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Toda vez que me  olho no espelho tenho vontade de  perguntar a não sei quem: "Afinal,  de onde vim, do barro ou do macaco?" Uma alternativa pouco agradável, mas veraz. Vim do barro,  tal como o Gênesis me informa? Ou  vim do macaco, que Darwin descobriu entre os meus principais  ascendentes?
Gostaria de ter uma terceira via  para me explicar, mas, em vez de  uma explicação, encontraria mais  uma complicação. Fico com as  duas e, se não fico bem, fico em parte com a ciência e em parte com a  religião.
Acredito que outras pessoas tenham pensamentos iguais ou parecidos:  pesquisar nossa origem é salutar, embora não nos leve a lugar  nenhum. É até uma forma de monotonia. E, ao falar em monotonia,  lembro Machado de Assis: "Cá fico  eu que prefiro a monotonia à cova  -mania de velho".
Os entendidos atribuem a esta  mania, comum a velhos e moços,  toda a base da filosofia e da ciência  em geral. Quem sou, onde estou, de  onde vim, para onde vou? Não sei  se foi o poeta Luiz Edmundo que fez  as mesmas indagações num soneto  que sabia de cor e do qual só recordo o final.
"Quem sou? Funcionário honesto da nação. De onde vim? De casa.  Onde estou? No bonde. Para onde  vou? Para a repartição."
Diremos que são soluções poéticas, mas nem tanto. Se perguntasse  menos, o homem seria, se não mais  feliz, mais tranquilo. A resposta é  sempre um compromisso, às vezes  um dever.
A lenda diz que o apóstolo conseguira fugir de Roma, mas encontrou Jesus  na estrada. Perguntou-lhe: "Onde vais, senhor?" (o famoso "Quo vadis").  Jesus respondeu  que ia a Roma para ser crucificado  outra vez. O apóstolo compreendeu  e voltou atrás, aceitando o martírio.  Se nada perguntasse, teria vivido um pouco mais.
(Carlos Heitor Cony - http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1083915&tit=O-barro-e-o-macaco) 
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
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Melhor não perguntar
ResponderExcluirA revelação da nossa existência está nas sagradas escrituras. É oq ue todo cristão acredita