quinta-feira, 8 de julho de 2010

The cow went to the swamp

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The cow went to the swamp, diria o filósofo Millôr Fernandes. Para os não letrados em filosofia, aqui vai a complexa interpretação literal: a vaca foi pro brejo. The dream is over, vaticinou o profeta John Lennon. O sonho acabou, quem não dormiu no sleeping bag nem sequer sonhou, traduziu o não menos profeta Gilberto Gil em estilo tropicalista e meio rococó. Perdemos para a Holanda e de repente tudo aquilo que já sabíamos se revelou como num satori (a iluminação súbita zen): que time ruinzinho esse, hein? Sim, todos nós já tínhamos a mais cristalina certeza de que essa seleção era meia-boca, mas ainda assim, cegados por maya (a ilusão segundo os hinduístas), acreditamos até o último momento.

Eis a beleza do futebol, sua dimensão trágica, mítica e ridícula. Nos ferramos e nossos super craques, os melhores do mundo, já estão de volta pra casa, assistindo à Copa do Mundo pela tv como reles cabeças de bagre. E tão pouco os separou do Olimpo: bastava que tivessem ganhado o jogo. Mas como ganhar quando não se tem um mínimo de controle emocional? Ninguém ensinou aos nossos craques que à vezes se toma um gol e que faz parte do jogo ficar em desvantagem no placar? A vida, essa Louca, Paradoxal e Incoerente Mestra, não é assim? Faltou uma palestra do Zeca Pagodinho no vestiário? Não seria o caso de se contratar psicanalistas com a mesma urgência com que se contrata médicos, preparadores físicos e assessores moralistas? E toda aquela lengalenga militarista e ufanista do Dunga e companhia (aí incluído Jorginho, o homem que quis eliminar o diabinho como símbolo do América numa das mais ridículas manifestações de radicalismo religioso que se tem notícia), a união do grupo, a coerência e a abstinência, tudo foi por água abaixo, da mesma forma como foi com a seleção desorganizada, gorda e auto-complacente do Parreira em 2006. Seis é igual a meia dúzia, diria o Dalai Lama. No fim das contas o que faz a diferença mesmo é futebol bem jogado e ponto final. Deixo as análises e comparações para os especialistas, que aliás são inúmeros no país. E fica a consolação de que, pelo menos, não teremos o uso patético e ufanista que governantes costumam fazer de vitórias da seleção em copas do mundo. Além, claro – delícia -, da derrota da Argentina para a Alemanha (há os que preferem o termo “chocolate”), sempre um consolo muito bem-vindo numa manhã de sábado com ares de ressaca.

Não entendo muito de futebol. Comecei a tocar violão na adolescência porque era um irremediável perna de pau e precisava encontrar uma forma de chamar a atenção das meninas. Nunca tinha ouvido falar de Felipe Melo até o início da Copa. Espero esquecer logo dele. Felipe Melo, eis um nome a ser esquecido. Mas não concordo que se apedreje Felipe Melo ou Dunga. Em última instância a culpa, ainda que ele também não mereça pedras – it’s only foot’n ball, galera -, é do Ricardo Teixeira, né não? Olhaí, já estou me metendo numa seara que desconheço. Não sou de Ramos. Alô, alô Juca Kfouri, help!

E para aqueles que previam uma semifinal com times sul americanos a comprovar a supremacia da escola sul americana, terão de se consolar com a presença solitária e meio zebrosa do Uruguai, a gloriosa e mofada Celeste, a nos honrar nas etapas finais da Copa (dá-lhe, Loco Abreu!).

E para 2014, um alerta: em vez de atletas de Cristo com instintos assassinos, que tal convocar simplesmente os melhores jogadores de cada posição? Não é isso que faziam Vicente Feola, Aimoré Moreira, Zagalo, Telê Santana e todos aqueles antigos “professores”? Ganso e Neymar, por exemplo, mereciam ganhar um pouco de experiência antes de terem de entrar em campo na Copa do Brasil com a responsabilidade (agora sim hercúlea) de serem campeões.

Estamos aí, se não aparecer nome melhor, pode me chamar para técnico, Ricardo Teixeira. Ou pra vice do Serra se o Indio da Costa não segurar a onda. Estou aqui para servir. Eu e o Aécio.


(Tony Bellotto - Veja)

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