segunda-feira, 11 de junho de 2012

O Brasil deveria gastar mais com saúde?

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A regulamentação da Emenda Constitucional 29, em dezembro de 2011, deveria representar o fim de um ciclo de debates e acordos para prover os recursos necessários ao financiamento público da saúde no Brasil, mas muitos argumentam que o resultado não alcançou esse propósito. 


Em livro recém-publicado (Do Global ao Local: Os Desafios da Saúde no Limiar do Século XXI, Editora Coopmed, Belo Horizonte, 2011) procurei demonstrar ser impossível saber quanto um país deve gastar com saúde, a menos que sejam respondidas algumas perguntas: quais as necessidades de saúde da população? Poderiam elas ser financiadas com os recursos financeiros públicos e/ou privados disponíveis? Os recursos existentes são alocados de forma eficiente e equitativa? A população realmente quer gastar esses recursos com saúde ou tem outras preferências?

As necessidades da saúde da população brasileira, segundo a Constituição de 1988, devem ser cobertas integralmente. Mas como se define cobertura integral? A sociedade, incluindo o Ministério da Saúde, vem discutindo há tempos o conceito de integralidade sem chegar a uma conclusão. Atualmente o rol de procedimentos financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é maior do que a lista da saúde suplementar, mas inferior ao que consta na tabela da Associação Médica Brasileira.


A garantia constitucional da integralidade faz com que a população bem informada e com capacidade de pagar a advogados possa reivindicar os procedimentos, exames, tratamentos ou terapias que o setor público ou os planos de saúde não incluem em suas listas. No entanto, quanto mais entramos no rol dos procedimentos de alta tecnologia e das inovações medicamentosas não cobertas por essas listas, maiores serão os custos para atender a todos. E se o cobertor do financiamento é curto, acabamos deixando de fora os que estão em baixo para cobrir os que estão em cima na pirâmide social.


Os países desenvolvidos procuram usar prioridades em saúde como forma de limitar os gastos, dado que os recursos são escassos. Mas a Constituição brasileira de 1988 não fala em prioridades, e sim em cobertura integral e igualitária. E até conseguirmos sair desse imbróglio o tempo passa, o gasto com saúde aumenta e os mais pobres ficam com uma cobertura menor e de pior qualidade.


Segundo dados da Organização Mundial de Saúde para 2008, o Brasil era o quarto país com maior participação do gasto em saúde no produto interno bruto (PIB) na América Latina e no Caribe (8,4%), superado por Cuba, Nicarágua e Costa Rica. Mas em termos absolutos a realidade é um pouco diferente. Com US$ 875 anuais per capita, nosso país era o 10.º no ranking do gasto em saúde da região. 



Países com renda per capita maior, como Argentina, Chile, Uruguai, Costa Rica, Barbados, Bahamas e Trinidad e Tobago, tinham mais para gastar nessa área. No entanto, gastávamos mais que México, Colômbia e Venezuela.

Entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), somos o país com maiores gastos em saúde como porcentagem do PIB. Mas no que se refere ao gasto per capita, ocupava a terceira posição. Nosso gasto nesse item em 2008 equivalia a 48% do da África do Sul e 89% do da Rússia, mas a renda per capita desses dois países era pelo menos o dobro da brasileira. Uma comparação entre 193 países mostra que, dado o seu nível de renda, o Brasil tem um gasto em saúde por habitante acima da média mundial. Portanto, se o financiamento da saúde fosse organizado sob princípios de gestão eficiente e equidade, não estaríamos mal na foto.


Mas quando se analisa o gasto público nessa área, a situação é diferente. Países de renda média alta (grupo em que o Brasil se insere) gastavam 57% dos seus recursos em saúde no setor público em 2008. O Brasil, só 44%, ficando entre a média dos países de renda baixa e de renda média baixa. No contexto latino-americano, nosso país é um dos que têm a menor participação do gasto público em saúde, sendo equivalente ao do Chile e ficando somente à frente de Peru, Equador, El Salvador, Guiana e Honduras. Mas considerando o gasto público per capita no setor, o Brasil, com US$ 386 anuais, encontrava-se numa posição intermediária, estando abaixo de Argentina, Cuba, Uruguai, Chile, Costa Rica, Colômbia e México.


Gastar mais em saúde ou decidir sobre sua distribuição entre os setores público e privado é uma opção da sociedade. O Brasil gasta acima da média dos países da América Latina e do Caribe, mas a participação do gasto público sobre o gasto total está abaixo da verificada nesse mesmo conjunto de países. O País tem alta participação do gasto direto das famílias no total do gasto em saúde (cerca de 28% em 2009). Aumentar o gasto público em saúde, de forma eficiente e equitativa, poderia levar à redução do gasto direto das famílias na mesma rubrica, o que é positivo para aliviar a pobreza e melhorar a equidade.


Atualmente existe uma progressiva convergência quanto à necessidade de aumentar o gasto público em saúde no Brasil. Mas isso envolve dois desafios. Primeiro, usar de forma mais eficiente e equitativa os recursos públicos a ela destinados para melhorar a cobertura e a qualidade do acesso, beneficiando os mais pobres e excluídos. Segundo, aumentar tais gastos públicos sem que se demandem mais recursos, financiados por novos impostos ou endividamento do governo. 



É necessário definir prioridades no uso do orçamento público. Para tal o Executivo e o Legislativo deveriam abandonar suas agendas pessoais ou corporativas e se associar ao compromisso republicano pelo debate de ideias, interesses e prioridades para melhorar a saúde da população brasileira. 


Estaríamos maduros, como nação, para enfrentar esses dois desafios?



(
André Medici - ECONOMISTA - WWW.MONITORDASAUDE.BLOGSPOT.COM)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Lula está virando um peso para Dilma - Por Arthur Virgílio

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Lula se imagina dono do Brasil e, portanto, do governo Dilma, do Congresso, do Judiciário. Pensa que os ministros, que indicou para os tribunais superiores, a ele devem prestar vassalagem.


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Lula está virando um peso para Dilma, por Arthur Virgílio

O ex-presidente Lula, no desastroso episódio que protagonizou no escritório do ex-ministro Nelson Jobim, claramente tentando chantagear o ministro Gilmar Mendes, do STF, no intuito de ganhá-lo para a “tese” do adiamento do julgamento do mensalão, cometeu vários delitos:TRAFICO DE INFUÊNCIA, COAÇÃO, CORRUPÇÃO ATIVA E OBSTRUÇÃO DA JUSTIÇA.

Foi rechaçado por Mendes, que relatou à revista Veja o teor da constrangedora conversa e depois confirmou suas declarações a todos os veículos de comunicação que o procuraram.

Despudoradamente, referiu-se sem o menor respeito a diversos colegas de Mendes. Disse que iria "MANDAR" o ex-ministro Sepúlveda Pertence, homem altivo e decente a toda prova, “controlar” a ministra Carmen Lucia, que todos conhecemos por sua austeridade e pela mão pesada com que julga criminosos.

Desdenhou do ministro Joaquim Barbosa, chamando-o de "complexado”. Logo ele, que nomeou Barbosa para o STF. Logo ele, que deveria ter orgulho de ter indicado à análise do Senado um homem que não se verga a conveniências.

Afirmou que procuraria o presidente da Corte, Ayres de Brito, através de amigo comum a ambos. A resposta do sergipano foi cortante: “O SUPREMO É VACINADO CONTRA QUAISQUER PRESSÕES".

Desrespeitou o jovem ministro José Antônio Dias Toffoli, que se porta com independência e enorme apego à técnica, tendo conquistado o respeito dos seus pares desde o primeiro julgamento de que participou."Toffoni terá de participar do julgamento (do mensalão)", bradou um arrogante Lula diante de um contemporazado Jobim e de um estupefato Gilmar Mendes..

Tratou o ministro Ricardo Lewandowiski como se dominasse sua vontade e pudesse manipulá-lo. Deve ter magoado o ilustre paulista profundamente.

Lula se imagina dono do Brasil e, portanto, do governo Dilma, do Congresso, do judiciário. Pensa que os ministros que indicou para os tribunais superiores, a ele devem prestar vassalagem..

Não aceita que a recomendação partiu dele, mas a aprovação se deu pelo Senado, integrado por figuras de todas as latitudes ideológicas e partidárias. Não compreende que a maior homenagem que o nomeado pode fazer a ele, nomeador, é justamente manter-se independente e imune a pressões de quem quer que seja… mesmo que elas venham do nomeador.

Lula está ficando menor. Está virando um peso para Dilma e para a parte sensata - ela existe - do PT.

O ódio que lhe corrói a alma vai exterminando a sensibilidade política que sempre o conduziu na vida pública.

Queria a CPI para perseguir Marconi Perillo? Pois agora ela não é mais somente a CPI do Cachoeira; é da Delta, do Cavendish, do Sergio Cabral, do PAC também.

Queria a CPI para embaralhar o julgamento do mensalão? Pois agora é que ele vai sair mesmo.

O STF julgará com base nos autos e tecnicamente. Mas julgará.

A Corte se dá ao respeito.



Fonte:: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_post=448147&ch=n)
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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Compra virtual EUA - tributação

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A cobrança antecipada de impostos de importação pelas lojas virtuais norte-americanas deixou de ser opcional para compras internacionais, incluindo destinos como o Brasil.

A exigência recente do pagamento de uma taxa antecipada de impostos pela Amazon.com norte-americana assustou consumidores como o arquiteto Juliano Vasconcelos, de 36 anos. Ele faz compras on-line de livros e filmes regularmente para atualizar seu site, o Blog do Jotacê, voltado a colecionadores. “Na sexta-feira (25) fui fazer a compra de um filme e me deparei com a cobrança de uma taxa de impostos mesmo na entrega mais simples, em prazo regular [que não é expressa]”, afirma Vasconcelos, que também teve de optar por uma empresa de courier para a entrega. “Não havia mais a opção de entrega pelos Correios”, afirma.

A compra de livros, revistas e jornais importados está isenta de impostos. Já os filmes e outros produtos no valor de até US$ 3 m il entram no Regime de Tributação Simplificada (RTS), que envolve a cobrança de 60% sobre o valor do produto e do frete em impostos de importação, além do do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que pode variar de 15% a 19%, dependendo do Estado. Veja na tabela desta reportagem os itens importados que estão insentos de impostos.

Em uma simulação de compra feita pelo G1, a coleção completa da saga ‘Star Wars’ com seis filmes em Blu-ray, no valor de US$ 89,96, recebe o custo de frete de US$ 7,98 e uma taxa classificada como “Import Fees Deposit” (Depósito de Taxas de Importação, na tradução em português), no valor de US$ 93,16.

“Com certeza eles estão cobrando o imposto que será cobrado aqui, considerando os 60% do Regime de Tributação Simplificada (RTS) e a tarifa estadual do ICMS”, afirma Mirelle Mautschke, diretora de operações da DHL Express.

Segundo Mirelle, a cobrança antecipada, conhecida como Delivery Duty Paid (DDP), é uma prática c omum do mercado. “O pagamento dos impostos na chegada do produto ao país, chamado Delivery Duty Unpaid (DDU), também costuma ser uma opção”, observa.

Avaliando o total da fatura da Amazon.com, de US$ 191,10, no entanto, a taxa cobrada na compra on-line representa um adicional de 95% sobre do valor do produto com o frete (US$ 97,94).

A Amazon.com não detalha dos impostos aplicados em sua taxa antecipada. A empresa explica, em seu site, que o “Depósito de Taxas de Importação” representa uma estimativa das taxas de importação que serão cobradas sobre os itens destinados a países fora dos Estados Unidos.

“Ao fazer a sua encomenda, você concorda em permitir que a Amazon Export, ou um Comerciante, se for o caso, recolha o ‘Depósito de Taxas de Importação’ para os itens aplicáveis em seu pedido. Este depósito será utilizado, em seu nome, para reembolsar as transportadoras sobre as taxas de importação que elas pagaram, em seu nome, para as autoridades competentes do país de destino”, informa a empresa em seu site. “Se o depósito exceder as Taxas de Importação reais, a Amazon Export irá reembolsar a diferença para você”.

Na loja americana Barneys, que já trabalha somente com a cobrança antecipada de impostos para encomendas internacionais, o G1 simulou a compra de uma caneta no valor promocional de US$ 27, com frete gratuito. Na prática, para adquirir a caneta, o consumidor brasileiro teria de desembolsar uma taxa de US$ 35,98 em impostos – mais de 130% sobre o valor do produto.

Na avaliação do especialista em direito tributário, Fernando Vaisman, que atua como consultor da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net), a diferença entre o imposto cobrado nas lojas on-line americanas e o exigido pela Receita Federal, pode refletir o Protocolo ICMS 21, que alterou a cobrança do imposto para as compras via internet interestaduais.

Em vigor desde abril do ano passado, o Protocolo 21 criou uma nova parcela adicional do ICMS que é recolhida por 18 Estados signatários e o Distrito Federal para compras feitas via internet ou telefone que partem das regiões Sul e Sudeste, exceto do Espírito Santo. “O grande problema é que esta generalização da cobrança do ICMS acaba penalizando todos os contribuintes”, diz Vaisman.

O cálculo do ICMS é aplicado sobre o valor resultante da cobrança do imposto de importação – 60%, no caso do RTS – no preço do produto, incluindo as despesas aduaneiras e o frete, explica Vaisman, lembrando que o resultado do cálculo recebe uma nova incidência do ICMS, conhecida como ‘cobrança por dentro’.

“Como a incidência de impostos de importação no Brasil varia por produto, a cobrança antecipada do imposto em lojas on-line, pode prejudicar o consumidor”, observa o advogado. No caso de softwares, por exemplo, o imposto de importação e o ICMS são calculados somente sobre o valor da mídia (CD ou DVD), e não pelo produto completo, desde que o valor do meio físico venha discriminado separadamente na Nota Fiscal.

Cobrança duplicada

Ao pagar os impostos antecipadamente em uma compra internacional on-line, o consumidor deve ficar de olho na descrição da fatura para não correr o risco de pagar impostos duas vezes.

“Se a fatura trouxer o valor dos impostos somado ao preço do produto e do frete, o agente alfandegário pode entender que aquele é o valor da compra e emitir uma nova cobrança de impostos”, alerta Daniel Souza, gerente de desembaraço aduaneiro da UPS Brasil. Segundo ele, o consumidor deve verificar, na hora da compra, se a fatura da loja on-line descrimina o valor do produto e o valor dos impostos separadamente, além de incluir seu CPF.

A Receita Federal informa que não houve qualquer medida recente que determine alguma mudança na tributação de compras no exterior via internet. Desde junho de 2009, todos os produtos adquiridos de pessoas jurídicas no exterior – incluindo lojas on-line – no valor de até US$ 3 mil, estão sujeitos à cobrança de 60% de Imposto de Importação, além do ICMS, informa o órgão.

A cobrança do RTS só não se aplica a livros, jornais e revistas, medicamentos, e a remessas transportadas pelo serviço postal (Correios), no valor máximo de US$ 50, cujos destinatários e remetentes sejam pessoas físicas, esclarece a Receita federal.

G1 (em São Paulo)





(Fonte: www.cavini.adv.br)
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Poema de Agradecimento à Corja


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POEMA DE AGRADECIMENTO À CORJA


Obrigado, excelências.

Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade

de vivermos felizes e em paz.

Obrigado

pelo exemplo que se esforçam em nos dar

de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem

dignidade.

Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.

Por não nos darem explicações.

Obrigado por se orgulharem de nos tirar

as coisas por que lutamos e às quais temos direito.

Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.

Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.

Obrigado pela vossa mediocridade.

E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.

Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.

Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.

Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias

um dia menos interessante que o anterior.

Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.

Obrigado por nos darem em troca quase nada.

Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.

Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade

e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.

E pelo vosso vergonhoso descaramento.

Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,

o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.

Obrigado por serem o que são.

Obrigado por serem como são.

Para que não sejamos também assim.

E para que possamos reconhecer facilmente

quem temos de rejeitar.







(Joaquim Pessoa - Fonte: http://www.visaopanoramica.com/)

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terça-feira, 5 de junho de 2012

Parábola da Rã Cozida

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Da alegoria da Caverna de Platão a Matrix, passando pelas  fábulas de La Fontaine, a linguagem simbólica é um meio privilegiado para induzir à reflexão e transmitir algumas idéias. Olivier Clerc*, nesta sua breve história, através da metáfora, põe em evidência as funestas conseqüências da não consciência da mudança que infecta nossa saúde, nossas relações, a evolução social e o ambiente.



História da rã que não sabia que estava sendo cozida.

Imagine uma panela cheia de água fria, na qual nada, tranquilamente, a pequena rã. Um pequeno fogo é aceso embaixo da panela, e a água se esquenta muito lentamente. Pouco a pouco, a água fica morna, e a rã, achando isso bastante agradável, continua a nadar, a temperatura da água continua subindo...

Agora, a água está quente mais do que a rã pode apreciar; ela se sente um pouco cansada, mas, não obstante isso, não se amedronta.

Agora, a água está realmente quente, e a rã começa a achar desagradável, mas está muito debilitada; então, suporta e não faz nada.

A temperatura continua a subir, até quando a rã acaba simplesmente cozida e morta. Se a mesma rã tivesse sido lançada diretamente na água a 50 graus, com um golpe de pernas ela teria pulado imediatamente para fora da panela.

Isto mostra que, quando uma mudança acontece de um modo suficientemente lento, escapa à consciência e não desperta, na maior parte dos casos, reação alguma, oposição alguma, ou, alguma revolta.

Se nós olharmos para o que tem acontecido em nossa sociedade desde há algumas décadas, podemos ver que nós estamos sofrendo uma lenta mudança no modo de viver, para a qual nós estamos nos acostumando.

Uma quantidade de coisas que nos teriam feito horrorizar 20, 30 ou 40 anos atrás, foram pouco a pouco banalizadas e, hoje, apenas incomodam ou deixam completamente indiferente a maior parte das pessoas.

Em nome do progresso, da ciência e do lucro, são efetuados ataques contínuos às liberdades individuais, à dignidade, à integridade da natureza, à beleza e à alegria de viver; efetuados lentamente, mas inexoravelmente, com a constante cumplicidade das vítimas, desavisadas e, agora, incapazes de se defenderem.

As previsões para nosso futuro, em vez de despertar reações e medidas preventivas, não fazem outra coisa a não ser a de preparar psicologicamente as pessoas a aceitarem algumas condições de vida decadentes, aliás, dramáticas.

O martelar contínuo de informações, pela mídia, satura os cérebros, que não podem mais distinguir as coisas...

Quando eu falei pela primeira vez destas coisas, era para um amanhã.

Agora, é para hoje!!!

Consciência, ou cozido, precisa escolher!

Então, se você não está, como a rã, já meio cozido, dê um saudável golpe de pernas, antes que seja tarde demais.



(*Olivier Clerc, nascido em 1961 na cidade de Genebra, na Suíça, é escritor, editor, tradutor e conselheiro editorial especializado nas áreas de saúde, desenvolvimento pessoal, espiritualidade e relações humanas. É também autor de Médecine, religion et peur (1999) e Tigre et l’Araignée: les deux visages de la violence (2004).)
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segunda-feira, 4 de junho de 2012

No Ratinho, Lula rói a Lei Eleitoral, os fatos, as instituições, o decoro e o bom senso

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Lula usa programa popular na TV para fazer campanha para Haddad


Ex-presidente esteve no Programa do Ratinho e não quis comentar sobre Gilmar Mendes.


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve na noite desta quinta-feira no Programa do Ratinho, atração do SBT, onde chegou acompanhado do ex-ministro Fernando Haddad, pré-candidato do PT á prefeitura de São Paulo, e do também ex-ministro e prefeito de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, Luiz Marinho. Lula aproveitou o espaço para justificar a escolha de Haddad e fazer campanha para o colega de partido, enaltecendo os feitos dele à frente do Ministério da Educação. Haddad também chegou a responder algumas perguntas do apresentador. Lula não quis comentar as rusgas e recentes acusações do ministro Gilmar Mendes, do STF.


- Eu não quero entrar nesse tema, porque já falei em nota. Quem inventou a história, que prove a história. Eu acho que o tempo se encarrega - resumiu Lula.


Sobre Haddad, o ex-presidente foi enfático em alguns momentos, e se exaltou:
- Por uma razão muito simples (escolhi Haddad). Convivi com a Marta (Suplicy) por 30 anos. Ela foi uma belíssima prefeita em São Paulo. Mas achava que era o momento para apresentar uma coisa nova para a cidade de São Paulo. Acho que São Paulo precisa ter alguém. Ele vai passar para a história como o melhor ministro da Educação, o ministro do Prouni, que colocou um milhão de jovens da periferia na universidade.


- Não vou deixar um candidato do PSDB voltar (à prefeitura) - concluiu Lula.


- A população votará no novo porque ela quer mudança em São Paulo – disse Haddad, em sua fala no programa.


Sobre Dilma, o ex-presidente foi categórico:


- Trabalha como uma alucinada. Tem gente que não gostava e dizia: “O Lula escolheu um poste para sucedê-lo”. A presidente Dilma Rousseff vai estar muito forte no final do seu mandato, ela não só irá querer, como tentará a reeleição. Não há possibilidade de divergência entre nós dois. O Brasil precisa de uma mulher no governo federal. Eu serei cabo-eleitoral para reelegê-la. A única hipótese de eu voltar é ela não querer. Eu não vou permitir que um tucano volte à Presidência do Brasil.


Lula também falou sobre o diagnóstico do câncer na laringe:


- Eles (médicos) falaram de um câncer com 3 centímetros na corda vocal e eu fiquei com medo. Como eu iria sobreviver sem poder falar? – disse o ex-presidente, que, em um momento mais descontraído da conversa, comentou sobre o terno que estava usando no programa televisivo:


- Esse terno aqui eu comprei quando estava internado, preparando para por no caixão.


Lula foi recebido com aplausos pela plateia de Ratinho. Segundo o petista, essa era “a primeira entrevista dele depois de deixar a presidência da República”. Ele também comentou sobre a saúde no país.


- Saúde precisa de dinheiro. Tem gente que fala que é gestão. A oposição me derrubou, tiraram 40 bilhões por ano da CPMF para me prejudicar, mas prejudicaram o povo pobre desse país.


Sobre os efeitos do tratamento contra o câncer, Lula comentou:


- Primeiro, não é brincadeira. A quimioterapia é pesada, a radioterapia também. Tem de ter dedicação e disciplina para cumprir as regras estabelecidas pelos médicos. Estou levantando todos os dias 6h30m, estou com a perna esquerda sem mobilidade, estou com a garganta ruim. Vai demorar um mês, um mês e pouco para sarar. Vou participar da campanha.


Entre depoimentos gravados de Ronaldo Fenômeno e Zeca Pagodinho, Lula comentou que se preparou para deixar a presidência, mas sentiu logo após sair da vida pública:


- É uma coisa que ninguém este preparado (deixar a presidência). Achava que estava preparado quando deixasse. O Sarney disse uma vez: “eu descobri que as portas tinham trinco quando eu deixei a Presidência”. Quando você é presidente, olha para um lugar e a pessoa vem te atender. Quando deixei a presidência, percebi que a segurança já não era a mesma. Mas tinha um general do meu lado. No dia seguinte você levanta e está com a dona Marisa, olhando um para a cara do outro: o que fazer? Quer um ovinho, então vá fritar!

(LEONARDO GUANDELINE e GUSTAVO URIBE - Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/lula-usa-programa-popular-na-tv-para-fazer-campanha-para-haddad-5088753)
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CARGA TRIBUTÁRIA - A fábrica brasileira de dinheiro

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E querem convencer o povo que só rico paga imposto neste país, que pobre não paga nada... 




OBSERVEM O PERCENTUAL ABAIXO A RELAÇÃO DE PRODUTOS QUE MAIS 
RECOLHEM IMPOSTOS. 


Percentual de Tributos sobre O Preço Final


PRODUTO                                                                 % Tributos/preço final



Passagens aéreas
8,65%
Transporte Aéreo de Cargas
8,65%
Transporte Rod. Interestadual Passageiros
16,65%
Transporte Rod. Interestadual Cargas
21,65%
Transp. Urbano Passag. - Metropolitano
22,98%
Vassoura
26,25%
CONTA DE ÁGUA
29,83%
Mesa de Madeira
30,57%
Cadeira de Madeira
30,57%
Armário de Madeira
30,57%
Cama de Madeira
30,57%
Sofá de Madeira/plástico
34,50%
Bicicleta
34,50%
Tapete
34,50%
MEDICAMENTOS
36%
Motocicleta de até 125 cc
44,40%
CONTA DE LUZ
45,81%
CONTA DE TELEFONE
47,87%
Motocicleta acima de 125 cc
49,78%
Gasolina
57,03%
Cigarro
81,68%

PRODUTOS ALIMENTÍCIOS BÁSICOS

Carne bovina
18,63%
Frango
17,91%
Peixe
18,02%
Sal
29,48%
Trigo
34,47%
Arroz
18,00%
Óleo de soja
37,18%
Farinha
34,47%
Feijão
18,00%
Açúcar
40,40%
Leite
33,63%
Café
36,52%
Macarrão
35,20%
Margarina
37,18%
Margarina
37,18%
Molho de tomate
36,66%
Ervilha
35,86%
Milho Verde
37,37%
Biscoito
38,50%
Chocolate
32,00%
Achocolatado
37,84%
Ovos
21,79%
Frutas
22,98%
Álcool
43,28%
Detergente
40,50%
Saponáceo
40,50%
Sabão em barra
40,50%
Sabão em pó
42,27%
Desinfetante
37,84%
Água sanitária
37,84%
Esponja de aço
44,35%

PRODUTOS BÁSICOS DE HIGIENE

Sabonete
42%
Xampu
52,35%
Condicionador
47,01%
Desodorante
47,25%
Aparelho de barbear
41,98%
Papel Higiênico
40,50%
Pasta de Dente
42,00%

MATERIAL ESCOLAR

Caneta
48,69%
Lápis
36,19%
Borracha
44,39%
Estojo
41,53%
Pastas plásticas
41,17%


Papel sulfite
38,97%
Livros
13,18%
Papel
38,97%
Agenda
44,39%
Mochilas
40,82%
Régua
45,85%
Pincel
36,90%
Tinta plástica
37,42%

BEBIDAS

Refresco em pó
38,32%
Suco
37,84%
Água
45,11%
Cerveja
56,00%
Cachaça
83,07%
Refrigerante

47,00%
CD
47,25%
DVD
51,59%
Brinquedos
41,98%

LOUÇAS

Pratos
44,76%
Copos
45,60%
Garrafa térmica
43,16%
Talheres
42,70%
Panelas
44,47%

PRODUTOS DE CAMA, MESA E BANHO

Toalhas - (mesa e banho)
36,33%
Lençol
37,51%
Travesseiro
36,00%
Cobertor
37,42%


Automóvel


43,63%

ELETRODOMÉSTICOS

Sapatos
37,37%
Roupas
37,84%
Aparelho de som
38,00%
Computador
38,00%
Fogão
39,50%
Telefone Celular
41,00%
Ventilador
43,16%
Liquidificador
43,64%
Batedeira
43,64%
Ferro de Passar
44,35%
Refrigerador
47,06%
Vídeo-cassete
52,06%
Microondas
56,99%

MATERIAL DE CONSTRUÇÃO

Fertilizantes
27,07%
Tijolo
34,23%
Telha
34,47%
Móveis (estantes, cama, armários)
37,56%
Vaso sanitário
44,11%
Tinta
45,77%
Casa popular
49,02%
Mensalidade Escolar
                    37,68% (ISS DE 5%)




ALÉM DESTES IMPOSTOS, VOCÊ PAGA DE  15% A 27,5% DO SEU SALÁRIO 
A TÍTULO DE IMPOSTO DE RENDA, PAGA O SEU PLANO DE SAÚDE, 
O COLÉGIO DOS SEUS FILHOS, IPVA, IPTU, INSS, FGTS ETC...




(IBPT - INSTITUTO BRASILEIRO DE PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO)



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Cultura x educação

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Fala-se muito da educação como tábua de salvação para o Brasil. É natural que sem educação um povo jamais pode almejar posição de destaque no concerto internacional nem ter um sistema político e econômico eficaz, mas a educação não é um fim em si, apenas um meio. A educação tem potencial reformador quando serve para capacitar as pessoas a refletir sobre si mesmas e sobre a sociedade, em si nada faz.

Um conceito muito confundido com o de educação é o de cultural, em especial os políticos não são muito capazes de diferenciar um do outro, talvez porque a rigor não tem nenhuma das duas ou no máximo apenas a primeira. Enquanto a educação tem um certo caráter conservador, afinal reproduz conhecimentos – e ideologias de contrabando – a cultura tem forte potencial revolucionário pois estimula o senso crítico e enxerga a sociedade de forma não convencional.

Uma boa ilustração disto é o estereótipo do professor e do artista. 
Com todas as limitações que os estereótipos tem, mesmo eles não deixam de ter forte potencial descritivo (quantos personagens da literatura não foram mais que estereótipos bem desenhados?). O professor normalmente é associado a uma posição mantenedora do status que, enquanto o artista é identificado com a rebeldia. É claro que existem professores revolucionários e artistas reacionários (embora de certa forma o segundo é menos provável), mas isto não invalida o conceito mais geral.

Em sua antológica História Social da Literatura e da Arte, Hauser já aponta lá na Grécia Clássica uma tentativa de controlar a cultura tornando-a oficial ou patrocinada por Mecenas. Para ele tal tipo de atitude tenta manipular o potencial revolucionário da cultura aprisionando-a. Assim a cultura só pode ser livre quando o próprio público escolhe o que quer assistir sendo a distribuição gratuita de cultura na verdade uma anti-cultura.

A sociedade capitalista aprimorou o mecenato criando a indústria cultural. Enquanto na Grécia os aristocratas pagavam para que o povo fosse assistir as peças que ideologicamente lhes convinham os capitalistas espalham seu lixo ideológico (mal) disfarçado de cultura e ainda cobram por isto ganhando rios de dinheiro. É lugar comum dizer que os poderosos não querem que o povo estude e aprenda. Isto talvez até possa ter sido verdade no Brasil e em outros países incivilizados controlados por uma elite ralé. Mas de forma alguma é uma verdade histórica. A educação pública, gratuita e universal sempre foi uma bandeira burguesa. As elites européias e americanas – e mais recentemente as dos Tigres Asiáticos – sempre apostou na educação como um eficaz instrumento para atingir dois principais objetivos: preparar a mão-de-obra capacitando-a para avanços técnicos cada vez maiores e doutrinar o povo de acordo com suas ideologias.

As elites civilizadas sempre tiveram a preocupação de como educar seus filhos sem tirar deles o senso crítico, as tentativas de educar sem doutrinas sempre nasceram em berços de ouro, ainda que algumas tenham se proletarizado posteriormente. Já num pais grotesco como o Brasil nem este potencial da educação jamais foi percebido pelas elites, e não interessa de forma alguma à elite política (que ao contrário do que dizem os marxistas de carteirinha e até outros nem tão fanáticos assim, não se confunde com a elite econômica). A conseqüência disto foi que praticamente todo o magistério perdeu seu antigo status e se viu relegado a um dos últimos planos da escala social, situação propícia – em especial a quem tem certa formação intelectual – a coloca-nos na posição de contestadores. Assim os estereótipos do professor e do artista podem ser perfeitamente explicados mesmo em suas exceções. É certo que as elites políticas e econômicas já estão em franca disputa pela recuperação ou não da educação. Já a simples menção de cultura faz muitos, como aquele personagem inspirado em Goebbels, sacarem o revólver.


(Alexandre Gomes é editorialista do Jornal Primeira Página – São Carlos/SP)

Discurso do Embaixador Fortino Mario Alfonso Moreno Reyes (Cantinflas)

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Trata-se da tradução livre de um suposto discurso pronunciado pelo Embaixador do México junto às Nações Unidas, numa Assembléia do fim dos anos 60.

Com pequenas variações, o tema e o conteúdo não podem ser mais atuais, verdadeiros, contundentes e elucidativos da situação que, neste momento, estamos vivendo.

Delicie-se!



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Coube-me, por sorte, ser o último orador.

Isso muito me agrada, pois assim: os pego cansados.

Não obstante, sei que apesar da insignificância do meu país – que não tem poderio militar, nem político, nem econômico, nem muito menos atômico, todos os Senhores esperam com grande interesse minhas palavras já, que do meu voto, depende o triunfo dos Verdes ou dos Vermelhos.

Senhores Representantes:

Estamos passando por um momento crucial em que a humanidade se enfrenta ante essa mesma humanidade.
Estamos vivendo um momento histórico em que o homem: científica e intelectualmente é um gigante, mas moralmente é um pigmeu.

A opinião mundial está tão profundamente dividida em dois grupos aparentemente irreconciliáveis, que ocorre o caso de que um só voto; o voto de um país fraco e pequeno pode fazer que a balança penda para um ou para o outro lado.

Estamos, portanto, numa grande gangorra. Com um lado ocupado pelos Verdes e com o outro ocupado pelos Vermelhos.
E agora chego eu, que sou peso-pluma, e do lado que me colocar, para lá penderá a balança!

Façam-me o favor!

Os Senhores não creem que é muita responsabilidade para um só cidadão?

E porque também não considero justo que a metade da humanidade – seja qual for ela – venha a ser condenada a viver sob um regime político e econômico que não é de seu agrado, somente porque um frívolo embaixador votou – ou que o tenham feito votar – num sentido ou no outro.

E é por isso, que este seu amigo que vos fala…, eu…, não votarei em nenhuma das duas teses (ouvem-se vozes de protesto no plenário).

E não votarei em nenhuma das duas teses, por três razões:
Primeira, porque – repito – não seria justo que um só voto de um só representante – que poderia neste momento estar doente do fígado – venha a decidir os destinos de cem nações;


Segunda, porque estou convencido de que os procedimentos – repito e sublinho: os procedimentos dos Vermelhos (os países comunistas) são desastrosos (ouvem-se vozes de protesto dos Vermelhos e aplausos dos Verdes).

E Terceira, porque estou convencido de que os procedimentos dos Verdes (os Estados Unidos da América) tampouco são os mais bondosos que se possa ter (agora, ouvem-se protestos dos Verdes e aplausos dos Vermelhos).

E se não se calaram imediatamente, não sigo com o discurso e os Senhores ficarão com a curiosidade de saber o que eu tinha para lhes dizer.

Insisto que falo de procedimentos e não de idéias e nem de doutrinas.

Para mim todas as idéias são respeitáveis, ainda que sejam “ideiazinhas” ou “ideiazonas” e mesmo que eu não esteja de acordo com elas.

O que pensa esse Senhor…, ou esse outro Senhor…, ou aquele Senhor (aponta)…, ou esse de bigodinho que já não pensa nada porque já está dormindo…, nada disso impede que sejamos, todos nós, bons amigos.

Todos cremos que nossa maneira de ser, nossa maneira de viver, nossa maneira de pensar e até o nosso modo de andar são os melhores; e esse modelo tratamos de impor-lo aos demais e, se não os aceitam dizemos que “são isso e/ou são aquilo” e, imediatamente, entramos em desinteligências.

Os senhores acham que isso está correto?

Tão fácil seria a vida se ao menos respeitássemos o modo de viver de cada um.

Faz cem anos que disse uma das figuras mais humildes, mas mais importantes do nosso continente:

“O respeito ao direito alheio é a paz” (aplausos).

É disso que eu gosto! Não que me aplaudam, mas que reconheçam a sinceridade das minhas palavras.

Estou de acordo com tudo o que disse o Senhor Representante da Salsichonia (numa referência à Alemanha) com humildade; com humildade de pedreiros independentes devemos lutar para derrubar a barreira que nos separa; a barreira da incompreensão; a barreira da mutua desconfiança; a barreira do ódio.

E no dia em que conseguirmos, poderemos dizer que voamos por cima da barreira (risos).

Mas não a barreira das idéias, isso não…, nunca!

No dia que pensarmos iguais atuarmos iguais deixaremos de ser homens para converter-nos em máquinas, em autômatos.


Esse é o grave erro dos Vermelhos, o querer impor pela força suas ideias e seu sistema político e econômico.

Falam de liberdades humanas, mas eu lhes pergunto:

Existem essas liberdades em seus próprios países?

Dizem defender os Direitos do Proletariado, mas seus próprios trabalhadores nem sequer possuem o direito fundamental à greve.
Falam da cultura universal ao alcance das massas, mas encarceraram os seus escritores porque eles se atrevem a dizer a verdade.

Falam da livre determinação dos povos e, no entanto, há cem anos oprimem uma série de nações sem permitir-lhes que se dêem uma forma de governo que mais lhes convenham.

Como podemos votar por um sistema que fala de dignidade e, ato contínuo atropela o mais sagrado da dignidade humana que é a liberdade de consciência, eliminando ou pretendendo eliminar a Deus por decreto?

Não, senhores representantes, eu não posso estar com os Vermelhos ou, melhor dizendo: com sua maneira de atuar.


Respeito seu modo de pensar à sua maneira, mas não posso dar meu voto para que seu sistema se implante pela força em todos os paises da terra (ouvem-se vozes de protesto).

Aquele que quiser ser Vermelho que o seja, mas que não pretenda tingir os demais (os Vermelhos se levantam para sair da Assembléia).

Um momento, jovens! Senhores! Porque tão sensíveis?

Os senhores não agüentam nada, não? Eu ainda não terminei.
Voltem aos seus lugares.

Já sei que estão acostumados a abandonar a estas reuniões quando ouvem algo que não é de seu agrado; mas não terminei.
Voltem aos seus lugares, não sejam precipitados…, ainda tenho que dizer algo sobre os Verdes.

Os senhores gostariam de ouvir?

Sentem-se!

(Toma um gole de água e faz gargarejos, mas se dá conta de que é Vodka).

Agora, meus queridos colegas Verdes. O que disseram os Senhores?

- Já votou por nós? Não?

Pois não jovens. Não votarei por vocês porque vocês também tem muita culpa por tudo que acontece no mundo.

Vocês são soberbos como se o mundo fosse só de vocês e que os demais tivessem uma importância apenas relativa.

E ainda que falem de paz; de democracia; e de coisas muito bonitas; as vezes também pretendem impor sua vontade pela força e pela força do dinheiro.

Estou de acordo que devamos lutar pelo bem coletivo e individual; que devamos combater a miséria; que devamos resolver os tremendos problemas de habitação, do vestir e do sustento.

Mas com o que não estou de acordo é com a forma que vocês pretende resolver esses problemas.

Vocês também sucumbiram ante o materialismo, esqueceram os mais belos valores do espírito. Pensando somente nos negócios, pouco a pouco foram se convertendo nos credores da humanidade e, por isso, a humanidade lhes vê com desconfiança.

No dia da inauguração desta Assembléia o Senhor Embaixador da Ladaronia disse que o remédio para todos os nossos males estava em: ter automóveis, refrigeradores, televisores; puxa…, e eu me pergunto:

Para que queremos automóveis se ainda andamos descalços?

Para que queremos refrigeradores se não temos alimentos para colocar neles?

Para que queremos tanques e armamentos se não temos escolas para nossos filhos (aplausos)?

Devemos lutar para que o homem pense na paz, mas não somente impulsionado pelo seu instinto de conservação, se não, e fundamentalmente pelo dever que tem de superar-se e de fazer do mundo um local de paz e tranquilidade cada vez mais digno da espécie humana e de seus altos destinos.

Mas essa aspiração não será possível se não houver abundancia para todos; bem-estar comum, felicidade coletiva e justiça social.
É verdade que está em suas mãos – dos países poderosos da terra, Verdes e Vermelhos -, o ajudar a nós, os fracos, mas não com presentes, nem com empréstimos, nem com alianças militares.

Ajudem-nos pagando preços mais justos, mais eqüitativos por nossas matérias primas; ajudem-nos dividindo conosco seus notáveis avanços na ciência, na tecnologia…, mas não para fabricar bombas, mas para acabar com a fome e com a miséria (aplausos).

Ajudem-nos respeitando nossos costumes, nossas crenças, nossa dignidade como seres humanos e nossa personalidade como nações, por pequenos e frágeis que sejamos.

Pratiquem a tolerância e a verdadeira fraternidade, e nós saberemos corresponder-lhes.

Mas deixem imediatamente de tratar-nos como simples peões no tabuleiro de xadrez da política internacional.

Reconheçam-nos como o que somos, não somente como clientes ou como ratos de laboratório, mas como seres humanos que: sentem, sofrem e choram.

Senhores representantes, existe outra razão a mais porque não posso dar meu voto:

Faz exatamente vinte e quatro horas que apresentei minha renúncia como Embaixador do meu país. Espero que seja aceita.

Consequentemente, não lhes falei como Excelência, mas como um simples cidadão; como um homem livre; como um homem qualquer; mas que, não obstante, crê interpretar ao máximo as aspirações de todos os homens da terra; as aspirações e os desejos de viver em paz; o desejo de ser livres; o desejo de entregar aos nossos filhos e aos filhos de nossos filhos um mundo melhor; em que reine a boa vontade e a concórdia.

E que fácil seria, senhores, alcançar esse mundo melhor em que todos os homens brancos, negros, amarelos e pardos, ricos e pobres pudessem viver como irmãos.

Se não fossemos tão cegos, tão obcecados, tão orgulhosos. Se apenas orientássemos nossas vidas pelas sublimes palavras que, faz dois mil anos, disse aquele humilde carpinteiro da Galiléia, simples, descalço, sem fraque nem condecorações:

“Amai-vos…, amai-vos uns aos outros!”

Mas, lamentavelmente vocês entenderam mal, confundiram os termos. E o que fizeram? E o que fazem?

“Armam-se uns contra os outros!”

Tenho dito!

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Sua Excelência Mario “Cantinflas” Moreno 
(12/08/1911 - 20/4/1998).

O discurso tem mais de quarenta anos, mas, sem que dele se retire uma vírgula, poderia repetir-se em qualquer foro político com absoluta e vigente pertinência.

Esta é a mesma filosofia daquela célebre e crucial pergunta formulada antes de que se sentassem dois adversários para jogar dominó:

“Vamos jogar como cavalheiros ou como somos normalmente?”

Esta é uma homenagem a um homem simples e cheio de humor ingênuo e saudável que o México nos legou, a todos os irmãos latino-americanos.


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Quando Fortino Mario Alfonso Moreno Reyes faleceu, o governo do México declarou luto por três dias. Suas cinzas encontram-se na cripta de sua família, no Panteão Espanhol da Cidade do México. 


Cantinflas foi homenageado por vários chefes de Estado e o Congresso dos EUA manteve, em sua memória, um minuto de silêncio.



(Dircurso original em castelhano, traduzido por José Chirivino Álvares)
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domingo, 3 de junho de 2012

É um circo ou não é?

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Parece que a corrupção tomou conta do Estado brasileiro, que não há mais em quem confiar

Ultimamente, faço um esforço enorme para não perder a esperança em nosso país, em nossa capacidade de nos comportarmos com um mínimo de respeito pelo interesse público, pelos valores éticos, enfim, por construirmos uma nação digna deste nome.

É que, a cada dia, como você, fico sabendo de coisas que me desanimam. Parece que a corrupção tomou conta do Estado brasileiro, que não há mais em quem confiar. O que desanima não são apenas as falcatruas praticadas por parlamentares, ministros, governadores, prefeitos, juízes... O pior é que esses dados refletem uma espécie de norma generalizada que dita o comportamento das pessoas e o próprio funcionamento da máquina pública.

Um pequeno exemplo: o precatório. Se ganhas na Justiça uma ação que obriga o governo a te indenizar, ele está obrigado a te pagar, não? Só que ele não paga, não cumpre a decisão judicial, e fica por isso mesmo. A Justiça sabe que sua decisão não foi obedecida e nada faz.

Pior, às vezes esse dinheiro é apropriado por altos funcionários da própria Justiça. Enquanto isso, as pessoas que deveriam ser indenizadas esperam 20, 30 anos, sem nada receber. É como um assalto em via pública. Este é um fato corriqueiro num país dominado por uma casta corrupta.

E eu, burro velho, embora sabendo disso tudo, não paro de me surpreender. Acontece de tudo, até CPI criada pelo governo. Nunca se viu isto, já que CPI é um recurso da oposição; quer dizer, era, porque a de Cachoeira foi invenção do Lula e seu partido, e conta com o apoio da presidente Dilma. Isso porque, no primeiro momento, os implicados pareciam ser apenas adversários deles, a turma do mensalão.

Eis, porém, que novas revelações envolveram gente do PT e aliados do governo, sem falar numa empresa corrupta que é responsável por grande parte das obras do PAC, o Plano de Aceleração do Crescimento do governo federal.

Mas o que fazer, agora, se a CPI já estava criada? Voltar atrás seria impossível, e nem era preciso, uma vez que, dos 30 membros da CPI, apenas sete são da oposição, quer dizer, não decidirão nada.

Mas essas revelações punham em risco um dos principais objetivos de Lula, que era usar a CPI para desqualificar o processo do mensalão, prestes a ser julgado pelo STF. Essa intenção foi favorecida por um fato que envolve o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a quem caberá fazer a denúncia da quadrilha chefiada por José Dirceu.

O PT tentou desqualificá-lo, apresentando-o como ligado a Demóstenes Torres e, portanto, a Cachoeira. A jogada não deu certo e, além do mais, está aí a maldita imprensa, que insiste em criar problemas, por levar à opinião pública informações inconvenientes.

De qualquer modo, a CPI teria que ouvir Carlinhos Cachoeira, e só Deus sabe o que ele poderia revelar. Deus e nós também: nada, como se viu.

É que ele se valeu do direito, que a Constituição lhe concede, de permanecer calado para não produzir provas contra si mesmo. Quem quer que tenha inventado isso -sempre em defesa dos inocentes, claro- com frequência favorece aos culpados, uma vez que o inocente, por nada temer, faz questão de contar toda a verdade. Calar, portanto, é confissão de culpa.

De qualquer modo, Carlos Cachoeira, a conselho de seu advogado, não respondeu a nenhuma das perguntas que lhe foram feitas, deixando os parlamentares, que inutilmente o interrogavam, em situação constrangedora. Aquela sessão da CPI, em Brasília, só pode ser comparada a um espetáculo circense.

E quem é o advogado de Cachoeira? Nada menos que o ex-ministro da Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos, que, sentado a seu lado, como um segurança jurídico, ouvia os deputados e senadores se referirem a seu constituinte como "bandido, chefe de uma quadrilha de ladrões". Estava ali por vontade própria ou por imposição do cliente? Não se sabe, mantinha-se indiferente, como se nada ouvisse.

Foi por saber Cachoeira culpado de todas aquelas falcatruas que o aconselhou a nada responder. Resta à CPI recorrer às provas documentais. Por isso mesmo, Thomaz Bastos já pediu a anulação delas. Cachoeira pode não ter razão, mas dinheiro não lhe falta. E o espetáculo continua...



(Ferreira Gullar)
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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Uso do Tablet na 3ª Idade

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A filha pergunta ao pai como ele estava indo com o Tablet que lhe dera de presente de aniversário. O velho responde que ia muito bem. . .





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O Boca

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Quando o Boca nasceu, nasceu assim sem mais. Deu um berro tão forte que a mãe amedrontada e sem outra graça para lhe dar, xingou-lhe logo de Bocudo.

Era Bocudo, mas não era da Silva nem da Graça e pra não ter nome tão grande, virou apenas Boca.

Cresceu abocanhado nas barras da saia da mãe e ensurdecido pelos gritos: Boca pegue! Boca faça! Boca vá! Para bem dizer a verdade, o Boca não tinha boca para nada.

Nas ruas onde morava, conheceu um amigo, o Peçonha. Este sim era a boca que o Boca não tinha. Destilava seu veneno por onde passava, não tinha papas na língua e nem rédeas o seguravam, controlava todo o morro e por afinidade promoveu o Boca a chefe da boca.

De boca em boca a notícia se espalhou. Foi passando de bem visto para bem quisto o nosso velho Boca.

O peçonha se irritou. Como poderia o Boca estar na boca do povo? Preparou uma surpresa e esperou na boca pelo Boca.

Com um sorriso de recepção ao amigo, uma bala o Boca recebeu, mas não era nem doce nem azeda, apenas fria e sorrateira.

Nos pés da boca e na boca da noite, jazia sem dizer uma só palavra, o antigo Boca.