quinta-feira, 16 de junho de 2011

Brasil real x Brasil oficial

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Algumas pessoas já falaram isso: o Brasil oficial tem que se encontrar com o Brasil real. A frase não é novidade.

A distância continua grande. O Brasil oficial é o poder e sua face visível; o real é a vida, o dia a dia das pessoas.

Políticas públicas são feitas com base no oficial. Gestores têm que estar bem com seus pares e chefes para permanecerem nos cargos ou serem promovidos. Não existe incentivo para políticas que priorizem a ponta da linha, o beneficiário, a população.


Marqueteiros dizem que não entram no debate dos grandes temas porque a única opção que têm é ganhar e que, para isso, precisam descontruir o maior adversário. Adversário demolido, vitória garantida.

A mídia, em geral, faz cobertura episódica, intensa e fugaz. Assuntos relevantes só entram em pauta quando há desgraça ou polêmica pessoal entre líderes políticos. Logo depois, desaparecem.

Jovens acompanham a vida do país e da própria cidade no modelo "Twitter": frases isoladas, considerações esparsas, sem continuidade e aprofundamento.

O maior culpado por tudo isso é o sistema político representativo, hoje em vigor, que não é discutido pela sociedade. Limita-se a pequenos grupos politizados.

O representante do povo nas Câmaras e Assembleias é eleito pelo sistema proporcional. Isso permite que tenha votos por todo o estado em lugar cada vez diferente ou diluídos, não permitindo cobranças ou acompanhamento pelo eleitorado. Além disso, vários setores e regiões ficam sem representantes.

A cidade de São Paulo é, numericamente, mal representada na Câmara Federal, com menos deputados que seu peso proporcional de habitantes. A distribuição dos vereadores eleitos por regiões e setores da cidade fica muito aquém da real. Mais de 90% da população não vota em nenhum dos eleitos e grande parte dos que votaram não se lembra do escolhido.

O sistema proporcional vigente é aquele em que se vota no Tiririca e elege o Protógenes. Os partidos procuram cada vez mais "Tiriricas" e menos candidatos que possam ser controlados. É o modelo da antirrepresentação. Ele leva à cruel realidade de que o eleito fica muito mais ligado aos financiadores de sua campanha do que ao eleitor. Sem dinheiro não consegue se reeleger. Salvo exceções raríssimas, com nome na sociedade, por serem figuras midiáticas, artistas e representantes religiosos.

Várias coisas podem ser feitas para aproximar o oficial do real. Nada é mais importante do que a mudança do sistema representativo. O voto em lista partidária esconde o candidato do eleitor, é o reino subterrâneo dos partidos. O distritão é a falência de ideologia. O melhor caminho é o voto distrital. Misto ou puro.

O Brasil real virá à tona quando o oficial precisar dele para chegar ao poder. Quando o eleitor dominar o mundo de candidatos que podem representá-lo, conhecendo-o bem, vivendo no mesmo distrito, a relação se transforma. O deputado e o vereador tornam-se voz do eleitorado ou são espirrados.

É uma alteração singela, mas vale uma revolução. Sem dor. Se ela permanece distante, é porque a sociedade ainda não acordou para a sua importância.

Por que as coisas não acontecem? Todos querem saber.

Há várias alternativas corretas, mas a resposta campeã é: porque ainda não mudou o sistema representativo.


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