domingo, 23 de maio de 2010

O PT e o golpe de "ser de esquerda"

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Até as eleições de 2004, o PT não apenas levantava a bandeira da ÉTICA, mas o fazia com EXCLUSIVIDADE - claro, na opinião da própria legenda. Um escândalozinho isolado aqui, uma denúnciazinha ali, enfim, nada muito grave. Sabe aquela reforma do vizinho? Pois bem: em vez do martelo, era o PT falando "ética, ética, ética, ética, ética, ética, ética". Até que veio o Mensalão. O que sobrou? A imagem messiânica de Lula.

Mas a militância precisa de mais, e o debate eleitoral vai além dos setores mais populares, de modo que é preciso dar alguma substância ideológica ao PT. No lugar da "ética", e com a mesma sinceridade d'antanho, vem agora o berro de "esquerda, esquerda, esquerda, esquerda". E, claro, com a famosa exclusividade. O PT e apenas o PT é de esquerda. Não cobrem uma definição sobre o que seria ou deixaria de ser "esquerdismo". Eles são e fim de papo.

Mas vamos por partes.

Por Que o PT Faz Isso?
É uma forma - e bem eficiente - de transformar o debate partidário numa disputa maniqueísta, graças à forma como "esquerda" e "direita" são vistas no Brasil em função do nosso glorioso ensino médio e demais instâncias educacionais.

Na prática - e falaremos disso -, tivemos oito anos de uma gestão economicamente liberal, de puro e simples continuísmo, o que mostra maturidade e acerto por parte de Lula. Mas, na briga de legendas, temos que o PT é a "esquerda", o bem - e, obrigatoriamente, o inimigo é a "direita" (quem quer que seja). Logo, é o "mal".

Bobagem, claro.

Essa estratégia é excepcional e funciona de verdade. Um bom exemplo é quando um partido de ultraesquerda surge na praça, e invariavelmente ataca o PT, pois não vê diferença ideológica em relação a tantos outros. O que fazem os petistas quanto a isso? Dizem que são "radicais" e, mais ainda, "a esquerda que a direita adora" - jogando-os na conta... DA DIREITA.

Em suma: são todos de direita, menos ele. Até mesmo a ultraesquerda. Eles são bons nessa coisa, convenhamos.

Escapismo Ideológico
Nenhum partido discute muito seriamente os grandes temas ideológicos. Há, é claro, grupos de negros, mulheres, gays etc., e até mesmo projetos de lei defendendo esses grupos. E isso também ocorre nos partidos Democrata e Republicano, nos EUA. São bandeiras universais.

Drogas e aborto, por exemplo, são temas mais delicados, sobre os quais ninguém fala direta e francamente. Usam frases feitas e máximas manjadíssimas. A ecologia, então, merece um capítulo à parte. O "aquecimento global" é repudiado por todos, mas ninguém OUSA estudar as teses que o questionam, nem por um segundo - e quem o faz é... DE DIREITA! Sério, tem isso!

Teoria e Prática
No poder, não há esquerda ou direita, há GOVERNO. O PT está com José Sarney e toda uma turma que está longe de figurar no panteão de grandes craques da República. Além disso, manteve TODA a política econômica baseada em leis e institutos até então vetados e xingados e até mesmo PROCESSASDOS JUDICIALMENTE (LRF) pelo partido.

Contradição? Sim, da braba. Mas foi o melhor para o país. Lula já explicou que na oposição cabiam "bravatas", mas no poder é outra coisa. Ainda bem. Se fosse para realizar no poder o que pregava na oposição, o PT faria o seguinte: a) acabaria com a moeda; b) anularia a Constituição; c) não cumpriria com a Lei de Responsabilidade Fiscal; d) expulsaria Lula da Presidência (já que o partido, em 1999, deu início ao "Fora, FHC").

O "esquerdismo" do PT, portanto, era uma visão distorcida do que em lugar algum do mundo poderia vir a ser "esquerda". Era chatice e chilique, mesmo - além de oportunismo e desonestidade intelectual e dos fatos. O poder trouxe alguma maturidade ao partido, além de inúmeros dissabores, a ponto dos maiores caciques caírem um a um sobrando uma obscura ministra para ser a candidata.

Enfim...
A militância hoje diz "esquerda" como ontem dizia "ética", no fundo querendo dizer a mesma coisa e, também, significando a mesmíssima porcaria: NADA. Não são de esquerda tanto quanto não foram éticos. O PT em campanha com Sarney é um partido de "esquerda" tanto quanto repleto de "ética". O sentido é o mesmo. Cai nisso quem quer.


(http://www.interney.net/blogs/imprensamarrom)

Um comentário:

  1. Houve um amigo dihittiano que postou texto semelhante, mas diferente do seu.

    Dizia algo sobre a "direta" e o fato dela não existir. Afinal de "direita" são todos aqueles que são contra os partidos de movimentos organizados de esquerda.

    Pelo nome, até o DEM é de esquerda, hahahaha

    Pura bobagem tudo isso aí.

    O fato é: em matéria de ética e boas práticas, são pouquíssimos os partidos que faltam se vender por algum dinheiro de cueca que venha a surgir debaixo de algum pano por aí...

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