segunda-feira, 4 de novembro de 2013

PAI DO MEU PAI

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Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.

É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela – tudo é corredor, tudo é longe.

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai.

Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.

Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.

Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.

A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.

Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.

Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.

Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?

Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.

Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.

No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:

– Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.

Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.

Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.

Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para o outro.

Aninhou o pai.

Acalmou o pai.

E apenas dizia, sussurrado:

– Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.



(Fabrício Carpinejar -Fonte: http://carpinejar.blogspot.com.br/2013/10/pai-de-meu-pai_7.html).
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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O que os militares vão fazer se o STF detonar a Soberania Brasileira?

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Só uma nação em decomposição moral, sem rumo político e destituída de Projeto de Nação será conivente com o crime de lesa-pátria de sacramentar a extinção de sua própria soberania. Isto pode acontecer se o Supremo Tribunal Federal decidir que o Brasil deve obediência à Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Se os 11 ministros do STF vacilarem – e a Corte tem membros que comungam das teses e ideologias globalizantes – nossa soberania nacional vai, finalmente, para o lixo da História. Na prática, as primeiras vítimas do revanchismo jurídico-histórico serão os militares e agentes do Estado (ainda vivos) que participaram do movimento pós-1964.

Será que os militares vão aceitar tal golpe – que visa a atingir, subliminarmente, a instituição constitucionalmente garantidora da defesa da pátria e da soberania do Brasil? A resposta pende para o lado da aceitação inevitável. Basta ver a cada vez mais tímida e acuada reação das forças armadas, amadas ou não, aos ataques assimétricos de que são vítimas – sempre com a visão ideológica esquerdista derrotada em 1964, mas que virou o jogo e desde 1985 comanda o teatro de entreguismo, corrupção e banditismo do Capimunismo no Brazil.

A Ordem dos Advogados do Brasil cumprirá a velada missão globalitária de acionar o STF, até o final deste ano, para que decida sobre o assunto. O novo questionamento da OAB para derrubar a Lei de Anistia de 1979, especificamente no que se refere aos crimes de tortura, na verdade, será um teste para que a Justiça brasileira ratifique ou não sua soberania frente ao sistema de tribunais transnacionais – modelo proposto pela Nova Ordem Mundial comandada pela Oligarquia Financeira Transnacional.

Tudo pode acontecer no STF. Não só depois da homologação dos embargos infringentes em favor dos mensaleiros. O Supremo já rasgou a soberania do Brasil quando a maioria de seus ministros – exceto Marco Aurélio de Mello – ratificou a decisão globalitária da ONU em favor da homologação da reserva indígena Raposa do Sol. Em evidente crime de lesa pátria – impune até agora – nosso STF sacramentou a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas (13.09.2007). Detonar a anistia, agora, custa bem menos...

O STF obrou e andou para nossa soberania. Os 11 semideuses nem quiseram saber a quem interessava a homologação de supostas reservas indígenas, em faixa de fronteira, por sobre províncias minerais de trilhões de dólares. O esquema interessa à Pirataria Internacional. Portanto, quem apoiou as supostas reservas indígenas ou são idiotas ou traidores vendilhões da pátria. Os direitos dos índios foram mera historinha do boi tatá para o saque às fabulosas riquezas minerais do nosso território.

Mandar a anistia para o saco, agora, é mais fácil. O presidente nacional da OAB, Marcus Vinícius Furtado Coêlho, que espera contar com o apoio do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, poderá ajudar a OAB a rever a Lei da Anistia. Em dezembro de 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos considerou o Brasil responsável pelo desaparecimento forçado de 62 pessoas na Guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 1974, durante o regime militar, e determinou que o governo investigasse penalmente os fatos e punisse os responsáveis.

A OAB vai acionar o STF para que diga se tal condenação transnacional deve mesmo ser aplicada, de verdade, na prática. O patrocínio do revanchismo histórico, a pretexto de se fazer justiça, é uma tônica da OAB – entidade cujos membros parecem ideologicamente influenciados pela imbecilidade coletiva promovida pela Nova Ordem Mundial. O perigo é que o STF tende a embarcar, agora, na mesma onda.

Em abril de 2010, por sete votos a dois, o STF rejeitou ação da OAB que pedia a anulação da Lei de Anistia, com o fim do perdão dado aos agentes da ditadura (policiais e militares) acusados de praticar crimes hediondos de tortura. Quem foi a favor da OAB, naquela época, será o próximo presidente do STF: Ricardo Lewandowski – vice do Super Barbosa.

A OAB aposta que Lewandowski repetiria hoje o voto daquela época, agora apoiando a condenação imposta ao Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. Mesma tendência em relação a Dias Toffoli, Rosa Weber, Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso. Luiz Fux seria uma incógnita. Celso de Mello, que votou contra em 2010, pode votar diferente hoje, ainda mais depois que, no julgamento dos embargos infringentes, ele lembrou que o Brasil precisa obedecer a decisões de tribunais internacionais... Portanto, hoje, a tese revanchista da OAB seria acatável por pelo menos seis dos 11 ministros.

Dos sete ministros que votaram contra a revisão da lei em 2010, quatro ainda trabalham no STF: Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello (que hoje já indicou pensar diferente). O ministro Joaquim Barbosa não votou porque estava de licença médica com problemas na coluna. Dias Toffoli não participou do julgamento porque foi impedido, já que estava à frente da Advocacia-Geral da União à época em que a ação foi ajuizada.

O Globalitarismo tem intenções bem definidas. Primeiro, o fim das soberanias nacionais e das liberdades individuais, em nome de decisões coletivistas ou tomadas por organismos transnacionais. Segundo, consolidar a exploração das nações e dos recursos de seus territórios, em favor dos negócios controlados pela Oligarquia Financeira Transnacional. Terceiro, conter as potencialidades sociais, políticas e econômicas das nações cada vez mais subjugadas e dependentes do modelo de governança globalitária da velha Nova Ordem Mundial.

Nesse cenário, o Brasil vai se consolidar como uma grande colônia de exploração subdesenvolvida, sem soberania e independência, se não houver uma milagrosa reviravolta promovida pelos segmentos esclarecidos da sociedade brasileira, a partir da articulação de uma elite moral hoje sem hegemonia política, econômica e ideológica.

O que os militares ou outros segmentos esclarecidos da sociedade vão fazer se o STF jogar no lixo a Soberania Brasileira, admitindo que uma decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos vale mais que uma decisão de nossa corte suprema?

A pergunta que fica no ar bem que merecia uma resposta bem clara, objetiva e imediata. Infelizmente, a covardia, a omissão e o carreirismo inviabilizam tal celeridade. Militares reagem, timidamente, ou nem reagem, a afrontas graves contra a Força e a Pátria. Raposa do Sol, END, cortes de verbas, plaquinha dos direitos humanos na Academia Militar das Agulhas Negras – nada disso gerou reações ativas... Agora até Lula ataca os militares abertamente, como nunca antes na História deste País...

Até onde vai o limite máximo da zona de tolerância? As Legiões reagirão? Uns apostam que tudo continuará como dantes e de costume no quartel do Abrantes. Outros confiam no milagre de uma reação.

Mais provável é que Deus reinvente o universo, minutos depois de reconceber o Flamengo, a partir da costela do Fluminense, nomeando Nelson Rodrigues para presidente eterno do Mais Querido do Brasil. Isto sim seria um grande revanchismo histórico...

Uma coisa é certa. Solucionar o Brasil é missão para Samurai – não para gueixas...

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Filhote de beagle ou criança escrava: quem foi mais longe na sua timeline?

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Uma amiga fez um comentário no Facebook, reclamando que a libertação de cachorrinhos gera uma comoção pública muito maior que a de pessoas em situação análoga à de escravo. Ela se importa com os animais, claro, mas entende que houve um descompasso na divulgação do caso dos beagles resgatados em São Roque (SP) que diz muito sobre a gente.

Vamos por partes, até porque este é um daqueles posts em que as pessoas não lêem, tiram conclusões a partir do que não leram e saem xingando o blogueiro em cima do que ele não escreveu. Na internet, aliás, esse é comportamento padrão.

Particularmente, sempre me irritei com testes em animais para o desenvolvimento de cosméticos, produtos de beleza em geral. Ou encontra-se outra forma de verificar a eficácia e os efeitos colaterais ou que se use menos. Afinal, há marcas que conseguem desenvolver produtos sem esses testes.

Com relação ao desenvolvimento de medicamentos, precisamos substituir o que for possível por softwares de simulação, reduzir o uso de cobaias, refinar os experimentos e educar pesquisadores e estudantes da área para tornar a participação de animais cada vez menos necessária. E os testes não podem ser feitos sem a devida justificava junto a um comitê de ética voltado para essa finalidade, sendo acompanhados para garantir a integridade do animal e o mínimo de desconforto possível. Falei com alguns pesquisadores que disseram que a meta é zerar os testes mas, no momento atual da medicina, isso é impossível. Importante, contudo, é construir um caminho para que testes em animais sejam desnecessários e proibidos.

Mas o tema do post não é esse. Não estou discutindo se ações em defesa dos animais são válidas ou não, pois elas são. Também não estou sugerindo que o sentimento sincero de dedicação a uma causa vale mais que a outra (não sei porque estou fazendo esse “porém”, tem gente que vai ignorar que ele foi escrito mesmo…) E, sim, o comportamento da sociedade diante de tudo isso.

Choca ver imagens de animais bonitinhos que eram cobaias em experimentos, até porque a sociedade não sabe e não quer saber quais processos ocorrem para manter o seu nível de conforto e qualidade de vida? Sim, as pessoas ficam chocadas. Animais com pelos raspados, sem olhos, dopados, mortos e congelados foram sendo reproduzidos pela rede de forma viral. Muitos eram filhotes.

Ações como a retirada de animais em São Roque são coisa rara de se ver, é claro. Portanto, há o fator novidade, enquanto desgraça envolvendo seres humanos, você tem todo o dia. Já cansei de participar de operações de resgate de escravos em que foram encontrados pessoas sem partes do corpo, perdidas no serviço com a motosserra, gravemente doentes, desnutridas e desorientadas. Reportagens de TV já mostraram até corpos de pessoas assassinadas tentando fugir que foram exumados pela polícia. Não atingiram a mesma comoção.

Filhotes são indefesos e adultos podem cuidar de si mesmos, alguém pode justificar. Mas mesmo nos resgates de crianças escravas, eu não vejo o mesmo impacto da divulgação ou o mesmo nível de indignação. A história da criança que perdeu um olho trabalhando na colheita de cacau na Amazônia. Ou das meninas de 12 anos que eram exploradas sexualmente em bordeis sujos em beira de estrada. Ou ainda os adolescentes que morreram soterrados ao trabalhar em mineração no interior do Nordeste. Todas o casos foram trazidos a público e nenhum ganhou a mesma empatia. Pelo contrário: pela internet, após a veiculação das reportagens na TV, jornais e sites, lia-se coisas do tipo “ah, mas é melhor que elas estivessem trabalhando do que roubando”.

Temos afinidade com aquilo que nos é mais próximo ou que desperta determinados sentimentos. Entendo que libertação de 150 escravos que sangravam na Amazônia para produzir boi que muitos nem sabem como vira bife choca menos que o resgate de dez costureiros que produziam a roupa que eu visto todo o dia. Mas todos sabem o que é uma criança. É duro, portanto, imaginar que ela não desperte sentimentos nos que absorvem a informação. Talvez por banalização dessa violência. Talvez por um ato de fuga consciente ou inconsciente diante da crença na incapacidade de fazer qualquer coisa para resolver o problema.

Mas a possibilidade de reação existe, tanto que minha timeline ferveu de fotos de beagle.

Talvez a resposta resida no fato de que uma criança nua, exausta e com olhar perdido numa cama na beira de estrada depois de uma hora de sexo forçado não é uma coisa fofa como um bichinho com olhar do Gato de Botas, do Shrek. Pelo contrário, para muitos é tão repugnante a ponto de transferirem a culpa pelo ocorrido para a própria vítima que “se deixou ficar naquela situação deplorável”.

Somos programados para que coisas fofas despertem sentimentos de proteção, de cuidado, o que ajuda muito para manter a integridade de seres humanos recém-nascidos. Bebês e animais fofos despertam a vontade de estar perto deles. Aliás, a única estratégia de defesa diante do mundo que eles têm é serem fofos.

Repito, este texto não é sobre experiências com beagles, exploração de escravos ou as crianças sem infância. Mas como reagimos a tudo isso.

Meu desejo não é que as pessoas deixem de se indignar diante do que considerem ser qualquer injustiça. Pelo contrário, que consigamos fugir de nossas programações mais básicas e acordemos de nossa acomodação e percebamos que há injustiças que passam diante de nossos olhos e não as vemos como um problema. A indignação por uma causa não exclui a outra e jogar para baixo do tapete os incômodos que também dizem respeito a todos nós, não fazem eles desaparecerem. Manifestar-se pode, ao contrário, significar a mudança da situação ou a manutenção de tudo como está.

Sei que não é fácil criar as condições para que algo desperte compaixão e, de lá, ação. Mas se não puder ser pela emoção, que nos dediquemos ao outro pelo lógica e a razão.



(Leonardo Sakamoto - Fonte: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2013/10/19/filhote-de-beagle-ou-crianca-escrava-quem-foi-mais-longe-na-sua-timeline/)

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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Chico, Gil, Caetano e Djavan: de censurados a censores

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Tive de ler a reportagem da “Folha” duas vezes para me certificar de que não estava delirando: Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Djavan, Milton Nascimento e Erasmo Carlos se uniram a Roberto Carlos na campanha para exigir autorização prévia de biografados. 
De Roberto Carlos não se podia esperar outra coisa. Afinal, passou a carreira toda sem dar um pio contra a ditadura e viveu os últimos 50 anos como um verdadeiro monarca, decidindo tudo que podia ou não ser dito sobre ele (não é à toa que é chamado de “Rei”, enquanto Xuxa, outra figura pública que ainda acredita viver na Monarquia, é a “Rainha”) .

Mas Chico Buarque? Um dos compositores mais censurados do país? Gil e Caetano, exilados pelos militares? Gil, o ministro do Creative Commons? Absolutamente surreal.

Na coluna de Ancelmo Gois no jornal “O Globo” de sexta, Djavan justificou assim sua decisão:

“A liberdade de expressão, sob qualquer circunstância, precisa ser preservada. Ponto. No entanto, sobre tais biografias, do modo como é hoje, ela, a liberdade de expressão, corre o risco de acolher uma injustiça, à medida em que privilegia o mercado em detrimento do indivíduo; editores e biógrafos ganham fortunas enquanto aos biografados resta o ônus do sofrimento e da indignação. Nos países desenvolvidos, você pode abrir um processo. No Brasil também, com uma enorme diferença: nós não somos um país desenvolvido.

Brilhante. Quer dizer que, enquanto não formos um “país desenvolvido”, o melhor é recorrer à censura típica das repúblicas das bananas?

O parágrafo de Djavan é tão confuso quanto algumas de suas letras. Ele começa dizendo que é necessário preservar a liberdade de expressão “sob qualquer circunstância”, para logo depois justificar a censura sobre “tais biografias”.

Que biografias seriam essas? As que Djavan e amigos não aprovam?

Depois, o compositor diz que editores e biógrafos ganham “fortunas”. Não sei em que país Djavan vive. Onde eu vivo, se um autor vende dez mil cópias, sai dando cambalhota de felicidade (o escritor ganha, em média, 10% do preço de capa, então faça as contas e verá que escrever no Brasil, com raras exceções, é coisa de maluco ou diletante).

Vivo num país onde o Luis Fernando Veríssimo diz que não sobrevive de literatura. O Veríssimo.

E não adianta Djavan e turma dizerem que não se trata de censura. Claro que é. Só é disfarçada de preocupação de mercado.

Em setembro, durante a Bienal do livro, Ruy Castro leu um manifesto, assinado por 47 nomes, incluindo o historiador Bóris Fausto, o escritor Cristovao Tezza, o poeta Ferreira Gullar, o cineasta Nelson Pereira dos Santos e o jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, contra a suspensão da tramitação do projeto de lei que libera a publicação de biografias sem autorização dos retratados (leia aqui).

Um dos trechos do manifesto diz:

“A dispensa do consentimento prévio do biografado não confere ao autor imunidade sobre as consequências do que escrever. Em casos de abuso de direito, uso de informação falsa e ofensiva à honra, a lei já contém os mecanismos inibidores e as punições adequadas à proteção dos direitos da personalidade”.

Ninguém é a favor de biografias mentirosas. Um autor que publica uma calúnia ou informação falsa deve ser punido. Mas também ninguém pode ser a favor de um mercado de livros “chapa branca”, como os ícones da MPB querem criar.


(ANDRE BARCINSKI - Fonte: http://andrebarcinski.blogfolha.uol.com.br/2013/10/05/chico-gil-caetano-e-djavan-de-censurados-a-censores/)

domingo, 29 de setembro de 2013

O duelo virtual, mas pessoal, entre Dilma Bolada e Dilma Rousseff reacende a polêmica: existe uma Dilma oficial?

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─ Oi, internautas.
A saudação comicamente pueril, que encabeça qualquer lista dos assombros produzidos por Dilma desde que ela foi obrigada a falar em público, era um aviso: a mineira-gaúcha que fizera fama exclusivamente por seu gênio irascível no subsolo do governo, e fora guindada à condição de candidata à Presidência da República por vontade pessoal de Lula, encontrava-se na era paleolítica do mundo digital.

O “oi, internautas” foi sua resposta sincera, bastante e definitiva, no nível de sua desenvoltura, ao pedido de Marcelo Branco, então guru virtual da candidata-surpresa do PT, para que mandasse uma mensagem aos que a seguiam nas redes.

Mas, pouco a pouco, à medida que ela ia expondo seus pensamentos sobre saúde, educação, agricultura, condição feminina, sempre com uma inclemente pobreza de raciocínio, esse irremediável deserto de ideias foi se alastrando para todos os temas do mundo real.

Os palanques da campanha e, logo em seguida, os do Brasil Maravilha de Dilma/Lula ganharam a presença empolgada da pior oradora de todos os tempos, incluindo as cavernas ainda silenciosas e os milênios por vir. Mas a tentativa inicial de expressar rudimentos de ideias em 140 toques foi sumariamente abandonada em 13 de dezembro de 2010 ─ quando o Twitter oficial da então presidente eleita Dilma Rousseff calou-se prudentemente.

Esta semana, Dilma retornou, triunfalmente, ao estrelato virtual. A campanha de 2014 já começou.
Esta semana, aliás, ela foi do topo do mundo ─ o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, em plena cidade-ícone dos Estados Unidos, onde eriçou o topete para passar outro pito em Obama pelo Spygate ─ aos píncaros da insignificância, recebendo no Palácio do Planalto, para marcar o renascimento de seu perfil oficial no Twitter, o criador do personagem virtual Dilma Bolada, que faz gracinhas domesticadas em perfis com a foto da presidenta. Sátira? Não, exatamente. A tentativa de humor disfarça, ou melhor, não disfarça, o proselitismo escancarado:

No Twitter:
– Sou linda, sou diva, sou Presidenta. SOU DILMA!!! Bjs

No Face:
- Em primeiro lugar, boa noite! Em segundo Marina, em terceiro Aécio, em quarto o Campos tudo ladeira abaixo…Uma coisa é fato: não adianta rogar praga, colocar meu nome na encruzilhada, fazer vodu porque o que o povo guardou pra gente, ninguém tira!

Bem, a estadista que em nome da liberdade cibernética do mundo peita Obama em sua própria casa, a ponto de o presidente americano ter se ausentado, inusitadamente, da abertura da Assembleia da ONU, acolheu no Palácio dois dias depois, com carinho de avó e a leveza descolada de uma fã de Justin Bieber, o quase imberbe e inofensivo Jeferson Monteiro ─ alter ego de Dilma Bolada.

Não, ele não esteve nas ruas em junho. Apesar da aparente causticidade de seus ditos em nome de Dilma, nunca joga uma bola pelas costas. Mas o pessoal da Secretaria da Comunicação fica mesmo diabólico em época de campanha: com esse encontro, numa só jogada, a estadista da ONU demonstrou modernidade, bom humor, desprendimento. Oi, internautas.

O duelo de teclados entre os dois perfis de Dilma ─ a oficial Rousseff e a fake Bolada ─ foi reproduzido, sem qualquer reparo, pela grande mídia. Os blogs financiados foram à cloud. Pois as duas Dilmas, cada qual em seu notebook, mas lado a lado, certamente num dia de pouco movimento na casa, travaram um dos grandes diálogos da história republicana, sem retoques:

Dilma Oficial:
─ Bom dia linda maravilhosa, sempre acompanhei vc. Mas não me dê bom dia. Mas me dê bons resultados.

Dilma Bolada:
─ Bom dia pra mim mesma linda, maravilhosa, sempre eu, @dilmabr, Finalmente o pessoal e profissional se cruzando…

Dilma Oficial (com um toque de Guimarães Rosa soprado pela assessoria)
─ Vocêzinha eu acho que por boniteza, eu por precisão. Lanço hoje o novo @portalbrasil . São + informações,serviços & participação.

Vocêzinha? Huumm.. Portal? Sim, vamos ao que interessa que é ensaio de campanha: além do renascimento do Twitter, nessa pré-estreia de gala com o duo Dilmas, há que cumprir a pauta dos marqueteiros ─ o lançamento do novo Portal interativo e…

Dilma Bolada:
─ Agora é hora de sambar e falar do #MaisMédicos, o programa maravilhoso que tinha que ter até no hospital do Cesar de “Viver A Vida”…

Dilma Oficial:
─ Respeito muito os médicos brasileiros, mas traremos médicos de onde pudermos. Importante é atender melhor a população. Isso é o + médicos

Bem, o resto é o resto ─ incluindo um pito na The Economist pela capa do looping descendente do avião Brasil em torno do Cristo Redentor.

Parece óbvio que Jeferson saiu do Palácio enlevado com o upgrade de seu personagem ─ ele é o caso clássico do imitador que homenageia o ídolo ao longo de toda uma carreira e, um dia, tem a honra de dividir o palco com ele. Em sua primeira tuitada fora do cenário oficial, ele retomou, no Facebook, a linha da sátira a favor, em nome de Dilma Bolada:
─ Gente, o Jeferson Monteiro já foi. Ele até que é gente boa mas despachei logo porque tenho mais o que fazer. Agora ninguém me segura com o twitter lá o outro cá, o Face aqui é o do Planalto também, e o insta @dilmabolada e @palaciodoplanalto. Sambei!
Se cuida Obama!!!
ÊTA PRESIDENTA CONECTADA!!!

Os três anos que separam o último tweet da primeira fase do Dilma Oficial desse renovado “o”” da presidente aos internautas, no diálogo non sense com Dilma Bolada, foram deixando no caminho evidências cabais de que a Dilma Oficial, a que ora ocupa a Presidência e caminha para a reeleição, é a verdadeira Dilma Bolada: uma criação ficcional, um falso perfil, que tomou corpo e forma reais. Por isso, não é surpresa que Dilma Bolada, através da figura deslumbrada de seu oportunista criador, tenha sido admitido no Palácio do Planalto.
Dilma Rousseff, a Oficial, chegou lá três anos antes.

Quanto a Jeferson, o futuro do falso outsider brincalhão está garantido ─ agora, com a melhor madrinha, ele é Oficial.

Por falar nisso, alguém sabe por onde anda o Dilmaboy?



(CELSO ARNALDO -Fonte - http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/direto-ao-ponto/celso-arnaldo-o-duelo-virtual-mas-pessoal-entre-dilma-bolada-e-dilma-rousseff-reacende-a-polemica-existe-uma-dilma-oficial/)

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Evolução? Os 5 Generais Presidentes - Uma verdade não divulgada.

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"Erros foram praticados durante o regime militar, eram tempos
difíceis. Claro que, no reverso da medalha, foi promovida ampla
modernização das nossas estruturas materiais. Fica para o historiador do futuro emitir a sentença para aqueles tempos
bicudos."

Mas uma evidência salta aos olhos: a honestidade pessoal de cada um!

Quando Castelo Branco morreu, num desastre de avião, verificaram os herdeiros que seu patrimônio limitava-se a um apartamento em Ipanema e umas poucas ações de empresas públicas e privadas.

Costa e Silva - Acometido por um derrame cerebral, recebeu, de favor, o privilégio de permanecer até o desenlace no palácio das
Laranjeiras, deixando para a viúva a pensão de marechal e um
apartamento em construção, em Copacabana.

Garrastazu Médici - Dispunha, como herança de família, de
uma fazenda de gado em Bagé, mas quando adoeceu precisou ser tratado no Hospital da Aeronáutica, no Galeão.

Ernesto Geisel - Antes de assumir a presidência da República, comprou o Sítio dos Cinamonos, em Teresópolis, que a filha vendeu para poder manter-se no apartamento de três quartos e sala, no Rio.

João Figueiredo - Depois de deixar o poder, não aguentou as despesas do Sítio do Dragão, em Petrópolis, vendendo primeiro os
cavalos e depois a propriedade. Sua viúva, recentemente falecida, deixou um apartamento em São Conrado que os filhos agora colocaram à venda, ao que parece em lamentável estado de
conservação.

Obs: Foi operado no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio.

Não é nada, não é nada, mas os cinco generais-presidentes até
podem ter cometido erros, mas não se meteram em negócios, não
enriqueceram nem receberam benesses de empreiteiras beneficiadas durante seus governos.

Sequer criaram institutos destinados a preservar seus documentos
ou agenciar contratos para consultorias e palestras regiamente
remuneradas.

Bem diferente dos tempos atuais, não é?

Pois é... o pior é que ninguém faz nada!

Acrescento:

Nenhum deles mandou fazer um filme pseudo biográfico, pago com dinheiro público, de auto-exaltação e culto à própria personalidade!

Nenhum deles usou dinheiro público para fazer um parque homenageando a própria mãe.

Nenhum deles usou o hospital Sírio e Libanês.

Nenhum deles comprou avião de luxo no exterior.

Nenhum deles enviou nosso dinheiro para "ajudar" outro país.

Nenhum deles saiu de Brasília, ao fim do mandato, acompanhado por 11 caminhões lotados de toda espécie de móveis e objetos roubados.

Nenhum deles exaltou a ignorância.

Nenhum deles falava errado.

Nenhum deles apareceu embriagado em público.

Nenhum deles se mijou em público.

Nenhum deles passou a apoiar notórios desonestos depois de tê-los chamado de ladrões.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Saudade...

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Saudade...
De quando? De onde?
Sempre digo que não sinto saudade.
Porque não lamento o que passou, nem o que perdi. Meu dia é hoje, me encontrando no enunciado do sentimento do aqui e agora, com Paulinho da Viola, que, no entanto, ostenta um olhar longíquo, que o denuncia...
Mas se me chega, de repente, alguma coisa de um tempo que vivi pela metade, percebo que sinto imensa falta de mim.
Talvez saudade seja isso. Uma pitada de arrependimento pelo momento não vivido, por aquilo que não integramos, ou talvez não esgotamos, distraídos que andávamos com o chamamento do futuro almejado.
Revejo a foto e vejo que ficaram ali, cristalizadas, pessoas de que, por muito tempo, não lembrei. Por esquecimento ou por medo de sofrer?
Saudade cheira a passado. Evoca alguma coisa sentida, não obrigatoriamente vivida. Mas dói, profunda e irremediavelmente, ainda quando é de mansinho que corrói.
Há pessoas que me chegam, trazendo, no primeiro encontro, um sentimento de antanho...
Nenhuma surpresa, como se sempre tivessem estado ali, prontas para entrar: saudade.
Há pessoas que me reaparecem, distantes e incógnitas, como se algo estivesse perdido para sempre... Saudade.
Há momentos que se redesenham, sem nunca terem sido vividos de fato...
Desejo materializado em saudade .
Digo que não sinto saudade.
E salto, destemida, para o amanhã, calcando fundo o que do hoje me esgota, sem olhar pra trás.
Sigo sendo, assim, saudade, que não se presentifica.
Meu tempo é hoje, parafraseio sem titubear, para despistar o desejo de olhar pra trás.

Vai que viro estátua de sal?

MIES

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sábado, 21 de setembro de 2013

Hino Nacional do Brasileiro Moderno

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Tirando o fato de ser um dia de folga, tivemos pouquíssimos motivos para comemorar o dia 7 de setembro. Assistam o vídeo anexo, feito por brasileiros que nunca perdem o humor, e vejam como tenho razão.





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sábado, 14 de setembro de 2013

Devo educar meus filhos para serem éticos?

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HANNAH ARENDT - “Os maiores males não se devem àquele que tem de confrontar-se consigo mesmo. Os maiores malfeitores são aqueles que não se lembram porque nunca pensaram na questão” 





Quando eu tinha uns 8 ou 9 anos, saía de casa para a escola numa manhã fria do inverno gaúcho. Chegando à portaria, meu pai interfonou, perguntando se eu estava levando um agasalho. Disse que sim. Ele me perguntou qual. “O moletom amarelo, da Zugos”, respondi. Era mentira. Não estava levando agasalho nenhum, mas estava com pressa, não queria me atrasar.

Voltei do colégio e fui ao armário procurar o tal moletom. Não estava lá, nem em nenhum lugar da casa. Gelei. À noite, meu pai chegou em casa de cara amarrada. Ao me ver, tirou da pasta de trabalho o moletom. E me disse: “Eu não me importo que tu não te agasalhes. Mas, nesta casa, nesta família, ninguém mente. Ponto. Tá claro?”. Sim, claríssimo. Esse foi apenas um episódio mais memorável de algo que foi o leitmotiv da minha formação familiar. Meu pai era um obcecado por retidão, palavra, ética, pontualidade, honestidade, código de conduta, escala de valores, menschkeit (firmeza de caráter, decência fundamental, em iídiche) e outros termos que eram repetitiva e exaustivamente martelados na minha cabeça. Deu certo. Quer dizer, não sei. No Brasil atual, eu me sinto deslocado.

Até hoje chego pontualmente aos meus compromissos, e na maioria das vezes fico esperando por interlocutores que se atrasam e nem se desculpam (quinze minutos parece constituir uma “margem de erro” tolerável). Até hoje acredito quando um prestador de serviço promete entregar o trabalho em uma data, apenas para ficar exasperado pelo seu atraso, “veja bem”, “imprevistos acontecem” etc. Fico revoltado sempre que pego um táxi em cidade que não conheço e o motorista tenta me roubar. Detesto os colegas de trabalho que fazem corpo mole, que arranjam um jeitinho de fazer menos que o devido. Tenho cada vez menos visitado escolas públicas, porque não suporto mais ver professores e diretores tratando alunos como estorvos que devem ser controlados. Isso sem falar nas quase úlceras que me surgem ao ler o noticiário e saber que entre os governantes viceja um grupo de imorais que roubam com criatividade e desfaçatez.

Sócrates, via Platão (A República, Livro IX), defende que o homem que pratica o mal é o mais infeliz e escravizado de todos, pois está em conflito interno, em desarmonia consigo mesmo, perenemente acossado e paralisado por medos, remorsos e apetites incontroláveis, tendo uma existência desprezível, para sempre amarrado a alguém (sua própria consciência!) onisciente que o condena. Com o devido respeito ao filósofo de Atenas, nesse caso acredito que ele foi excessivamente otimista. Hannah Arendt me parece ter chegado mais perto da compreensão da perversidade humana ao notar, nos ensaios reunidos no livro Responsabilidade e Julgamento, que esse desconforto interior do “pecador” pressupõe um diálogo interno, de cada pessoa com a sua consciência, que na verdade não ocorre com a frequência desejada por Sócrates. Escreve ela: “Tenho certeza de que os maiores males que conhecemos não se devem àquele que tem de confrontar-se consigo mesmo de novo, e cuja maldição é não poder esquecer. Os maiores malfeitores são aqueles que não se lembram porque nunca pensaram na questão”. E, para aqueles que cometem o mal em uma escala menor e o confrontam, Arendt relembra Kant, que sabia que “o desprezo por si próprio, ou melhor, o medo de ter de desprezar a si próprio, muitas vezes não funcionava, e a sua explicação era que o homem pode mentir para si mesmo”. Todo corrupto ou sonegador tem uma explicação, uma lógica para os seus atos, algo que justifique o porquê de uma determinada lei dever se aplicar a todos, sempre, mas não a ele(a), ou pelo menos não naquele momento em que está cometendo o seu delito.

Cai por terra, assim, um dos poucos consolos das pessoas honestas: “Ah, mas pelo menos eu durmo tranquilo”. Os escroques também! Se eles tivessem dramas de consciência, se travassem um diálogo verdadeiro consigo e seu travesseiro, ou não teriam optado por sua “carreira” ou já teriam se suicidado. Esse diálogo consigo mesmo é fruto do que Freud chamou de superego: seguimos um comportamento moral porque ele nos foi inculcado por nossos pais, e renegá-lo seria correr o risco da perda do amor paterno.

Na minha visão, só existem, assim, dois cenários em que é objetivamente melhor ser ético do que não. O primeiro é se você é uma pessoa religiosa e acredita que os pecados deste mundo serão punidos no próximo. Não é o meu caso. O segundo é se você vive em uma sociedade ética em que os desvios de comportamento são punidos pela coletividade, quer na forma de sanções penais, quer na forma do ostracismo social. O que não é o caso do Brasil. Não se sabe se De Gaulle disse ou não a frase, mas ela é verdadeira: o Brasil não é um país sério.

Assim é que, criando filhos brasileiros morando no Brasil, estou às voltas com um deprimente dilema. Acredito que o papel de um pai é preparar o seu filho para a vida. Essa é a nossa responsabilidade: dar a nossos filhos os instrumentos para que naveguem, com segurança e destreza, pelas dificuldades do mundo real. E acredito que a ética e a honestidade são valores axiomáticos, inquestionáveis. Eis aí o dilema: será que o melhor que poderia fazer para preparar meus filhos para viver no Brasil seria não aprisioná-los na cela da consciência, do diálogo consigo mesmos, da preocupação com a integridade? Tenho certeza de que nunca chegaria a ponto de incentivá-los a serem escroques, mas poderia, como pai, simplesmente ser mais omisso quanto a essas questões. Tolerar algumas mentiras, não me importar com atrasos, não insistir para que não colem na escola, não instruir para que devolvam o troco recebido a mais...

Tenho pensado bastante sobre isso ultimamente. Simplesmente o fato de pensar a respeito, e de viver em um país em que existe um dilema entre o ensino da ética e o bom exercício da paternidade, já é causa para tristeza. Em última análise, decidi dar a meus filhos a mesma educação que recebi de meu pai. Não porque ache que eles serão mais felizes assim - pelo contrário -, nem porque acredite que, no fim, o bem compensa. Mas sim porque, em primeiro lugar, não conseguiria conviver comigo mesmo, e com a memória de meu pai, se criasse meus filhos para serem pessoas do tipo que ele me ensinou a desprezar. E, segundo, tentando um esboço de resposta mais lógica, porque sociedades e culturas mudam. Muitos dos países hoje desenvolvidos e honestos eram antros de corrupção e sordidez 100 anos atrás. Um dia o Brasil há de seguir o mesmo caminho, e aí a retidão que espero inculcar em meus filhos (e meus filhos em seus filhos) há de ser uma vantagem, e não um fardo. 
Oxalá.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A troca

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A substituição da máquina de escrever pelo computador não afetou muito o que se escreve. Quer dizer, existe toda uma geração de escritores que nunca viram um tabulador (que, confesso, eu nunca soube bem para o que servia) e uma literatura pontocom que já tem até os seus mitos, mas, mesmo num processador de texto de último tipo, ainda é a mesma velha história, uma luta por amor e glória botando uma palavra depois da outra com um mínimo de coerência, como no tempo da pena de ganso. O novo vocabulário da comunicação entre micreiros, feito de abreviações esotéricas e ícones, pode ser um desafio para os não iniciados, mas o que se escreve com ele não mudou. Mudaram, isso sim, os entornos da literatura. Não existem mais originais, por exemplo. Os velhos manuscritos corrigidos, com as impressões digitais, por assim dizer, do escritor, hoje são coisas do passado - com o computador só existe versão final. O processo da criação foi engolido, não sobram vestígios. Só se vê a sala do parto depois que enxugaram o sangue e guardaram os ferros.

Nos jornais, o efeito do computador foi muito maior do que o fim da lauda rabiscada e da prova de paquê. O computador restabeleceu o que não existia nas redações desde - bem, desde as penas de ganso. O silêncio. Um dia alguém ainda vai escrever um tratado sobre as consequências para o jornalismo mundial da substituição do metralhar das máquinas de escrever pelo leve clicar dos teclados dos micros, que transformou as redações, de usinas em claustros. A desnecessidade do grito para se fazer ouvir mudou o caráter do jornalista para melhor ou o fim da identificação com um honesto e barulhento trabalho braçal lhe roubou a velha fibra? Talvez ainda seja cedo para saber.

Mas é no futuro que a troca do preto no branco pelo impulso eletrônico fará a maior confusão. A internet está cheia de textos apócrifos, inclusive alguns atribuídos a mim pelos quais recebo xingamentos (e tento explicar que não são meus) e elogios (que aceito, resignado), e que, desconfio, sobreviverão enquanto tudo que os pobres autores deixarem feito por meios obsoletos virará cinza e será esquecido. Nossa posteridade será eletrônica e, do jeito que vai, será fatalmente de outro.



(Luis Fernando Veríssimo - Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-troca-,1073947,0.htm)
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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

E no Rosegate não vai nada?

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Um repórter norte-americano, radicado no Brasil, já está sob proteção de agentes do governo dos EUA. O jornalista vem recebendo ameaças desde que souberam que ele detém informações gravíssimas, com detalhes e documentos, sobre a corrupção nos desgovernos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Tudo fruto da espionagem promovida pela Agência Nacional de Segurança (NSA) do Tio Sam.


O Alerta Total já cansou de informar, desde que estourou o abafado e impune escândalo do Rosegate, que existem provas, legais ou não, obtidas por “monitoramentos” que envolvem diretamente Lula, e indiretamente Dilma, com os negócios escusos praticados pela poderosa Rosemary Nóvoa Noronha – ocupante do esdrúxulo cargo de ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo.


A espionagem norte-americana sabe tudo e um pouco mais sobre o escândalo que corre em estranhíssimo e inconcebível segredinho de Justiça (algo tão mais grave ou hediondo que qualquer espionagem estrangeira). Um dossiê completo sobre o Rosegate está nas mãos do repórter norte-americano protegido pela CIA e suas empresas terceirizadas de segurança. O cara que sabe tudo só não encontra um veículo brasileiro de informação com coragem para detonar o caso.


Tentem perguntar, grosseiramente, para o agente secreto Tio Sam: “E no Rosegate, não vai nada?”. Ironicamente, ele responderá: “Já foi tudo”... A revelação dos fatos mais graves sobre o caso Rose acabará, definitivamente, com a carreira de Luiz Inácio Lula da Silva – classificado como o “melhor amigo” dela. O Alerta Total já cansou de revelar que os espiões obtiveram fotos, documentos e telefonemas das relações de negócios e “amizade” entre os dois personagens.


O material pode não ter serventia judicial – pela forma nada convencional como foi obtido: via espionagem descarada. Mas, se divulgado, o que pode acontecer a qualquer momento, acaba com a carreira de Lula e pode levar o desgoverno Dilma juntinho para os quintos do infernos. Eis o motivo pelo qual os dirigentes petralhas reagiram tão indignadamente às revelações de que foram alvos de espionagem da NSA.


Agora, para tornar o Rosegate um escândalo ainda mais escatológico, a revista Veja (que sempre sabe muito mais do que tem a coragem de publicar) dedica uma reportagem especial para revelar o esquema milionário de defesa de Rosemary. Por que a protegida de Lula precisa ser defendida por um exército de 40 advogados, dos três maiores e melhores escritórios do Brasil, que atendem de forma vip a pobres banqueiros, empresários e figurões da republiqueta tupiniquim?


Outra que não será respondida, com várias indagações penduradas: Onde a Doutora Rose arrumou tanto dinheiro para pagar por um aparato milionário de defesa jurídica? Será que o amigo Lula ou os parceiros dele Lula estão ajudando financeiramente no pagamento dos caríssimos defensores de Rosemary?


Calma, tem mais perguntas: Por que tal caso segue em segredo de Justiça, já que é um escândalo de uma gravidade que transforma o famoso mensalão em um pequeno roubo de galinhas? Vale indagar, ainda: Por que o chefão da Rosemary, Luiz Inácio Lula da Silva, não é convidado, publicamente, a prestar esclarecimentos na Justiça sobre a atuação dela em negócios escusos?


O buraco do Rosegate é muito mais embaixo, ou muito mais em cima, dependendo do ponto de vista. A espionagem norte-americana, condenável e ilegal, ferindo a soberania que nunca tivemos porque não nos damos ao respeito como nação, sabe de absolutamente tudo e um pouco mais sobre o Rosegate. Se Hollywood quiser fazer o filme humorístico “O BEBUM de Rosemary” a coisa ficará institucionalmente séria.


O maior temor petista é que o repórter que sabe de tudo está blindado e com “seguro de vida”. Se qualquer coisa acontecer a ele, o barraco petralha vai para o chão, expondo todo o banditismo do Governo do Crime Organizado no Brasil. A gigantesca blindagem montada para proteger Rosemary é tão sólida que vai se desmanchar assim que os interesses do Tio Sam quiserem botar no ar tudo de publicável que se descobriu.


Tecnicamente falando, Luiz Inácio Lula da Silva já era. Sua recente indignação pública sobre a espionagem norte-americana foi apenas uma demonstração de desespero – normal em pessoas que se sentem acuadas. Agora, a principal estratégia da milionária defesa petista, segue duas linhas de ação. Primeiro, manter o criminoso e comprometedor silêncio sobre o Rosegate. Segundo, preparar argumentos jurídicos para tornar ilegais quaisquer “provas” obtidas pela via da espionagem.


Assim, se algum dia o caso Rose for parar em um Supremo Tribunal Federal da vida, os envolvidos no escândalo só poderão acabar condenados pela via fácil e perigosa das mesmas “teorias do domínio do fato” que condenaram os mensaleiros – que permanecerão impunes na prática, mesmo que puxem alguma cadeia, pois o crime deles já compensou e muito, sob os pontos de vista político e financeiro.


A missão quase impossível de manter a blindagem de Luiz Inácio Lula da Silva no Rosegate depende de três fatores. No curto prazo, de deixar o escândalo longe da mídia, em segredo judicial e o mais devagar possível do ponto de vista processual. No médio prazo, fazer de tudo para eleger Lula Senador por São Paulo em 2014, a fim de lhe dar imunidade parlamentar e foro privilegiado para se defender da merda que vai estourar, inevitavelmente.


O terceiro fator é o mais imponderável deles todos. Lula precisa ter saúde para sobreviver a tudo. Seus médicos garantem que tudo vai bem, no melhor dos mundos possíveis. Tomara que Lula realmente esteja melhor do que pensa. Ele merece viver muito para ver a amada amiga Rose provar sua fidelidade absoluta, jurando por Deus, nos tribunais, que Lula nada sabia sobre tudo que fez...


Quando isso acontecer, “O BEBUM de Rosemary” vai receber, de Hollywood, os Oscar(es) de melhor filme de ficção e de efeitos especiais...


No Rosegate, só não vai nada, se o Tio Sam não quiser... Por isso, o “Tio” (como Rose se referia ao amigo Lula nos ambientes de intimidade) anda mais nervoso que nunca...


E o Obama é quem leva a bronca da Dilma – segundo relatam os jornais revisionistas que mordem e assopram a petralhada...



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sábado, 7 de setembro de 2013

Bionda - Minha nova companheira

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BIONDA - MUITO BEM VINDA!





















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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Da Juíza às Forças Armadas

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Há anos venho acompanhando as notícias sobre o desmantelamento das Forças Armadas e sobre a relu­tância dos governos de FHC e de Lula em reajustar dignamente os salários dos militares.

O cidadão ingênuo até pensaria que os sucessivos cortes no orçamento do Ministério da Defesa e a insis­tência em negar os reajustes salariais à categoria poderiam, mesmo, decorrer de uma contenção de gastos, dessas que as pessoas honestas costumam fazer para manter em equilíbrio o binômio receita/despesa, sem com­prometer a dignidade de sua existência.

Mas, depois de tanto acompanhar o noticiário nacional, certamente já ficou fácil perceber que não é esse o motivo que leva o governo a esmagar a única instituição do país que se pauta pela ampla, total e irrestrita serie­dade de seus integrantes e que, por isso mesmo, goza do respaldo popular, figurando sempre entre as duas ou três primeiras colocadas nas pesquisas sobre credibilidade.

A alegação de falta de dinheiro é de todo improcedente ante os milhões (ou bilhões?) de reais que se des­viaram dos cofres públicos para os ralos da corrupção política e financeira, agora plenamente demonstrada pelas CPIs em andamento no Congresso Nacional.

O reajuste salarial concedido à Polícia Militar do Distrito Federal, fazendo surgir discrepâncias inadmissí­veis entre a PM e as Forças Armadas para os mesmos postos, quando o dinheiro provém da mesma fonte paga­dora - a União - visa criar uma situação constrangedora para os que integram uma carreira que sempre teve entre suas funções justamente a de orientar todas as Polícias Militares do país, consideradas forças auxiliares e reser­va do Exército (art. 144, § 6º da Constituição Federal).

Mas agora a charada ficou completamente desvendada. E se você, leitor, quer mesmo saber por que raios o governo vem massacrando as Forças Armadas e os militares, a ponto de a presidente da República sequer re­ceber seus Comandantes para juntos discutirem a questão, eu lhe digo sem rodeios: é por pura inveja e por medo da comparação que, certamente, o povo já começa a fazer entre os governos militares e os que os sucede­ram. Eis algumas das razões dessa inveja e desse medo:

1) Porque esses políticos (assim como os 'formadores de opinião'), que falam tão mal dos militares, sabem que estes passam a vida inteira estudando o Brasil - suas necessidades, os óbices a serem superados e as soluções para os seus problemas - e, com isso, acompanham perfeitamente o que se passa no país, podendo detectar a verdadeira origem de suas mazelas e também as suas reais potencialidades.

Já os políticos profissionais - salvo exceções cada vez mais raras - passam a vida tentando descobrir uma nova fórmula de enganar o eleitor e, quando eleitos, não têm a menor idéia de por onde começar a trabalhar pelo país porque desconhecem por com­pleto suas características, malgrado costumem, desde a candidatura, deitar falação sobre elas como forma de impressionar o público. Sem falar nos mais desonestos, que, além de não saberem nada sobre a terra que pre­tendem governar ou para ela legislar, ainda não têm o menor desejo de aprender o assunto.

Sua única preocu­pação é ficar rico o mais rápido possível e gastar vultosas somas de dinheiro (público, é claro) em demonstra­ções de luxo e ostentação.
2) Porque eles sabem que durante a 'ditadura' militar havia projetos para o país, todos eles de longo prazo e em proveito da sociedade como um todo, e não para que os governantes de então fossem aplaudidos em comícios (que, aliás, jamais fizeram) ou ganhassem vantagens indevidas no futuro.
3) Porque eles sabem que os militares, por força da profissão, passam, em média, dois anos em cada região do Brasil, tendo a oportunidade de conhecer profundamente os aspectos peculiares a cada uma delas, dedicando-se a elaborar projetos para o seu desenvolvimento e para a solução dos problemas existentes.
Projetos esses, diga-se de passagem, que os políticos, é lógico, não têm o mínimo interesse em conhecer e implementar.
4) Porque eles sabem que dados estatísticos são uma das ciências militares e, portanto, encarados com seriedade pelas Forças Armadas e não como meio de manipulação para, em manobra tipicamente orwelliana, justificar o injustificável em termos de economia, educação, saúde, segurança, emprego, índice de pobreza, etc.
5) Porque eles sabem que os militares tratam a coisa pública com parcimônia, evitando gastos inúteis e conservando ao máximo o material de trabalho que lhes é destinado, além de não admitirem a negligência ou a malícia no trabalho, mesmo entre seus pares.
E esses políticos perto não suportariam ter os militares como espelho a refletir o seu próprio desperdício e a sua própria incompetência.
6) Porque eles sabem que os militares, ao se dirigirem ao povo, utilizam um tom direto e objetivo, falando com honestidade, sem emprego de palavras difíceis ou de conceitos abstratos para enganá-lo.
7) Porque eles sabem que os militares trabalham duro o tempo todo, embora seu trabalho seja excessivo, perigoso e muitas vezes insalubre, mesmo sabendo que não farão jus a nenhum pagamento adicional, que, de resto, jamais lhes passou pela cabeça pleitear.
8) Porque eles sabem que para os militares tanto faz morar no Rio de Janeiro ou em Picos, em São Paulo ou em Nioaque, em Fortaleza ou em Tabatinga porque seu amor ao Brasil está acima de seus anseios pessoais.
9) Porque eles sabem que os militares levam uma vida austera e cultivam valores completamente apartados dos prazeres contidos nas grandes grifes, nas mansões de luxo ou nas contas bancárias no exterior, pois têm consciência de que é mais importante viver dignamente com o próprio salário do que nababescamente com o dinheiro público.
10) Porque eles sabem que os militares têm companheiros de farda em todos os cantos do país, aos quais juraram lealdade eterna, razão por que não admitem que deslize algum lhes retire o respeito mútuo e os envergonhe.
11) Porque eles sabem que, por necessidade inerente à profissão, a atuação dos militares se baseia na confiança mútua, vez que são treinados para a guerra, onde ordens emanadas se cumpridas de forma equivocada podem significar a perda de suas vidas e as de seus companheiros, além da derrota na batalha.
12) Porque eles sabem que, sofrendo constantes transferências, os militares aprendem, desde sempre, que sua família é composta da sua própria e da de seus colegas de farda no local em que estiverem, e que é com esse convívio que também aprendem a amar o povo brasileiro e não apenas os parentes ou aqueles que possam lhes oferecer, em troca, algum tipo de vantagem.
13) Porque eles sabem que os militares jamais poderão entrar na carreira pela 'janela' ou se tornar capitães, coronéis ou generais por algum tipo de apadrinhamento, repudiando fortemente outro critério de ingresso e de ascensão profissional que não seja baseado no mérito e no elevado grau de responsabilidade, enquanto que os maus políticos praticam o nepotismo, o assistencialismo, além de votarem medidas meramente populistas para manterem o povo sob o seu domínio.
14) Porque eles sabem que os militares desenvolvem, ao longo da carreira, um enorme sentimento de verdadeirasolidariedade, ajudando-se uns aos outros a suportar as agruras de locais desconhecidos - e muitas vezes inóspitos -, além das saudades dos familiares de sangue, dos amigos de infância e de sua cidade natal.
15) Porque eles sabem que os militares são os únicos a pautar-se pela grandeza do patriotismo e a cultuar, com sinceridade, ossímbolos nacionais notadamente a nossa bandeira e o nosso hino, jamais imaginando acrescentar-lhes cores ideológico-partidárias ou adulterar-lhes a forma e o conteúdo.
16) Porque eles sabem que os militares têm orgulho dos heróis nacionais que, com a própria vida, mantiveram íntegra e respeitada a terra brasileira e que esses heróis não foram fabricados a partir de interesses ideológicos, já que, não dependendo de votos de quem quer que seja, nunca precisaram os militares agarrar-se à imagem romântica de um guerrilheiro ou de um traidor revolucionário para fazer dele um símbolo popular e uma bandeira de campanha.
17) Porque eles sabem que para os militares, o dinheiro é um meio, e não um fim em si mesmo. E que se há anos sua situação financeira vem se degradando por culpa de governos inescrupulosos que fazem do verbo inútil - e não de atos meritórios - o seu instrumento de convencimento a uma população em grande parte ignorante, eles ainda assim não esmorecem e nem se rendem à corrupção.
18) Porque eles sabem que se alguma corrupção existiu nos Governos Militares, foi ela pontual e episódica, mas jamais uma estratégia política para a manutenção do poder ou o reflexo de um desvio de caráter a contaminá-lo por inteiro.
19) Porque eles sabem que os militares passam a vida estudando e praticando, no seu dia-a-dia, conhecimentos ligados não apenas às atividades bélicas, mas também ao planejamento, à administração, à economia o que os coloca em um nível de capacidade e competência muito superior ao dos políticos gananciosos e despreparados que há pelo menos 20 anos nos têm governado.
20) Porque eles sabem que os militares são disciplinados e respeitam a hierarquia, ainda que divirjam de seus chefes, pois entendem que eles são responsáveis e dignos de sua confiança e que não se movem por motivos torpes ou por razões mesquinhas.
21) Porque eles sabem que os militares não se deixaram abater pelo massacre constante de acusações contra as Forças Armadas, que fizeram com que uma parcela da sociedade (principalmente a parcela menos esclarecida) acreditasse que eles eram pessoas más, truculentas, que não prezam a democracia, e que, por dá cá aquela palha, estão sempre dispostos a perseguir e a torturar os cidadãos de bem, quando na verdade apenas cumpriram o seu dever, atendendo ao apelo popular para impedir a transformação do Brasil em uma ditadura comunista como Cuba ou a antiga União Soviética, perigo esse que já volta a rondar o país.
22) Porque eles sabem que os militares cassaram muitos dos que hoje estão envolvidos não apenas em maracutaias escabrosas como também em um golpe de Estado espertamente camuflado de 'democracia' (o que vem enfim revelar e legitimar, definitivamente, o motivo de suas cassações), não interessando ao governo que a sociedade perceba a verdadeira índole desses guerrilheiros-políticos aproveitadores, que não têm o menor respeito pelo povo brasileiro.
Eles sabem que a comparação entre estes últimos e os governantes militares iria revelar ao povo a enorme diferença entre quem trabalha pelo país e quem trabalha para si próprio.
23) Porque eles sabem que os militares não se dobraram à mesquinha ação da distorção de fatos que há mais de vinte anos os maus brasileiros impuseram à sociedade, com a clara intenção de inculcar-lhe a idéia de que os guerrilheiros de ontem (hoje corruptos e ladrões do dinheiro público) lutavam pela 'democracia', quando agora já está mais do que evidente que o desejo por eles perseguido há anos sempre foi - e continua sendo - o de implantar no país um regime totalitário, uma ditadura mil vezes pior do que aquela que eles afirmam ter combatido.
24) Porque eles sabem que os militares em nada mudaram sua rotina profissional, apesar do sistemático desprezo com que a esquerda sempre enxergou a inegável competência dos governos da 'ditadura', graças aos quais o país se desenvolveu a taxas nunca mais praticadas, promovendo a melhoria da infra-estrutura, a segurança, o pleno emprego, fazendo, enfim, com que o país se destacasse como uma das mais potentes economias do mundo, mas que ultimamente vem decaindo a olhos vistos.
25) Porque eles sabem que os militares se mantêm honrados ao longo de toda a sua trajetória profissional, enquanto agora nos deparamos com a descoberta da verdadeira face de muitos dos que se queixavam de terem sido cassados e torturados, mas que aí estão, mostrando o seu caráter abjeto e seus pendores nada democráticos.
26) Porque eles sabem que os militares representam o que há de melhor em termos de conduta profissional, sendo de se destacar a discrição mantida mesmo frente aos atuais escândalos, o que comprova que, longe de terem tendências para golpes, só interferem - como em 1964 - quando o povo assim o exige.
27) Porque eles sabem que os militares, com seus conhecimentos e dedicação ao Brasil, assim como Forças Armadas bem equipadas e treinadas são um estorvo para quem deseja implantar um regime totalitarista entre nós, para tanto se valendo de laços ilegítimos com ditaduras comunistas como as de Cuba e de outros países, cujos povos vêem sua identidade nacional se perder de forma praticamente irrevogável, seu poder aquisitivo reduzir-se aos mais baixos patamares e sua liberdade ser impiedosamente comprometida.
28) Porque eles sabem que os militares conhecem perfeitamente as causas de nossos problemas e não as colocam no FMI, nos EUA ou em qualquer outro lugar fora daqui, mas na incompetência, no proselitismo e na desonestidade de nossos governantes e políticos profissionais.
29) Porque eles sabem que ninguém pode enganar todo mundo o tempo todo, o governo temia que esses escândalos, passíveis de aflorar a qualquer momento, pudessem provocar o chamamento popular da única instituição capaz de colocar o país nos eixos e fazer com que ele retomasse o caminho da competência, da segurança e do desenvolvimento.
30) Porque eles sabem, enfim, que todo o mal que se atribui aos militares e às Forças Armadas - por maiores que sejam seus defeitos e limitações – não tem respaldo na Verdade histórica que um dia há de aflorar.

Abraços a todos da família militar

Juíza Dra. Marli Nogueira,
Justiça do Trabalho em Brasília.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Eles se merecem

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Que Natan Donadon (ex-PMDB-RO) tenha sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal; que a última instância da Justiça tenha sentenciado o deputado a mais de 13 anos de detenção e que ele já estivesse encarcerado; enfim, que o motivo de sua prisão tenha sido o desvio de R$ 8,4 milhões dos cofres públicos, nada disso, aos olhos da Câmara, constituiu razão para cassar o mandato do parlamentar.

A rigor, sendo conhecidos os hábitos deploráveis de boa parte dos políticos brasileiros, surpresa seria se a Casa legislativa houvesse agido de forma diferente.

A população, no fundo, sabe disso. Não é por acaso que a aprovação ao Congresso é tradicionalmente baixa. Segundo pesquisa recente, a taxa dos que consideram ruim ou péssima a atuação dos congressistas está em 42%, e apenas 13% entendem que ela é ótima ou boa. E esses patamares nem estão entre os piores da história.

Diante de níveis tão baixos de popularidade, qualquer instituição que se preze faria de tudo para melhorar a própria imagem. Pois os deputados que atualmente compõem a Câmara deixaram patente que não têm a organização a que pertencem em tão alta conta.

Nem mesmo as manifestações de junho foram suficientes para que eles buscassem conduta mais ética. A abominável verdade é que, em português claro, eles estão se lixando para a opinião pública.

Vai, sem dúvida, uma dose de injustiça na generalização. Dos 513 deputados, 233 quiseram cassar Natan Donadon e 131 foram contrários. Faltaram 24 votos para alcançar a maioria exigida por lei.

Como a votação foi secreta, porém, é impossível saber como se comportou cada congressista --salvo no caso dos 108 deputados que simplesmente não votaram, pois estes, na prática, ficaram abertamente ao lado de Donadon. Ao fim e ao cabo, igualam-se todos.

Seriam apenas esdrúxulas, não fosse a gravidade da situação, as questões que se apresentam. Por exemplo, Donadon manterá o salário de R$ 26,7 mil? Preservará assessores, apartamento funcional?

Mais importante, sem dúvida, é saber como a Câmara procederá diante dos deputados que são réus no processo do mensalão.

Enquanto vigorar o voto secreto nas sessões de cassação, sempre estará aberta a porta para o espírito corporativo. O presidente da Câmara quer, agora, acelerar a tramitação de proposta que levanta esse véu da impunidade.

Será um óbvio avanço, mas não apagará o fato de que a atual legislatura, por sua própria vontade, tem um presidiário em seus quadros. É revelador, mas não deixa de ser triste que os parlamentares se enxerguem dessa forma.




(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/126523-eles-se-merecem.shtml)

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NATAN DONADON, POLÍTICOS E OS BANDIDOS QUE SE PROTEGEM

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Ladrões de protegem? Bandidos costumam ajudar os cúmplices em dificuldades? Há mesmo honra entre ladrões?

Se você ainda duvidava disso e costumava fazer essas perguntas ao ler as páginas policiais, pode desistir delas. A Câmara dos Deputados e os políticos brasileiros deixaram bem claro que ladrões se protegem; bandidos ajudam seus cúmplices em dificuldades e a honra entre ladrões não é um mito.

O vergonhoso resultado da votação do pedido de cassação do mandato do ladrão condenado (e ainda deputado) Natan Donadon dá o tom da qualidade dos homens e mulheres que andam pelos corredores da política nacional.

Acostumados a parasitar o suor dos brasileiros, as excelências meliantes se uniram para jogar de vez na fossa entupida, pútrida e transbordante na qual se transformou a política nacional, o pouco de esperança de honradez; seriedade e honestidade que ainda restava no coração do eleitor brasileiro.

Na verdade, não devemos estranhar de todo a manutenção do mandato de Natan Donadon. Afinal de contas, a mesma Câmara dos Deputados recebeu de braços abertos e defendeu com unhas e dentes a posse de ladrões condenados pelo Mensalão petista e, não satisfeita, ainda lhes deu poder sobre o cerne do processo de elaboração de leis e normas de toda nossa república: a Comissão de Constituição e Justiça da casa.

Não duvido que os mesmos deputados abracem, com igual ternura, os mensaleiros do DEM e do PSDB que vierem a ser condenados pelo STF e a mesma Câmara abrirá suas entranhas calorosas para proteger o pior dos criminosos que envergar as cores de algum partido político (hoje, mais adequadamente chamados de quadrilhas).

Mais do que uma surpresa ou um vexame; a manutenção do mandato de Donadon é o ápice de um processo de deterioração de valores sem precedente pelo qual passa nossa sociedade e nossa “elite política”. Grande parte dessa banalização e falta de vergonha na cara deve ser atribuída ao “gênio” Lula que, com seu método mafioso, fomentou e acelerou a degradação final da política nacional.
Se antes o corrupto e o ladrão tinham medo de serem apontados como tal e tentavam a todo custo manter certa “aura de honestidade”; depois de Lula a canalhice, a bandidagem, a cara de pau e a desonestidade passaram a ser condição “sine qua non” para todo político que deseja atingir o objetivo de ficar rico a todo custo. Sem o “selo de qualidade” de um escândalo e sem a exposição de sua cara feia nas páginas dos jornais em alguma mamata da moda; o político hoje é considerado “sem expressão” e fica a margem das negociatas e das falcatruas que pululam em Brasília. Se antes eles apareciam no Jornal Nacional com uma toalha na cabeça, como forma de esconder o rosto e estampar sua vergonha; hoje eles bradam com um sorriso nos lábios e os olhos marejados de emoção: “Roubei sim, mas, quem não rouba?”

A claque espúria de ladrões aplaude emocionada e a canalhada reverencia o novo membro da quadrilha; permitindo assim que, mesmo da cadeia, o integrante do bando mantenha seu status. Isso desde que, é claro, continue molhando a mão de uns e outros.

Ao mesmo tempo, o eleitor surge como agente principal dessa corja. Pois, ao abraçar alegremente os corruptos e dar-lhes uma contínua renovação de seus mandatos pelo voto; por mais que a cara desses canalhas seja estampada nas manchetes; por mais que eles cuspam na cara do povo brasileiro afirmando a plenos pulmões que se lixam para nós; por mais que nos mandem relaxar e gozar (mesmo nos piores momentos de tragédia) é o eleitor brasileiro a figura que insiste em garantir a essa corja a continuidade de seus privilégios e sua perpetuação no poder; garantindo até a ascensão política de seus descendentes, geração após geração.

Assinando um verdadeiro atestado de imbecilidade a cada nova eleição, o brasileiro aclama seus algozes com alegria renovada e esperanças que sabe serão descartadas assim que as cerimônias de posse tenham acabado. Enquanto morre sem atendimento nas filas dos hospitais sucateados e abandonados; o eleitor defende, com unhas e dentes, a cor do partidão ou aplaude, com um misto de respeito e admiração, o último discurso de mais um “salvador da pátria” que jurou melhorar a saúde (enquanto vai, ele mesmo, se tratar no exterior ou no melhor hospital particular do país).

E assim, os milhares de Donadons continuam roubando e matando impunemente enquanto fazem dos corredores de mármore e granito de Brasília o habitat preferido para a sua sanha de poder e fome inesgotável por dinheiro e falcatruas.

E você, o que pensa disso?

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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A escalada da censura

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Mais uma decisão judicial de primeira instância, desta vez no Paraná, vem demonstrar que continua a se agravar o problema da censura prévia a órgãos de imprensa, embora o direito à livre expressão esteja consagrado na Constituição. Liminar concedida pelo juiz Benjamin Acácio de Moura e Costa proíbe que o jornal Gazeta do Povo publique informações sobre investigações abertas contra o presidente do Tribunal de Justiça daquele Estado, desembargador Clayton Camargo.

Em seu pedido - que inclui também as reportagens colocadas na página da Gazeta do Povo na internet - Camargo afirma que "os fatos em notícia (...) vieram impregnados pelo ranço odioso da mais torpe mentira". E, ao acatá-lo, um mês atrás, Moura e Costa salienta o que chama de caráter "degradante e personalizado" das reportagens, "transcendendo o dever informativo". Em recurso contra essa decisão, ajuizado neste mês, o jornal afirma que "não existe qualquer agressão a direitos da personalidade do autor, mencionado nas reportagens na qualidade de autoridade pública".

A importância do objeto das investigações não deixa dúvida sobre o interesse da sociedade de delas tomar conhecimento por meio da imprensa. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu, em abril, investigar denúncia de venda de sentença pelo desembargador Camargo numa ação que envolvia disputa da guarda de filhos, em 2011, quando ele atuava na área de Família. Outro procedimento foi aberto pelo CNJ, no mês passado, envolvendo o mesmo magistrado, agora para investigar suspeita de que ele se teria valido da sua influência para ajudar a candidatura de seu filho Fábio Camargo, deputado estadual pelo PTB, a uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Paraná. Cargo que ele obteve e do qual tomou posse em julho.

O fato de o CNJ ter aceitado apurar esses casos demonstra que - embora nada exista ainda de definitivo contra o desembargador Camargo - eles se baseiam em suspeitas sólidas. Não resultam de mera especulação do jornal objeto da censura prévia determinada pela Justiça, em primeira instância.

Quem mais uma vez colocou o problema em seus devidos termos, e com a habitual clareza, foi o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Ayres Britto: "Pessoalmente, entendendo que a liberdade de imprensa é, antes de tudo, liberdade de informação. Assim, tudo o que for veículo de informação deveria estar a salvo de qualquer censura". E vale recordar, a respeito deste novo caso, declaração anterior sua: "Não há no Brasil norma ou lei que chancele poder de censura à magistratura".

O que é particularmente inquietante nessa questão é que não estamos diante de casos isolados de decisões judiciais infelizes. Seu número é crescente. Uma das primeiras grandes vítimas desse tipo insidioso de censura prévia foi, como se sabe, o Estado, proibido desde julho de 2009 de publicar notícias com base nas investigações feitas pela Polícia Federal, dentro do quadro da chamada Operação Boi Barrica, a respeito de possíveis ilícitos praticados pelo empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney.

Em cinco anos, acrescido agora o caso do Paraná, houve 58 decisões determinando censura à imprensa. Só no ano passado foram 11, segundo pesquisa feita pela Associação Nacional de Jornais (ANJ). "Isso tem sido recorrente. Com muita frequência, essas decisões posteriormente são revogadas (em instâncias superiores). Mas o mal já está feito", afirma o diretor executivo da ANJ, Ricardo Pedreira. Sim, porque enquanto vigoram elas causam prejuízos tanto à imprensa como à sociedade, que deixa de ser informada sobre questões relevantes.

Sem falar no quanto tudo isso mancha a imagem do Brasil lá fora. No ranking da liberdade de imprensa, referente a 2012, divulgado pela ONG Repórteres Sem Fronteira, a posição do País piorou ainda mais, passando de 99 para 108. O que esperam ainda os tribunais superiores para pôr fim a esse atentado a um dos princípios básicos da Constituição?



(Publicado por Associação dos Magistrados Mineiros - Fonte:
http://amagis.jusbrasil.com.br/noticias/100664696/estado-de-s-paulo-a-escalada-da-censura)

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