domingo, 23 de outubro de 2016

Carta de amor de Henry Miller para Anaïs Nin

'





«... Ayer pensé en ti, en cómo ciñes las piernas en torno a mí, de pie, en cómo se tambalea la habitación, en cómo caigo sobre ti en la oscuridad sin saber nada...»


Quiero decir que no puedo ser absolutamente leal, no está dentro de lo que soy capaz. Me gustan las mujeres, o la vida, demasiado… No sé cual de las dos cosas. Pero ríe, Anaïs. Me encantaría oírte reír. Eres la única mujer que tiene un sentido de la alegría, una sabia tolerancia; no, es más, parece que me instas a que te traicione. Por eso te amo. Y ¿qué es lo que te lleva a hacer eso, el amor? Es hermoso amar y ser libre al mismo tiempo.

No sé lo que espero de ti, pero es algo parecido a un milagro. Te voy a exigir todo, hasta lo imposible, porque me animas a ello. Eres realmente fuerte. Me gusta incluso tu engaño, tu traición. Me parece aristocrático (¿suena inapropiada la palabra aristocrático en mi boca?).


Sí, Anaïs, pensaba en como traicionarte, pero no puedo. Te deseo. Quiero desnudarte, vulgarizarte un poco… no sé, ay, lo que me digo. Estoy un poco bebido porque tú no te encuentras aquí. Me gustaría dar una palmada y Voilà, ¡Anaïs! Quiero que seas mía, usarte, follarte, enseñarte cosas. No, no siento aprecio por ti, ¡no lo permita Dios! Tal vez quiera hasta humillarte un poco, ¿por qué? ¿por qué? ¿por qué no me arrodillo ante ti y te adoro? No puedo, te amo alegremente ¿Te gusta eso? Y querida Anaïs, soy tantas cosas. Ves solamente las cosas buenas ahora, o al menos eso es lo que me haces creer. Quiero tenerte al menos un día entero conmigo. Quiero ir a sitios contigo, poseerte. No sabes lo insaciable que soy, ni lo miserable, además de egoísta.


Me he portado bien contigo. Pero te advierto, no soy ningún ángel. Pienso principalmente que estoy un poco borracho. Me voy a la cama; resulta demasiado doloroso permanecer despierto. Soy insaciable. Te pediré que hagas lo imposible. No sé lo que es. Probablemente tú me lo dirás. Eres más rápida que yo. Me encanta tu coño, Anaïs, me vuelve loco. Y tu manera de pronunciar mi nombre. ¡Dios mío, parece irreal! Escucha, estoy muy ebrio. No soporto estar aquí solo. Te necesito. ¿Puedo pedírtelo todo? Puedo ¿Verdad? Ven enseguida y fóllame. Descarga conmigo. Rodéame con las piernas. Caliéntame...


Fontes: 
http://cartasenlanoche.blogspot.com.br/2009/12/dos-cartas-tumultuosas-de-henry-miller.html - Henry y June. Anaïs Nin (Diario íntimo)
.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

CONSELHOS DE PUTA VELHA.

.










Não se esforce demais.
O lingerie de seda, o perfume importado e o jantarzinho a luz de velas com vinho caro é para quem merece.
Algumas mulheres têm mania de pegar um ficante que encontrou há a uma semana na balada, levar pra casa e tratar como um rei. Tratamento vip é para namorado firme e marido, se merecerem. Porte-se como uma joia rara e como tal não se doe facilmente para o primeiro que aparecer, não importa o nível da sua carência, seja valiosa.
Pare de ser tão boazinha.
Abrir mão do que gosta, mudar o jeito de ser, deixar de se divertir, só porque começou um relacionamento e está apaixonada?
Homem gosta de mulher com vida própria, orbitar em volta dele é receita certa para o fracasso, ele pode momentaneamente demonstrar que gosta deste estilo, mas logo se cansa.
No fim você perde o namorado e os amigos.
Sem contar que ele não vai abrir mão de assistir futebol para ficar com você. Use o mesmo critério para lidar com ele e no fim ele estará te acompanhando em tudo, feliz da vida, afinal é muito bom estar ao lado de pessoas que tem vida.
Pare com os joguinhos.
Os casais perdem a oportunidade de se conhecer de verdade e sem máscaras.
Está manjado demais transar só no terceiro encontro, não responder a mensagem antes de 60 minutos, só atender o telefone no quinto toque, fazer ciúmes sem necessidade e fingir que não dá a mínima. Encontrar o equilíbrio entre ser disponível demais e ser inacessível está difícil.
Ninguém mais demonstra interesse e tesão pelo outro de forma saudável.
Nunca sabemos se o outro não liga no dia seguinte porque não está interessado ou porque está se fazendo de difícil para valorizar o passe.
Ter tato para não perder a dignidade e saber a hora de bater em retirada é importante, mas um pouco de transparência e sinceridade não faz mal a ninguém.
Se for fazer joguinho, seja inteligente, crie novos truques, pois alguns já estão batidos demais.
Jamais se rebaixe.
Não importa qual foi a traição, a culpa é do seu parceiro e não da “vagabunda” que ele comeu, a não ser que ela tenha colocado um revolver na cabeça dele.
Essa história de mulher bater na amante é ridícula.
Nenhum homem é digno de escândalos e manifestações públicas de ciúmes, isso inclui as indiretas nas redes sociais.
Mesmo que tiver chorando lágrimas de sangue, fique em cima do salto, ninguém precisa saber da sua condição miserável, não dê esse gostinho para as inimigas e para algumas amigas falsas e invejosas. Aprenda, para algumas pessoas só contamos as vitórias!
Seja você mesma.
A performance do filme pornô de quinta categoria não precisa necessariamente ir para sua cama, nada mais patético que a mulherada que finge orgasmo e ainda quer contar vantagem “ pras amiga”.
Sem contar que se a coisa for forçada demais o homem percebe.
Já ouvi depoimentos de caras que simplesmente brocharam em situações assim.
Nada contra quem gosta do estilo e faz porque realmente gosta e está com vontade, mas tudo que é falso e feito somente para tentar impressionar o outro pode gerar efeito contrário.
A diferença entre ser feminina e mulherzinha.
Homem quer ser homem, o chefe da casa.
Suba na cadeira e chame o gato pra matar a barata, peça-o para abrir a conserva de azeitona e trocar a resistência do chuveiro (essa é uma lição que ainda não aprendi).
Quando o macho alfa terminar, não esqueça de agradecer e elogiar tanta virilidade
Não importa se você é presidente de uma multinacional e ganha cinco vezes mais que ele, seu parceiro vai adorar uma mulher feminina que o valorize enquanto homem e que o faça sentir-se útil (isso se ele merecer).
A mulherzinha olha a marca do carro, dá golpe dá barriga e é manipuladora, faz escândalo por qualquer coisa, quebra as finanças do parceiro, requer atenção total, mas é afetivamente mesquinha, só recebe.
Mulherzinha, ai que preguiça!
Para os leitores que levam tudo ao pé da letra, é claro que esse é um exemplo, existem infinitas possibilidades para valorizar um homem, e não podemos limitá-los apenas a matadores de baratas e abridores de conservas.
Escolha bem seu parceiro use a razão não só o coração.
A mulherada lutou e luta tanto por igualdade, mas hoje tem jornada dupla e até tripla para dar conta da vida profissional, casa, filhos e marido.
Queria saber onde está a igualdade nisso, pois enquanto a mulher se desdobra, muitos maridos estão no sofá assistindo tv ou no bar com os amigos.
Quando for se relacionar com alguém, antes de se envolver loucamente em um amor de pica sem fim, preste muita atenção na sogra, veja como ela trata os filhos.
Dá tudo na mão, recolhe os sapatos e meias sujas pela casa, faz o pratinho de comida com o feijão em cima, lava as cuecas, defende cada um até a morte mesmo que estejam errados?
Se for esse o caso, AMIGA CORRAAAAA!
Caso contrário, você será uma forte candidata a Amélia emancipada.
O borogodó – Magnetismo pessoal e amor próprio vale mais que um corpo sarado.
A mulherada está caprichando tanto no treino, na lipoaspiração e no silicone, mas o número de fracassos amorosos não diminui.
Outra ala se sente gorda demais e sem autoconfiança para atrair o sexo oposto, mas também não faz nada para mudar.
Existem mulheres que aparentemente não possuem nada de especial, podem até ser “feias”, porém, por alguma razão os homens caem aos seus pés.
Esse magnetismo em algumas mulheres vem de onde?
O que elas têm é independência emocional, se apoiam sozinhas, se bastam, tem outras metas além de agarrar um homem, estudam, trabalham, viajam e são felizes sozinhas ou acompanhadas.
Não vivem carentes chorando pelos cantos, não são cheias de mágoas, não pegaram ódio dos homens por conta de decepções do passado.
Aconteça o que acontecer, essas mulheres estão sempre de cabeça erguida e tem uma vida que não se limita apenas em se arrumar para encontrar um macho.
Seja uma puta entre quatro paredes e o que quiser na sociedade. Afinal o que é ser uma dama na sociedade?
A Amélia emancipada devotada à família, a esposa renegada que trabalha que nem camela para dividir com o marido as contas de casa?
Tem algo mais irritante que estereótipos do que é ser uma boa mãe e esposa?
E a quantidade de cobranças que recebemos quando não atendemos esse modelo?
E essa mulher resignada e atarefada, consegue ser o mulherão que os homens adoram entre quatro paredes? Claro que não!
Conheço casais que nunca conversaram sobre suas preferências e fantasias sexuais.
Tudo bem que não é fácil manter o tesão a todo vapor 100% do tempo, mas quanto vale o seu relacionamento?
Será que ele não merece um pouco mais de investimento?
Nem é tão difícil assim satisfazer um homem, faça bem feito, faça com gosto, mostre que ele é desejado (se ele merecer) nem precisa se pendurar no lustre e saber todas as posições do kama sutra, basta tirar algumas horas para dedicar exclusivamente a ele, com amor, carinho e uma pitada de sacanagem, por que não?
Por ele sim vale investir no jantarzinho a luz de velas, no lingerie de renda e no vinho caro.

Esse título foi inspirado por uma grande amiga, prostituta aposentada, que acumulou uma experiência de vida que poucas vezes vi igual.
Na verdade, ela tem a idade da minha mãe e sempre me deu conselhos dizendo: – Ouve o conselho dessa puta velha!
Por incrível que pareça, toda vez que não seguia os conselhos dela me dava mal.
Esta mulher até hoje tem em suas mãos tudo que quer e um poder de atração de dar inveja a qualquer ninfeta de 20 anos, soube investir todo dinheiro que ganhou e tem uma vida mais que tranquila ao lado do grande e único amor de sua vida.
E quando pensamos em puta, pensamos logo em promiscuidade e vender o corpo, mas tem muita puta por aí mais digna e honesta que certas mulheres tidas como “damas da sociedade”, mas que já se venderam mais que tudo e por muito pouco.
Histórias assim são para quebrar os paradigmas e fazer repensar alguns valores, sem contar que chacoalham os puritanos, as feministas e críticos de plantão.



ISIS THOT


Fonte: http://casadabruxajadefenixbruxariaancestral.blogspot.com.br/2016/10/conselhos-de-puta-velha.html
.

domingo, 16 de outubro de 2016

SE NÃO QUISER ADOECER, FALE DOS SEUS SENTIMENTOS! – POR DRAUZIO VARELLA

.











Emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna.

Com o tempo, a repressão dos sentimentos, a mágoa, a tristeza, a decepção degenera até em câncer.

Então, vamos confidenciar, desabafar, partilhar nossa intimidade, nossos desejos, nossos pecados.

O diálogo, a fala, a palavra é um poderoso remédio e poderosa terapia.

Se não quiser adoecer – “tome decisão”.

A pessoa indecisa permanece na dúvida, na ansiedade, na angústia.

A indecisão acumula problemas, preocupações, agressões.

A história humana é feita de decisões. Para decidir, é preciso saber renunciar, saber perder vantagens e valores para ganhar outros.

As pessoas indecisas são vítimas de doenças nervosas, gástricas e problemas de pele.

Se não quiser adoecer – “busque soluções”.

Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas. Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo.

Melhor acender o fósforo que lamentar a escuridão. Somos o que pensamos. O pensamento negativo gera energia negativa que se transforma em doença.

Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe.

Se não quiser adoecer – “não viva sempre triste”.

O bom humor, a risada, o lazer, a alegria, recuperam a saúde e trazem a vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive.

Se não quiser adoecer – “não viva de aparências”.

Quem esconde a realidade, finge, faz pose, quer sempre dar a impressão de estar bem, quer mostrar-se perfeito, bonzinho etc. Está acumulando toneladas de peso…

Uma estátua de bronze, mas com pés de barro.

Se não quiser adoecer – “aceite-se”.

A rejeição de si próprio, a ausência de autoestima faz com que sejamos algozes de nós mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo de uma vida saudável.


Drauzio Varella

.

Cante lá que eu canto cá.

.









Poeta, cantô de rua,

Que na cidade nasceu,

Cante a cidade que é sua,

Que eu canto o sertão que é meu.



Se aí você teve estudo,

Aqui, Deus me ensinou tudo,

Sem de livro precisá

Por favô, não mêxa aqui,

Que eu também não mexo aí,

Cante lá, que eu canto cá.



Você teve inducação,

Aprendeu munta ciença,

Mas das coisa do sertão

Não tem boa esperiença.

Nunca fez uma paioça,

Nunca trabaiou na roça,

Não pode conhecê bem,

Pois nesta penosa vida,

Só quem provou da comida

Sabe o gosto que ela tem.



Pra gente cantá o sertão,

Precisa nele morá,

Tê armoço de fejão

E a janta de mucunzá,

Vivê pobre, sem dinhêro,

Socado dentro do mato,

De apragata currelepe,

Pisando inriba do estrepe,

Brocando a unha-de-gato.



Você é muito ditoso,

Sabe lê, sabe escrevê,

Pois vá cantando o seu gozo,

Que eu canto meu padecê.

Inquanto a felicidade

Você canta na cidade,

Cá no sertão eu infrento

A fome, a dô e a misera.

Pra sê poeta divera,

Precisa tê sofrimento.



Sua rima, inda que seja

Bordada de prata e de ôro,

Para a gente sertaneja

É perdido este tesôro.

Com o seu verso bem feito,

Não canta o sertão dereito,

Porque você não conhece

Nossa vida aperreada.

E a dô só é bem cantada,

Cantada por quem padece.



Só canta o sertão dereito,

Com tudo quanto ele tem,

Quem sempre correu estreito,

Sem proteção de ninguém,

Coberto de precisão

Suportando a privação

Com paciença de Jó,

Puxando o cabo da inxada,

Na quebrada e na chapada,

Moiadinho de suó.



Amigo, não tenha quêxa,

Veja que eu tenho razão

Em lhe dizê que não mêxa

Nas coisa do meu sertão.

Pois, se não sabe o colega

De quá manêra se pega

Num ferro pra trabaiá,

Por favô, não mêxa aqui,

Que eu também não mêxo aí,

Cante lá que eu canto cá.



Repare que a minha vida

É deferente da sua.

A sua rima pulida

Nasceu no salão da rua.

Já eu sou bem deferente,

Meu verso é como a simente

Que nasce inriba do chão;

Não tenho estudo nem arte,

A minha rima faz parte

Das obra da criação.



Mas porém, eu não invejo

O grande tesôro seu,

Os livro do seu colejo,

Onde você aprendeu.

Pra gente aqui sê poeta

E fazê rima compreta,

Não precisa professô;

Basta vê no mês de maio,

Um poema em cada gaio

E um verso em cada fulô.



Seu verso é uma mistura,

É um tá sarapaté,

Que quem tem pôca leitura

Lê, mais não sabe o que é.

Tem tanta coisa incantada,

Tanta deusa, tanta fada,

Tanto mistéro e condão

E ôtros negoço impossive.

Eu canto as coisa visive

Do meu querido sertão.



Canto as fulô e os abróio

Com todas coisa daqui:

Pra toda parte que eu óio

Vejo um verso se bulí.

Se as vêz andando no vale

Atrás de curá meus male

Quero repará pra serra

Assim que eu óio pra cima,

Vejo um divule de rima

Caindo inriba da terra.



Mas tudo é rima rastêra

De fruita de jatobá,

De fôia de gamelêra

E fulô de trapiá,

De canto de passarinho

E da poêra do caminho,

Quando a ventania vem,

Pois você já tá ciente:

Nossa vida é deferente

E nosso verso também.



Repare que deferença

Iziste na vida nossa:

Inquanto eu tô na sentença,

Trabaiando em minha roça,

Você lá no seu descanso,

Fuma o seu cigarro mando,

Bem perfumado e sadio;

Já eu, aqui tive a sorte

De fumá cigarro forte

Feito de paia de mio.



Você, vaidoso e facêro,

Toda vez que qué fumá,

Tira do bôrso um isquêro

Do mais bonito metá.

Eu que não posso com isso,

Puxo por meu artifiço

Arranjado por aqui,

Feito de chifre de gado,

Cheio de argodão queimado,

Boa pedra e bom fuzí.



Sua vida é divirtida

E a minha é grande pená.

Só numa parte de vida

Nóis dois samo bem iguá:

É no dereito sagrado,

Por Jesus abençoado

Pra consolá nosso pranto,

Conheço e não me confundo

Da coisa mió do mundo

Nóis goza do mesmo tanto.



Eu não posso lhe invejá

Nem você invejá eu,

O que Deus lhe deu por lá,

Aqui Deus também me deu.

Pois minha boa muié,

Me estima com munta fé,

Me abraça, beja e qué bem

E ninguém pode negá

Que das coisa naturá

Tem ela o que a sua tem.



Aqui findo esta verdade

Toda cheia de razão:

Fique na sua cidade

Que eu fico no meu sertão.

Já lhe mostrei um ispeio,

Já lhe dei grande conseio

Que você deve tomá.

Por favô, não mexa aqui,

Que eu também não mêxo aí,

Cante lá que eu canto cá.



Patativa do Assaré - Fonte: http://www.fisica.ufpb.br/~romero/port/ga_pa.htm#Atri
.

á que eu canto cá.

sábado, 15 de outubro de 2016

A primeira mulher do Nunes – Crônica de Rubem Braga

.










Hoje, pela volta do meio-dia, fui tomar um táxi naquele ponto da Praça Serzedelo Correia, em Copacabana. Quando me aproximava do ponto notei uma senhora que estava sentada em um banco, voltada para o jardim; nas extremidades do banco estavam sentados dois choferes, mas voltados em posição contraria, de frente para o restaurante da esquina. Enquanto caminhava em direção a um carro, reparei, de relance, na relance, na senhora. Era bonita e tinha ar de estrangeira; vestia-se com muita simplicidade, mas seu vestido era de um linho bom e as sandálias cor de carne me pareceram finas. De longe podia parecer amiga de um dos motoristas; de perto, apesar da simplicidade de seu vestido, sentia-se que nada tinha a ver com nenhum dos dois. Só o fato de ter sentado naquele banco já parecia indicar tratar-se de uma estrangeira, e não sei por que me veio a idéia de que era uma senhora que nunca viveu no Rio, talvez estivesse em seu primeiro dia de Rio de Janeiro, entretida em ver as árvores, o movimento da praça, as crianças que brincavam, as babás que empurravam carrinhos. Pode parecer exagero que eu tenha sentido isso tudo de relance, mas a impressão que tive é que ela tinha a pele e cabelos muito bem tratados para não ser uma senhora rica ou pelo menos de certa posição, deu-me a impressão de estar fruindo um certo prazer em estar ali, naquele ambiente popular, olhando as pessoas com um ar simpático e vagamente divertido; foi o que me pareceu no rápido instante em que nossos olhares se encontraram.
Como o primeiro chofer da fila alegasse que preferia um passageiro para o centro, pois estava na hora de seu almoço, e os dois carros seguintes não tivessem nenhum chofer aparente, caminhei um pouco para tomar o que estava em quarto lugar. Tive a impressão de que a senhora se voltara para me olhar. Quando tomei o carro e fiquei novamente de frente para ela, e enquanto eu murmurava para o chofer o meu rumo – Ipanema – notei que ela desviava o olhar; o carro andara apenas alguns metros e, tomado de um pressentimento, eu disse ao chofer que parasse um instante. Ele obedeceu. Olhei para a senhora, mas ela havia voltado completamente a cabeça. Mandei tocar, mas enquanto o velho táxi rolava lentamente ao longo da praia eu fui possuído pela certeza súbita e insistente de que acabara de ver a primeira mulher do Nunes.
– Você precisa conhecer a primeira mulher do Nunes – me disse uma vez um amigo.
– Você precisa conhecer a primeira mulher do Nunes – me disse outra vez outro amigo.
Isso aconteceu há alguns anos, em São Paulo, durante os poucos meses em que trabalhei com o Nunes. Eu conhecera sua segunda mulher, uma morena bonitinha, suave, quieta – pois ele me convidara duas vezes a jantar em sua casa. Nunca me falara de sua primeira mulher, nem sequer de seu primeiro casamento. O Nunes era pessoa de certo destaque em sua profissão e afinal de contas um homem agradável, embora não brilhante; notei, entretanto, que sempre que alguém me falava dele era inevitável uma referência à sua primeira mulher.
Um casal meu amigo, que costumava passar os fins de semana em uma fazenda, convidou-me certa vez a ir com eles e mais um pequeno grupo. Aceitei, mas no sábado fui obrigado a telefonar dizendo que não podia ir. Segunda-feira, o amigo que me convidara me disse:
– Foi pena você não ir. Pegamos um tempo ótimo e o grupo estava divertido. Quem perguntou muito por você foi a Marissa.
– Quem?
– A primeira mulher do Nunes.
– Mas eu não conheço …
-Sei, mas eu havia dito a ela que você ia. Ela estava muito interessada em conhecer você.
A essa altura eu já sabia várias coisas a respeito da primeira mulher do Nunes; que era linda, inteligente, muito interessante, um pouco estranha, judia italiana, rica, tinha cabelos castanho-claros e olhos verdes e uma pele maravilhosa – “parece que está sempre fresquinha, saindo do banho”, segundo a descrição que eu ouvira.
Quando dei de mim eu estava, de maneira mais ingênua, mais tola, mais veemente, apaixonado pela primeira mulher do Nunes. Devo dizer que nessa ocasião eu emergia de um caso sentimental arrasador – um caso que mais de uma vez chegou ao drama e beirou a tragédia e em que eu mesmo, provavelmente, mais de uma vez, passei os limites do ridículo. Eu vivia sentimentalmente uma hora parda, vazia, feita de tédio e remorso; a lembrança da história que passara me doía um pouco e me amargava muito. Além disso minha situação não era boa; alguns amigos achavam – e um teve a franqueza de me dizer isso, quando bêbado – que eu estava decadente em minha profissão. Outros diziam que eu estava bebendo demais. Enfim, tempos ruins, de moral baixa e ainda por cima de pouco dinheiro e pequenas dívidas mortificantes. Naturalmente eu me distraía com uma ou outra historieta de amor, mas saía de cada uma ainda mais entediado. A imagem da primeira mulher do Nunes começou a aparecer-me como a última esperança, a única estrela a brilhar na minha frente. Esse sentimento era mais ou menos inconsciente, mas tomei consciência aguda dele quando soube que ela ganhara uma bolsa esplêndida para passar seis meses nos Estados Unidos. Senti-me como que roubado, traído pelo governo norte-americano. Mas a notícia veio com um convite – para o jantar de despedida da primeira mulher do Nunes.
Isso aconteceu há quatro ou cinco anos. Mudei-me de São Paulo, fiz algumas viagens, resolvi parar mesmo no Rio – e naturalmente me aconteceram coisas. Nunca mais vi o Nunes. Aliás, nos últimos tempos de nossas relações, eu me distanciara dele por um absurdo constrangimento, o pudor pueril do que ele pudesse pensar no dia em que soubesse que entre mim e a sua primeira mulher… Na realidade nunca houve nada entre nós dois; nunca sequer nos avistamos. Uma banal gripe me impediu de ir ao jantar de despedida; depois eu soube que sua bolsa fora prorrogada, depois ouvi alguém dizer que a encontrara em Paris – enfim, a primeira mulher do Nunes ficou sendo um mito, uma estrela perdida para sempre em remotos horizontes e que jamais cheguei a avistar.
Talvez fosse mesmo ela que estivesse pousada hoje, pelo meio-dia, na Praça Serzedelo Correia, simples, linda e tranqüila. Assim era a imagem que eu fazia dela; e tive a impressão de que seu rápido olhar vagamente cordial e vagamente irônico tentava me dizer alguma coisa, talvez contivesse uma espantosa e cruel mensagem: “eu sei quem é você; eu sou Marissa, a primeira mulher do Nunes; mas nosso destino é não nos conhecermos jamais…”

Fonte: http://contobrasileiro.com.br/a-primeira-mulher-do-nunes-cronica-de-rubem-braga/
.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Planta amazônica pode ajudar doentes de Alzheimer a criar novos neurônios

.










Chamada de camapu, a planta amazônica tem o poder de produzir novos neurônios no hipocampo, sendo útil no tratamento de doentes de Alzheimer.
O caminho para um tratamento eficaz de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, pode estar bem mais perto do que você pensava. Uma substância encontrada no caule de uma planta amazônica poderá ser usada em medicamentos fitoterápicos para o combate ao Alzheimer.
A planta chamada camapu, encontrada nas regiões do interior do Pará e na periferia de Belém, é muito conhecida por sua atividade antiprotozoária e anti-inflamatória. Pesquisadores da Universidade Federal do Pará descobriram que uma substância encontrada nessa planta tem o poder de estimular a produção de novos neurônios no hipocampo, região do cérebro associada à memória.
Com a produção de novos neurônios, estimulados pela substância, é provável que haja novas conexões entre as células do cérebro, revertendo à perda da memória recente, característica comum em doentes de Alzheimer.
Os cientistas também apostam que, ao usar o medicamento à base do camapu, também seja possível uma reversão da morte neural, muito comum em pacientes que apresentam depressão.
“Estamos falando da criação de novos neurônios, algo que não era possível a um tempo atrás”, diz Milton Nascimento dos Santos, do Grupo de Pesquisas Bioprospecção de Moléculas Ativas da Flora Amazônicada da Universidade Federal do Pará.
Os testes já estão sendo feitos em ratos de laboratório; o próximo passo serão os testes clínicos e a viabilidade de produzir essa substância em larga escala. Hoje, sabe-se que uma das possibilidades de criar novos neurônios se dá através de exercícios para o cérebro.

Fonte: http://alzheimer360.com/planta-amazonica-criar-neuronios/
.

10 SINTOMAS DO ESGOTAMENTO EMOCIONAL

.



ESGOTAMENTO 03



O esgotamento emocional é um grande vilão que se não for tratado com seriedade pode se transformar em depressão.

Tudo começa de forma discreta e você não dá importância, acha que é apenas cansaço e assim que tiver um tempo tira uma folga para relaxar e tudo ficará bem.
O problema é que essa folga vai sendo adiada constantemente por problemas cotidianos e alguns sintomas começam a aparecer. Quando são sintomas físicos você procura um médico.O médico por sua vez diz que não é nada grave e prescreve um calmante natural junto com o remédio para tratar o problema físico.
Você segue o tratamento, os sintomas físicos (geralmente ligados ao aparelho digestivo) melhoram e você segue bem por um curto período, até aparecer outro problema.
O esgotamento emocional aparece geralmente após um período conturbado que ficou para trás, ou junto com um problema que você está lutando para resolver mas não consegue.
Aqui seguem alguns sintomas típicos que você deve ficar atento para não deixá-los sem a devida atenção.

1 – O sono não é reparador

Você já acorda cansado, mesmo tendo dormido a noite toda. Precisa de uma boa dose de café para sair de casa e começar seus afazeres diários. O cansaço só vai piorando durante o dia.

2 – Queda de rendimento no trabalho.

Você não é mais tão rápido para fazer tudo o que sempre fez com disposição. Tem dias que parece que está ligado no modo automático no trabalho e em reuniões para organização de novos projetos você não tem ideias e acaba seguindo e apoiando as ideias dos outros pois está cansado demais para se empenhar em algo novo e ser criativo.

3 – Memória fraca

A agenda agora é sua amiga, pois sem o aviso no celular você esquece mesmo e nem se dá conta, por isso até coisas que você costumava nunca esquecer estão sendo colocadas para apitar no telefone.

4 – Há algum tempo sair de casa para festas e ficar com os amigos já não te dão entusiasmo.

Antes era bom sair, conversar com amigos, mas agora existe sempre uma boa desculpa para ficar de pijama em casa. Assistir um filme debaixo das cobertas é muito mais satisfatório do que ir ao cinema. Ás vezes você até sai, conversa, mas tem sempre uma preocupação te impedindo de curtir inteiramente um momento de descontração. Você prefere não ficar muito tempo fora de casa, precisa de mais tempo de descanso.

5- Azia, dores de estômago e intestino que não funciona como deveria.

Nosso aparelho digestivo é sempre o primeiro a dar sinais de que suas emoções não estão bem. Pessoas esgotadas emocionalmente sempre sofrem com algum tipo de problema no aparelho digestivo. Você marca consulta com o gastro, toma os remédios e muda a dieta, como o médico sugere. Mas o problema insiste em voltar e você não entende o porquê.

6- Dores de cabeça.

Por não ser insuportável, basta tomar um analgésico e tudo fica bem, mas ela marca presença pelo menos três vezes ao mês, ou até mais. É claro que você deve ir ao médico investigar sintomas físicos, seguir recomendações médicas é fundamental, mas nesse caso, os exames não identificam nada e você acaba com uma frustração e uma receita de calmante leve e natural para melhorar.

7- Vontade de chorar sem explicação aparente

Sua sensibilidade está muito maior e coisas pequenas como perder o ônibus e chegar atrasado a um compromisso ou uma despesa inesperada que irá te deixar mais apertado financeiramente durante o mês já são suficientes para um choro compulsivo e reclamações exageradas. Depois do desabafo você melhora e segue o resto do dia quieto até a hora de dormir. No outro dia você sente vergonha por ter sido tão sensível e procura seguir como se nada tivesse acontecido.

8- Dificuldades para ler e assimilar novos conteúdos

Ler um livro e conseguir prestar atenção ficou mais difícil. No meio da página você começa a pensar em outras coisas e quando volta para a realidade se dá conta que esqueceu o que acabou de ler e volta para a página anterior. Aprender algo novo está mais complicado, sua paciência em aulas e palestras já não é a mesma de antes. Não vê a hora de ir embora fazer outras coisas, pois prestar atenção está difícil.

9 – Pensamentos negativos mais frequentes

No geral você é uma pessoa otimista, compartilha mensagens bonitas de motivação em redes sociais, mas ás vezes lá no fundo você sente vontade de explodir, não faz orações ou frequenta sua religião com o mesmo entusiasmo e para de buscar novas soluções para os problemas, pois acredita que as coisas podem piorar se você tentar algo novo. Sente mais o lado negativo, e se existe uma chance das coisas darem errado elas agora recebem mais atenção da sua parte, pois você está cansado de se machucar e esperar demais de tudo e de todos.

10 – Engolir sapos para evitar discussões

Pra você certas pessoas são do jeito que são e não vão mudar. Elas te irritam, tratam mal, mas você prefere não confrontar porque seria perda de tempo, principalmente no trabalho. É uma boa linha de raciocínio, desde que não te afete emocionalmente. É preciso impor limites ás vezes, mesmo que seja educadamente. Se for possível cortar da sua vida para ter paz e saúde, não pense duas vezes. Da mesma forma que ninguém está disposto a ficar doente por você, você também não pode tolerar comportamentos abusivos para não causar atritos. Liberte-se!

Como tratar?

Os sintomas físicos devem sempre receber atenção de um médico e o tratamento deve ser seguido, mas tudo que for de fundo emocional não vai parar de se manifestar.
Pare de adiar seu descanso, faça algo por você! Procure ajuda, terapia convencional ou holística. Liberte-se de relacionamentos destrutivos que não te levarão a felicidade nunca. Atue a seu favor, não tente absorver problemas que não são seus. Não faça pelos outros mais do que faz por você. Coloque-se em primeiro lugar, nada deve ser feito no modo automático. Você deve sentir a vida e não apenas seguir o fluxo.

Luciana Lara 

Fonte: https://osegredo.com.br/2016/07/10-sintomas-do-esgotamento-emocional/#.V_b5ywWSpTY.facebook

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Inclusão dos autistas agora é lei

.











O Autismo, ou Transtorno de Espetro Autista (TEA), é um Transtorno Global de Desenvolvimento de caráter crônico e irreversível, que tem seu início na primeira infância. Caracteriza-se por dificuldades na comunicação nas interações sociais, interesses obsessivos e comportamentos repetitivos.

O Transtorno do espectro autista é uma patologia do neurodesenvolvimento de origem ainda desconhecida. Sabe-se que a genética desempenha um papel crucial, estudos indicam que há em torno de 50% de chance de desenvolver autismo pela herança genética. Ao contrário do que se pensava, o autismo não tem relação com interações familiares patológicas ou com mães negligentes, devendo as famílias dessas crianças serem acolhidas em todos os ambientes que frequentam.

Recentemente passou a vigorar em nosso ordenamento jurídico a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno de Espectro Autista, consagrada pela Lei nº 12.764, a qual dispõe que os autistas passem a ser considerados oficialmente pessoas com deficiência.

Ao enquadrar o autista na condição de deficiente, esse terá direito a todas as políticas de inclusão. O direito a educação sem dúvidas é uma batalha travada há muito tempo por pais que lutam pela inclusão desses menores em escolas regulares. Agora, caso necessário, será possível solicitar um acompanhamento especializado.

As escolas regulares públicas e privadas são obrigadas a fornecer acompanhamento especializado para alunos com TEA em casos de comprovada necessidade e, já adianto, não poderão cobrar mais por isso! A instituição de ensino não pode criar obstáculos para a inclusão do autista, do contrário seria a responsável por gerar desigualdades.

Ademais, o Ministério da Educação já emitiu nota técnica (nº 24/2013) dispondo que as escolas privadas deverão efetuar a matrícula do estudante com transtorno do espectro autista no ensino regular e garantir o atendimento às necessidades educacionais específicas. O valor desse atendimento integrará planilha de custos da instituição de ensino, não cabendo o repasse de despesas decorrentes da educação especial à família do estudante. Da mesma forma, por óbvio, não será possível a inserção de cláusula contratual eximindo a instituição das suas obrigações.

A necessidade de acompanhamento, através de um mediador na escola, pode comprovada por um médico, psicopedagogo ou pedagogo. O profissional deverá descrever os motivos e a necessidade do aluno em ter um acompanhante.

Todo aquele que for gestor da instituição de ensino e se negar à matricula ao estudante com deficiência sofrerá punições, que será arbitrada pelo juiz com multa e reclusão de dois a cinco anos.

A criança portadora do espectro autista tem direito a matrícula na escola e de ter garantido o seu direito de aprender, inclusive com acompanhante. A escola em nenhum momento poderá cobrar dos responsáveis pela disponibilização de profissional especializado, e, muito menos, impedir a matrícula desse aluno.


Raquel Tedesco



Fonte: http://raqueltedesco.jusbrasil.com.br/noticias/390513751/inclusao-dos-autistas-agora-e-lei?utm_campaign=newsletter-daily_20161003_4147&utm_medium=email&utm_source=newsletter
.