sexta-feira, 18 de novembro de 2011

No caso Lupi, Dilma foge da camisa de força da mídia

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Wilson Dias/ABr





Considerando-se o padrão que Dilma Rousseff impôs a si mesma, Carlos Lupi já deveria estar pendurado nas manchetes na condição de ex-ministro.

Lupi sobrevive porque Dilma emite sinais de que cansou do modelo ‘imprensa-denuncia-presidente-demite.’

Em conversa com o repórter, uma autoridade do governo utilizou a expressão “camisa de força da imprensa”.

Após vesti-la cinco vezes, Dilma esquiva-se da peça no escândalo que derrete seu ministro do Trabalho.

Procede dessa maneira não porque vá manter Lupi. Decidiu afastá-lo. Mas quer descer a lâmina no seu tempo, não no “prazo da mídia”.

Dilma prefere esperar pela reforma ministerial, projetada para janeiro. Quer perscrutar os nomes e as alternativas.

Analisa, por exemplo, a hipótese de retirar o PDT do feudo do Trabalho, acomodando-o noutra capitania. Algo difícil de implementar no ritmo de toque de caixa.

Curiosamente, Dilma condiciona o desejo de dar sobrevida ao ministro hemorrágico aos movimentos do noticiário, o dono da “camisa de força.”

Alega-se no Planalto que, dependendo da repercussão da falência política de Lupi e do surgimento de “fatos novos”, a demissão pode ser antecipada.

Nesta quinta (17), depois que Lupi admitiu no Senado tudo o que negara na Câmara uma semana antes, Dilma silenciou.

Para manter a presidente a salvo do assédio dos repórteres, a equipe do Planalto recorreu a um aparato novo.

Numa solenidade pública, a corda usada para demarcar o território da imprensa foi substituída por fileiras de cadeiras.

Ficou entendido que Dilma não desejava ser inquirida sobre a conversão de Lupi de ministro inaceitável em auxiliar inadmissível.

Afora o calendário da prometida reforma ministerial, um outro detalhe conspira a favor do prolongamento da hemorragia de Lupi.

Nas encrencas que precederam a atual, Dilma entendia-se com a direção dos partidos e combinava a saída do ministro tóxico.

No caso do PDT, a direção se chama Carlos Lupi. Embora licenciado da presidência da legenda, é ele quem ainda dá as cartas.

Nas últimas 72 horas, Lupi desceu ao pano verde do PDT duas vezes. Em ambas arrastou as fichas para cancelar reuniões da Executiva nacional da legenda.

Programara-se um encontro da Executiva para este sábado (19). Lupi melou.

Nesta quinta (17), tentou-se emendar um debate dos membros da Executiva no depoimento do ministro no Senado. Lupi, de novo, levou o pé à porta.

Lupi trava o debate para evitar o risco de uma decisão partidária a favor da saída dele do ministério. Há uma semana, as chances eram negligenciáveis.

Hoje, a soma da banda dos revoltados com a banda dos incomodados levou Lupi a exergar que o vocábulo “possível” está contido no “impossível”.

Na falta de uma decisão do PDT, o destino de Lupi passa a depender apenas de Dilma. Ou dos famigerados “fatos novos”.

Esticando a permanência de Lupi na Esplanada, Dilma prorroga também a corrosão que o descalabro impõe à sua própria imagem.



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