quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Doutor, meu filho está usando drogas!

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Durante muito tempo as pessoas pensavam que se cuidassem bem de seus filhos, dando-lhes o melhor, amando-os, superprotegendo-os dos perigos do cotidiano, tudo daria certo, o sucesso deles como pessoas estaria garantido, que apenas aqueles abandonados ou deixados de lado apresentariam problemas. Com o passar dos tempos, com o crescimento dos filhos, com a mudança do mundo os pais começaram a notar que não é assim que acontece.

Hoje todos precisam estar bem informados, atualizados, envolvidos na sua vida e na dos jovens. Precisam perceber e aceitar que as dificuldades e diferenças ocorrem, independentes do preparo ou do desejo.

Não podem esquecer que durante a vida aprenderam uma equação bastante simples, que servia de base do bem estar: existe um remédio, pelo menos um, que propicia alívio imediato para qualquer mal, seja ele físico ou emocional. Na infância, na farmácia caseira havia uma panacéia que servia para aliviar todos os desconfortos. Ficou registrado desde pequeninos isso: desconforto mais química igual a Alívio propiciado pela droga, que leva rapidamente ao bem estar. Hoje cada vez mais cedo, as pessoas buscam repetir isso. Na adolescência buscam drogas para minimizar seus descontentamentos, seus desapontamentos, suas dificuldades com a vida. Os jovens na sua maioria buscam o modo mais fácil de equilibrar-se, mesmo que este alívio seja por pouco tempo.

A experimentação é característica dessa fase, é na adolescência que os limites são expandidos, o mundo é testado e tudo o que ele pode propiciar. O adolescente encontra a droga, não vê nela um risco verdadeiro e aos poucos, vai se isolando em seu mundo e deixando de lado todas as outras coisas: amigos, família, educação, saúde, esporte, diversões, futuro.

Para alguns, é para sempre. Essa história é ouvida com freqüência, mas parece estar longe, na TV, nas revistas na casa dos outros. Não afeta diretamente, então a família finge que não vê, não sabe. Até que um dia chega a sua vez. Aí percebe forçosamente. Tem que admitir e passa a viver com o desamparo, com o descaso, com a podridão, a escravidão de uma sociedade sem rumos, sem valores positivos, egoísta, impune e muitas vezes reforçadora de tudo aquilo que lutou a vida toda para ver e aceitar.

Conversas, afeto, missas, terapias, cultos, viagens, mudanças de casa, lágrimas, dinheiro, carro, gritos, tapas, beijos podem até ajudar, mas não são suficientes. Existe um mundo aí fora e o jovem tem que sair por ele, tem que conquistá-lo. Este mundo está doente. Os pais precisam ajudar os jovens a viver nele, sem que se contaminem, fazer escolhas que não irão, com certeza retirar a podridão do mundo, mas certamente irão afastá-los de seu mundo. Os trincos, cadeados, muros, portões eletrônicos, celulares, remédios , motoristas particulares, super proteção, não os deixa imunes aos perigos e sujeiras. Os jovens vão aos poucos conhecendo, entrando e minando os sistemas de defesa e quando os pais dão se conta percebem que tem que lutar sozinhos.

As drogas andam soltas pelas ruas. Vão a escola, danceterias, clubes, igrejas, bares, residências. As pessoas pensam que para adquirí-las é preciso enfrentar a marginalidade, mas isso não é real. Vivemos no mundo do “DELIVERY” também em relação às drogas. Basta um telefonema e elas chegam às nossas mãos com a mesma facilidade com que pedimos uma pizza no final de semana.

A dependência química é uma doença que afeta cerca de 10 a 15% da população. Nem todos os adolescentes que experimentam drogas, tornam-se dependentes. É preciso avaliar o grau de envolvimento para sugerir, o tipo de tratamento necessário. Um adolescente funcional, que cresceu aprendendo com sua família que as dificuldades só podem ser superadas através do próprio esforço, dificilmente se tornará um dependente, pois saberá fazer escolhas acertadas. Um dependente precisa ser tratado, dirigindo-se o foco do processo à sua doença. Ele tem todo o tipo de disfunção e dificuldades, mas elas fazem parte do quadro geral de sua doença, não são as suas doenças. Droga é causa e não conseqüência de disfunções de qualquer ordem na vida de uma pessoa.

Como terapeutas, precisamos buscar compreender a dependência em si, bem como seus reflexos, na família, nas relações entre seus membros e sua relação com o mundo. Quando uma pessoa manifesta algum tipo de dependência é um contexto social e familiar que isso ocorre. A família que consegue se organizar com eficácia, buscar ajuda e reconhecer sua dificuldade, não transferindo ao dependente toda a carga, fazendo dele o “saco de lixo da família”, consegue crescer, avançar e encontrar novas formas de relacionamento intra e extra familiar.

Uma família funcional aceita mais facilmente o ciclo da vida e percebe o crescimento e a busca necessária da independência por seus membros. Trabalha as dificuldades mais facilmente. Consegue agir, de forma mais adequada quando as dificuldades aparecem. Os problemas são encarados como oportunidades de crescimento e de repensar as relações.

Não é essa família que chega ao consultório. É sempre uma família fragmentada, culpada, desorientada, trocando acusações e buscando explicações para entender o que está acontecendo, como se o entendimento fosse suficiente pára resolver a situação... A vergonha impede que o problema seja colocado de modo transparente. Ter “um drogado” em casa não é motivo de orgulho para nenhuma família, mas a crescente aceitação da dependência como uma doença, permite que todos se mobilizem e possam trabalhar para resgatar o dependente e a harmonia familiar, reconhecer suas necessidades e limites.

Os pais desejam uma solução mágica, mais uma panacéia que expulse os problemas de sua vida. O descontrole da vida do dependente desenvolve como contraponto, uma falsa sensação de controle por parte dos familiares. Mecanismos de defesa são criados para dar sensação de que algo está sendo feito. O problema não pode ser atacado diretamente, então todos dirigem sua atenção para qualquer coisa, pois assim sentem que estão fazendo algo. Esses mecanismos precisam ser trazidos à tona na terapia.

A família precisa aceitar que não pode controlar a vida do dependente, pode ajudá-lo a encontrar o equilíbrio, mas se essa não for a sua escolha, não pode viver refém de sua conduta insana.

A família precisa continuar a existir e exercer suas funções. Quando todos caminham juntos na recuperação, os problemas, prazeres, necessidades e sentimentos podem encontrar novamente lugar na vida de cada um ao invés da família fazer do sofrimento o motivo da sua vida. A visão que antes estava centrada somente em si mesmo, caminha para uma sensibilidade maior aos outros e a uma busca de relações mais sadias.

A dependência é uma doença que afeta as pessoas em todas as dimensões de sua vida. Seu tratamento torna-se mais eficaz quando podemos, como psicólogos, contar com a ajuda de outros profissionais e também dos Grupos de Apoio. A ajuda de cada profissional tem âmbito limitado de ação. Assim como a família precisa buscar integração entre seus membros, quando nos abrimos para fazer o mesmo, potencializamos o resultado de nosso trabalho.

(Marina Canal Caetano Drummond /Helio Caetano Drummond Filho - "Drogas a busca de respostas - Fonte: 
http://www.revistapsicologia.com.br/materias/abordagens/filhoUsandoDrogas.htm)
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2 comentários:

  1. Berenice,

    Uma vez, quando eu estava gravida, peguei um frescão para ir trabalhar.
    Ao meu lado sentou uma senhora. Durante o engarrafamento começou a conversar.
    Contou que vinha de Niteroi e seguia para a Barra.
    Ia visitar uma amiga que havia perdido o filho.
    Quando ele tinha quase 17 anos, esta mulher alertou a amiga que ele estava consumindo drogas. Eles não acreditaram. Depois foram morar uns anos nos EUA e quando retornaram, o rapaz estava pior.
    E as drogas sempre levam para os piores caminhos, o dele, filho unico, acabou sendo a morte.
    As amigas reataram a amizade.
    Eu nunca esqueci daquela conversa. Estava gravida e tinha meus receios quanto ao futuro, pois nao temos como controlar; podemos sim é vigiar e agir na hora certa. Mas quando é mesmo a hora certa se muitas vezes tudo é tão escondido?!

    beijos

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  2. Gostei do artigo, muito oportuno, Berenice.
    Um abraço,
    Jorge Purgly

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