terça-feira, 30 de novembro de 2010

O romance em tempos de mulheres-alfa

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The International Herald Tribune
Sarah Jessica Parker, atriz que estrela Sex And The City


Ao tentarem se igualar ou ultrapassar os homens na educação e no mercado de trabalho, as mulheres têm invertido papéis tradicionais de gênero



Cresce o número de mulheres bem-sucedidas na casa dos 30 anos que têm dificuldade de encontrar um parceiro.

Lembra de Sex and the City, quando Miranda vai em busca de encontros-relâmpago? Ela desperdiça três oportunidades ao revelar que é uma advogada corporativa. Na quarta chance, diz que é comissária de bordo e sai com um médico.

O que torna o episódio marcante não é apenas o fato de Miranda mentir sobre seu sucesso, mas que seu parceiro também minta: descobre-se que ele trabalhava numa loja de sapatos.

É o poder feminino matando o romance?

A atração sexual do século 21, ao que parece, ainda se alimenta de estereótipos do século 20. Contudo, ao tentarem se igualar ou ultrapassar os homens na educação e no mercado de trabalho, as mulheres têm invertido papéis tradicionais de gênero, o que provoca consequências profundas para a dinâmica dos relacionamentos.

Com isso, cresce o número de mulheres bem-sucedidas na casa dos 30 anos que têm dificuldade de encontrar um parceiro, como as personagens de Sex and the City e os romances de Bridget Jones.

Perfis 

Existem mulheres-alfa que acabam com homens-alfa, mas, em seguida, decidem colocar a carreira em segundo plano quando chegam os bebês. Mas existe também um terceiro grupo: um pequeno número de mulheres que ganham mais que seus parceiros, dando origem a uma variedade de contorcionismos de comportamento que visam manter a aparência dos papéis tradicionais de gênero intacta.

Anne-Laure Kiechel é uma banqueira de investimentos em Paris que ganha mais de cinco vezes o salário do namorado, um consultor de comunicação. Ela controla as finanças do casal e paga grandes despesas, como férias.

Mas, em público, é ele quem insiste em puxar o cartão de crédito para evitar, como ele diz, que pareça "um gigolô".
"Isso me faz rir", disse Kiechel. "Mas se lhe agrada, tudo bem." (Não muito tempo atrás, ele pediu a ela para reservar hotéis em seu nome porque não gosta de ser tratado como Mister Kiechel quando chega; futuras reservas serão feitas no nome dos dois, disse ela.).

Timothy Eustis, que foi professor em Nova York e é um orgulhoso pai que fica em casa e trabalha como consultor ocasional de vinhos, se mudou para a França com a mulher, Sarah, quando ela recebeu uma oferta de emprego da marca francesa de lingerie Etam. Também não é um problema que ela sustente a casa e seu salário alimente a conta conjunta. Mas ambos mantêm o que ele chama de "essas pequenas tradições" para manter a chama do romance acesa.

"Faço um esforço para abrir a porta, quase sempre dirijo o carro e quando chega a hora da conta, eu pago", disse ele. "Sarah intencionalmente, eu acho, me deixa fazer essas coisas porque acha que isso beneficia o relacionamento."

Problemas

Alguns homens têm questões mais fundamentais. Uma gerente italiana de 38 anos reclamou que seu namorado sugeriu que ela mudasse de emprego porque não se sentia mais capaz de "seduzi-la" quando o salário dela ultrapassou o dele. Uma consultora de gestão francesa disse que seu marido, um professor, deixou de ir às festas com ela porque sentia-se inadequado cada vez que alguém perguntava o que ele fazia. Uma banqueira alemã disse que uma razão para seu ex-marido trocá-la por uma fisioterapeuta foi "porque ela teria mais tempo para ele".

"É incrível como até mesmo muitos homens liberais acabam enfrentando dificuldades sexuais e emocionais por estar ao lado de mulheres mais obviamente bem-sucedidas", disse Sasha Havlicek, executiva de 35 anos, chefe de um grupo de pesquisadores em Londres. Uma amiga recorreu a um ritual fingindo desamparo. O objetivo era que seu parceiro recuperasse seu senso de masculinidade. "O ego masculino pode ser mais frágil que o feminino."

Anke Domscheit-Berg, da Microsoft na Alemanha, que tem histórias em seu passado de pretensos namorados que fugiram depois de ver "diretora" (de comunicação) em seu cartão de visitas, põe as coisas dessa forma: "O sucesso não é sexy".

Sites de encontro parecem sugerir que mulheres altamente educadas têm mais dificuldades em encontrar parceiros que mulheres com empregos tradicionalmente femininos. Um portal de relacionamento de elite da match.com na Alemanha, que tentava arranjar encontros entre homens e mulheres altamente qualificados, foi abandonado e se tornou mais genérico, disse Gesine Haag, que lançou o site e agora administra sua própria agência de marketing na internet.
"Homens não gostam de mulheres bem-sucedidas, homens querem ser admirados", disse Gesine. "É importante para eles que a mulher esteja cheia de energia à noite e não use seu BlackBerry na cama."

O psicanalista Bernard Prieur afirma que homens que ganham menos que suas parceiras lutam contra duas inseguranças: "Eles se sentem vulneráveis social e pessoalmente. Socialmente, vão contra milênios de crenças e estereótipos que o vêem como arrimo da família. E o sucesso da parceira muitas vezes lhe dá um sentimento de fracasso pessoal", disse Prieur, na edição de novembro da revista francesa Marie Claire.

Soluções 

Então, mulheres ambiciosas estão condenadas a uma vida de solteira? Ou as coisas estão mudando?

Kiechel diz que seu namorado incentiva sua carreira e se gaba aos amigos sobre como ela é inteligente e trabalhadora. Haag e Domscheit-Berg ganham mais que seus maridos e dizem que eles realmente gostam de ver a reação do garçom quando dizem que sua mulher vai pagar a conta. Domscheit-Berg, que também atua na gestão da European Women's Development International Network, tem três dicas para mulheres que ganham bem: deixe o carro elegante da empresa em casa no primeiro encontro; procure seu companheiro para toda a vida quando estiver na faixa dos 20 anos, no lugar dos 30, antes de ter muito sucesso. E vá atrás de homens que tiram o sustento de outras fontes, como acadêmicos e artistas.

"Quando mais diferente sua atividade, melhor", disse ela. "Isso faz que uma comparação imediata seja mais difícil." 

De fato, em Sex and the City, Miranda, a advogada, encontra a felicidade com Steve, um garçom que vira o papai que cuida da casa e não se importa nem um pouco com o sucesso. 

(http://veja.abril.com.br/noticia/economia/o-romance-em-tempos-de-mulheres-alfa)

Lula diz que conteúdo vazado por WikiLeaks é insignificante

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Documentos divulgados pelo WikiLeaks apontam corrupção e intrigas no governo Lula


Telegramas da diplomacia dos EUA apontam corrupção nos oito anos do governo brasileiro e intrigas entre autoridades do país

 
Documentos divulgados pelo WikiLeaks apontam corrupção e intrigas no governo Lula (DPA/AFP).
 
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva minimizou, nesta terça-feira, a divulgação de telegramas da diplomacia americana pelo site WikiLeaks, que apontam corrupção no governo brasileiro. "As coisas que vi são insignificantes e não merecem ser levadas a sério. 

Na verdade não sou obrigado a acreditar num telegrama do embaixador americano", disse Lula, em entrevista realizada depois de visitar as obras da usina hidrelétrica de Estreito, no Maranhão.
Em um telegrama secreto revelado pela organização WikiLeaks, o embaixador americano em Brasília, Clifford Sobel, teria dito que o presidente Lula concluirá seus oito anos de governo em uma gestão marcada pela corrupção entre seus "mais próximos aliados", com uma "praga" de compra de votos no PT e sem ter dado uma resposta ao crime no Brasil.

Jobim





Lula minimizou também a informação de que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, segundo a organização, teria dito ao embaixador que o ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, odeia os Estados Unidos. "Eu tenho certeza do comportamento do Jobim e tenho certeza do comportamento do Samuel. Eles são amigos e um não falaria mal do outro", afirmou Lula.

O Ministério da Defesa já havia divulgado uma nota, nesta terça, informando que Jobim ligou para Guimarães para negar as afirmações atribuídas a ele no telegrama. O ministro da Defesa esclareceu que conversou sobre o colega com o embaixador, mas negou a afirmação do relatório e disse que o tratou com respeito. O ministro classificou ainda Guimarães como “um nacionalista, um homem que ama profundamente o Brasil”.

O caso

Os telegramas sobre o Brasil estão entre os 250.000 documentos que envolvem troca de mensagens entre embaixadas e outros canais diplomáticos americanos aos quais o site WikiLeaks teve acesso e que começou a vazar no domingo.  "A principal preocupação popular - crime e segurança pública - não melhorou durante sua administração de Lula", dizia o telegrama que circulou entre a embaixada americana em Brasília e o Departamento de Estado norte-americano.

O relatório cita também outros escândalos do atual governo, como crises políticas, compra de votos e tráfico de influência que “se transformaram em pragas para elementos do PT”.

Outras dados

Informações do WikiLeaks divulgadas, na última segunda-feira, já haviam revelado dados constrangedores sobre o Brasil. Entre eles, a informação de que autoridades do país prenderam "vários indivíduos engajados em supostas atividades de financiamento do terrorismo no país", mas basearam sua detenção em acusações diferentes para "não chamar a atenção da mídia e dos altos representantes governamentais".

Os documentos secretos comprovam ainda a preocupação dos EUA e da comunidade internacional sobre a relação entre o Brasil e o Irã.

Os dois países assinaram, junto com a Turquia, um acordo para que o a República Islâmica trocasse urânio pouco enriquecido por combustível para reatores de pesquisa. O pacto foi rejeitado pela comunidade internacional e, pouco depois, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou um novo pacote de sanções contra Teerã. O Brasil e a Turquia votaram contra. 

O mais recente vazamento do WikiLeaks revela o que a diplomacia americana pensa sobre vários países e líderes mundiais, colocando os EUA numa situação constrangedora.

(http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/lula-diz-que-conteudo-vazado-por-wikileaks-e-insignificante)

Haja CPMF !!! - Câmara aprova 90 cargos sem concurso para a Presidência

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Projeto vai aumentar os gastos do gabinete em 7,6 milhões de reais

Em contraste com a pregação de responsabilidade fiscal anunciada hoje pela nova equipe econômica, a presidente eleita Dilma Rousseff ganhou um reforço na estrutura da Presidência da República com a aprovação na Câmara de mais 90 cargos para serem preenchidos sem concurso público. Depois de passar por duas comissões, o projeto será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça, para depois seguir ao Senado, sem a necessidade de ser votado pelo plenário da Casa. Os cargos serão efetivamente criados após sanção do presidente da República.

Herdeira de uma estrutura fortalecida nestes quase oito anos de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma terá à disposição mais funcionários com gastos anuais estimados em R$ 7,6 milhões. Além desse projeto, outros onze aprovados hoje pela Câmara preveem a criação de mais 1.321 cargos e funções comissionadas com um impacto nas contas públicas estimado em R$ 267,2 milhões até 2012.


No projeto enviado pelo Executivo, em 2008, os cargos são destinados ao Gabinete Pessoal do Presidente da República, à Casa Civil, às secretarias de Relações Institucionais, de Comunicação Social, Geral, de Assuntos Estratégicos, ao Gabinete de Segurança Institucional e ao Conselho Nacional de Segurança Alimentar, órgãos vinculados à estrutura organizacional da Presidência da República.


Parte dos cargos, justifica o projeto, é reservado ao "reforço na estrutura da Casa Civil, com o objetivo básico de otimizar as ações de acompanhamento e coordenação da execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)". Apesar dos cargos, a presidente eleita deve transferir parte das atribuições da Casa Civil para a pasta do Planejamento.


Outros cargos deverão ser usados pela Secretaria de Relações Institucionais nas "atividades desenvolvidas pelo órgão na construção de governabilidade e de governança estratégica que promovam os ambientes social e político necessários ao enfrentamento dos problemas nacionais e ao cumprimento dos compromissos assumidos na agenda de coalizão".


(Veja - Com Agência Estado - http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/camara-aprova-90-cargos-sem-concurso-para-a-presidencia)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Agora é pra valer: PT declara guerra à imprensa livre

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Já havia um monte de gente tentando embarcar na Dilma Tchutchuca da Democracia? É mesmo? Pois a “resolução política” do Diretório Nacional do PT deixou claras as prioridades. 


Alguns tolinhos dirão que uma coisa é o partido, e outra, o governo. O auto-engano é um direito. Releiam o texto. Para o PT, são quatro os objetivos estratégicos do novo governo:

- erradicar a pobreza absoluta;


- reagir à crise internacional que hoje assume a feição do conflito cambial;


- fazer a reforma política;


- democratizar os meios de comunicação.


“Democratizar”, em petês, significa “controlar” em português.
 


Voltem ao documento e reparem que a questão da “mídia”, como eles chamam, foi a que ocupou mais tempo do redator. E o partido deixa claro que não se trata, sei lá, de uma questão jurídica ou outra que estariam por ser resolvidas. 

Não! Os petistas querem um “debate qualificado acerca do conservadorismo que se incrustou em setores da sociedade e dos meios de comunicação”.

“Incrustar”, nesse sentido, quer dizer “alojar-se”, “esconder-se”, “acoitar-se”, como se esses supostos conservadores fossem, sei lá eu, bandidos, uma gente má, que precisa, para recorrer a um verbo da predileção de Lula, ser “extirpada”. 


Não se enganem: a natureza do lobo continua a ser a mesma. Não vai mudar. Mas atenção! O PT quer preservar a liberdade de expressão, tá? Seguindo os passos daquele “companheiro” iraniano dos petistas (ver post sobre Irã), todos devem ser livres. Isso só depende “do que querem dizer”… Ainda voltarei a este assunto na madrugada. 

Uma coisa é certa: eles vão tentar botar pra quebrar.

O documento também tem um lado cômico, quando identifica o PT como “partido de esquerda e socialista”. Essas palavras, obviamente, não valem pelo seu valor histórico. 


Modernamente, querem dizer apenas que o PT se considera monopolista das tais “lutas populares” e que, de fato, conserva o mesmo horror à democracia que marca a história das esquerdas — de qualquer esquerda. Nesse particular, ele é a expressão de uma tradição. E só nisso. Ou como explicar que uma das figuras de proa do partido seja o “socialista” José Dirceu, cuja profissão hoje em dia é “consultor de empresa privada”?

É preciso saber ler: a resolução política do PT é uma declaração de guerra à imprensa livre. E vai se dar em várias frentes: 


1) na legal, tentando aterrorizar as empresas de radiodifusão por intermédio das concessões públicas;  

2) na política, tentando patrulhar o pensamento divergente;  

3) na econômica, tentando asfixiar as fontes de financiamento do jornalismo independente e financiando regiamente os áulicos.

Quem topa fazer uma aposta?


PS - Só os tolos imaginam que, num momento como esse, tal resolução tenha sido tornada pública sem o aval de Dilma a cada linha.


 

(Reinaldo Azevedo - Veja)
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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Seu pendrive tem blutufe?

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Haroldo tirou o papel do bolso, conferiu a anotação e perguntou à balconista:
- Moça, vocês têm pen drive?
- Temos, sim.
- O que é pen drive? Pode me esclarecer? Meu filho me pediu para comprar um.
- Bom, pen drive é um aparelho em que o senhor salva tudo o que tem no computador.
- Ah, como um disquete...
- Não. No pen drive o senhor pode salvar textos, imagens e filmes.
O disquete, que nem existe mais, só salva texto.
- Ah, tá bom. Vou querer.
- Quantos gigas?
- Hein?
- De quantos gigas o senhor quer o seu pen drive?
- O que é giga?
- É o tamanho do pen.
- Ah, tá. Eu queria um pequeno, que dê para levar no bolso sem fazer muito volume.
- Todos são pequenos, senhor. O tamanho, aí, é a quantidade de coisas que ele pode arquivar.
- Ah, tá. E quantos tamanhos têm?
Dois, quatro, oito, dezesseis gigas...
- Hmmmm, meu filho não falou quantos gigas queria.
- Neste caso, o melhor é levar o maior.
- Sim, eu acho que sim. Quanto custa?
- Bem, o preço varia conforme o tamanho. A sua entrada é USB?
- Como?
- É que para acoplar o pen no computador, tem que ter uma entrada compatível.
- USB não é a potência do ar condicionado?
- Não, aquilo é BTU.
- Ah! É isso mesmo. Confundi as iniciais. Bom, sei lá se a minha entrada é USB.
- USB é assim ó: com dentinhos que se encaixam nos buraquinhos do computador.
O outro tipo é este, o P2, mais tradicional, o senhor só tem que enfiar o pino no buraco redondo.
- He he he! O seu computador é novo ou velho? Se for novo é USB, se for velho é P2.
- Acho que o meu tem uns dois anos. O anterior ainda era com disquete. Lembra do disquete?
Quadradinho, preto, fácil de carregar, quase não tinha peso.
O meu primeiro computador funcionava com aqueles disquetes do tipo bolacha, grandões e quadrados. Era bem mais simples, não acha?
- Os de hoje nem têm mais entrada para disquete. Ou é CD ou pen drive.
- Que coisa! Bem, não sei o que fazer. Acho melhor perguntar ao meu filho.
- Quem sabe o senhor liga pra ele?
- Bem que eu gostaria, mas meu celular é novo, tem tanta coisa nele que ainda não aprendi a discar.
- Deixa eu ver. Poxa, um Smarthphone! Este é bom mesmo! Tem Bluetooth, woofle, brufle, trifle, banda larga, teclado touchpad, câmera fotográfica, filmadora, radio AM/FM, TV, dá pra mandar e receber e-mail, torpedo direcional, micro-ondas e conexão wireless.
- Micro-ondas? Dá para cozinhar nele?
- Não senhor. Assim o senhor me faz rir. É que ele funciona no sub-padrão, por isso é muito mais rápido.
- E Bluetooth? Estou emocionado. Não entendo como os celulares anteriores não possuíam Bluetooth.
- O senhor sabe para que serve?
- É claro que não.
- É para um celular comunicar com outro, sem fio.
- Que maravilha! Essa é uma grande novidade! Mas os celulares já não se comunicam com os outros sem usar fio? Nunca precisei fio para ligar para outro celular.
Fio em celular, que eu saiba, é apenas para carregar a bateria...
- Não, já vi que o senhor não entende nada, mesmo.
Com o Bluetooth o senhor passa os dados do seu celular para outro, sem usar fio.
Lista de telefones, por exemplo.
- Ah, e antes precisava fio?
- Não, tinha que trocar o chip.
- Hein? Ah, sim, o chip. E hoje não precisa mais chip...
- Precisa, sim, mas o Bluetooth é bem melhor.
- Legal esse negócio do chip. O meu celular tem chip?
- Momentinho... Deixa eu ver... Sim, tem chip.
- E faço o quê, com o chip?
- Se o senhor quiser trocar de operadora, portabilidade, o senhor sabe.
- Sei, sim, portabilidade, não é?, claro que sei. Não ia saber uma coisa dessas, tão simples?
Imagino, então que para ligar tudo isso, no meu celular, depois de fazer um curso de dois meses, eu só preciso clicar nuns duzentos botões...
- Nããão! É tudo muito simples, o senhor logo apreende. Quer ligar para o seu filho?
Anote aqui o número dele. Isso. Agora é só teclar, um momentinho, e apertar no botão verde... pronto, está chamando.
Haroldo segura o celular com a ponta dos dedos, temendo ser levado pelos ares, para um outro planeta:
- Oi filhão, é o papai. Sim. Me diz, filho, o seu pen drive é de quantos... Como é mesmo o nome?
Ah, obrigado, quantos gigas? Quatro gigas está bom? Ótimo. E tem outra coisa, o que era mesmo? Nossa conexão é USB? É? Que loucura. Então tá, filho, papai está comprando o teu pen drive. De noite eu levo para casa.
- Que idade tem seu filho?
- Vai fazer dez em março.
- Que gracinha...
- É isso moça, vou levar um de quatro gigas, com conexão USB.
- Certo, senhor. Quer para presente?
Mais tarde, no escritório, examinou o pen drive, um minúsculo objeto, menor do que um isqueiro, capaz de gravar filmes? Onde iremos parar? Olha, com receio, para o celular sobre a mesa.
"Máquina infernal", pensa.
 Tudo o que ele quer é um telefone, para discar e receber chamadas. E tem, nas mãos, um equipamento sofisticado, tão complexo que ninguém que não seja especialista ou tenha a infelicidade de ter mais de quarenta, saberá compreender.
Em casa, ele entrega o pen drive ao filho e pede para ver como funciona.
O garoto insere o aparelho e na tela abre-se uma janela. Em seguida, com o mouse, abre uma página da internet, em inglês. Seleciona umas palavras e um 'havy metal' infernal invade o quarto e os ouvidos de Haroldo.
Um outro clique e, quando a música termina, o garoto diz:
- Pronto, pai, baixei a música. Agora eu levo o pen drive para qualquer lugar e onde tiver uma entrada USB eu posso ouvir a música. No meu celular, por exemplo.
- Teu celular tem entrada USB?
- É lógico. O teu também tem.
- É? Quer dizer que eu posso gravar músicas num pen drive e ouvir pelo celular?
- Se o senhor não quiser baixar direto da internet...
Naquela noite, antes de dormir, deu um beijo em Clarinha e disse:
- Sabe que eu tenho Bluetooth?
- Como é que é?
- Bluetooth. Não vai me dizer que não sabe o que é?
- Não enche, Haroldo, deixa eu dormir.
- Meu bem, lembra como era boa a vida, quando telefone era telefone, gravador era gravador,
toca-discos tocava discos e a gente só tinha que apertar um botão, para as coisas funcionarem?
- Claro que lembro, Haroldo. Hoje é bem melhor, né?
Várias coisas numa só, até Bluetooth você tem.
- E conexão USB também.
- Que ótimo, Haroldo, meus parabéns.
- Clarinha, com tanta tecnologia a gente envelhece cada vez mais rápido.
Fico doente de pensar em quanta coisa existe, por aí, que nunca vou usar.
- Ué? Por quê?
- Porque eu recém tinha aprendido a usar computador e celular e tudo o que sei já está superado.
- Por falar nisso temos que trocar nossa televisão.
- Ué? A nossa estragou?
- Não. Mas a nossa não tem HD, tecla SAP, slowmotion e reset.
- Tudo isso?
- Tudo. Boa noite, Haroldo, vai dormir.


 (Autor desconhecido)

sábado, 20 de novembro de 2010

Gatinha aos 40...

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Em busca do melhor 'ista'...
Vale a pena????


Visita de rotina aos médicos.
Todo ano a mesma peregrinação. Mastologista, ginecologista, oftalmologista, dentista...
Mas um dia,
resolvi incluir um "ISTA" novo na minha odisséia....
   Um DERMATOLOGISTA...
Já era hora de procurar uns creminhos mágicos para tentar retardar ao máximo as marcas da inevitável entrada nos ENTA.
Para ser sincera e nem um pouco modesta, entrei gloriosa nesta seita, com direito a uma festa memorável, que durou até as 10 horas da manhã do dia seguinte.
Festa com música ao vivo, Los Años Dorados, na melhor boite da cidade, todos os amigos, fotografias... tudo maravilhoso. Na verdade, sentia-me espetacular. Tudo certo. Ninguém podia cantar para mim a ridí­cula frase da Calcanhoto
'nada ficou no lugar....'
Mas não sei o que deu no espelho lá de casa, que resolveu, do dia para a noite, tomar ares de conto de fadas. Aliás, de bruxas. E mostrar coisinhas que nunca haviam aparecido (ou eu não havia notado?). Pontinhos azuis nos tornozelos, pintinhas negras no colo, nos braços, bolinhas vermelhas na bunda... olheiras mais profundas...
Como assim???
Assim... Sem avisar nem nada. De repente, o idiota resolveu mostrar e pronto.
Ah, não! Isso não vai ficar assim.
Um "ista" novo na lista do convênio. O melhor.
Queria o melhor especialista de todos os "istas"!
Achei.
Marquei. E fui tão nervosa quanto para um encontro 'bem intencionado' daqueles em que a gente escolhe a roupa íntima com cuidado, que é para não fazer feio.... nem parecer que foi uma escolha proposital... sabe como é, né?
Pois sim. O sujeito era um dermatologista famoso.
Via e cutucava a pele de toda a nata feminina e masculina da cidade...
Assim, me armei de humildade.
Disposta a mostrar cada defeitinho novo que estava observando, através do maquiavélico e ex-amigo espelho de meu quarto.
Depois de fazer uma ficha com meus dados, o 'doutor' me olhou finalmente nos olhos, e perguntou: 'O que lhe trouxe aqui?'
Fiquei vermelha como um tomate. E muda.
Ele sorriu e esperou.
Quase de olhos fechados, desfiei minhas queixas.
Ele observou 'in loco' cada uma delas, com uma luz de 200wtz e uma lupa...
E começou o seu diagnóstico.
'As pintinhas são sinais do Sol, por todo o Sol que já tomou na vida. Com a IDADE (tóin!) elas vão aparecendo, cada vez mais numerosas. Vai precisar de um protetor solar para sair de casa pela manhã, mesmo sem ir à praia. Para dirigir inclusive. Braços e pernas e rosto e pescoço. 
E praia? Evite. Só de 6 às 10 da manhã, sob proteção máxima, guarda sol, óculos e chapéu. Bronzear-se, nunca mais.'
-Ahmmm... (a turma só chega às 11:00 !!!!)
-'Os pontinhos azuis são pequenos vasos que não suportam a pressão do corpo sobre saltos altos.Evite. Use sapatos com solado anabela ou baixos, de preferência. Compre uma meia elástica, Kendall, para quando tiver que usar saltos altos.
-Ahmmmaaaa...
(Kendall???  E as minhas preciosas sandalinhas???)
-'As bolinhas na bunda são normais, por causa do calor. Para evitá-las use mais saias que calças. Evite o jeans e as calcinhas de lycra. As de algodão puro são as melhores... E folgadas...'
-Ahmnunght?? ??
(e pude 'ver' as de minha mãe, enormes na cintura, de florzinhas cor de rosa..... vou chorar!).
-'As olheiras são de família. Não há muito que fazer. Use esse creminho à noite, antes de dormir e procure não dormir tarde. Alimentação leve, com muita fruta e verdura, pouca carne e muito peixe. Nada de tabaco, nem álcool... Nem café.'
E então a histérica aqui­ começou a rir...
Agradeci, peguei suas receitinhas e saí­ rindo, rindo....
Me dobrando de tanto rir!
No carro comecei a falar sozinha...
Tudo o que deveria ter dito e não disse:
'Trabalho muito, doutor,... muitas noites vou dormir às 2h, escrevendo e lendo.
Bebo e fumo. Tomo café. Saio pelas noites de boemia com os amigos e seus violões para as serenatas de lua cheia... E que noites!!!!
Adoro os saltos, principalmente nas sandálias fininhas. Impossível a meia elástica (argh!!). Calcinhas de algodão? E folgadas??? Adoro as justinhas e rendadas... E não abandono meu jeans nem sob ameaça de morte!!! É meu melhor amigo!!!!
Dormir lambuzada? Neste calor? E minhas duchas frias com sabonete Johnson para ficar fresquinha como um bebê, cada noite?
E nada de praia??? O senhor está louco é???  Endoideceu foi??? Moro no Recife, com esse mar e tudo...E tenho só 40 anos....
Meia vida inteira pela frente!!!
Doutor Filistreco, na minha idade não vou viver como se tivesse feito trinta anos em um!!!  
Até um dia desses tinha 39...
E agora em vez de 40 estou fazendo 70???

Inclua aí na sua lista de remédios...
para as de 40 a 60, MEIA LUZ...
Acho que é só disso que eu preciso.
Um bom abajur com uma luz de 15wts...  
E um namorado que use óculos...
É isso... só isso!!!  Entendeu????'

Parei no sinal e olhei de lado...  
e um cara de uns 25 anos piscou o olhou para mim. Ah... e ele nem usava óculos!
Nunca fiz o que me recomendou o filistreco ISTA...
Minhas olheiras são parte de meu charme..
E valem o que faço pelas noites a dentro....
ah!!! se valem!
As bolinhas da bunda desapareceram com uma solução caseira de vitamina A, que quase todas as mulheres usavam e eu não sabia, até que contei minha historinha do 'bruxo mau'.
Os sinaizinhos estão aqui... sem grandes alardes...
e até que já acho bonitinho.
O espelho é muito menor...
o outro, eu dei a minha filha.
E meu namorado diz que estou cada dia mais linda! Principalmente quando estou de saltos e rendas, disposta a encarar uma noite de vinhos e música.
É claro que ele usa óculos.
Mas quando quero ficar fatal, tiro os seus óculos...
e acendo o abajur.

'No mundo sempre existirão pessoas que vão te amar pelo que você é, e outras, que vão te odiar pelo mesmo motivo.
Acostume-se....'

O melhor ‘ISTA’ é ser OtimISTA 


(desconheço o autor desta pérola)
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A obesidade mental


 

O prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard, publicou em 2001 o seu polêmico livro “Mental Obesity”, que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.

Nessa obra introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna. Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física decorrente de uma alimentação desregrada. É hora de refletir sobre os nossos abusos no campo da informação e do conhecimento, que parecem estar dando origem a problemas tão ou mais sérios do que a barriga proeminente. ”

Segundo o autor, “a nossa sociedade está mais sobrecarregada de preconceitos do que de proteínas; e mais intoxicada de lugares-comuns do que de hidratos de carbono.

As pessoas se viciaram em estereótipos, em juízos apressados, em ensinamentos tacanhos e em condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. ”

“Os ‘cozinheiros’ desta magna “fast food” intelectual são os jornalistas, os articulistas, os editorialistas, os romancistas, os falsos filósofos, os autores de telenovelas e mais uma infinidade de outros chamados ‘profissionais da informação’”.

“Os telejornais e telenovelas estão se transformando nos hamburgers do espírito. As revistas de variedades e os livros de venda fácil são os “donuts” da imaginação. Os filmes se transformaram na pizza da sensatez.”

“O problema central está na família e na escola”.

“Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se abusarem dos doces e chocolates. Não se entende, então, como aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, por videojogos que se aperfeiçoam em estimular a violência e por telenovelas que exploram, desmesuradamente, a sexualidade, estimulando, cada vez com maior ênfase, a desagregação familiar, a permissividade e, não raro, a promiscuidade. Com uma ‘alimentação intelectual’ tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é possível supor que esses jovens jamais conseguirão viver uma vida saudável e regular”.

Um dos capítulos mais polêmicos e contundentes da obra, intitulado “Os abutres”, afirma: “O jornalista alimenta-se, hoje, quase que exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, e de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.”

O texto descreve como os “jornalistas e comunicadores em geral se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polêmico e chocante”.
“Só a parte morta e apodrecida ou distorcida da realidade é que chega aos jornais.”

“O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem teto, mas ninguém suspeita para quê ela serve. Todos acham mais cômodo acreditar que Saddam é o mau e Mandella é o bom, mas ninguém se preocupa em questionar o que lhes é empurrado goela abaixo como “informação”.

Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um “cateto.”

Prossegue o autor: “Não admira que, no meio da prosperidade e da abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se e o folclore virou ‘mico’. A arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce, entretanto, a pornografia, o cabotinismo (aquele que se elogia), a imitação, a sensaboria (sem sabor) e o egoísmo. Não se trata nem de uma era em decadência, nem de uma ‘idade das trevas’ e nem do fim da civilização, como tantos apregoam. Trata-se, na realidade, de uma questão de obesidade que vem sendo induzida, sutilmente, no espírito e na mente humana. O homem moderno está adiposo no raciocínio, nos gostos e nos sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental.”







(João César das Neves, do Blog Teoria da Conspiração - Retirado do portal Mercado Ético (http://mercadoetico.terra.com.br/) e publicado originalmente no Blog Teoria da Conspiração - O Que Eles não gostariam que você soubesse… (http://www.deldebbio.com.br/)
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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Na primeira crise, ''sombra'' já se impõe sobre Dilma

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Antes mesmo de tomar posse, a presidente eleita, Dilma Rousseff, já precisou ser socorrida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conter a primeira crise de relacionamento com sua futura base de sustentação dentro do Congresso.

No momento em que o PMDB apresentou suas armas costumeiras para pressionar o novo governo a ceder mais cargos, foi Lula quem saiu a campo para desmontar o ataque, que já contava com a adesão de PTB, PR e PP.

Acostumado com as pressões sofridas durante os oito anos de sua passagem pela Presidência, Lula precisou de menos de 24 horas para operar nos bastidores e implodir a cobrança por espaços dentro do governo.

O problema é que o movimento de Lula aponta para a possibilidade de ele vir a atuar como sombra da futura presidente.

Não é surpresa para ninguém que os partidos aliados iriam usar todos os expedientes possíveis para tentar arrancar o maior número de cargos do governo.

A novidade é a pouca mobilidade demonstrada por Dilma nessa situação. Se Lula precisou sair em seu socorro numa crise que poderia ser resolvida com a simples ameaça de corte de cargos, nada impede que se imagine a presença do ex-presidente em outras questões importantes.

Isso pode significar que num momento, por exemplo, de dificuldade econômica será o ex-presidente quem apontará o rumo a seguir. Ou que indicará prioridades para determinadas políticas públicas. Em suma, um ex-presidente com assento cativo no Palácio do Planalto.

Não foi à toa que poucas horas depois de ter jogado suas cartas para conter o apetite dos partidos da base, Lula tenha dado declarações públicas afirmando que não iria fazer qualquer indicação para o novo ministério ou para outros cargos.

A declaração só faz sentido porque Lula sabe que poucos acreditam na sua veracidade. Sua movimentação na crise aberta pelo PMDB foi tão forte que ele precisa repetir o máximo de vezes possível que não terá participação na montagem do novo governo para ver se a versão funciona.

Para espantar a impressão de que Lula terá mais participação no seu governo do que deveria, Dilma tem agora um caminho claro a seguir. Precisa assumir claramente as articulações de seu governo. Terá de acostumar seus aliados com a ideia de que as decisões são tomadas por ela. Sob pena de permitir que o poder que lhe foi entregue nas urnas escorregue de suas mãos. 

(Marcelo de Moraes - O Estado de S.Paulo - http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101118/not_imp641558,0.php)

Fernando Henrique deixou R$ 22,6 bilhões para Lula

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Equipes dos dois governos tentaram reduzir o valor por meio de decreto, mas não deu certo


A existência de restos a pagar não é nova, embora a conta tenha adquirido, nos últimos anos, um volume nunca antes visto na história do País. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso legou a Luiz Inácio Lula da Silva a conta de R$ 22,6 bilhões, segundo estudo do PSDB. Só de investimentos, eram R$ 6,6 bilhões. Os valores foram atualizados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) até 2009. 

"Nós tentamos matar os restos a pagar na transição entre governos", conta o secretário-geral do site Contas Abertas, Gil Castello Branco, que foi secretário executivo do Ministério dos Esportes em 2003. 

De comum acordo, as equipes de FHC e Lula editaram um decreto no qual o novo governo se comprometia a honrar apenas restos a pagar de obras já iniciadas até dezembro de 2002. As que estivessem em fases anteriores (elaboração de projeto, por exemplo) seriam canceladas.

Pressões

O que parecia lógico não deu certo. Políticos pressionaram ministérios para preservar obras decorrentes de emendas por eles apresentadas ao Orçamento Geral da União, que seriam "mortas" pelo decreto. 

A deputados e senadores, basta que o empreendimento esteja na fase de empenho para que eles divulguem o feito em suas bases eleitorais. Na tentativa de salvar as obras, alguns chegaram a levar fotos de tratores em terrenos baldios para argumentar que a obra tinha sido iniciada.

Quando ouviam um "não" do ministério, alguns parlamentares reclamavam na Casa Civil da Presidência da República. De lá, vinha a ordem para cumprir o decreto, ou seja, "matar" o resto a pagar, mas "ressuscitá-lo" no orçamento do ano corrente, satisfazendo o deputado ou senador. Na prática, portanto, o decreto perdeu o efeito.

Medo de calote

De outro lado, quem já tinha prestado o serviço ao governo ficou algum tempo sem receber. "Um dia, recebi uma pessoa que chorava", conta Castello Branco. Era um empresário que havia coberto uma quadra poliesportiva no fim do governo FHC e não tinha recebido. Temia jamais ver o dinheiro. 

Nos primeiros anos do governo Lula, eram comuns reclamações de fornecedores sobre restos a pagar de dois ou três anos. Hoje a situação está sob controle, diz o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Paulo Safady Simão. Na virada de 2009 para 2010, o setor tinha a receber cerca de R$ 30 bilhões do governo. "Já pagaram mais ou menos metade."

(Lu Aiko Otta, de O Estado de S. Paulo)

Governo Lula vai deixar uma conta de R$ 90 bilhões para próximo presidente

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Valor de ‘restos a pagar’ de 2010 para 2011 será recorde, por causa das obras do PAC; acumulado fica próximo do total de investimentos



BRASÍLIA - Após oito anos de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixará a seu sucessor um bolo de pagamentos pendentes de R$ 90 bilhões, segundo estimativa da área técnica. Será um novo recorde, superando os R$ 72 bilhões de contas penduradas que passaram de 2009 para 2010.

Essas despesas que passam de um ano para outro são os chamados "restos a pagar" e ocorrem porque os ministérios muitas vezes contratam uma obra que não é concluída até dezembro. Como o governo se comprometeu (empenhou) a pagar a despesa, a conta acaba sendo jogada para o ano seguinte.

Os restos a pagar são uma ocorrência rotineira na administração pública, mas a conta se transformou numa bola de neve por causa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). À medida que as obras vão saindo do papel, o volume de despesas que ultrapassa o prazo de um ano vai aumentando, chegando ao ponto em que os restos a pagar são quase iguais ao total de investimentos previsto no ano.

Escolha de Sofia

Dados levantados pelo site Contas Abertas, a pedido do Estado, mostram que em 2009, por exemplo, o governo tinha R$ 57,068 bilhões para investir, mas a conta de restos a pagar das obras contratadas nos anos anteriores era de R$ 50,850 bilhões.

Ou seja, se tivessem sido quitadas todas as obrigações pendentes, sobrariam R$ 6,218 bilhões para investimentos novos. "A cada ano, o gestor público fica nessa escolha de Sofia: ou paga os restos do ano anterior ou executa o orçamento do ano", disse Gil Castello Branco, secretário-geral do Contas Abertas. "Não tem dinheiro para os dois."

O dado parcial de 2010, até junho, mostra mesmo perfil. O saldo de restos a pagar em investimentos está em R$ 53,7 bilhões, para uma dotação de R$ 63,9 bilhões. No caso do PAC. há restos a pagar de R$ 30 bilhões, para um orçamento de R$ 24 bilhões.

"É um retrato do momento", disse Castello Branco. Se o ano tivesse terminado em 30 de junho, o presidente Lula estaria legando a seu sucessor uma conta de R$ 53,7 bilhões. O governo não zera de imediato esse saldo porque, para isso, ele teria que deixar de fazer novos investimentos.

"A situação preocupa, porque se os restos a pagar ficam muito grandes, estreita-se o volume de recursos para novos projetos", disse o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão. "É preciso ficar atento para que os volumes sejam razoáveis, não escapem ao controle." 

Herança

Ele acrescentou que não há temor de calote com a mudança de governo, pois há uma legislação sólida sobre a condução do orçamento.

Se a conta de R$ 90 bilhões for herdada pela candidata do PT, Dilma Rousseff, ela não terá muito do que reclamar. Afinal, as despesas pendentes são geradas em grande parte por seu "filho", o PAC, e seguem prioridades estabelecidas por uma administração da qual ela fez parte até 31 de março. O mesmo não se pode dizer dos demais candidatos.

"A margem de manobra estará bem estreita", disse o economista Felipe Salto, da consultoria Tendências. "Mas isso é verdade até a página 2, porque é possível reduzir despesas de custeio de forma significativa e, assim, ampliar a margem." Ele acredita que essa será a trilha a ser seguida por José Serra (PSDB), caso seja eleito, pelo fato de o tucano ter um perfil "mais fiscalista".

Em muitos casos, a formação de restos a pagar é uma estratégia deliberada para evitar que as obras parem à espera da aprovação do orçamento. 

Na divulgação de um dos balanços do PAC, Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, foi questionada sobre o crescimento dos restos a pagar e respondeu que não há como evitar esse problema quando se realizam obras de maior porte. 

O governo trabalha numa proposta de orçamento plurianual, que ataca justamente esse ponto, ao prever prazos maiores do que um ano para os investimentos. "Os restos a pagar são um problema em busca de uma solução", disse Felipe Salto. Para Castello Branco, a situação é grave porque o Orçamento não é mais uma previsão de gastos para um só ano. "Acabaram com o princípio da anualidade."

(Lu Aiko Otta, de O Estado de S. Paulo)

No júri do caso Celso Daniel, promotor acusará PT


 

 Promotor aponta a existência de um "grande esquema de corrupção" na prefeitura de Santo André e diz que a morte do prefeito foi "encomendada"


O Ministério Público quer 12 anos de cadeia, no mínimo, e 30, no máximo, para Marcos Roberto Bispo dos Santos, primeiro réu do caso Celso Daniel que vai a júri popular amanhã, no Fórum de Itapecerica da Serra.

A acusação, a cargo do promotor Francisco Cembranelli, vai sustentar aos jurados que o então prefeito de Santo André, do PT, foi vítima de organização criminosa que se apoderava de recursos da administração e que o dinheiro desviado tinha dois destinos inequívocos: contas pessoais de integrantes do grupo e caixa de campanha do partido.

"É esta a verdade", assevera o promotor. "Havia um grande esquema de corrupção na prefeitura de Santo André. A morte de Celso Daniel foi encomendada."

Daniel foi sequestrado na noite de 18 de janeiro de 2002. Dois dias depois seu corpo, crivado de balas, foi localizado em uma estrada de terra de Itapecerica. O promotor está convencido de que o petista foi eliminado "por um grupo de bandidos perigosos contratados para ação ousada cujo objetivo era garantir a continuidade de vários crimes contra a administração pública". Cembranelli vai dizer aos jurados que o prefeito "tinha ciência da corrupção e contrataram sua morte quando ameaçou tomar providências".

Contra Bispo pesa a acusação formal de homicídio triplamente qualificado - motivo torpe mediante recompensa, utilização de recurso que impossibilitou a defesa da vítima e agiu para garantir delitos contra a administração. "Ele participou da ação, esteve na cena de arrebatamento do prefeito", afirma o promotor, que ostenta currículo com mais de mil júris. "Bispo conduziu um dos veículos."

O repasse de dinheiro de corrupção para o PT faz parte do arsenal de argumentos do promotor. "Está documentado. Existem vários processos em Santo André contra essas pessoas que dilapidaram o patrimônio público, desviavam dinheiro para suas contas pessoais."

O promotor destaca que "alguns procedimentos falam em desvios de milhões". "Havia um desvio para caixa de campanha e havia desvio bastante grande para contas pessoais."

O acusador diz que quem participou do sequestro e fuzilamento do prefeito "não tinha ligação com os políticos envolvidos no desvio de verba pública". "Eram bandidos experientes que foram contratados em negociação para fazer exatamente o que sabiam fazer: praticar um delito grave. Eles receberam uma quantia."

O promotor cita Gilberto Carvalho, assessor especial de Lula. Carvalho foi secretário municipal e depois chefe de gabinete na gestão Celso Daniel. "Carvalho faz parte de um contexto. É mencionado por 5 pessoas ouvidas pelo Ministério Público. Todos ali sabiam (da corrupção), até a vítima sabia e isso acontecia com a anuência dele." Carvalho nega.

Para Cembranelli o crime teve mandantes e um deles seria o empresário Sérgio Gomes, o Sombra, que foi segurança e assessor de Celso Daniel. O criminalista Roberto Podval recorreu ao Tribunal de Justiça contra a sentença de pronúncia que manda Sombra a júri popular. "Há outros mandantes", assinala o promotor. De Bruno, irmão de Celso Daniel que refugiou-se com a família na França, ele recebeu e-mail desejando-lhe "boa sorte" na missão.

(Fausto Macedo - O ESP - http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101117/not_imp640952,0.php)

George Carlin - Costumes e Suicídio LEGENDADO (Life is worth losing part 3)

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"Crioulinha..."

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UMA DAS MEMÓRIAS felizes que tenho de minha infância me leva de volta à escola. Eu estava no terceiro ano primário. Era a aula de leitura. Não, não era aula em que líamos para a professora ouvir e corrigir. Ao contrário, era a professora que lia para nos deliciar. Foi assim que aprendi a amar os livros. Não aprendi com a gramática.

Dizem que os jovens não gostam de ler. Mas como poderiam amar a leitura se não houvesse alguém que lesse para eles? Aprende-se o prazer da leitura da mesma forma como se aprende o prazer da música: ouvindo. A leitura da professora era música para nós.

A professora lia e nós nos sentíamos magicamente transportados para um mundo maravilhoso, cheio de entidades encantadas. O silêncio era total. E era uma tristeza quando a professora fechava o livro. "O Saci", "Viagem ao Céu", "Caçadas de Pedrinho", "Reinações de Narizinho". Esses eram os nomes de algumas das músicas que ela interpretava. E o nome do compositor era Monteiro Lobato.


Mas agora as autoridades especializadas em descobrir as ideologias escondidas no vão das palavras descobriram que, por detrás das palavras inocentes, havia palavras que não podiam ser ditas. Monteiro Lobato ensina racismo. E apresentam como prova as coisas que ele dizia da negra Tia Anastácia...


A descoberta exigia providências. Era preciso proibir as palavras racistas. Monteiro Lobato não mais pode frequentar as escolas...
Assustei-me. Senti-me ameaçado. Fiquei com medo de que me descobrissem racista também. Tantas palavras proibidas eu já disse.


É preciso explicar. Naqueles tempos, tempos ainda com cheiro da escravidão, havia um costume... As famílias negras pobres com muitos filhos, sem recursos para sustentá-los, ofereciam às famílias abastadas, brancas, para serem criados e para trabalhar. Assim era a vida. Foi assim na minha casa. Veio morar conosco uma meninota de uns dez anos, a Astolfina, apelidada de Tofa. Escrevi sobre ela no meu livro de memórias "O Velho que Acordou Menino". Cuidou de mim, dos meus irmãos, e morou conosco até se casar. Acontece que, ao contar sobre ela, eu usei uma palavra que fazia parte daquele mundo: "crioulinha". Era assim que se falava porque essa era a palavra que fazia parte daquele mundo. Imaginem que, obediente à "linguagem politicamente correta", eu, hoje, tivesse escrito no meu livro "uma jovem de ascendência afro"... Não. Esse não era o mundo em que a Astolfina viveu.



As palavras são a carne do mundo. Não podem ser substituídas por outras, ainda que mais verdadeiras, ainda que sinônimas. É preciso dizê-las como foram ditas para que o mundo que foi fique vivo novamente. A história se faz com palavras que faziam parte da vida. Aí, então, se pode explicar, como nota de rodapé: "Era assim. Não é mais...".


Estou com medo de que as ditas autoridades descubram que usei a palavra racista "crioulinha" para me referir àquilo que, hoje, seria "uma jovem de ascendência afro".


Estou, assim, tomando minhas providências. Para que não coloquem meu livro no "Índex" vou apagar a palavra "crioulinha" do texto e, sempre que precisar me referir à Tofa, direi que ela era uma governanta suíça e ruiva, uniformizada de branco e touca, para evitar que fios de cabelo caíssem na comida... Assim, meu livro purificado do racismo poderá frequentar as escolas...


(Rubem Alves - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1611201004.htm)