sexta-feira, 30 de novembro de 2012

De Maquiavel para Joaquim Barbosa

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A mídia, tanto nacional como internacional, soube reconhecer o significado ímpar da posse do Ministro Joaquim Barbosa na chefia do Poder Judiciário brasileiro. O Brasil vai se notabilizando por fatos que, aos olhos da burguesia e dos saudosos monarquistas, pareciam impossíveis: um metalúrgico virou Presidente da República, um menino negro e pobre se transformou em Presidente do STF etc. Que conselhos Maquiavel daria para Joaquim Barbosa, agora na chefia do Poder Judiciário?

Desde logo Maquiavel diria para ele que é melhor “ir atrás da verdade efetiva do que das aparências” (Capítulo XV, do livro O Príncipe). De outro lado, ele diria que o julgamento de todo príncipe (de todo homem público, de todo juiz) é feito de acordo com algumas qualidades que lhe valem ou censura ou louvor. “Alguns o chamarão de liberal, outros de mesquinho; pródigo ou ganancioso; cruel ou piedoso; desleal ou fiel; efeminado ou pusilânime ou feroz e destemido; modesto ou soberbo; lascivo ou casto; íntegro ou astuto; inflexível ou brando; austero ou leviano; religioso ou ímpio”. Não tema incorrer na infâmia dos defeitos, se tal for indispensável para salvar o estado (o poder). Mas, muito cuidado!

Todo poder, sobretudo o institucional, gera inveja e ódio. Quem exerce o poder conquista muitas amizades (a posse festiva de Joaquim Barbosa deixou isso muito evidente), mas também muitas inimizades. Há três espécies de inimigos (sobretudo dos juízes): os pessoais, os funcionais e os institucionais.


Inimigos pessoais são os decorrentes do próprio relacionamento pessoal de cada juiz. Cada um tem sua maneira de ser. Há aqueles que se identificam com o tipo Carlos Ayres Britto (calmo, tranquilo, que levam o barco devagar) e há também os de pavio curto, conflitivos, aguerridos. Joaquim Barbosa, como todos sabemos, se enquadra nesse segundo grupo. Em virtude disso já angariou muitos inimigos ou antipatias dentro do próprio STF (Levandowsky, Marco Aurélio, Gilmar Mendes...).

Inimigos funcionais são todos os que ficam contrariados com as decisões e posicionamentos do juiz. A atual cúpula gerencial do PT, por exemplo, não está nada satisfeita com a autonomia e independência demonstradas por ele ao longo do processo mensalão. Na primeira oportunidade, vem a represália.

A terceira categoria de inimigos (muitos gratuitos) são os institucionais. Todos nós que já integramos alguma instituição (no meu caso: Ministério Público, Magistratura e Advocacia) sabemos bem disso. Quem se destaca dentro de qualquer instituição acaba constituindo uma ofensa para muitos colegas. O brilho de um ofusca o outro, ofende o invejoso. Não é que todos os demais colegas se comportem assim, não, é apenas uma parcela, mas bastante considerável.

Maquiavel aconselha que o príncipe deve abster-se de praticar tudo aquilo que o torne detestado ou desprezível (Capítulo XIX). Não invadir os bens alheios nem se apoderar das mulheres alheias são vedações elementares (Capítulo XIX). Mas há uma coisa dentro das instituições que Joaquim Barbosa vai vivenciar na própria carne: a fama. Muita gente não suporta a fama do outro, o seu destaque, o seu brilho. Cada louvação, sobretudo midiática, afunda mais ainda o ego do invejoso.

Quem vivenciou isso recentemente foi o juiz espanhol Baltazar Garçon. Por uma interceptação telefônica (de duvidosa ilegalidade) ele foi punido a 11 anos de afastamento do Judiciário. A instituição tinha ódio do seu destaque nacional e internacional, praticamente diário. Na primeira oportunidade, eliminaram-no (fulminando sua carreira).

Esse é o maior risco que corre Joaquim Barbosa: o risco do “impeachment”. E não é preciso fazer muita coisa não. Quanto maior a quantidade de inimigos conquistados e quanto mais diversificados os interesses contrariados (eliminação da Justiça Militar Estadual etc.), maior o risco. Por falar em interesses contrariados, não é difícil prever uma rota de colisão entre o que pensa Joaquim Barbosa (com suas teses includentes, defesa das minorias, ideologia político-social) e a mídia conservadora (Veja, Globo, Estadão etc.). Que a lua de mel de Joaquim Barbosa com essa mídia neoliberal dure bastante e que seu mandato seja exemplar e histórico. Mas, se alguma tempestade ocorrer, não foi por falta de previsão.


Luiz Flávio Gomes é jurista e professor fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001).

(Fonte: http://www.migalhas.com.br)
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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Área tributária ganha importância

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Segundo estudo da KPMG na América Latina, 100% dos líderes tributários e fiscais têm sido vistos como parceiros estratégicos do negócio.

Apesar de departamentos fiscais de empresas latino-americanas dedicarem mais horas a atividades de compliance (cumprimento das obrigações regulares de apurações dos diversos impostos) do que a atividades estratégicas, os líderes dessas áreas em países latinos consideram como prioridade uma maior interação com os altos executivos da empresa e eles têm assumido papeis como importantes parceiros nas decisões de negócios.

É o que aponta a pesquisa Future Focus: Tax and Transformation in Iberoamerica’s New Business Reality, realizada pela KPMG’s, com os primeiros resultados de um estudo internacional sobre o impacto das questões fiscais na nova realidade de negócios da América Latina.

A pesquisa, realizada na Argentina, Brasil, Chile e México, teve a participação de 200 líderes dos setores tributários de empresas, e mostrou que o percentual de entrevistados latino-americanos que têm uma estratégia fiscal conectada com a estratégia comercial aumentou de 91% em 2009 para 97% em 2012. No Brasil, esse índice corresponde a 100%, o que demonstra maior valorização do setor fiscal dentro das empresas.

Houve também notável crescimento no número de empresas que dizem que sua estratégia fiscal tem aprovação da diretoria da empresa (de 83% em 2009 para 91% em 2012). Para 87% dos entrevistados, a diretoria e/ou a liderança corporativa estão diretamente envolvidas na estratégia tributária – um aumento significativo desde 2009 (61%). No Brasil, está ligeiramente acima da média, com 88%.

Para Cecílio Schiguematu, sócio-líder de TAX da KPMG no Brasil, “trata-se de um passo fundamental que ajudará empresas a evitarem equívocos, reduzirem riscos, buscarem oportunidades e prosperarem na nova realidade de negócios”.

Brasil acima da média

Com total integração entre as estratégias fiscal e de negócios nas empresas brasileiras, 88% da diretoria das empresas consultadas mantém um envolvimento direto entre as áreas, investindo 88% em melhorias de tecnologia e 90% em controle de risco. Ainda, 64% dos entrevistados brasileiros disseram que farão mudanças na estrutura do departamento no futuro próximo, contra 40% da América Latina.

A pesquisa mostra ainda a importância da área de compliance (80%) e dos relatórios financeiros (67%), os quais devem ser o foco de seus departamentos fiscais nos próximos 12 meses.

Espera-se que o setor tributário gaste cerca de metade de seu tempo com atividades de compliance. Isso contrasta com apenas cerca de 30% do tempo dedicado ao planejamento tributário. Estima-se que atividades mais avançadas e de apoio aos negócios, como a melhoria no processo fiscal e a integração com outras áreas de negócios, consumam apenas 10% do tempo do departamento.

Sobre a Pesquisa

Desde 2006, subsidiárias da KPMG no mundo têm monitorado a evolução dos setores fiscais por meio de uma série de pesquisas comparativas com líderes fiscais no mundo todo.

10 características de um sistema tributário competitivo

A competição entre países para o investimento estrangeiro vai crescer. Por isso, um país pode ser capaz de atrair mais investimento estrangeiro e aumentar a receita com a presença de multinacionais e empresas estrangeiras por mais, a partir de um sistema tributário com as seguintes características:

1. Ampla base tributária
2. Competitivas taxas de imposto
3. Transparência
4. Neutralidade
5. Simplicidade
6. Estabilidade
7. Eficiência
8. Equilíbrio entre os diversos impostos
9. Patrimônio (horizontal e vertical)
10. O respeito pelo Estado de Direito

Noticias Fiscais

(Fonte: www.cavini.adv.br)
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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A gente sempre sabe.

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Não sei o que está acontecendo comigo, diz a paciente para o psiquiatra.

Ela sabe.

Não sei se gosto mesmo da minha namorada, diz um amigo para outro.

Ele sabe.

Não sei se quero continuar com a vida que tenho, pensamos em silêncio.

Sabemos, sim.

Sabemos tudo o que sentimos porque algo dentro de nós grita. Tentamos abafar este grito com conversas tolas, elucubrações  esoterismo, leituras dinâmicas, namoros virtuais, mas não importa o método que iremos utilizar para procurar uma verdade que se encaixe nos nossos planos: será infrutífero. A verdade já está dentro, a verdade se impõe, fala mais alto que nós, ela grita.


Sabemos se amamos ou não alguém, mesmo que esteja escrito que é um amor que não serve, que nos rejeita, um amor que não vai resultar em nada. Costumamos desviar este amor para outro amor, um amor aceitável, fácil, sereno.

Podemos dar todas as provas ao mundo de que não amamos uma pessoa e amamos outra, mas sabemos, lá dentro, quem é que está no controle.

A verdade grita. Provoca febres, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá de dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona. Mas a verdade é só uma: ninguém tem dúvida sobre si mesmo.

Podemos passar anos nos dedicando a um emprego sabendo que ele não nos trará recompensa emocional. Podemos conviver com uma pessoa mesmo sabendo que ela não merece confiança. Fazemos essas escolhas por serem as mais sensatas ou práticas, mas nem sempre elas estão de acordo com os gritos de dentro, aquelas vozes que dizem: vá por este caminho, se preferir, mas você nasceu para o caminho oposto. Até mesmo a felicidade, tão propagada, pode ser uma opção contrária ao que intimamente desejamos. Você cumpre o ritual todinho, faz tudo como o esperado, e é feliz, puxa, como é feliz. E o grito lá dentro: mas você não queria ser feliz, queria viver!

Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto.

Sabe.

Eu não sei por que sou assim.

Sabe.



(Martha Medeiros)
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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Definição de Avô - (Redação de uma menina de 8 anos)

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Um avô é um homem que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos outros.

Os avôs não têm nada para fazer, a não ser estarem ali.


Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam nas flores bonitas nem nas lagartas. Nunca dizem: Some daqui!, Vai dormir!, Agora não!, Vai pro quarto pensar!

Normalmente são gordos, mas mesmo assim conseguem abotoar os nossos sapatos.

Sabem sempre o que a gente quer. Só eles sabem como ninguém a comida que a gente quer comer.

Os avôs usam óculos e, às vezes, até conseguem tirar os dentes.

Os avôs não precisam ir ao cabeleireiro, pois são carecas ou estão sempre com os cabelos arrumadinhos.

Quando nos contam histórias nunca pulam partes e não se importam de contar a mesma história várias vezes.

Os avôs são as únicas pessoas grandes que sempre têm tempo para nós.

Não são tão fracos como dizem, apesar de morrerem mais vezes do que nós.

Todas as pessoas devem fazer o possível para ter um avô, ainda mais se não tiverem televisão.

Ana Paula


(Publicada no Jornal do Cartaxo, em Floripa - SC)
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O mar de banalidade

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Por que falamos tanto, se temos tão pouco a dizer?

A cena aconteceu dentro de um ônibus, durante um congestionamento daqueles que são frequentes em São Paulo. O rapaz ao meu lado sacou o celular e se pôs a conversar com a namorada. Era inevitável que eu ouvisse. Ele falou longamente sobre o trabalho, comentou sem pressa que era aniversário de um amigo dele, declarou repetidas vezes que ela – “amooorrr” – era a pessoa mais importante da vida dele.

Quando eu achei que a ligação iria acabar, ele se pôs a discutir, em detalhes minuciosos, tudo que os dois iriam fazer dali a poucas horas, ou talvez minutos, quando se encontrassem. Falou que queria comer pipoca, mas disse que preferia frango frito. Falou da mãe dela, da casa dela, da família dela. Previu o que ela iria dizer para ele e o que ele responderia para ela. Disse que a coisa que mais queria, depois do frango, era casar com ela. Juro! Falou, falou, falou até que eu me levantei, depois de mais de 45 minutos daquilo, e desci do ônibus lotado. Caminhei para casa por quase uma hora, feliz com o silêncio. Quando entrei em casa, segurei a minha mulher pelos ombros e disse, convicto até a medula: “Você agradeça todos os dias por estar comigo, e não com um chato carente que não consegue calar a boca.”

Podem me chamar de chato, insensível e ranheta, mas a conversa do rapaz no ônibus deixou claro, para mim, algo que anda pululando ao nosso redor de um modo exasperante: a banalidade do bem. Do “meu bem”. Talvez por influência das companhias telefônicas e de seus planos que permitem conversas ilimitadas, as pessoas perderam a noção. Falam superficialidades umas às outras o tempo inteiro. Têm os melhores sentimentos, mas nenhum limite e nenhum conteúdo. Sobretudo os casais.

Aquilo que os ingleses patentearam mundialmente como “small talk” – a conversinha boba sobre o tempo, que se tem com o vizinho no elevador ou com o estranho no trem de metrô – foi ampliada, turbinada e agigantada. Penetrou as relações mais íntimas. Os temas de conversa entre pessoas que se relacionam (amigos, namorados, colegas), passaram do cotidiano ao trivial e daí, rapidamente, despencaram para o banal mais rasteiro. As pessoas se viciaram na partilha incessante de irrelevâncias. Passam o tempo trocando bobagens que antes não se diziam. Há uma inflação de palavras e temo que por baixo dela haja escassez de compreensão.
Estou sendo muito chato? Talvez, mas me parece que as pessoas perderam o sentido do silêncio. Ele deveria dominar a nossa vida. Devido à nossa natureza física, do cérebro unitário e impartilhável que cada um de nós carrega, estamos fadados a ficar em nossa companhia o tempo inteiro. Isso é bom, estávamos acostumados, mas, de alguma forma, parece que perdemos o jeito. Agora temos de falar o tempo todo para espantar o convívio com o silêncio interior. 

Em vez de ficar quieto no ônibus, pensando, o rapaz puxa o telefone e chama a namorada – ainda que não tenha nada remotamente importante a dizer. Talvez ele pudesse ler, talvez pudesse escutar música, quem sabe descobrisse algo novo sobre a cidade e seus moradores observando a rua pela janela ou a diversidade humana no interior do ônibus. Mas não. Ele prefere falar, como todo mundo parece estar preferindo. Jovens e velhos, homens e mulheres, ricos e pobres. Somos uma sociedade de faladores compulsivos que – misteriosamente, mas nem tanto – não se entendem.

Como eu já disse, acho que parte importante da culpa por isso tudo é da tecnologia. O telefone celular e a internet – as redes sociais, que a gente agora carrega no bolso – parecem ter despertado uma monstruosa fraqueza humana. Somos socializadores compulsivos. Diante da possibilidade de falar, espiar a vida do outro, se exibir ou fofocar, não resistimos. Deve estar em nosso DNA, escrito nos genes da nossa constituição mais essencial. Há um vazio dentro de nós que só assim conseguimos preencher. É o medo de estar sós, isolados, longe do calor do grupo. Nós nos sentimos assim nas grandes cidades, e por isso falamos tanto, telefonamos tanto, twitamos tanto, lemos e atualizamos o Facebook o tempo todo: é a nossa forma de esticar a mão e tentar alcançar o outro. Pela palavra, tentamos acalmar o bicho assustado dentro de nós.
Apesar disso – ou por causa disso – o silêncio faz falta. Precisamos dele para ouvir os nossos pensamentos. Precisamos dele para pesar o valor das palavras, ou das músicas, ou dos filmes, ou da internet: cada uma dessas coisas vale mais ou menos que o silêncio precioso? Vale a pena rompê-lo neste momento para dizer o pouco que eu tenho a dizer? Essa pergunta, que parece esdrúxula, é fundamental ao convívio. Antes de passar uma hora ao telefone tentando suprir nossa insaciável carência, seria preciso se perguntar: vale a pena? Sim, por que há coisas a ganhar ficando quieto. 

A introspecção precede a compreensão, o entendimento das coisas. O fluxo incoerente de pensamento que nos habita ganha uma forma quando falamos, mas falar significa suprimir as outras formas de manifestação da mente. Enquanto o fluxo de pensamento está lá, em estado bruto, agitado e disforme, mas em silêncio, muita coisa se processa, de forma mais ou menos inconsciente. No silêncio encontramos respostas, soluções, inspirações, ideias. Mesmo sem perceber. Na troca incessante de palavras achamos apenas redundância.
Isso não é diferente para os casais. No interior dos relacionamentos tecemos um ninho aconchegante de palavras e hábitos. As mesmas conversas, os mesmos temas, as mesmas brincadeiras e carinhos. Isso tudo é bom, mas tem limites. Dentro de um casal ainda precisamos de espaço, tempo e silêncio. As conversas, além de indicarem aconchego emocional e cumplicidade, deveriam ter significado. Eu sei, eu pensei, eu descobri – então eu divido. Eu sinto, eu percebo, eu temo – então eu falo. Nos intervalos entre essas coisas, o silêncio. Cheio de amor, cheio de desejo, cheio de carinho. Partilhado e curtido. Silêncio oposto da palavra inútil e vazia, da palavra banal.
Ou então nós todos pegamos os celulares e falamos até explodir, que nem cigarras.



(Ivan Martins - Fonte: h
ttp://revistaepoca.globo.com/Sociedade/ivan-martins/noticia/2012/11/o-mar-de-banalidade.html)
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domingo, 25 de novembro de 2012

Amar dá saudade – mas estar sozinho não é doença

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Sua alma gelou. Convite de casamento era tudo o que ela não queria receber, já há algum tempo.

O grupo de amigos era grande. Mas, um a um, todos foram se rendendo às flechas do Cupido. Entre os poucos que restaram, ela.

Sentia uma certa vergonha. Se sentia inadequada. Não que fosse. Mas sentia. Era forte, ia além dela. Podia listar suas qualidades, seu salário, suas competências, suas viagens. Mas, quando via a noiva entrando feliz na igreja, a alma encolhia. Emocionada, chorava por ambas. Um choro de felicidade pela amiga e de interrogação por ela mesma. Até quando seguiria sem par? Será que escolhia demais? Já tinha escutado essa frase e se defendido tantas vezes que já não sabia mais o que era ou não verdade.

Chegava nos encontros do grupo. Todos acompanhados. E ela, avulsa. Se sentia o próprio mico preto. A carta sem par do jogo. Destinada sempre à solidão? Será?

Era bonita, simpática, engraçada. Superparceira. Pessoas bem “esquisitas” haviam passado sua frente na fila sem a menor dificuldade. E ela, nada.

Mas, não aparecia ninguém? Nenhum paquera? Aparecer, aparecia. Ela ia às baladas, frequentava todo o roteiro da pegação. E pegava. Mas jamais gostava de quem gostava dela. Até namorava por um tempo, depois ia se desencantando. Uns namoros relâmpagos, sem grandes roteiros cinematográficos. E rápidos.

Amigos tentavam ajudar. Amigos podem ser cruéis quando querem ajudar. Os dela eram. Veio sozinha? Cadê o fulano? Mesmo os que não interrogavam com o olhar mostravam tudo. Então, ela começava uma busca aflita por um acompanhante, a cada convite que chegava. Para fugir da artilharia pesada.

Companhia é uma coisa legal. Qualquer que seja: namorado, amigo, parente. Mas é preciso que seja boa. Isso é o que vai fazer toda a diferença.

Mas o que determina a felicidade, não é o casamento. Marido não é troféu. Não se trata de um campeonato.

Ser sozinho não é doença e nem defeito. Muitas vezes é escolha, opção. A opção de estar livre até que apareça alguém que realmente valha a pena. A escolha de não querer abrir mão de quesitos que julga essenciais no outro. Principalmente, a decisão de que não precisa de um par único e específico para seguir em frente e ser feliz.

Isto é ser solteiro.

Conheço muitos e bem satisfeitos com suas vidas. Falta um amor? Bem, na vida de todo mundo sempre falta alguma coisa. Posso fazer, em poucos segundos, uma lista enorme das minhas faltas. Isso me faz infeliz? Só se eu permitir. Porque, também em poucos segundos, posso traçar outra, com o dobro do tamanho, de tudo o que eu tenho para agradecer.

A capacidade de se divertir é individual. Poder rir do que deu errado, das besteiras que fez. Isso é tudo. Estar rodeado de pessoas assim, é muito bom. Precisa estar em um romance para isso? Não. Muitos estão acompanhados e, convenhamos, não têm se divertido muito, não.

Vamos parar de uma vez por todas com essa história de cara metade. Todos nascemos com a cara completa. Mais ou menos bonitinha. Mas completa. Metade da laranja? Gente, laranja que já me chega pela metade, vamos combinar, eu não chupo. O legal da laranja é ela chegar redonda, bonita, ir sendo descascada, num processo. Bonito é ser inteiro, sempre. Nada de metades. Metades nos tornam capengas, necessitados de bengala. A ideia de que alguém não caminha sem outro é pura balela.

Tem que ser assim: olha, eu estou aqui, inteira. Se você quiser fazer parte da minha vida, será muito bem-vindo. Poderemos nos trançar em muitos sentidos, sem cobranças infantis, sem estar junto só para fugir da angústia.

Às vezes confundimos tudo. Porque amar dá saudade. Só isso.



(Mônica El Bayeh. - Fonte: http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2012/11/25/ser-sozinho-nao-e-doenca-mas-amar-da-saudade)

Lambendo o chão dos amores perdidos

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Tomava tranquilamente a minha cerveja com comida de homem de verdade, na Adega da Velha, em Botafogo, Rio de Janeiro…, quando, do nada, surge o amigo D., Tom Waits no fone de ouvido, arrastando a sua antologia de ressacas e pendências morais.

Antes fosse apenas esse fardo. O velho companheiro de imprensa, que sempre se gabou de sua romântica canalhice com as mulheres, estava lambendo o chão sujo dos amores perdidos. Um vira-lata sentimental, um cão vadio chutado por uma mulher-abismo.

É, amigo, para o cafa descer a essa condição é porque, realmente, as mulheres estão conquistando o monopólio do pé-na-bunda. Até um legítimo canalha é capaz de morrer de amor nos trópicos.

Definitivamente.

Tem até respaldo estatístico minha tese de botequim:

De 2008 para cá, os sismógrafos conjugais do IBGE já mostraram que as fêmeas são responsáveis por 71,7% das separações não consensuais –situação em que um pombinho quer cair fora e o outro senta na margem do rio Piedra e chora.

Donde revisito meu velho mantra: em matéria de fim de relacionamento, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e virgula; jamais um ponto final.

Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar…”

Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto borrado da caneta-tinteiro do amor. Fato, amigo absolutista.
Às vezes o ponto final vem com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente.

Sem reticências…

Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.

O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!! Canalha. Vagagundo. Cachorro.

O macho pode até fugir para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no Camel sem filtro da covardia e do desamor.

Mulher se acaba, mas diz na lata, não trabalha com metáforas nem cartão de crédito. Nesse sentido, não divide, paga para ver, à vista.

Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.

O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.

Nem no Crato…nem em Estocolmo. Nem no Beco da Facada, no Recife.

Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem uma quebradeira monstruosa.

Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.

O mais frio, o mais “cool” dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.

O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.

O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente.

Agora, com licença, preciso cuidar do camarada D., arrasadíssimo. Seu Francisco, mais uma aqui pro amigo. O xará, garçom-proprietário, entende do que se passa em um coração de um pobre homem.




(Xico Sá - Fonte: http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/2012/11/24/lambendo-o-chao-dos-amores-perdidos)
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Pátria Madrasta Vil

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Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez...

Contraditórios? Então aí está! O novo nome do nosso país!


Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL. Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade. O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.


Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil, está mais para madrasta vil.


A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira.' Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.


E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. 
Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa.

A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição!


É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!


A mudança que nada muda é só mais uma contradição.


Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí.


O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.


Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura.


As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... 
Mas estão elas preparadas para isso?

Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.


Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?


Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos.


Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas.
Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?



(Clarice Zeitel Vianna Silva - Redação sobre "Como vencer a pobreza" - Premiada pela UNESCO)
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sábado, 24 de novembro de 2012

NEGLIGÊNCIA COM O IMPRESCINDÍVEL

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A Constituição de 88 estabeleceu competência para instituir e cobrar tributos aos três entes federados: União, Estados e Municípios. Com um pacto federativo e a garantia das autonomias política e administrativa, todos imaginavam que as três esferas teriam condições de promover o desenvolvimento socioeconômico de forma equilibrada.

Com o passar dos anos, a crescente superioridade política da União revelou que o equilíbrio de forças almejado pelo legislador constituinte não passava de mera utopia. Através de ações legislativas patrocinadas pelo governo central, o sistema tributário começou a ser enxertado por contribuições que destinam recursos exclusivamente aos cofres da União. A carga tributária, que já era elevada, tornou-se descomunal, massacrando os contribuintes. Além disso, beneficiou um ente em detrimento dos demais, pois os tributos denominados contribuições não são compartilhados e, por essa razão, resolve, somente, os problemas de caixa do governo instalado em Brasília.
Como se não bastassem as distorções do sistema tributário nacional, inumeráveis responsabilidades foram impostas aos Estados e Municípios nos últimos anos. Aumentaram-se os custos, mas as arrecadações não acompanharam. Caso diferente do que ocorre com a União que, a cada ano, apresenta números crescentes relativos ao dinheiro recolhido pelo órgão competente.

Diante dessas deformidades, governadores e prefeitos tornaram-se pedintes obrigados a peregrinar em Brasília com o intuito de abiscoitar algumas migalhas do Orçamento Geral da União (OGU). Sem esses preciosíssimos repasses, não há como realizar algo que mude de forma efetiva a infraestrutura dos territórios sob suas jurisdições. Logo, comprova-se que o existente no Brasil é um sistema hierárquico, contaminado por uma política arcaica e clientelista.

Destarte, a decantada autonomia administrativa, que ornamenta o texto constitucional, não passa de mais uma sopa de letras sem sentido prático. Como dizer que é autônomo um ente federado que para construir um equipamento público, depende de recursos do outro? Isso não é autonomia, isso é sujeição.

Quando analisamos os chamados tributos compartilhados, a exemplo do IR – Imposto de Renda e do IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados, de competência da União, observamos que os mesmos têm relevância fundamental para o governo federal e também para a municipalidade. Entretanto, no caso dos Municípios, eles, aos poucos, estão se tornando uma espécie de pesadelo. Como constituem o FPM – Fundo de Participação dos Municípios-, maior receita da maioria das cidades brasileiras, e está sob a égide do governo federal, todas as vezes que o governante da República isenta ou reduz alíquotas por qualquer motivo, o planejamento da administração municipal é afetado gravemente.

Nos últimos tempos, sob o argumento de que precisava aquecer a economia e assegurar empregos para os trabalhadores da indústria automobilística, o governo federal reduziu alíquotas do IPI concernente à produção de automóveis. Com isso, diminuíram-se os valores que integram o FPM. Ou seja, para favorecer a indústria no sistema econômico através de um método cômodo, o governo subtraiu as receitas municipais e posou como salvador da pátria para trabalhadores e industriais do sul e sudeste. Mas, e a quebradeira das cidades do norte e do nordeste, quem é o responsável?

É por essas e outras que eu cobro diuturnamente a realização de uma reforma tributária. Não podemos continuar com um sistema que se baseia em um modelo de federalismo desvirtuado. Nele, somente a União tem direitos e os Estados e Municípios, apenas deveres. O governo federal já amealha 64% de tudo que é pago pelo meio de tributos. Um verdadeiro contrassenso.


Infelizmente, neste país, há negligência com o que é imprescindível. As implicações são evidentes como as carências em diversos setores essenciais. Um país rico, que precisa de água, energia, saneamento básico nos locais desprovidos por falta de dinheiro, consome bilhões para construir estádios de futebol, trens balas e outros itens que não poderiam estar no bojo de determinados projetos, sem que antes fosse oportunizado o mínimo de dignidade a todos os brasileiros.

É preciso consertar a federação que está deformada.





(Mendonça Prado - Fonte: http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/85990/Neglig%C3%AAncia-com-o-imprescind%C3%ADvel.htm)
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A idade e a mudança

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Mês passado participei de um evento sobre as mulheres no mundo contemporâneo. Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades. 


E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi. Foi um momento inesquecível... A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito.

Aí fiquei pensando: 
 Pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho? Onde é que nós estamos?

Onde, não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'.. Estão todos em busca da reversão do tempo.

Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas.

Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas, mesmo em idade avançada. A fonte da juventude chama-se 'mudança'.

De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora. A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas.

Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.

Mudança, o que vem a ser tal coisa?

Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho.

Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.

Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos.

Rejuvenesceu.

Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol.

Rejuvenesceu.

Toda mudança cobra um alto preço emocional.

Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza. Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face.

Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.

Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho. Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.

Olhe-se no espelho... 



(Lya Luft)
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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Almas gêmeas?

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Ele é sua cara-metade ou seu extremo oposto? 




Encontros, desencontros, reencontros… São tantas as histórias de amor! E, quando nos apaixonamos, sai de baixo, não há quem desfaça o poderoso "encanto". A certa altura do campeonato (literalmente! Quem disse que amor e paixão não são um jogo excitante que mistura a arte da sedução e a guerra da convivência?), juramos de pé juntos que ali está ela, a nossa metade, a nossa alma gêmea, a peça que faltava no quebra-cabeça da nossa vida. Mas, não é todo mundo que acredita nessa história de metades iguais da laranja – para alguns, pura fantasia, fruto de devaneios românticos. Há quem prefira acreditar nos opostos que se atraem e sair em busca daquele que seja o perfeito oposto, resultado da combinação de diferenças na medida certa para temperar a relação, sem fazê-la desmoronar. Seja como for, é claro que todo mundo entra num relacionamento querendo que ele dê certo e fazendo o possível e o impossível para o querer virar poder. 


Entretanto, quem garante, afinal, o "felizes para sempre": almas gêmeas ou opostos que se atraem? Se os dois são muito agressivos e temperamentais, essa é uma semelhança que pode prejudicar. Se um é muito apático e o outro muito agitado, essa diferença pode gerar cobrança e estressar o casal.

No extremo oposto de quem acredita em metades iguais destinadas a procurarem uma pela outra e formarem um só corpo, um só objetivo – o de compartilhar um amor incondicional – estão as pessoas que preferem "água e vinho" à laranja.


Muitas mulheres e homens precisam de alguém para se sentir completos e não há nada de errado com isso, acredite. O erro, segundo a psicóloga e terapeuta sexual Márcia Aragão, é viver em função da busca pela alma gêmea ou do par perfeito acreditando que apenas uma única pessoa pode cumprir esse papel. "Devemos estar abertas para relacionamentos sem muita fantasia e sem expectativas do tipo: é o homem da minha vida. O que é idealizado tende, com o tempo, a nos deixar frustradas, pois o que imaginamos acaba sendo melhor", explica Márcia Aragão. Segundo ela, o mais sensato é refletir sobre as qualidades do parceiro e verificar quais os sentimentos que você tem por ele, como é conviver com ele, se existe pelo menos algumas afinidades e se o relacionamento sexual é prazeroso. Isso tudo porque, de acordo com a psicóloga, a relação é construída diariamente pelo casal, passando por todos esses pontos.E se é que existe alguma certeza em assuntos do coração, é essa: todo casal apresenta semelhanças e diferenças que podem ser positivas ou negativas para a relação. "Se os dois são muito agressivos e temperamentais, essa é uma semelhança que pode prejudicar. Se um é muito apático e o outro muito agitado, essa diferença pode gerar cobrança e estressar o casal", explica Márcia Aragão. O fato é que, segundo ela, em qualquer relacionamento existirá, em alguns momentos, a sensação da sintonia perfeita, mas, em outros, essa sintonia terá que ser trabalhada. E aí vale pesar na balança o que está atrapalhando a relação – as diferenças ou semelhanças.

Mas, se você ainda não encontrou alguém que te faça feliz, não desanime. "Para aparecer uma graça na sua vida, sua vida já tem que ter graça", ensina a astróloga Márcia Mattos, autora do livro Síndrome de Plutão e dos outros planetas exteriores (Editora Ágora), em parceria com a astróloga Ciça Bueno. Segundo ela, existem fases na vida da pessoa em que ela está propensa a encontrar um grande amor, mas a pessoa tem que estar aberta e disposta a encontrá-lo – e não simplesmente esperar que ele caia de pára-quedas na frente dela.

"Quando falamos em grande amor, isso significa alguém compatível com você, mas não igual", ressalta a astróloga. Ela explica que a astrologia acredita nas diferenças. "O oposto é complementar", afirma. Segundo ela, existem três tipos de diferenças: as complementares, as estimulantes e as que criam desavenças. "Câncer e capricórnio, por exemplo, são complementares, porque o primeiro precisa de segurança e o segundo é auto-suficiente, podendo oferecer essa segurança. Já aries e gêmeos, por exemplo, são estimulantes, enquanto escorpião e aquário não se bicam, porque um é muito possessivo e o outro gosta de liberdade", explica a astróloga.

O que não vale, portanto, é querer que o grande amor da sua vida apareça já de mala e cuia na sua porta. "Ninguém vem pronto, as pessoas se moldam, juntas numa relação", afirma Márcia Mattos. E assim vão aprendendo a lidar com as semelhanças e diferenças. Por isso, o importante é saber o quanto cada um é capaz de doar, de si, para a relação e de receber. E viva o amor!


(http://www.bolsademulher.com/amor/almas-gemeas)
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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Arremesso

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Porque despertar em mim esse animal alucinado. 

Animal de olhos de fogo. 
Selvagem e louco.
Esse animal acuado que perde sangue no jogo.
Essa fera que te ataca e te resiste.
Que por pouco não te mata.
Ah, essa desenfreada que me existe e me devora.
Porque despertá-la agora já que há tanto vinha adormecida.
Porque assustá-la assim em meio ao sono.
Porque arrancá-la bruscamente de seu sonho e transportá-la de repente para a vida.
Porque despertar em mim essa cavala doida que vai te galopar de corpo inteiro.
Enlouquecida que vai se ferir em meio ao trote.
Porque atiçar esse bicho que nessa luta vai morrer primeiro.
Que vai morrer de fome, de grito, de garganta enxuta, de tanta entrega.
Dilacerado de tanta força bruta.
Porque despertar essa besta que me habita que se torna cruel e desumana quando aflita.
Porque gritar com ela no silêncio de um sono branco em que já vinha há tanto.
Porque provocá-la em meio ao espanto quando ainda não era o seu tempo.





(Bruna Lombardi)

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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Não entra mosca

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Geralmente o ex-presidente Lula posiciona-se melhor calado. Não por acaso preferiu o silêncio em momentos realmente cruciais quando no exercício do poder de fato e de direito.

Não comentou de imediato nenhum dos escândalos ocorridos em seu governo, bem como se manteve silente durante longo tempo por ocasião do caos aéreo iniciado em 2006.

Lula é loquaz, mas se contém quando interessa e os companheiros compreendem mesmo ao custo de sapos indigestos.

Sob a perspectiva estratégica é que deve ser entendida a discrição do ex-presidente diante da restrição de liberdade imposta pelo Supremo Tribunal Federal a José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares.

Quando os adversários cobram dele "firmeza de caráter" na prestação de solidariedade aos condenados fazem apenas jogo de cena. Seriam os primeiros a criticá-lo se resolvesse oferecer de público o ombro amigo.


Diriam que afronta a Justiça, que desrespeita as instituições, que se associa a malfeitorias e assim por diante.

É verdade que na Presidência Lula por diversas vezes fez declarações memoráveis em prol de gente envolvida em escândalos, assim como defendeu abrandamento de instrumentos de fiscalização ao setor público e ignorou a Constituição.

Ocorre, contudo, que a hora não é propícia ao falatório. Não mudará as sentenças, não alterará a adversa circunstância e ainda pode prejudicar a virada da página de que o PT tanto necessita para seguir adiante com a vida.


Se Lula e Dilma são populares o Supremo Tribunal Federal e seu futuro presidente Joaquim Barbosa também passaram a ser. Afora as regulares manifestações de desagrado, não seria oportuno ao PT dedicar-se ao mau combate investindo com agressividade contra a Corte.

O esforço do partido nesse momento é o de dissociar-se das sentenças, mostrar ao público que a condenação dos petistas não pode ser estendida ao PT.

Daí Lula recorrer mais uma vez à sua desassombrada incoerência para responder "não vi" à indagação sobre a sessão em que se deu a definição das penas.

Não viu tanto quanto nada ouviria sobre o julgamento - "tenho mais o que fazer", disse no dia 3 de agosto - a respeito do qual trataria em reuniões de avaliação sobre a perspectiva de condenações e possibilidades de penas mais brandas e, ao menos uma vez, levaria ao palanque da eleição municipal.

Pouco antes do primeiro turno, em 27 de setembro, disse que o processo do mensalão "não é vergonha" porque "no nosso governo as pessoas são julgadas e tudo é apurado". Esta foi uma das duas vezes em que se manifestou publicamente sobre o assunto.

A segunda ocorreu em entrevista ao jornal argentino La Nación, publicada em 18 de outubro, para considerar-se devidamente "julgado pelas urnas". Pouco antes, em 10 de outubro, classificara de "hipocrisia" a condenação do núcleo político em conversas com correligionários.

Referências sempre oblíquas de modo a não se comprometer nem corroborar a promessa que fizera ao deixar a Presidência de dedicar cada um de seus dias a provar que o mensalão não existiu.

Há outras formas de Lula ser solidário sem fazer barulho. Mal comparando, é como disse Delúbio Soares no auge do prestígio para derrubar proposta de o PT abrir as contas de campanha na internet: "Transparência assim é burrice".

No caso presente, a estridência também.

Vencido. José Dirceu anuncia que não se calará diante da "injusta sentença" a ele imposta. O inconformismo, no entanto, não basta.

Quando deixou a Casa Civil em junho de 2006 anunciou que reassumiria o mandato de deputado para comandar a defesa e o ataque do governo no Congresso Nacional.

Não conseguiu concluir o discurso de posse, bombardeado por apartes de seus pares que seis meses depois lhe cassariam o mandato.



(Dora Kramer - O Estado de S.Paulo - http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,nao-entra-mosca-,960059,0.htm)

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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A CADEIA, OS CANALHAS, OS LADRÕES E OS CARAS-DE-PAU

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A fixação das penas de José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno marcam o início do fim de um dos episódios mais tristonhos e funestos da política nacional: o Mensalão petista.

A tristeza fica por conta do sentimento de traição e de desespero deixado por esses canalhas corruptos em milhares de eleitores que esperavam do PT – e de seus integrantes – pelo menos um pouco da tão alardeada ética política da qual se diziam felizes e exclusivos proprietários.

Se já não fosse o bastante destruir as ilusões de uma geração inteira, que ansiava para a “esquerda ética” mudar a forma de fazer política em nosso país e destruir de uma vez por todas o poder hegemônico das oligarquias familiares que sempre dominaram o cenário político, o PT se transformou em um abrigo de ladrões e usou a boa fé de milhões de pessoas para unir-se a essas mesmas oligarquias e roubar o Tesouro Nacional da forma mais aviltante possível. Ao mesmo tempo, lançou a política nacional de volta ao século XIX e ressuscitou o pernicioso “toma lá, dá cá” aplicando-o de forma mais intensa e muito mais prejudicial do que no passado, elevando-o a “estado da arte”.

Não satisfeito com isso, deixou de fazer as reformas que importavam e eram extremamente necessárias para vender ilusões de riqueza pasteurizada e bancadas com esmolas do erário público, com o único objetivo de criar uma massa de escravos que lhe permitisse se perpetuar no poder.

Hoje, deixamos de ser autossuficientes em petróleo e voltamos a importar cada vez mais do precioso (e caro) líquido, sustentamos republiquetas de segunda que sugam nossos recursos tão necessários para manter os “parceiros” petistas no poder indefinidamente em seus países, nossa indústria encolhe a cada dia e a infraestrutura do país cai aos pedaços e ameaça nos jogar em um caos que impedirá nosso desenvolvimento sustentável no futuro.

O país vive uma crise ética, moral e institucional nunca antes vista; as instituições republicanas, a liberdade de imprensa e de expressão estão sob constante ameaça e são atacadas a cada descoberta e divulgação de uma nova falcatrua petista (como o escândalo dos “jornais fantasmas”).

A gota d’água são as inúmeras “notas oficiais” expedidas pelo líder da quadrilha petista, o criminoso condenado José Dirceu, exortando a militância a se insurgir contra a mais alta corte da nação e alardeando ter sido condenado sem provas por um “tribunal de exceção”. Segundo ele, em sua última nota, sua condenação “agrava a infâmia e a ignomínia de todo esse processo”.

Ora, caro chefe de quadrilha José Dirceu, infâmia é sua postura arrogante de achar que os fins justificam os meios e que seus crimes deveriam ficar impunes porque o senhor estaria “acima da lei” por ter supostamente lutado contra a ditadura, quando na verdade sabemos que o senhor lutava para implantar outra ditadura aqui nos moldes experimentados em Cuba (onde, aliás, o senhor aprendeu todas as “artes” que pratica).

Ignomínia é ser obrigado a aturar a sua cara de pau e a de seus cúmplices quadrilheiros (além da direção de seu partido e demais membros) que se recusam a ver a sua condenação – e a dos canalhas que se uniram ao senhor – como uma depuração mais do que necessária da política nacional e se unem para falar barbaridades e imbecilidades sobre a corte máxima de nossa nação. É ser assaltado pelo temor de viver em um Estado que protege as elites partidárias de acordo com as conveniências políticas e as coloca acima das leis em detrimento do cidadão de bem, da ética e das boas práticas republicanas.

Ladrões e canalhas como o senhor e seus cúmplices devem apodrecer na cadeia e pagar duramente pela morte de milhares de vítimas inocentes, causadas pelos desvios das verbas tão necessárias ao país e aos brasileiros pobres, que foram parar em suas contas bancárias no estrangeiro ou nos cofres de seu partido.

Infâmia e ignomínia é que, ainda hoje no Brasil, muitos se iludem com a falácia e o discurso bem plantado dos marqueteiros e de políticos como o senhor, com muito pouco a mostrar além de um enorme desserviço a nação e ao povo brasileiro.

E você, o que pensa disso?




(Fonte: http://www.visaopanoramica.com/2012/11/13/a-cadeia-os-canalhas-os-ladres-e-os-caras-de-pau/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+VisaoPanoramica+%28Vis%C3%A3o+Panor%C3%A2mica%29)
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terça-feira, 13 de novembro de 2012

A fantástica fábrica de Nobel

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Oito cientistas premiados estudaram na mesma escola pública do Bronx, em Nova York; instituição também coleciona Pulitzers.

De um prédio suntuoso do meio do Bronx, distrito nova-iorquino marcado pela coexistência nem sempre pacífica de imigrantes de etnias diferentes, saíram algumas das mentes mais notáveis da ciência no mundo. Foi neste lugar, na escola pública Bronx Science High School, que foram formados não um nem dois, mas oito cientistas que acabaram recebendo um prêmio Nobel. O mais recente deles acabou de ser anunciado: Robert Lefkowitz recebeu o Nobel de Química deste ano por mapear uma importante família de receptores e mostrar como as células do corpo reagem a estímulos.

“Temos orgulho de oito dos nossos alunos terem sido premiados com um Nobel”, diz Jean Donahue, diretor assistente pela área de ciência, ao Porvir. A lista de premiados começou a ser construída em 1972, quando Leon Cooper ganhou o Nobel de física. Os dois seguintes, Sheldon Glashow e Steven Weinberg, colegas de escola, receberam juntos também o Nobel de Física em 1979. E assim foi. Em 1988, 1993, 2004 e 2005, todos de física. Neste ano, Lefkowitz foi o primeiro dos ex-alunos da instituição a ser laureado por suas pesquisas em química. Todos eles frequentaram os bancos e laboratórios da escola entre as décadas de 40 e 60. Se a Bronx Science High School fosse um país, estaria em 13o lugar, junto da Bélgica, em número de laureados. Apenas a título de comparação, o Brasil até hoje nunca recebeu um Nobel.
E qual seria o segredo para uma receita de tanto sucesso? A essa pergunta, Donahue responde com um singelo “tentamos incutir o método científico nos alunos”. Inaugurada em 1938 já com a preocupação de ser forte no ensino de ciências, a escola tem como lema “Perguntar, Descobrir e Criar”. “Nossa filosofia é centrada em ensinar habilidades de pensamento crítico. Nós queremos inspirar os alunos a fazer perguntas sobre o mundo em volta deles e guiá-los a encontrar as respostas”, afirma o diretor. Assim, diz ele, mesmo que um estudante não tenha afinidade com ciência, ele levará para a vida competências úteis que servirão em qualquer carreira.

Na prática, esse “incutir o método científico” quer dizer que um aluno interessado por ciência terá a sua disposição uma gama de disciplinas obrigatórias e eletivas um tanto rara em escolas públicas de ensino médio. Eles podem fazer aulas avançadas de genética, química analítica e microbiologia. A escola estimula seus estudantes também a encontrarem um assunto que queiram estudar a fundo e, definido o tema, os ajuda a encontrar um cientista da academia que aceite dar apoio ao trabalho dos jovens. “Muitos professores generosos têm concordado em receber nossos alunos e permitiram que eles trabalhassem em seus laboratórios”, disse Donahue.
E para quem não gosta tanto assim de ciências, há opções de eletivas em outras áreas do conhecimento – talvez esse dado justifique o fato da escola também colecionar vencedores do Pulitzer, maior prêmio norte-americano de jornalismo – seis estudantes e sete prêmios. Só em línguas estrangeiras, os alunos têm a opção de estudar chinês, francês, grego, japonês, espanhol, italiano e até latim. Na área de humanas, é possível fazer estudos aprofundados em governo e política, geografia humana e Holocausto. “Muitos de nossos alunos têm interesse particular em ciência e matemática, mas muitos não têm”, afirma o professor.

Para entrar na escola, é preciso fazer um exame de admissão e ser morador de Nova York. A procura costuma ser grande, uma vez que, além do histórico de Nobel e Pulitzer, a escola está entre as mais bem avaliadas de Nova York e seus egressos costumam ir bem nos vestibulares das universidades norte-americanas. E isso, para uma região que vive desafios sociais, é sempre uma boa notícia. 


“Muitos dos nossos alunos vêm de famílias de imigrantes. Muitos são realmente pobres, mas a maior parte vem de famílias com rendimentos modernos”, disse o diretor.


(Patricia Gomes - Fonte: http://porvir.org/porfazer/fantastica-fabrica-de-nobel/20121030)
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Imprensa mundial repercute pena de Dirceu, 'braço-direito de Lula'

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Em seu site, a rede de TV BBC dá destaque para o fato de que Dirceu provavelmente terá de cumprir parte da pena na cadeia - Foto: BBC/Reprodução

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que fixou a pena do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu em 10 anos e 10 meses de prisão repercutiu na imprensa mundial nesta segunda-feira. Em seu site, a rede de TV britânica BBC destaca que a condenação de membros do alto escalão do governo "é vista por muitos no Brasil como prova de que os políticos não são mais imunes à punição".

Referindo-se a Dirceu como "principal assessor" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a BBC cita que a pena imposta pelo Supremo implica que Dirceu provavelmente tenha que passar algum tempo na prisão, em vez de cumprir toda a sentença em regime semiaberto. "José Dirceu foi considerado culpado por organizar um esquema ilegal que usou recursos públicos para pagar a parlamentares aliados por seu apoio político", diz a reportagem.

Em sua versão digital, o jornal americano Washington Post afirmou que Dirceu era o "todo-poderoso chefe de gabinete" do governo Lula, mas foi condenado por "orquestrar um esquema de suborno baseado em 'dinheiro-por-votos', para angariar apoio às propostas do presidente no Congresso". O texto, assinado pela agência de notícias Associated Press, aponta que o julgamento é visto como marco da luta por um governo menos corrupto no País.

Já o canal americano de TV Fox News publicou, em seu site, notícia da agência EFE que destaca o fato de o "braço-direito de Lula" ter sido sentenciado à prisão. O texto também cita José Genoino, "co-fundador do PT que participou da resistência armada à ditadura militar, que recebeu pena de 6 anos e 11 meses de prisão".

Condenação
Ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu foi condenado nesta segunda-feira, pelo STF, a 10 anos e 10 meses de prisão, além de 260 dias-multa, que totalizam R$ 676 mil. A punição, que considera os delitos de formação de quadrilha e corrupção de parlamentares no início do governo Lula, ainda pode ser alterada até o fim do julgamento.

Com exceção da pena aplicada a José Genoino, que ficou abaixo dos 8 anos, os demais réus terão de cumprir suas punições em regime fechado. No entanto, levando em conta a progressão do regime, José Dirceu deverá ficar preso por 1 ano e 9 meses, o equivalente a um sexto da pena total. Delúbio Soares, por sua vez, deverá cumprir pelo menos 1 ano e 5 meses em regime fechado.

O mensalão do PT

Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de 2012. A primeira decisão tomada pelos ministros foi anular o processo contra o ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de utilizar a corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão. Durante três anos, o Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por isso, o defensor público que representou o réu pediu a nulidade por cerceamento de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de Santa Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.

(Fonte: http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/julgamento-do-mensalao/noticias/0,,OI6295242-EI20760,00-Imprensa+mundial+repercute+pena+de+Dirceu+bracodireito+de+Lula.html)
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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O bode de plantão

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Não falha nunca. Ao final de cada eleição, a reforma eleitoral volta à baila como essencial, inadiável. Passam-se alguns meses e ninguém mais fala disso. No máximo se faz uma maquiagem aqui, outra acolá, nas regras para o pleito seguinte, e pronto.

Em 2010, mal as urnas deram a vitória a Dilma Rousseff, Lula anunciou que se dedicaria de corpo e alma para provar que o mensalão era uma farsa e aprovar a reforma política, a mãe de todas. Só se dedicou à primeira empreitada. E sem sucesso. De reforma política nada mais falou.

Desta vez, coube a José Dirceu reavivar o tema. Réu condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, o ex-ministro saiu na defesa do financiamento público das campanhas e da inclusão da regulamentação da mídia na pauta do PT de 2013.

Assim como Lula, é pouco provável que Dirceu esteja interessado na reforma política. Quer mesmo a regulamentação da mídia, nome pomposo para controle e, consequentemente, limitações à imprensa que tanto incomoda o PT, a si e aos seus. Sem meias palavras, censura.

Aliás, chega a ser cômico um partido que considera caixa 2 crime menor, a ponto de admiti-lo diante da Corte Suprema, propor financiamento público de campanhas. E ainda fazê-lo em nome da moralização do pleito, sob o argumento de que as doações privadas são portas para a corrupção.

Em suma, candidamente, o PT culpa o sistema e não o ladrão. É como dizer: só roubei o carro do vizinho porque ele deixou a garagem aberta.

Mas partido algum tem interesse real na reforma política. Todos fingem dar importância a ela, mas tergiversam na hora do vamos ver. Na Câmara dos Deputados e no Senado, há anos o assunto passa de urgência urgentíssima para gaveta engavetadíssima.

O Parlamento deixa crescer vácuos nas regras eleitorais, obriga a Justiça a tampá-los emergencialmente em cada pleito, e depois reclama que a Justiça está ocupando os espaços legislativos.

Enquanto isso, questões como voto facultativo - já praticado e não legalizado, como se viu na ausência de 30% dos eleitores nas eleições municipais -, sistema eleitoral, voto distrital puro ou misto, regulamentação das lacunas da Ficha Limpa e outras tantas ficam no limbo. E a quem isso apoquenta? A ninguém.

Conclui-se, então, que a reforma política tem relevância menor do que a ela se atribui. Tornou-se um bom encosto para enfeitar discursos. Um bode de plantão para se tirar da sala.

Foi o que Lula fez. É o que Dirceu repete agora.




(Mary Zaidan - Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/11/11/o-bode-de-plantao-por-mary-zaidan-474404.asp)

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A Ética Petista

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Será que devemos condenar todo o Partido dos Trabalhadores pelos erros de alguns de seus membros? Não resta dúvida de que muita gente aderiu ao PT com a melhor das intenções. Mas confesso não entender quem ainda insiste no erro.

A bandeira da ética não foi rasgada hoje pelo PT. No fundo, o partido nunca teve muito apreço por ela. O que ele fazia era monopolizar o discurso da ética. Ao se colocar como seu único bastião, o PT enganou muitas pessoas ingênuas; mas seu objetivo sempre foi o poder pelo poder.

O discurso petista é sensacionalista e demagógico. Ele usa a velha tática de dividir para conquistar. Negros contra brancos, mulheres contra homens, pobres contra ricos, empregados contra empresários: o PT sempre soube chacoalhar as árvores para colher os frutos; o que nunca soube fazer foi plantar boas sementes.

Enquanto oposição, o PT sempre adotou postura destrutiva, contra os interesses nacionais. Foi contra Tancredo, não quis aprovar a Constituinte, lutou contra o Plano Real que derrotou a inflação, fez campanha contra as privatizações que modernizaram a economia, sempre de olho apenas no poder.

A estratégia de marketing do PT em 2002 mostrava a bandeira brasileira sendo comida por ratos, e o texto dizia: “Ou a gente acaba com eles ou eles acabam com o Brasil”. A realidade se mostrou diferente. O próprio PT era uma ratazana disfarçada de caça-roedores.

O caso envolvendo Waldomiro Diniz já era um alerta e tanto. Afinal, tratava-se de um homem da confiança de José Dirceu, que foi pego em gravação cobrando propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira. O esquema contava com a participação dos bingos, e o PT fez de tudo para sepultar a “CPI dos Bingos” na época, como fez agora no caso da Delta, a principal construtora do Programa de Aceleração do Crescimento do governo Dilma (que não cresce).

A ligação do partido com o jogo do bicho vinha de longa data. O ex-governador Olívio Dutra esteve sob a mira de investigações por denúncias de ligações com o jogo ilegal. Uma fita gravada pelo ex-tesoureiro do partido, Jairo Carneiro, relatava o financiamento da campanha petista pelos contraventores.

Um dos casos mais escabrosos diz respeito ao assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. O irmão da vítima, que teve de sair do país para se proteger, garante ter ouvido de Gilberto Carvalho a afirmação de que ele próprio entregava dinheiro das propinas a José Dirceu. Várias testemunhas do caso também morreram. A família nunca aceitou a versão de crime comum.

Existem outros escândalos, mas o leitor já entendeu o ponto: o PT jamais abraçou a ética de verdade. Da mesma forma que a própria democracia nunca foi vista com muita simpatia pelo partido. Tanto que ele sempre flertou com regimes autoritários, como a ditadura cubana, até hoje reverenciada por muitos, e o modelo socialista de Chávez.

Forçando um pouco a barra, podemos engolir a tese de que milhares de membros do partido ignoravam o que se passava por baixo dos panos. Não sabiam dos detalhes sórdidos, ainda que divulgados pela imprensa. A alienação permitia a manutenção da ilusão.

Mas como usar a ignorância como escusa agora, depois que o STF condenou parte da cúpula do PT por corrupção e formação de quadrilha?

Os “delinquentes”, termo usado pelo decano do STF, tentaram dar um golpe em nossa democracia. E não estamos falando de peixe pequeno, mas sim dos mais graúdos dentro do PT.

Para adicionar insulto à injúria, qual a reação dos lideres do partido, incluindo o maior deles, o ex-presidente Lula? Revolta contra os culpados que esgarçaram totalmente a bandeira ética do PT? Nada disso! O partido decide passar a mão na cabeça dos culpados e atacar o próprio STF, que tem a maioria dos ministros apontada pelo próprio PT, assim como a imprensa livre do país. Eles adorariam que o Brasil fosse Cuba.

A melhor defesa que um petista tem hoje é a de que seu partido é “apenas” tão ruim quanto os demais. Isso, por si só, já seria patético para quem sempre tentou monopolizar as virtudes. Mas há um detalhe: é mentira. O PT é muito pior! Justamente por se colocar acima de todos, ele sempre adotou a máxima de que seus fins “nobres” justificam os mais nefastos meios. A reação ao julgamento do STF comprova que o PT em nada mudou.

Com isso em mente, será que quem permanece filiado ao PT, de certa forma, não é cúmplice de uma quadrilha? É possível ter vergonha na cara e permanecer no partido? Alguns podem considerar isso muito radical. Mas não seria mais radical continuar petista depois de tudo que o PT aprontou?



(Fonte: http://www.visaopanoramica.com/2012/11/11/direto-do-clube-militar-a-tica-petista/#ixzz2C2GQfkOh)

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O nosso amor

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Livro do meu amor, do teu amor.

Livro do nosso amor, do nosso peito...
Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,
Como se fossem pétalas de flor.

Olha que eu outro já não sei compor
Mais santamente triste, mais perfeito.
Não esfolhes os lírios com que é feito
Que outros não tenho em meu jardim de dor!

Livro de mais ninguém! Só meu! Só teu!
Num sorriso tu dizes e digo eu:
Versos só nossos mas que lindos sois!

Ah! meu Amor! Mas quanta, quanta gente
Dirá, fechando o livro docemente:
"Versos só nossos, só de nós os dois!..."




(Florbela Espanca - Livro de Soror Saudade, 1923)

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