novo tem oito anos e anda atrás do arado ao lado do pai. Se fores trabalhar para ele, não penses em juntar algum dinheiro, ele nem dorme. É um fascista!"

Na "Lenda do Grande Inquisidor" de Dostoiévski há uma discussão sobre a liberdade. Diz-se que o caminho da liberdade é difícil, sofrido, trágico "Para que conhecer esse diabo desse bem e desse mal, se isso custa tanto?" O homem tem sempre que escolher: a liberdade ou o bem-estar e a organização da sua vida, a liberdade com sofrimento ou a felicidade sem liberdade. E a maioria das pessoas segue por esse segundo caminho.

O Grande Inquisidor diz a Cristo, que voltou à Terra:

"Porque vieste cá incomodar-nos? Porque tu vieste incomodar-nos e sabes isso muito bem"
"Ao respeitá-lo [ao homem], tu procedeste como se tivesses deixado de sentir compaixão por ele, porque exigiste demasiado dele Ao respeitá-lo menos, exigias-lhe menos, e isso estaria mais perto do amor, pois o fardo dele seria mais leve. Ele é fraco e vil Que culpa tem a alma fraca, se é incapaz de juntar em si tão terríveis dons?"

"Não há preocupação mais constante e torturante para o homem do que, ao ficar livre, procurar depressa alguém diante de quem se inclinar a quem transmitir depressa o dom da liberdade com que esse ser infeliz nasce".

Nos anos 1990 sim, éramos felizes, e essa nossa ingenuidade já nunca mais volta. Parecia-nos que a escolha estava feita, que o comunismo tinha perdido sem apelo. Mas tudo estava apenas a começar

Passaram-se vinte anos... "Não nos assustem com o socialismo", dizem os filhos aos pais.

De uma conversa com um professor universitário meu conhecido:

"No final dos anos noventa os estudantes riam-se quando eu recordava a União Soviética; estavam confiantes de que à sua frente se abria um novo futuro. Agora o quadro é diferente Os estudantes de hoje já descobriram, já sentiram o que é o capitalismo — a desigualdade, a pobreza, a riqueza descarada, têm diante dos olhos a vida dos pais para quem nada restou do país saqueado. Sonham com a sua revolução. Usam camisolas vermelhas com retratos de Lênin e de 'Che' Guevara."

Cresceu na sociedade o interesse pela União Soviética. Pelo culto de Stálin. Metade dos jovens dos 19 aos 30 anos consideram Stálin "o maior dirigente político". Num país em que Stálin liquidou tantas pessoas como Hitler, um novo culto de Stálin?! Tudo o que é soviético está outra vez na moda. Por exemplo, os cafés "soviéticos" — com nomes soviéticos e pratos soviéticos. Surgiram os bombons "soviéticos" e o salame "soviético" — com o cheiro e o sabor nossos conhecidos desde a infância. E, é claro, a vodca "soviética".

Na televisão há dezenas de transmissões e na Internet dezenas de sites nostálgicos "soviéticos". Podem fazer-se visitas turísticas aos campos stalinistas — em Solovka, em Magadan. O anúncio promete que para mais completa sensação fornecem um fato do campo e uma picareta. Mostram os barracões restaurados. E no final organizam uma pescaria.

Renascem idéias antiquadas: sobre o Grande Império, sobre a "mão de ferro", "sobre a via russa especial" Reapareceu o hino soviético, há o Komsomol, mas chama-se simplesmente "Nachi" (os "Nossos"), há o partido do Poder, que copia o Partido Comunista. O presidente tem um poder como o do secretário-geral. Absoluto. Em vez do marxismo-leninismo, a religião ortodoxa.

Antes da revolução de 1917, Aleksandr Grin escreveu: "E o futuro parece ter deixado de estar no seu lugar." Passaram cem anos, e de novo o futuro não está no seu lugar. Chegou um tempo em segunda mão. A barricada é um lugar perigoso para um artista. Uma armadilha. Ali estraga-se a vista, obscurece a íris, o mundo perde a cor. Na barricada, o mundo é preto e branco. Dali já não se distingue o homem, vê-se apenas um ponto negro — um alvo. Passei toda a vida nas barricadas e queria sair delas. Aprender a alegrar-me com a vida. Recuperar a visão normal. Mas dezenas de milhares de pessoas saem de novo para as ruas. Dão-se as mãos, trazem fitas brancas nos blusões, símbolo do renascimento. Há cor. E eu estou com elas.

Encontrei nas ruas jovens com a foice e o martelo e o retrato de Lênin nas camisolas. Saberão eles o que é o comunismo?


1 ¹Designação depreciativa do regime soviético e de tudo o que com ele se relaciona. (N. do T.)
2 Ou simplesmente Gulag. Acrónimo da designação russa: Glavnoe Upravlénie Ispravi- telno-trudovikh Laguerei (Direção Central dos Campos de Trabalho Correcional). 
3 Outubrista: primeira forma de organização das crianças, que a seguir entravam para os pioneiros e mais tarde para o Komsomol, a juventude comunista.

Carlos I. S. Azambuja - Fonte: http://www.alertatotal.net/2016/01/notas-de-uma-cumplice.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+AlertaTotal+%28Alerta+Total%29

A cínica jogatina da Presidenta golpista

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Só com muito cinismo e cara de pau de uma pessoa pública incompetente e sem noção da realidade é que Dilma Rousseff pode falar de "golpe da oposição com o pedido de impeachment". Golpista, legítima, é quem sanciona um orçamento absolutamente falso da União, contando com 30% de recursos vindos de uma estupradora CMPF que sequer foi aprovada pelo Congresso. Só a certeza na impunidade e na capacidade de cooptar parlamentares corruptos viabiliza o golpe de contar com ovo de ouro na "barriga" da galinha. Se tal manobra não é um crime fiscal-orçamentário, tudo deve ser permitido na permissiva Bruzundanga.


O mesma idiotice de Dilma foi manifestada na "convicção" de que aumentar impostos é "solução" para reequilibrar o Brasil. Já temos 92 impostos, taxas ou contribuições, mas ela quer mais... Só pode ser doida ou burra demais... Na verdade, o foco prioritário dela é que o Congresso aprove a DRU (aumentando a taxação dos juros sobre capital próprio e ganhos de capital). Mas, para a galera, Dilma joga a "socializante" CPMF: "Acho que é fundamental para o país sair mais rápido da crise aprovar a CPMF, que é um imposto que se dissolve, se espalha por todos, de baixa intensidade, ao mesmo tempo que permite controle de evasão fiscal e ao mesmo tempo faz outra coisa, que é muito importante: tem um impacto pequeno na inflação, porque ele é dissolvido se você considerar os demais impactos".

Dilma e a petelândia têm planos para conseguir chegar, do jeito que der, até 2018. A aposta deles é em várias frentes, descaradamente previsíveis. Uma delas, por ironia, é o antigo sonho de legalizar a jogatina no Brasil, formando uma parceria entre o Estado ladrão, investidores estrangeiros e seus parceiros locais (claro, laranjas dos esquemas de poder atual). Uma outra é a enxurrada de grana chinesa que vem aqui, cheia de disposição, a comprar tudo que estiver à venda na bacia das almas - desde as estatais de economia mista, suas subsidiárias e até empresas brasileiras que perderam fôlego competitivo. "Laranjas" da politicagem também entrarão de sócios nestes negócios.

Tem uma terceira frente que deve gerar muita "prosperidade" e também vai aproveitar a crise como "oportunidade" para maravilhosos negócios para a oligarquia no poder. Trata-se da maior lavagem e esquentação legalizada de grana, nunca antes vista na História do Brasil, com a aprovação da lei que permite o retorno de dinheiro (a maior parte que fora roubada aqui) depositado no exterior. Uma pequena parte desta grana já voltava para cá, disfarçada nos tais "Investimentos Estrangeiros Diretos". Agora, um grande volume poderá retornar para viabilizar super negócios.

Não é à toa que tantos advogados classe A andam tão ouriçados e frenéticos. Eles sabem que este é o momento de faturar ainda mais alto. Não só dos "bandidos" políticos que defendem a peso de ouro, como também daqueles empresários que são vítimas dos rigores seletivos das variadas "gestapos" brasileiras, além dos que já estão prontos para firmar acordos para trazer para o País milhões que estavam escondidos no exterior. A conjuntura causa tanta euforia que os "causídicos de fino trato" resolveram até declarar uma guerrinha de mentirinha contra alguns segmentos do judiciário e do ministério público. A "batalha de Itararé" não é por convicção, mas por pura e cínica conveniência pragmática.

É neste cenário que Dilma e sua a turma apostam que conseguem aguentar o tranco, empurrando o desgoverno com a barriga até 2018, apesar do violentíssimo desgaste de imagem - nada que, na visão deles, muita grana que vem por aí não possa reverter. Politicamente, Dilminha já tratou de comprar os políticos, em um ano de magras vacas doadoras, seja pelo medo de escândalos ou pela proibição formal para empresas investirem nas caríssimas campanhas. Só isto explica que a grana do Fundo Partidário tenha sido quase triplicada (de R$ 311 para R$ 819 milhões) em tempos de ajuste fiscal, contenção de despesas e suposta queda de arrecadação com os efeitos da crise econômica.

Dilma e sua turma acreditam que conseguem impedir a onda do impeachment. Da mesma forma, também supõem que vão conseguir neutralizar os efeitos negativos da Lava Jato e seus desdobramentos. O grupo de Luiz Inácio Lula da Silva, aparentemente apertadinho, avalia que a blindagem do chefão permanecerá falando mais alto, permitindo até que, por falta de outras opções políticas, ele até consiga viabilizar o complicadíssimo retorno ao Palácio do Planalto em 2018.

É por tudo isso que os segmentos esclarecidos da sociedade não podem baixar a guarda e nem alimentar ilusões de que a salvação cairá do céu ou simplesmente do quartel. A pressão contra o desgoverno do crime organizado não pode parar e precisa aumentar em intensidade e, sobretudo, qualidade. É urgente uma reação focada e cirúrgica contra ações dos diferentes governos para atingir a cidadania e, principalmente, os bolsos dos contribuintes. Da mesma forma, é fundamental pensar, debater exaustivamente e propagar soluções viáveis para velhos problemas brasileiros, até que estejam criadas as pré-condições para a Intervenção Cívica Constitucional que pode mudar o Brasil, de verdade.
   



Jorge Serrão - Fonte: http://www.alertatotal.net/2016/01/a-cinica-jogatina-da-presidenta-golpista.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+AlertaTotal+%28Alerta+Total%29
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sábado, 16 de janeiro de 2016

Pérolas do ENEM - E essa gente vota!!!

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Pensaram que neste ano não haveria?

Demorou mas... infelizmente chegaram: 

As "pérolas" do ENEM


O Brasil não teve mulheres presidentes mas várias primeiras-damas foram do sexo feminino".
(Ou seja: alguns ex-presidentes casaram-se com travestis.)

"Vasilhas de luz refratória podem ser levadas ao forno de microondas sem queimar".
(Alguém poderia traduzir?!)

"O bem star dos abtantes da nossa cidade muito endepende do governo federal capixaba".
(Vende-se máquina de escrever faltando algumas letras.)

"Animais vegetarianos comem animais não-vegetarianos".
(Esse aí deve comer capim.)

"Não cei se o presidente está melhorando as insdiferenças sociais ou promovendo o sarneamento dos pobres. Me pré-ocupa o avanço regresssivo da violência urbana".
("Sarneamento” deve ser o conjunto de medidas adotadas por Sarney no Maranhão. Quer dizer, eu “axo”, mas não me “pré-ocupo” muito.)

"Fidel Castro liderou a revolução industrial de 1917, que criou o comunismo na Russia".
(Não, besta, foi o avô dele.)

"O Convento da Penha foi construído no céculo 16 mas só no céculo 17 foi levado definitivamente para o alto do morro".
(Demorou o "céculo" inteiro pra fazer a mudança.)

"A História se divide em 4: Antiga, Média, Momentânea e Futura, a mais estudada hoje".
(Esqueceu a História em Quadrinhos.)

"Os índios sacrificavam os filhos que nasciam mortos matando todos assim que nasciam".
(Mas e se os índios não matassem os mortos????)

"Bigamia era uma espécie de carroça dos gladiadores, puchada por dois cavalos".
(Ou era uma "biga" macho que tinha duas "bigas" fêmeas, puxada por um burro?!)

"No começo Vila Velha era muito atrazada mas com o tempo foi se sifilizando".
(Deve ter sido no tempo em que lá chegaram as primeiras prostitutas.)

"Os pagãos não gostavam quando Deus pregava suas dotrinas e tiveram a idéia de eliminá-lo da face do céu".
(Como será que eles pretendiam fazer isso?!)

"A capital da Argentina é Buenos Dias".
(De dia. À noite chama-se Buenas Noches.)

"A prinssipal função da raiz é se enterrar no chão".
(E a "prinssipal" função do autor deveria ser a mesma. E ainda vivo...)

"As aves tem na boca um dente chamado bico".
(Cruz credo.)

"A Previdência Social assegura o direito a enfermidade coletiva".
(hehe. Esse é espirituoso...)

"Respiração anaeróbica é a respiração sem ar, que não deve passar de 3 minutos".
(Senão a anta morre.)

“Ateísmo é uma religião anônima praticada escondido. Na época de Nero, os romanos ateus reuniam-se para rezar nas catatumbas cristãs".
(E alguns ainda vivem nas "catatumbas".)

"Os egipícios dezenvolveram a arte das múmias para os mortos poderem viver mais".
(Precisa "dezenvolver" o cérebro. Será que egipício é para rimar com estrupício?)

"O nervo ótico transmite idéias luminosas para o cérebro".
(Esse aí não deve ter o tal nervo, ou seu cérebro não seria tão obscuro.)

"A Geografia Humana estuda o homem em que vivemos".
(I will survive.)

"O nordeste é pouco aguado pela chuva das inundações frequentes".
(Verdade: de São Paulo até o Nordeste, falta construir aquadutos para levar as inundações.)

"Os Estados Unidos tem mais de 100.000 Km de estradas de ferro asfaltadas".
(Juro que eu não li isso.)

"As estrelas servem para esclarecer a noite e não existem estrelas de dia porque o calor do sol queimaria elas".
(Hum... Desconfio que vai ser poeta!)

"Republica do Minicana e Aiti são países da ilha América Central".
(Procura-se urgente um Atlas Geográfico que venha com um Aurélio junto.)

As autoridades estão preocupadas com a ploleferação da pornofonografia na Internet".
(Deve estar falando do CD dos Raimundos.)

"A ciência progrediu tanto que inventou ciclones como a ovelha Dolly".
(Teve a ovelha Katrina, também. Só que ela era meio violenta...)

"O Papa veio instalar o Vaticano em Vitória mas a Marinha não deixou para construir a Capitania dos Portos no mesmo lugar".
(Foi quando ele veio no papamóvel, lembra?)

"Hormônios são células sexuais dos homens masculinos".
(Isso. E nos homens femininos, essas células chamam-se frescurormônios.)

"Os primeiros emegrantes no ES construiram suas casas de talba".
(Enquanto praticavam “Tiro ao Álvaro”.)

"Onde nasce o sol é o nacente, onde desce é o decente".
(Indecente: o sol não nasceu pra todos.)

Agora reparem no perigo: "Essa gente vota"...



Deyzivan Ferreira M - 16 de novembro de 2014 
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Um pouco de História não faz mal a ninguém

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Um pouco de História não faz mal a ninguém. É preciso saber:


- que no governo João Goulart algumas organizações de esquerda condenavam a luta pela reforma agrária, porque seu triunfo daria origem a um campesinato conservador e anti-socialista?


Isso está escrito na página 40 do livro “Combate nas Trevas”, de Jacob Gorender, que foi dirigente do PCB e um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, em 1967.

- que no governo João Goulart já existiam campos de treinamento de guerrilha no Brasil? Em 4 de dezembro de 1962, o jornal ”O Estado de São Paulo” noticiou a prisão de diversos membros das famosas Ligas Camponesas, fundadas por Francisco Julião, num campo de treinamento de guerrilhas, em Dianópolis, Goiás.

- que afora o PCB, por seu apego ao ortodoxo “caminho pacífico” para a tomada do Poder, foram os trotskistas o único segmento da esquerda brasileira que não pegou em armas nos anos 60 e 70?

- que o primeiro grupo de 10 membros do Partido Comunista do Brasil - então partidário da chamada linha chinesa de “guerra popular prolongada” para a tomada do poder - viajou para a China ainda no governo João Goulart, em 29 de março de 1964, a fim de receber treinamento na Academia Militar de Pequim? E que até 1966 mais duas turmas foram a Pequim com o mesmo objetivo? (livro “Combate nas Trevas”, de Jacob Gorender).

- que no regresso da China esses militantes, e outros, foram mandados, a partir de 1966, para a selva amazônica com o objetivo de criarem o embrião da “guerra popular prolongada”, que resultou naquilo que ficou conhecido como Guerrilha do Araguaia, somente descoberto pelas Forças Armadas em abril de 1972, graças à prisão de um casal, no Ceará, que havia abandonado a área, desertando?

- que mais da metade dos cerca de 60 jovens que morreram no Araguaia, para onde foram mandados pela direção do PC do B, eram estudantes universitários, secundaristas ou recém-formados, segundo as profissões descritas na Lei que, em 1995, constituiu a Comissão de Desaparecidos Políticos?

- que a expressão “socialismo democrático” - hoje largamente utilizada por alguns partidos e candidatos - “induz a um duplo erro: o de apontar no rumo de um hipotético socialismo que prescindirá do Estado da Ditadura do Proletariado, acontecimento nunca visto no mundo, e o de introduzir a idéia de que o Estado mais democrático que o mundo já conheceu, o Estado Proletário não é democrático”? (livro “História da Ação Popular”, página 63, de autoria dos atuais dirigentes do Partido Comunista do Brasil, Aldo Arantes e Haroldo Rodrigues Lima).

- que no início de 1964, antes da Revolução de Março, Herbert José de Souza, o “Betinho”, já pertencia à Coordenação Nacional da Ação Popular? (livro “No Fio da Navalha”, dele próprio, páginas 41 e 42).

- que em 31 de março de 1964, quando da Revolução, “Betinho” era o coordenador da assessoria do Ministro da Educação, Paulo de Tarso, em Brasília? (livro “No Fio da Navalha”, páginas 46 e 47).

- que pouco tempo antes da Revolução de Março de 1964, o coordenador nacional do Grupo dos Onze, constituídos por Leonel Brizola (agora elevado à condição de “Herói Nacional”, por decreto de Dilma Roussef(), era “Betinho”, designado pelo próprio Brizola? (livro “No Fio da Navalha”, páginas 49 a 51).

- que em março de 1964 o esquema armado por João Goulart “era uma piada”; e que “o comandante Aragão, comandante dos Fuzileiros Navais, “era um alucinado e eu nunca vi figura como aquela? (livro “No Fio da Navalha”, página 51).

- que já em 1935 Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, era um assalariado do Komintern (3ª Internacional)? Isso está escrito e comprovado no livro “Camaradas”, do jornalista William Waak, que teve acesso aos arquivos da 3ª Internacional, em Moscou, após o desmanche do comunismo.

- que Luiz Carlos Prestes foi Secretário-Geral do Partido Comunista Brasileiro por 37 anos, ou seja, até maio de 1980, uma vez que foi eleito em setembro de 1943, quando ainda cumpria pena por sua atuação na Intentona Comunista? (livro “Giocondo Dias, uma Vida na Clandestinidade”, de Ivan Alves Filho, cujo pai, Ivan Alves, foi militante do partido).

- que 4 ex-militares dirigiram o PCB desde antes de 1943 até 1992: Miranda, Prestes, Giocondo Dias e Salomão Malina? Ou seja, dirigiram - ou melhor, comandaram - o PCB por cerca de 50 anos?

- que após o desmantelamento do socialismo real, que começou pela queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, foi considerado que “o marxismo-leninismo deixou de ser uma ferramenta de transformação da História para tornar-se uma espécie de religião secularizada, defendida em sua ortodoxia pelos sacerdotes das escolas do partido e cujos princípios eram ensinados como dogmas inquestionáveis; que, em suma, ensinava-se a não pensar”? (livro “Nos Bastidores do Socialismo”, de autoria de Frei Beto).

- veja esta frase altamente edificante: “Quero deixar claro que admito a pena de morte em uma única exceção: no decorrer da guerra de guerrilhas”.Quem a escreveu? Frei Beto, em seu livro “NosBastidores do Socialismo”, página 404.

- que em fins de agosto de 1995 - 16 anos após a anistia - o governo enviou ao Congresso Nacional um projeto, logo transformado em lei, dispondo sobre “o reconhecimento das pessoas desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979”?


Que esse projeto definiu que deveria ser criada uma Comissão Especial, composta por 7 membros, com a atribuição de proceder ao reconhecimento de pessoas que tivessem falecido de causas não naturais “em dependências policiais ou assemelhadas”?

Que da relação de pessoas desaparecidas que acompanhou o projeto constavam os nomes de 136 militantes da esquerda considerados desaparecidos políticos, que, por opção própria, pegaram em armas para instalar em nosso país uma República Democrática Popular semelhante àquelas que o povo, nas ruas do Leste Europeu, derrubou, nos anos de 1989 e 1990?

Que entre esses nomes, estavam os de 59 guerrilheiros desaparecidos no Araguaia, quando tentavam implantar o embrião do modelo chinês de “guerra popular prolongada”?

Que as famílias de todos esses guerrilheiros do Araguaia já foram indenizadas com quantias que variam de 100 mil a 150 mil reais?

Que, por conseguinte, à vista do que está escrito na Lei, para que essa indenização fosse concedida, a área de selva de cerca de 7 mil quilômetros quadrados em que a guerrilha se instalou, foi considerada uma “dependência policial ou assemelhada”?

Que duas senhoras, integrantes da Comissão, que representam as famílias dos desaparecidos, Iara Xavier Pereira e Suzana Kiniger (ou Suzana Lisboa) foram militantes da ALN e receberam treinamento militar em Cuba?

Que Iara Xavier Pereira participou de diversas “ações” armadas, conforme ela própria revela, na página 297, do livro “Mulheres que Foram à Luta Armada”, de autoria de Luiz Maklouf?

Que essas senhoras ou suas famílias foram indenizadas pela morte de 4 pessoas? Iuri Xavier Pereira, Alex de Paula Xavier Pereira e Arnaldo Cardoso Rocha (todos membros do Grupo Tático Armado da ALN, com treinamento militar em Cuba, mortos nas ruas de São Paulo em tiroteio com a polícia), irmãos e marido de Iara Xavier Pereira, que também recebeu treinamento militar em Cuba, e Luiz Eurico Tejera Lisboa (também treinado em Cuba), marido de Suzana Lisboa, que como ele também recebeu treinamento na paradisíaca ilha da liberdade? Que, no total, 600.000 mil reais, foi quanto os contribuintes pagaram a essas duas senhoras?

Que a mídia, a famosa mídia, que faz a cabeça das pessoas, jovens e adultos, nunca registrou esse pequeno trecho altamente edificante da História recente de nosso país?

Mas, há mais, muito mais. VOCÊ SABIA que o guerrilheiro do Araguaia, Rosalino Cruz Souza, conhecido na guerrilha como “Mundico”, incluído na relação de “desaparecidos políticos”, sabidamente “justiçado”, no Araguaia, pela também guerrilheira “Dina” (Dinalva Conceição Teixeira) - cujos familiares foram também indenizados - teve sua família indenizada? Não pelo Partido, que o mandou para lá, mas por nós, contribuintes?

VOCÊ SABIA que a família do coronel aviador Alfeu Alcântara Monteiro, morto em 2 de abril de 1964 - cuja esposa, desde sua morte, recebe pensão militar - foi também aquinhoada com os tais 150 mil reais, com o voto favorável do general que, na Comissão, representava as Forças Armadas? Que, depois, esse mesmo general, em entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”, buscando justificar seu voto, disse que no processo organizado pela Comissão constava que o coronel havia sido morto com “19 tiros pelas costas”? E, diz o general: “depois vim a saber que ele foi morto com um único tiro”.


Caso tivesse, antes de dar seu voto, consultado o Inquérito Policial Militar instaurado na época, para apurar o fato, teria constatado a versão real: dia 2 de abril de 1964, o brigadeiro Nelson Freire Lavanère Wanderley foi nomeado para receber o comando da então Quinta Zona Aérea, em Porto Alegre, do mais antigo oficial presente, que era o coronel Alfeu Alcântara Monteiro, reconhecidamente janguista. O coronel recusou-se a transmitir o comando e reagiu, atirando e ferindo o brigadeiro Wanderley, sendo morto com um tiro de pistola 45 pelo também coronel aviador Roberto Hipólito da Costa, que acompanhava o brigadeiro. Ou seja, o coronel Hipólito matou em legítima defesa de outrém, conforme concluiu o Inquérito Policial Militar, sendo absolvido pela Justiça Militar. Esse Inquérito acha-se arquivado no STM.

- que Carlos Marighela, morto nas ruas de São Paulo, delatado voluntária ou involuntariamente por seus companheiros do Convento dos Dominicanos, e Carlos Lamarca, morto no sertão da Bahia, tiveram seus familiares indenizados, embora a esposa de Carlos Lamarca já recebesse pensão militar? Ou seja, as ruas de São Paulo e o sertão baiano foram considerados, também, pela Comissão, “dependências policiais ou assemelhadas”.

Mas não terminou, eles querem mais, muito mais. VOCÊ SABIA que, após tudo isso, membros da Comissão passaram a reivindicar a promoção de Lamarca a general?

- que amplos setores da mídia e toda a esquerda vêm difundindo por todos esses anos a versão de que “a resistência armada à ditadura” no Brasil dos anos 60 e 70, foi uma resposta ao Ato Institucional nº 5, que “fechou” o regime?


- que isso não é verdade, pois o Ato Institucional nº 5 foi assinado em 13 de dezembro de 1968?


- que, antes disso, a esquerda armada já havia atirado uma bomba no Aeroporto dos Guararapes, em 25 de julho de 1966, matando um jornalista e um Almirante e ferindo um General?


- que já havia atirado um carro-bomba contra o Quartel-General do II Exército, em São Paulo, matando o soldado sentinela Mario Kosel Filho, em 26 de junho de 1968?


- que já havia assassinado, ao sair de casa, na frente de seus filhos, o capitão do Exército dos EUA Charles Rodney Chandler, tachado nos panfletos deixados sobre seu corpo, de “agente da CIA”?


- que um dos assassinos - um sargento expulso da Polícia Militar de São Paulo pela Revolução de 1964 - várias vezes entrevistado, vive hoje, tranqüilamente, em São José dos Campos, após ter sido anistiado pela ditadura militar fascista e reintegrado à PM, como reformado?

- que em 1968, antes, bem antes, do Ato Institucional nº 5, o major do Exército da Alemanha Edward Von Westernhagen, que cursava a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, foi morto na rua por um grupo do Comando de Libertação Nacional (COLINA), constituído por dois ex-sargentos (João Lucas Alves e Severino Viana Calou), um da Aeronáutica e outro da Polícia Militar do Rio de Janeiro, e um professor universitário (Amilcar Bayard), sendo o crime, na época, atribuído a marginais? Que João Lucas Alves residia, em Belo Horizonte, na mesma casa em que também residia a então militante do COLINA, Dilma Vana Roussef, que se escondia por trás dos codinomes de “Vanda”, “Estela”, “Luiza” e “Patrícia”?


Que ele foi morto por ter sido confundido com o capitão do Exército boliviano Gary Prado, que participou da caçada a Che Guevara, no ano anterior, em seu país, e que, por isso, deveria ser “justiçado”, que também cursava a Escola de Comando e Estado-Maior? (livros “A Esquerda Armada no Brasil”, e “Memórias do Esquecimento”, de Flávio Tavares).

- que era essa a tática utilizada pela esquerda armada para instalar no Brasil um pleonasmo (uma República Popular Democrática): matar, matar e matar?

- que a alucinada esquerda armada não matava apenas seus “inimigos”, mas também os amigos e companheiros?

Veja a relação dos companheiros assassinados, a título de “justiçamento”, sob a alegação de que sabiam demais, demonstravam desejo de pensar com suas próprias cabeças e que, por isso, representavam um perigo em potencial. Não que tenham traído, mas porque poderiam (futuro do pretérito) trair:


- Márcio Leite Toledo (ALN) em 23 de março de 1971;


- Carlos Alberto Maciel Cardoso (ALN) em 13 de novembro de 1971;


- Francisco Jacques Alvarenga (RAN-Resistência Armada Nacionalista) em 28 de junho de 1973;


- Salatiel Teixeira Rolins (PCBR) em 22 de julho de 1973;

- que o militante da Resistência Armada Nacionalista, Francisco Jacques Alvarenga, “justiçado” dentro do Colégio em que era professor, no Rio de Janeiro, por um Comando da ALN, teve seus passos previamente levantados por Maria do Amparo Almeida Araújo, também militante da ALN?


Que foi ela própria quem revelou esse detalhe no livro “Mulheres que Foram à Luta Armada”, de Luiz Maklouf ?


Que Maria do Amparo Almeida Araújo é atualmente a presidente do “Grupo Tortura Nunca Mais” de Pernambuco, entidade criada para denunciar as “torturas e assassinatos” da chamada “repressão”?

- Finalmente, leia este trecho, altamente significativo, considerando a identidade de seu autor: “No curso de Estado-Maior, em Cuba, esmiuço a história da revolução cubana e constato evidentes contradições entre o real e a versão divulgada pela América Latina afora (...) Muitas ilusões foram estimuladas em nossa juventude pelo mito do punhado de barbudos que, graças ao domínio das táticas guerrilheiras e à vontade inquebrantável de seus líderes, tomou o poder numa ilha localizada a 90 milhas de distância de Miami. Balelas, falsificações (...) O poder socialista instituiu a censura, impediu a livre circulação de idéias e impôs a versão oficial. Os textos encontrados sobre a revolução cubana são meros panfletos de propaganda ou relatos fatuais, carentes de honestidade e aprofundamento teórico (...) O Partido Comunista é o único permitido, e em seus postos importantes reinam os combatentes de Sierra Maestra ou gente de sua confiança, em detrimento dos quadros oriundos do movimento operário (...)


Os contatos com as organizações de luta armada (de toda a América Latina) são feitos através do S2 (Inteligência) ,conseqüência das deturpações do regime. A revolução na América Latina não seria uma questão política e sim, usando as palavras do caricato Totem, “de mandar bala”. Nos relacionamos com os agentes secretos, que tentam influenciar na escolha de nossos comandantes, fortalecem uns companheiros em detrimento de outros, isolam alguns para criar uma situação de dependência psicológica que facilite a aproximação, influência e recrutamento; alimentam melhor os que aderem à sua linha e fornecem informações da nossa Organização, concedem status que vão desde a localização e qualidade da moradia à presença em palanques nos atos oficiais; não respeitam nossas questões políticas e desconsideram nosso direito à autodeterminação”.


Totem, acima mencionado, é o general Arnaldo Uchoa, comandante do Exército em Havana, no início dos anos 70, fuzilado nos anos 80, sob a acusação de ser narcotraficante.

O que acima foi transcrito está nas páginas 178 a 181 do livro “Nas Trilhas da ALN”, de autoria de Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz (“Clemente”), um dos “comandantes” da Ação Libertadora Nacional, que recebeu treinamento militar em Cuba. “Clemente” foi autor de vários assaltos a bancos, estabelecimentos comerciais, assassinatos e “justiçamentos”, como o do seu próprio companheiro Márcio Leite Toledo e do presidente da Ultragaz em São Paulo, Henning Albert Boilesen.

Ao concluir o curso em Cuba, nos idos de 1973, “Clemente” desertou da luta armada e foi viver em Paris, somente regressando ao Brasil após ter sido um dos anistiados pelo presidente Figueiredo, derrubando outro mito até hoje difundido pelas esquerdas de todos os matizes: o de que a Anistia não foi Ampla, Geral e Irrestrita Hoje, vive no Rio de Janeiro. Dá aulas de violão para crianças e participa de eventos culturais organizados pelo Movimento dos Sem-Terra.


Carlos I. S. Azambuja - Fonte: http://www.alertatotal.net/2016/01/um-pouco-de-historia-nao-faz-mal-ninguem.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+AlertaTotal+%28Alerta+Total%29
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