quinta-feira, 29 de setembro de 2011

AMORE SCUSAMI - NICO FIDENCO (Letra, Tradução e Vídeo)

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Amore Scusami

Amore scusami
Se sto piangendo amore scusami
Ma ho capito che lasciandoti
Io soffrirò

Amore baciami
Arrivederci amore baciami
E se mi lascerai ricordati
Che amo te

Ti ricordi quella sera
Che per gioco ti baciai
Sembrava quasi un'avventura
Un'avventura in riva al mar
Dolcemente ti baciavo
E non potevo immaginar
Che stavo invece a poco a poco
Innamorandomi di te

Amore baciami
Arrivederci amore baciami
E se mi lascerai ricordati
Che amo te, che amo te


Amore Scusami (Tradução)

Amor perdoa-me
Se estou chorando amor perdoa-me
Mas entendi que deixando-te
Eu sofrerei.

Amor beija-me
Arrivederci amor beija-me
E se me deixares recorda-te
Que amo-te.

Te recordas aquela noite
Que por brincadeira te beijei,
Parecia quase uma aventura
Uma aventura a beira mar.

Docemente eu te beijava
Não podia imaginar
Que estava ao invés pouco a pouco
Enamorando-me de ti.

Amor beija-me
Arrivederci amor beija-me
E se me deixares recorda-te
Que amo-te, que amo-te, que amo-te.


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Bêbados sabem quando erram, diz estudo

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Katy Perry em seu clipe Last Friday Night: uma noite de bebedeira rende muitas besteiras - mas o álcool não tira sua noção de certo e errado

São Paulo- Quem nunca presenciou a cena de um bêbado em atitudes constrangedoras, que atire a primeira dose ao santo.
O álcool, bem sabe-se, é responsabilizado por grande parte das chamadas “besteiras” que os seres humanos fazem na vida.
Um novo estudo, no entanto, promete tirar da bebida a culpa pelos atos falhos: segundo cientistas americanos, o álcool não reduz a consciência das pessoas de que elas estão errando – ele simplesmente faz com que você não ligue para isso.
A equipe de Bruce Barthlow, da Universidade de Missouri, constatou que o álcool apenas “deixa bobo” o sinal do cérebro que alerta: “você está cometendo um erro”. 
Quando as pessoas erram, a atividade do cérebro na área responsável por monitorar o comportamento aumenta, enviando um alarme indicando que algo está errado.  O estudo não é o primeiro a mostrar que o álcool reduz esse sinal de alarme mas, diferentemente dos anteriores, mostra que a bebida não diminui a consciência dos erros em si, apenas o quanto você se importa com eles.
Ou seja: você ainda sabe o que é certo e errado.
Barthlow e sua equipe mediram a atividade cerebral de 67 pessoas, de 21 a 35 anos, enquanto elas completavam uma tarefa em um computador. Cerca de um terço das pessoas recebeu bebida alcoólica, um terço recebeu bebidas não alcóolicas e o restante recebeu placebo. Além de monitorar a atividade cerebral, os participantes tiveram seu humor medido.
O monitoramento mostrou que o sinal de alarme do cérebro em resposta aos erros é muito menor naqueles que haviam consumido álcool – mas estes participantes demonstravam a mesma noção de que haviam errado dos outros que não haviam bebido.
O estudo também revelou que quem consumiu álcool se mostrou menos calmo e cuidado nas tarefas seguintes aos erros – enquanto a tendência normal após os erros, entre os sóbrios, é ir mais devagar.
Outro dado interessante: a maioria dos participantes alcoolizados disse se sentir “menos negativa” depois de beber.
O estudo ajuda os pesquisadores a entender como o álcool atua no cérebro e pode ser utilizado em pessoas que precisam reduzir o sinal de alarme do cérebro – como que sofre com ansiedade crônica.

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Doutor, meu filho está usando drogas!

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Durante muito tempo as pessoas pensavam que se cuidassem bem de seus filhos, dando-lhes o melhor, amando-os, superprotegendo-os dos perigos do cotidiano, tudo daria certo, o sucesso deles como pessoas estaria garantido, que apenas aqueles abandonados ou deixados de lado apresentariam problemas. Com o passar dos tempos, com o crescimento dos filhos, com a mudança do mundo os pais começaram a notar que não é assim que acontece.

Hoje todos precisam estar bem informados, atualizados, envolvidos na sua vida e na dos jovens. Precisam perceber e aceitar que as dificuldades e diferenças ocorrem, independentes do preparo ou do desejo.

Não podem esquecer que durante a vida aprenderam uma equação bastante simples, que servia de base do bem estar: existe um remédio, pelo menos um, que propicia alívio imediato para qualquer mal, seja ele físico ou emocional. Na infância, na farmácia caseira havia uma panacéia que servia para aliviar todos os desconfortos. Ficou registrado desde pequeninos isso: desconforto mais química igual a Alívio propiciado pela droga, que leva rapidamente ao bem estar. Hoje cada vez mais cedo, as pessoas buscam repetir isso. Na adolescência buscam drogas para minimizar seus descontentamentos, seus desapontamentos, suas dificuldades com a vida. Os jovens na sua maioria buscam o modo mais fácil de equilibrar-se, mesmo que este alívio seja por pouco tempo.

A experimentação é característica dessa fase, é na adolescência que os limites são expandidos, o mundo é testado e tudo o que ele pode propiciar. O adolescente encontra a droga, não vê nela um risco verdadeiro e aos poucos, vai se isolando em seu mundo e deixando de lado todas as outras coisas: amigos, família, educação, saúde, esporte, diversões, futuro.

Para alguns, é para sempre. Essa história é ouvida com freqüência, mas parece estar longe, na TV, nas revistas na casa dos outros. Não afeta diretamente, então a família finge que não vê, não sabe. Até que um dia chega a sua vez. Aí percebe forçosamente. Tem que admitir e passa a viver com o desamparo, com o descaso, com a podridão, a escravidão de uma sociedade sem rumos, sem valores positivos, egoísta, impune e muitas vezes reforçadora de tudo aquilo que lutou a vida toda para ver e aceitar.

Conversas, afeto, missas, terapias, cultos, viagens, mudanças de casa, lágrimas, dinheiro, carro, gritos, tapas, beijos podem até ajudar, mas não são suficientes. Existe um mundo aí fora e o jovem tem que sair por ele, tem que conquistá-lo. Este mundo está doente. Os pais precisam ajudar os jovens a viver nele, sem que se contaminem, fazer escolhas que não irão, com certeza retirar a podridão do mundo, mas certamente irão afastá-los de seu mundo. Os trincos, cadeados, muros, portões eletrônicos, celulares, remédios , motoristas particulares, super proteção, não os deixa imunes aos perigos e sujeiras. Os jovens vão aos poucos conhecendo, entrando e minando os sistemas de defesa e quando os pais dão se conta percebem que tem que lutar sozinhos.

As drogas andam soltas pelas ruas. Vão a escola, danceterias, clubes, igrejas, bares, residências. As pessoas pensam que para adquirí-las é preciso enfrentar a marginalidade, mas isso não é real. Vivemos no mundo do “DELIVERY” também em relação às drogas. Basta um telefonema e elas chegam às nossas mãos com a mesma facilidade com que pedimos uma pizza no final de semana.

A dependência química é uma doença que afeta cerca de 10 a 15% da população. Nem todos os adolescentes que experimentam drogas, tornam-se dependentes. É preciso avaliar o grau de envolvimento para sugerir, o tipo de tratamento necessário. Um adolescente funcional, que cresceu aprendendo com sua família que as dificuldades só podem ser superadas através do próprio esforço, dificilmente se tornará um dependente, pois saberá fazer escolhas acertadas. Um dependente precisa ser tratado, dirigindo-se o foco do processo à sua doença. Ele tem todo o tipo de disfunção e dificuldades, mas elas fazem parte do quadro geral de sua doença, não são as suas doenças. Droga é causa e não conseqüência de disfunções de qualquer ordem na vida de uma pessoa.

Como terapeutas, precisamos buscar compreender a dependência em si, bem como seus reflexos, na família, nas relações entre seus membros e sua relação com o mundo. Quando uma pessoa manifesta algum tipo de dependência é um contexto social e familiar que isso ocorre. A família que consegue se organizar com eficácia, buscar ajuda e reconhecer sua dificuldade, não transferindo ao dependente toda a carga, fazendo dele o “saco de lixo da família”, consegue crescer, avançar e encontrar novas formas de relacionamento intra e extra familiar.

Uma família funcional aceita mais facilmente o ciclo da vida e percebe o crescimento e a busca necessária da independência por seus membros. Trabalha as dificuldades mais facilmente. Consegue agir, de forma mais adequada quando as dificuldades aparecem. Os problemas são encarados como oportunidades de crescimento e de repensar as relações.

Não é essa família que chega ao consultório. É sempre uma família fragmentada, culpada, desorientada, trocando acusações e buscando explicações para entender o que está acontecendo, como se o entendimento fosse suficiente pára resolver a situação... A vergonha impede que o problema seja colocado de modo transparente. Ter “um drogado” em casa não é motivo de orgulho para nenhuma família, mas a crescente aceitação da dependência como uma doença, permite que todos se mobilizem e possam trabalhar para resgatar o dependente e a harmonia familiar, reconhecer suas necessidades e limites.

Os pais desejam uma solução mágica, mais uma panacéia que expulse os problemas de sua vida. O descontrole da vida do dependente desenvolve como contraponto, uma falsa sensação de controle por parte dos familiares. Mecanismos de defesa são criados para dar sensação de que algo está sendo feito. O problema não pode ser atacado diretamente, então todos dirigem sua atenção para qualquer coisa, pois assim sentem que estão fazendo algo. Esses mecanismos precisam ser trazidos à tona na terapia.

A família precisa aceitar que não pode controlar a vida do dependente, pode ajudá-lo a encontrar o equilíbrio, mas se essa não for a sua escolha, não pode viver refém de sua conduta insana.

A família precisa continuar a existir e exercer suas funções. Quando todos caminham juntos na recuperação, os problemas, prazeres, necessidades e sentimentos podem encontrar novamente lugar na vida de cada um ao invés da família fazer do sofrimento o motivo da sua vida. A visão que antes estava centrada somente em si mesmo, caminha para uma sensibilidade maior aos outros e a uma busca de relações mais sadias.

A dependência é uma doença que afeta as pessoas em todas as dimensões de sua vida. Seu tratamento torna-se mais eficaz quando podemos, como psicólogos, contar com a ajuda de outros profissionais e também dos Grupos de Apoio. A ajuda de cada profissional tem âmbito limitado de ação. Assim como a família precisa buscar integração entre seus membros, quando nos abrimos para fazer o mesmo, potencializamos o resultado de nosso trabalho.

(Marina Canal Caetano Drummond /Helio Caetano Drummond Filho - "Drogas a busca de respostas - Fonte: 
http://www.revistapsicologia.com.br/materias/abordagens/filhoUsandoDrogas.htm)
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Aprendendo a dizer não

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Dependendo do grau de submissão que sentimos em relação à opinião dos outros sobre nós mesmos, percebemos maior ou menor dificuldade em dizer não. As vezes essa dificuldade é conseqüência do medo de parecermos egoístas, grosseiros, chatos, difíceis de lidar ou coisas assim. É fundamental para nosso bem-estar e para nosso senso de liberdade sabermos dizer não ou, caso contrário, podemos arriscar boa parte de nossa felicidade (e até da felicidade de nossos familiares) em função do outro.

Além das dificuldades que aparecem ao tentarmos conciliar a sobrecarga dos afazeres de tudo aquilo que nos pedem e que não tivemos coragem de dizer não, corremos o risco também de nos frustrarmos ou deprimirmos diante da sensação de estarem se aproveitando de nós. Outras vezes não conseguimos dizer não por temermos que, se recusarmos um pedido de alguém, essa pessoa vai deixar de gostar da gente, ou por temermos que o outro tenha alguma atitude agressiva.

Na realidade esses temores de que pensem algo pejorativo a nosso respeito, só por recusamos alguma coisa, é um sentimento que nasce primeiro dentro de nós mesmos e, em seguida, acabamos projetando nos outros como se deles se originasse. Indiretamente é um indício de insegurança ou, pior, de alto-estima baixa. Dizer sempre sim, por qualquer motivo que seja, pode trazer outros tipos de problemas. 



Concordar


Dizer sempre sim, por qualquer motivo que seja, pode trazer outros tipos de problemas. Concordar só para ter a imagem pessoal melhor aceitável e depois descobrir que não podemos cumprir o prometido costuma ser muito pior que dizer um não decidido e educado logo de início. Concordar com tudo e perceber depois que estamos tendo de fazer alguma coisa completamente contrário à nossa vontade, pode gerar conflitos de conseqüências emocionais muito danosas. Ainda há o risco de fazermos alguma coisa contrariados e, portanto, muito mal feita. Sem dúvida, isso não vai melhorar nossa reputação e nem tampouco agradar os demais como pretendíamos.

Estando nossa auto-estima satisfatória, teremos consciência de que os outros, principalmente aqueles que convivem conosco, já têm razões de sobre para nos julgar positivamente, para reconhecerem nossa competência, capacidade e nossos valores independentemente de nossa pretensa servidão incondicional. Aliás, é bom que a opinião dos outros sobre nossa pessoa tenha outras razões de admiração além da simples servidão. Todo mundo tem uma certa necessidade der ser amado e admirado, mas essa necessidade é tão mais presente quanto mais dúvidas temos de estarmos, de fato, sendo amados e admirados. Ora, essas dúvidas surgem em pessoas inseguras e com algum prejuízo da auto-estima.

Há várias maneiras de dizer não sem depreciarmos nossa imagem pessoal. Arranjando desculpas mentirosas é a pior delas e não costuma funcionar por muito tempo. Um não, firme, incisivo e ao mesmo tempo educado e gentil é a maneira que melhor funciona. Frases do tipo “... gostaria muito de fazer isso para você, entretanto, infelizmente, já havia marcado um compromisso anteriormente...” Ou então, “...gostaria muito de fazer isso para você, entretanto, infelizmente, tenho que terminar algumas coisas antes e não poderei fazer o que me pede da maneira como gostaria...” ou, por exemplo “... eu teria imenso prazer em emprestar-lhe esse dinheiro se não estivesse completamente duro no momento...”

Os reais motivos para o não devem ser disfarçados por aquele que nega, tendo em vista dois fatores: primeiro devido à própria natureza humana e, em segundo lugar, o modelo dos papéis sociais. Vamos explicar: O que poderia acontecer se disséssemos, com sinceridade o real motivo para o não, tal como, por exemplo “... não me sentiria bem fazendo isso...” ou ainda “... preferia não fazer isso que me pede...” O outro, tal como nós mesmos, sempre se acha certo no direito de pedir, sempre acha que os demais poderiam ser colaborativos, sempre acha que não custa nada aos outros fazerem o que pedem, portanto, preservando o que achamos justos para nós, pareceremos ao outro estarmos sendo arrogantes, egoístas, com má vontade e coisas assim. Desista de achar que o outro entenderá e respeitará sua opinião sobre aquilo que nos daria melhor bem-estar, principalmente quando nosso bem-estar contraria o bem estar desse outro.

Em segundo lugar, o modelo dos papéis sociais implicam em desempenharmos socialmente atitudes já esperadas no contrato social. Dizer que não podemos fazer porque estamos sobrecarregados, que estamos desconfortáveis de alguma forma, que estamos em alguma desvantagem e por isso não podemos fazer o que nos pedem, embora até gostássemos de fazer, terá sempre um efeito muito mais justificável do que não fazer apenas porque não gostamos de fazer ou porque preferimos não fazer. A sinceridade absoluta não é uma postura socialmente bem compreendida, embora seja demagogicamente recomendada como mérito. A sinceridade só tem mérito quando não contraria expectativas.

À primeira vista essa orientação pode parecer um estímulo à mentira. Na realidade é mais um estímulo à convivência social. Alguns psicólogos que tratam do assunto recomendam que a pessoa seja assertiva, faça argumentações sinceras para não sofrer conflitos e não se achar mentiroso. Mas nós estamos estimulando a convivência social e incentivando a pessoa a dar-se bem com seu próximo.

Vejamos o caso de você dizer à outra pessoa “... seja franco e sincero; você poderia me emprestar algum dinheiro?”. O que você sentiria se, apesar de ter pedido (demagogicamente

Esse capítulo trata de APRENDER A DIZER NÃO e não COMO DIZER NÃO. Como dizer não, todos já sabemos, mas aprender a dizer não de forma a preservar nossa convivência com o próximo e, consequentemente, conosco mesmo, precisa ser aprimorado. Na realidade, trata-se de uma maneira de não fazer tudo o que nos pedem, sem ter que dizer não ostensivamente. Pode não ser politicamente correto mas funciona.

Enquanto alguns psicólogos são à favor da verdade absoluta, atribuindo à pessoa o direito de dizer não sem se sentir culpada, citando sempre motivos francos e sinceros, estamos proporcionando meios de dizer não sem que os outros julguem você culpado.

Para dizer não, algumas regras simples devem ser observadas:


1. Não comece pedindo desculpas. Isso poderá sugerir um eventual sentimento de culpa.


2. Pergunte a si mesmo se o pedido parece-lhe razoável e se você quer mesmo aceitá-lo ou não. Sempre que tiver dificuldade em se decidir, provavelmente sua vontade sincera é pelo não.


3. Se precisar de mais detalhes, peça-os antes de decidir.


4. Se chegar à conclusão de que deseja dizer não, faça-o sem rodeios.


5. Seja breve, dê sempre uma explicação, mas que pareça mesmo uma explicação e não uma série de desculpas. 


6. Muitas vezes não basta dizer não. Se desejar ajudar o outro (ainda que não queira fazer o que lhe pediu), ouça com atenção o que ela tem a dizer, exponha o motivo de sua negativa e veja se pode ajudar a encontrar outra solução para o problema.





 (Geraldo J. Ballone - Fonte: 
http://www.novaera.org/saude/aprendendo_a_dizer_nao.htm)

Em Busca do Tempo Perdido

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À procura de um tempo perdido



A fachada era a mesma, nem parecia que trinta anos haviam se passado. O concreto aparente precisava de bem menos retoques que o seu rosto, pensou.

Ao penetrar no saguão do colégio, a emoção apertou-lhe a garganta. Não era possível permanecer indiferente a tudo que o cercava. Passou apressadamente em frente aos elevadores que somente professores e pais de alunos podiam utilizar. Era como se o tempo tivesse parado e permitisse que, através de um atalho secreto, pudesse recuar três décadas. Como havia voado o tempo!

Aluno de um colégio só, todas as lembranças convergiam para o mesmo lugar. Caminhou lentamente entre as portas fechadas das salas de aula, alinhadas de ambos os lados de um corredor, que lhe pareceu mais estreito do que no passado. Tomou água num bebedouro que já não era do seu tempo de aluno e continuou caminhando. Estava em pleno horário de aulas, não era à toa que tudo era silêncio à sua volta. Decidiu subir até a sala dos professores no segundo andar.

Embora tivesse subido sem muita pressa, chegou ofegando, amaldiçoando a sua barriga cujos contornos um terno sob medida mal conseguia disfarçar. Era o que chamavam jocosamente de curva da prosperidade, naqueles idos tempos. Não poderia reclamar da prosperidade, apenas poderia reclamar da barriga. Estava na hora de iniciar mais um regime. Aproximou-se da sala dos mestres, bateu e entrou. Pouquíssimas vezes estivera lá como aluno, de modo que aquilo não chegou a impressioná-lo.

Lembrava-se claramente de ter ido uma vez com mais dois colegas, para pedir uma nova prova de física, e de que o professor os recebera bem, mas isto fora o máximo que haviam conseguido: ser ouvidos. Não houve a tão desejada prova de chance. Lembrava as pesadas cortinas de veludo enquadrando as janelas e percebeu que tinham sido substituídas por persianas bem menos imponentes, possivelmente mais práticas. Havia como no passado várias escrivaninhas, em cima das quais microcomputadores - sinal dos tempos - reivindicavam seu espaço.

No meio da sala, o mesão, o famoso mesão em cima do qual ficavam as provas, o que na época tanto o impressionava, estava lá tal como permanecera em sua lembrança. Alguns professores estavam sentados em frente aos micros. Um deles olhou na direção do intruso. - Bom-dia. - Bom-dia, o que deseja? - Eu fui aluno deste colégio, me formei em 1969, e vim matar as saudades. O professor levantou-se e veio cumprimentá-lo. Outros levantaram a cabeça movidos por uma certa curiosidade.

Apertou a mão do professor, que devia ser mais bem mais jovem do que ele, e que o olhava cortesmente. - É pouco provável que encontre alguém da minha época, não é mesmo? - Também, o senhor esperou esse tempo todo para vir nos visitar! De nada teria adiantado dizer que durante quase todos aqueles anos, à exceção dos anos de faculdade havia estado fora do País, voltando apenas algumas poucas vezes e sempre por poucas semanas. - Nunca houve tempo, mas sempre quis voltar.

Assim mesmo, será que não há mais nenhum professor da minha época? - perguntou olhando de soslaio o avental com o crachá de identificação do interlocutor. Souza M. ele leu com certa dificuldade. Decididamente, teria de começar a usar óculos. - O professor Otacílio é o professor mais antigo, disse o outro, sem muita convicção. - Otacílio de Matemática? - Sim, ele mesmo, teve aula com ele? Tivera sim.

Naquela época era o carrasco do colégio, famoso pelos problemas que passava e por tiradas do gênero: "O senhor não parece estar se dedicando com afinco aos estudos e para a sua prova estou em dúvida entre lhe dar um ou zero. A apresentação do seu caderno decidirá. Ah, é zero mesmo." Querido mestre, quantas vezes más apresentações de caderno haviam feito pender a nota para o lado do zero? Mesmo assim, raros eram os reprovados.

O professor os chamava para aulas de reforço durante as quais dizia: "Vamos cuidar dos impermeáveis, vocês não imaginam como tudo isto é simples". "Parto sempre do pressuposto de que vocês dominam a regra de três em todo o seu esplendor e extensão, logo haverá sempre uma esperança." Sempre bem-humorado, pedindo desculpas por fazê-los raciocinar, fora talvez o mais querido pela turma, que até o havia escolhido paraninfo. E o discurso? Era como se ainda o ouvisse. "Vocês são o rio, eu sou apenas as margens. Como o meu colega de geografia tentou ensinar ao lhes falar sobre erosão, permaneço aqui, mas vocês terão levado algo de mim e para sempre o meu afeto. Se fui o primeiro a levá-los ao conceito de imaginário, que seja o último a sair do seu conjunto de lembranças reais."

Talvez não tivessem sido exatamente as palavras do professor Otacílio, afinal tanto tempo já havia transcorrido, mas essa era a mensagem, que tanto emocionara, formandos, pais, e até o próprio orador. Naquele momento o baixinho, como era conhecido, esteve transfigurado, magnífico e ao mesmo tempo tão cativantemente simples, como sempre esteve deduzindo fórmulas, demonstrando teoremas ou resolvendo os problemas cabeludos do temível livro dos irmãos jesuítas.

Enquanto vasculhava as lembranças, subitamente trazidas à tona, dirigindo um olhar distraído para o que lhe parecia ser uma mancha no avental do professor Souza, ouviu-se o sinal de intervalo e, pouco a pouco, a sala foi se enchendo de professores. E lá estava o baixinho. Vinha com o mesmo andar apressado que lhe era peculiar. Os anos não haviam aberto exceção para ele, o pouco cabelo que lhe restava, completamente branco, tornava-lhe mais aceitáveis as feições envelhecidas. - Professor Otacílio, este senhor gostaria de lhe falar. - Sim, pois não. - Professor, - estava emocionado ao falar, - eu fui seu aluno em 68 e 69... - E veio entregar um trabalho atrasado?! Receio que não poderei aceitá-lo. E mesmo se aceitasse, só poderá diminuir sua média geral.

Considerando uma penalidade de meio ponto, por ano de atraso, eu o prejudicaria. Continuava o mesmo galhofeiro. - Eu só queria vir lhe dar meu abraço, professor. - Obrigado, é sempre uma alegria ver de volta um dos meus alunos. E, então, a base foi boa? Está feliz? Peço desculpas, mas mentiria se lhe dissesse uma coisa do tipo: "Seu rosto me parece familiar". Espero que seja franco o suficiente, para me dizer que se me encontrasse na rua, não me reconheceria. - Falava rapidamente, olhando-o com os olhos faiscando, como nos bons velhos tempos.

Conversaram pouco. Mas a animação inicial foi aos poucos desaparecendo. Tinham muito o que falar sobre o passado, mas este passado comum jorrava nos gestos e olhares, tornando supérfluas quaisquer palavras. Por segundos, haviam revivido a magia do passado, que tornava o presente irrelevante. Despediram-se com generosos tapas nas costas e promessas de não deixar passar outras três décadas até um novo encontro. Saiu apressadamente da sala dos professores.

O sinal marcava o fim do intervalo e uma multidão barulhenta estava se dirigindo para as salas de aula. Por alguns segundos, o senhor elegante cuja curva da prosperidade insurgia-se contra o rigor do corte do terno sob medida sentiu-se parte daquela multidão. Era o encontro com um momento feliz e que por nada neste mundo poderia perder.



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terça-feira, 27 de setembro de 2011

A História do Vibrador

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O invento surgiu em meados do século XIX, a partir de um massageador a vapor, para tratar da histeria, distúrbio feminino causado pela ansiedade e irritabilidade. A massagem clítoriana era considerado o único tratamento adequado contra a histeria, de maneira que centenas de mulheres iam ao médico para que tivessem a zona massageada e induzidas a um "paroxismo histérico", hoje conhecido como orgasmo.


Modelo manual Woody

Em 1880, o doutor Joseph Mortimer Granvillee cansado de tanto masturbar manualmente as suas pacientes, patenteia o primeiro vibrador eletromecânico com forma fálica.



Mod. manual - Dr. Johansen's

A histeria, suposta doença que os gregos tinham descrito como "útero ardente", converte-se numa espécie de praga entre as mulheres da época. Qualquer comportamento estranho "ansiedade, irritabilidade, fantasias sexuais" era considerado como um claro sintoma e a paciente era imediatamente enviada para receber uma massagem relaxante.


Mod. Manual Vibro-Life

No final do XIX a quantidade de mulheres que vão à consulta é tal, que os médicos já estão com problemas de LER (Lesões por esforço repetitivo) nas mãos e pulsos eentão começam a inventar todo tipo de artefatos que lhes poupe o trabalho.
Normalmente eram bastões de plástico com um mecanismo bastante complexo, deixando o produto muito pesado e de difícil manipulação.




Mod a bateria - Ash Flash

Mesmo assim a variedade de vibradores daquela época é absurda, muitos modelos funcionavam com energia elétrica, outros com baterias ou gás ou água, inclusive foram desenvolvidos alguns que funcionavam a pedal. E os aparelhos tinham velocidades que variavam de 1.000 a 7.000 pulsações por minuto.


Mod. Manual - Macaura's blood circulator


Mod. elétrico - Golden-Glo Vitalator


Mod. a ar comprimido - Chas a Cyphers



Mod. a bateria - White Cross




Devido a grande procura e quantidade, os preços logo começaram a ser compatíveis para uso doméstico e deixaram de existir somente nos consultórios médicos. E foram os primeiros aparelhos de uso pessoal a serem introduzidos em casa, precedendo o secador de cabelos e o aspirador de pó.


Giro-Lator

Modelos como o "Barker Universal", o "Gyro-Lator" ou a "Miracle Ball" começam a sercomercializados através dos jornais de tiragem nacional.

Vibradores de uso portátil

Baker Universal

Miracle Ball

- "A vibração é a vida".
Diziam alguns anúncios.


- "Porque você, mulher, tem o direito a não estar doente".


Era o principal mote de muitos catálogos femininos onde o vibrador era publicitado como "instrumento para a tensão e ansiedade feminina". Seu uso era promovido como uma forma de manter às mulheres relaxadas e contentes.

- "A vibração proporciona vida e vigor, força e beleza".


- Ou ainda:


"O segredo da juventude foi descoberto na vibração".

Sua comercialização chegou a tal extremo que alguns modelos incluiam um adaptador que convertia o vibrador numa batedeira de bolo.


Mod. elétrico - Try New Life

Pense ao que isso possa parecer hoje, naqueles anos a aplicação do vibrador sobre o clítoris era tida como uma prática exclusivamente médica.


Mod. elétrico - Vibro Eletra

Na chamada Era Vitoriana, não era considerado ato sexual.


Mod. elétrico - Rolex

Os problemas, os tabus e a grande "sacanagem" que quase todos imaginamos hoje em dia ao ler este texto, começam mais tarde, a partir de 1920, pois foi a partir deste ano que os médicos abandonaram o uso do vibrador em seus consultórios pois eles começaram a aparecer em filmes pornográficos.


E, neles, as “atrizes” curavam sua histeria frente as câmaras. Os filmes fizeram com que o vibrador ficasse estigmatizado como coisa de mulheres da vida, nenhuma mulher fina ou mãe de família poderia ter uma histeria tranquila sabendo que a rameira da esquina fazia uso do mesmo instrumento.


Nos anos seguintes, a venda de vibradores foi então disfarçada sob formas de discutível sutileza.



Imagine a felicidade daquela esposa que, tendo recebido um aspirador de pó como presente de aniversário de seu marido, se deparasse com a panacéia ao abrir a caixa.



A partir desse momento, o vibrador começou a perder sua imagem de instrumento médico e nos finais dos anos 60, início da "queima dos sutiãs", quando estudos revelaram a importância do orgasmo pela estimulação direta no clitóris, o vibrador se popularizou como um aparelho sexual fundamental para a mulher.


Daí, veio a primeira grande mudança, agregar ao bastão uma capa de silicone ou látex, dando ao produto novos formatos e cores e proporcionando um contato muito mais agradável a pele.


Em seguida, com a evolução tecnológica, micro motores foram desenvolvidos aliados a baterias mais leves e duradouras, reduzindo o peso dos produtos e criando vários tipos de vibração para estimular ainda mais a região pubiana.





Este acima, foi recentemente lançado pela empresa Canden Enterprises, "Earth Angel", o primeiro vibrador ecológico.


Este é o primeiro aparelho do gênero a funcionar sem pilhas e ativa-se graças a um mecanismo que utiliza uma manivela (voltamos aos anos 20) para carregar. A empresa assegura que com apenas quatro minutos usando a manivela, o aparelho funcionará durante 30 minutos.


E, para encerrar este post, enfim o cinema - sob uma ótica não pornográfica - prestará sua homenagem aos vibradores.


As filmagens vão ser realizadas no mês de outubro nas cidades de Londres e Luxemburgo. A estreia é prevista para 2011, quw se chamará "Hysteria" ("Histeria", em tradução livre) se passará na Era Vitoriana e mostrará dois médicos que tratam casos de histeria, uma condição caracterizada por uma irritabilidade aguda, raiva e choro súbito, associada às mulheres.


Um dos personagens faz um experimento elétrico para o tratamento da "doença". Dentre as atrizes do elenco, está Maggie Gyllenhaal (mas não, ela não será das que fazem uso do instrumento).


Fontes consultadas MDig / MiltonRibeiro / FrequenciaX / cinema.uol


Postagem original: http://leiaisso2.blogspot.com/search?updated-max=2011-09-18T09%3A34%3A00-03%3A00&max-results=15 - 13/09/2011

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Localizado ponto de queda do satélite da NASA

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Satélite da NASA caiu em carro.


(http://www.youtube.com/watch?v=fgTyiaDmytw)
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Pensamento filosófico feminino

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Frase do dia, do mês, do ano...






"De que adianta sermos gatas, se


 amamos os cachorros e eles correm


 atrás das galinhas?"

Descomplique

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Vocabulário Feminino


Se eu tivesse que escolher uma palavra - apenas uma - para ser item obrigatório no vocabulário da mulher de hoje, essa palavra seria um verbo de quatro sílabas: descomplicar. 

Depois de infinitas (e imensas) conquistas, acho que está passando da hora de aprendermos a viver com mais leveza: exigir menos dos outros e de nós próprias, cobrar menos, reclamar menos, carregar menos culpa, olhar menos para o espelho.

Descomplicar talvez seja o atalho mais seguro para chegarmos à tão falada qualidade de vida que queremos - e merecemos - ter.

Mas há outras palavras que não podem faltar no kit existencial da mulher moderna. 
Amizade, por exemplo. 

Acostumadas a concentrar nossos sentimentos (e nossa energia...) nas relações amorosas, acabamos deixando as amigas em segundo plano. E nada, mas nada mesmo, faz tão bem para uma mulher quanto a convivência com as amigas. 
Ir ao cinema com elas (que gostam dos mesmos filmes que a gente), sair sem ter hora para voltar, compartilhar uma caipivodca de morango e repetir as histórias que já nos contamos mil vezes - isso, sim, faz bem para a pele. Para a alma, então, nem se fala. 

Ao menos uma vez por mês, deixe o marido ou o namorado em casa, prometa-se que não vai ligar para ele nem uma vez (desligue o celular, se for preciso) e desfrute os prazeres que só uma 
boa amizade consegue proporcionar.

E, já que falamos em desligar o celular, incorpore ao seu vocabulário duas palavras que têm estado ausentes do cotidiano feminino: pausa e silêncio.

Aprenda a parar, nem que seja por cinco minutos, três vezes por semana, duas vezes por mês, ou uma vez por dia - não importa - e a ficar em silêncio.

Essas pausas silenciosas nos permitem refletir, contar até 100 antes de uma decisão importante, entender melhor os próprios sentimentos, reencontrar a serenidade e o equilíbrio quando é preciso.

Também abra espaço, no vocabulário e no cotidiano, para o verbo ir. Não há creme anti-idade nem botox que salve a expressão de uma mulher mal-humorada. Azedume e amargura são palavras que devem ser banidas do nosso dia a dia. Se for preciso, pegue uma comédia na locadora, preste atenção na conversa de duas crianças, marque um encontro com aquela amiga engraçada - faça qualquer coisa, mas ria. O riso nos salva de nós mesmas, cura nossas angústias e nos reconcilia com a vida.

Quanto à palavra dieta, cuidado: mulheres que falam em regime o tempo todo costumam ser péssimas companhias. Deixe para discutir carboidratos e afins no banheiro feminino ou no consultório do endocrinologista. Nas mesas de restaurantes, nem pensar.

Se for para ficar contando calorias, descrevendo a própria culpa e olhando para a sobremesa do companheiro de mesa com reprovação e inveja, melhor ficar em casa e desfrutar sua salada de alface e seu chá verde sozinha.

Uma sugestão? Tente trocar a obsessão pela dieta por outra palavra que, essa sim, deveria guiar nossos atos 24 horas por dia: gentileza.

Ter classe não é usar roupas de grife: é ser delicada. Saber se comportar é infinitamente mais importante do que saber se vestir.

Resgate aquele velho exercício que anda esquecido: aprenda a se colocar no lugar do outro, e trate-o como você gostaria de ser tratada, seja no trânsito, na fila do banco, na empresa onde trabalha, em casa, no supermercado, na academia.

E, para encerrar, não deixe de conjugar dois verbos que deveriam ser indissociáveis da vida: sonhar e recomeçar.

Sonhe com aquela viagem ao exterior, aquele fim de semana na praia, o curso que você ainda vai fazer, a promoção que vai conquistar um dia, aquele homem que um dia (quem sabe?) ainda vai ser seu, sonhe que está beijando o Brad Pitt ... sonhar é quase fazer acontecer. Sonhe até que aconteça.

E recomece, sempre que for preciso: seja na carreira, na vida amorosa, nos relacionamentos familiares. A vida nos dá um espaço de manobra: use-o para reinventar a si mesma.

E, por último (agora, sim, encerrando), risque do seu Aurélio a palavra perfeição.

O dicionário das mulheres interessantes inclui fragilidades, inseguranças, limites. Pare de brigar com você mesma para ser a mãe perfeita, a dona de casa impecável, a profissional que sabe tudo, a esposa nota mil.

Acima de tudo, elimine de sua vida o desgaste que é tentar ter coxas sem celulite, rosto sem rugas, cabelos que não arrepiam, bumbum que encara qualquer biquíni. Mulheres reais são mulheres imperfeitas. E mulheres que se aceitam como imperfeitas são mulheres livres.

Viver não é (e nunca foi) fácil, mas, quando se elimina o excesso de peso da bagagem (e a busca da perfeição pesa toneladas), a tão sonhada felicidade fica muito mais possível.


(Leila Ferreira)
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Tatuagens...

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Antes de fazer uma... Pense bem!

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O mal é masculino!

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Mulher se dá conta de coisas inimagináveis pelos homens. Imagina que, para celebrar o fato de ser a primeira representante do gênero a abrir uma assembleia-geral das Nações Unidas, Dilma Rousseff exerceu tal pioneirismo destacando do alto da tribuna que, na língua portuguesa, palavras como ‘vida’, ‘alma’, ‘esperança’, ‘coragem’ e ‘sinceridade’ são femininas.

Isso talvez explique porque a presidente já vinha chamando ‘corrupção’ de “malfeito”. Na troca de um substantivo por outro, sem que ninguém se desse conta, Dilma masculinizou a ‘pouca vergonha’ ministerial, provavelmente já pensando no mote de sua estreia histórica na ONU.

O elogio ao feminino está virando uma obsessão presidencial. Dizem que, na dúvida entre ‘desvio’ ou ‘roubalheira’, ela não terá dúvida em reconhecer publicamente pela designação masculina o que for preciso varrer de seu governo. Na República do Feminino, pois, ‘propina’ será sempre tratada por ‘suborno’; ‘desfaçatez’ por ‘descaramento’; ‘conversa-fiada’ por ‘papo furado’…

‘A voz da democracia’, como lembrou a presidente na ONU “é feminina”, gênero comum em nosso idioma a palavras de ordem substantivas como ‘liberdade’, ‘igualdade’ e ‘fraternidade’, sem falar na ‘preguiça’, na ‘praia’ e na ‘caipirinha’.

No universo predominantemente masculino da Praça dos Três Poderes, destacam-se termos como ‘mensalão’, ‘baixo clero’, ‘calote’, ‘conchavo’, ‘lobby’ e ‘trambique’, sem falar no ‘Sarney’, no ‘ar seco’ e, de maneira mais abrangente, no ‘fim do mundo’!

Pela linha de raciocínio que Dilma desenvolveu na ONU só duas expressões não se enquadram nesta dicotomia: ‘picaretas’ e ‘caras-de-pau’ são comuns de dois gêneros.

(Tutty Vasques - Fonte: http://blogs.estadao.com.br/tutty/)
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Intenção e gesto (Dora Kramer)


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Quando governos falam em "novas fontes de recursos" referem-se ao bolso do contribuinte. Quanto a isso, a ministra das Relações Institucionais não fez restar dúvida na entrevista publicada ontem no Estado.

"É um novo imposto", disse Ideli Salvatti, deixando patente a ideia do Planalto de ressuscitar a CPMF com nova roupagem para, em tese, financiar o sistema público de saúde.

"Em tese" porque por nove anos vigorou o imposto do cheque criado com o mesmo objetivo no governo Fernando Henrique Cardoso sem que houvesse o cumprimento do compromisso original.

Do destino dos recursos da CPMF ninguém sabe ao certo, embora se saiba que certamente não serviram para fazer alguma diferença entre o atendimento oferecido antes e depois da criação do imposto teoricamente específico.

A assertividade da ministra Salvatti hoje contrasta com a afirmativa do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em fevereiro último, sobre o mesmo assunto.

"Todo mundo sabe e concorda que a saúde precisa de mais dinheiro, mas se o governo não fizer a sua parte, se não fizermos o máximo com o que temos, é absolutamente impossível pensar em exigir o que quer que seja a mais da população", dizia ele, defendendo que o governo primeiro mostrasse serviço e depois pensasse em falar na cobrança de um novo imposto.

Padilha foi claríssimo: "Não vamos conseguir mais recursos para a saúde se não mostrarmos antes para a sociedade para onde vai o dinheiro e se está sendo bem empregado".

Tinha até um plano: que o governo federal passasse a exigir dos Estados e municípios, para onde vão 90% dos recursos do orçamento do Ministério da Saúde, o cumprimento de metas de desempenho, com cobrança de resultados e avaliação do grau de satisfação do usuário.

Numa primeira etapa, com duração de um ano a partir de abril último, seriam firmados "contratos de ação pública" com cada uma das 500 "regionais sanitárias" em que seria dividido o País e aquelas que se saíssem melhor teriam prioridade para receber verbas e equipamentos.
Segundo o ministro, a execução dessa fase só dependeria da capacidade de organização e fiscalização do Poder Executivo. Depois disso, aí sim o governo precisaria trabalhar pela aprovação no Congresso de uma lei de responsabilidade sanitária, nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal, a fim de estabelecer punições para as regionais que não atendessem às exigências de desempenho.

A proposta, de acordo com Alexandre Padilha, já estava desde então (em fevereiro) tramitando no Congresso.

Pois bem. Tomando por base o mês de abril, daquele ano pretendido pelo ministro da Saúde em que o governo se poria a teste mostrando à população capacidade de "fazer o máximo com o que temos", transcorreram cinco meses.

E o que se ouve sobre o assunto são as palavras da ministra Salvatti preconizando justamente o contrário do que ele havia dito.

Nada foi dito sobre resultados a serem apresentados como preliminar à cobrança de novo imposto. Nunca mais se ouviu falar sobre o andamento daquele plano de gestão empresarial do sistema, que pode até estar em execução, mas não faz parte da argumentação apresentada pela ministra das Relações Institucionais para justificar a criação de um novo imposto.

A respeito disso, ela só discorre sobre o "venha a nós". Ao reino de quem depende do sistema público de saúde, nada.

Só o que a ministra sabe é que será mesmo inevitável criar um novo imposto, coisa que com o apoio dos governadores ela não acredita que será difícil. Mesmo no ano eleitoral de 2012, que é quando ela acredita que a discussão será posta no Congresso.

E por que, segundo ela, não haverá maiores dificuldades? "Porque os governadores acham e nós concordamos, que o principal tema da eleição de 2012 será a saúde." Pode até ser. Principalmente se o governo estiver apostando na eficácia do discurso de o Congresso não poder se recusar a aprovar a criação de "novas fontes" de recursos para financiar o bem-estar comum para não parecer irresponsável diante da população.

Nesse caso, precisará apostar também num surto de amnésia geral.


(Dora Kramer - Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,intencao-e-gesto-,777990,0.htm)
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A nova galeria de chatos (Arnaldo Jabor)


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Estou num elevador vazio, indo para o vigésimo andar. Entra um cara, e me olha. Eu, precavido, já estou de cabeça baixa. Fico tenso de dúvida: "Ele ousará falar?" - eu penso. "Falo com ele?" - ele pensa. Passam uns andares. "Ele não vai aguentar" - eu penso.
Não dá outra: "Você não é aquele cara da TV?".
"Sou... ha, ha" - sorrio, pálido, fingindo-me deliciado.
"Só que eu esqueci teu nome... Como é teu nome mesmo?"
Penso em enforcá-lo na gravata de bolinhas, mas respondo: "Arnaldo".
"Não; é outro nome. Qual é mesmo?" Desesperado, murmuro: "Jabor"... "É isso, porra! Claro... E é você mesmo que escreve aquelas coisas...?" Penso, sorrindo: "Não..., é tua mãe que me manda lá da zona...". Como eu apareço peruando na TV, dá nisso. O sujeito pensa que é íntimo, pois quando ele transa com a mulher de noite, estou olhando da tela.
Este é um pequeno exemplo, pois a galeria de chatos está em permanente renovação. Eu já escrevi aqui sobre isso, mas tenho de repetir, porque eles evoluem e agora se expandem pelas redes sociais. São os novos chatos digitais que abundam (sic) nos twitters e facebooks. Podemos chamá-los de "e-chatos" que me atormentam com e-mails loucos ou produzem textos ridículos com meu nome.
Todo dia surge uma nova besteira, com dezenas de e-mails me elogiando pelo que eu "não" fiz. Três senhoras me abordam - "Teu artigo na internet é genial! Principalmente quando você escreve: 'As mulheres são tão cheirosinhas; elas fazem biquinho e deitam no teu ombro...'".
"Não fui eu...", respondo. Elas não ouvem: "Modéstia sua! Finalmente alguém diz a verdade sobre as mulheres! Você também escreveu que 'bunda dura' não é importante. Fiquei felicíssima, porque tenho bunda mole!". (Juro que é verdade.)
Há um outro texto rolando (e elogiado), em que louvo a estupidez humana, chamado "Seja Idiota!"... É um sucesso entre imbecis...
Mas, além dos "e-chatos", não podemos nos esquecer dos chatos ao vivo, que também mudam e se reinventam.
Claro que gosto de conversar com eventuais leitores ou ouvintes. Não sou tão chato assim. Muitos são ótimos e gentis. Mas, tem cada um...
O fundador da estirpe dos chatos é o célebre "chato de galochas", cujo nome provêm do sujeito que calçava as galochas e saía de casa com chuva torrencial para chatear alguém a domicílio. Seria o chato "on delivery".
Agora, surgiu um tipo perigoso: o "chato-autocrítico". Ele chega com um sorriso constrangido e confessa logo de saída: "Eu sei que sou chato... ha... ha..., mas desculpe eu perguntar: na sua opinião, o Lula vai voltar?".
Além do autocrítico, há o chato-crítico, ou o "chato do mas". Ele te agarra na rua e começa com elogios rasgados: "Você é o máximo; aquele teu artigo foi legal, mas... (trata-se do "chato do mas") você disse uma besteira horrível, outro dia - o PIB da China não é aquele que você falou... Tá por fora! Tem de ler mais economia, hein? Ha, ha".
Há também os "chatos de esquerda" e "chatos de direita". Ambos me empurram contra uma parede e me doutrinam sobre o Brasil. Acham que sabem tudo. E vejo que os dois chatos ideológicos se encontram no infinito, pois a essência da chatice é a certeza...
Outro tipo terrível é o que te elogia pelos piores motivos: "O que mais gosto em você é o desprezo que você tem por esse povo ignorante e vagabundo. Brasileiro não presta...". Pode?
Outro dia, sofri um assédio inédito: os "chatos em dupla". Eu estava no aeroporto, às oito da manhã, quando eles vieram. Veio um e começou a me inquirir gravemente sobre o Oriente Médio. Suando frio, comecei a resmungar com a boca pastosa, quando surgiu um outro, desconhecido do primeiro. Eis que o novo chato interrompeu o titular da posição com perguntas ansiosas, "se eu achava que a Dilma estava indo bem", etc... Aí, deu-se o conflito: os dois passaram se digladiar na minha frente pelo direito 'hierárquico' de me encher o saco. "Eu cheguei primeiro, tenho prioridade, depois você fala! Sim, não!" Parei de sofrer e fiquei maravilhado com a rica 'biodiversidade' da espécie. Neste instante, surge outro chato, o famoso "altissonante", que me agarra e berra: "Cara, eu te adoro! Sou teu fã!" e me bate violentamente nas costas, num elogio com laivos de insulto e vingança. É assim...
Nesta nova galeria, há veteranos, como o chato da Ponte Aérea... Ele fica à espreita na sala de embarque; quando você entra, ele já te viu de longe... Você pensa: "Será que ele me viu?". Você finca os olhos no jornal, com temor e esperança. Dali a pouco, passos a teu lado, uma maleta pousa no chão e ele gruda: "Posso lhe dizer uma coisa?... Acho que você devia falar menos de política e ver o lado humano do cidadão comum... Veja eu, por exemplo; sofri muito quando minha mulher me largou, mas posso lhe aconselhar que o amor, meu caro...". Trata-se do "chato conselheiro", que, em geral, te deixa um cartão de visitas: "Se precisar, liga".
Também lembro sempre do "chato-corno". Eu tomando um cafezinho no aeroporto, oito da manhã, indo para Porto Velho. Vem o cara no celular, falando alto: "Ihh..., meu amor..., sabe quem está aqui ao meu lado?... O Jabor..., quer ver?". Se vira para mim e: "Fala aqui com minha namorada; o nome dela é Eliette".
Um dia, houve a apoteose do chato do autógrafo. Fazia eu um modesto xixi num banheiro de cinema, quando o cara chegou: "Me dá um autógrafo?". Fiquei uma arara: "Estou fazendo xixi..., porra..., tu quer o quê?". E ele: "Qual é a tua? Tá pensando que eu sou viado? Enfia esse autógrafo, etc...".
Em geral o chato é carente, com uma ponta de sadismo. Ele gosta de ver teu sofrimento; por isso, não adiantam respostas malcriadas, resmungos frios. Ele gruda mais. Uma técnica que funciona é chatear o chato. Seja o chato do chato. Ele pergunta: "Você vai fazer outro filme, já que esse não deu grana?". Aí, você retruca: "O que você está achando do PMDB?".
O Tom Jobim, uma das maiores autoridades em chatos de todos os tempos, me ensinou um truque infalível: "Use óculos escuros. O chato fica desorientado, pois ele adora ver o próprio rosto refletido em teus olhos desesperados".

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